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sábado, 4 de agosto de 2018

IGREJA DE SÃO PAULO APÓSTOLO


 
O H. Hubner publicou a foto em P&B outro dia e me fez lembrar do que observei há muito tempo na igreja de São Paulo Apóstolo, em Copacabana.
O ano de 1933 marcou o IV centenário de aprovação da Ordem dos Clérigos religiosos de São Paulo Apóstolo. Aqui no Brasil a solenidade contou com um marco indelével: a fundação da Matriz de São Paulo Apóstolo em Copacabana, na Rua Barão de Ipanema esquina com Rua Leopoldo Miguez, iniciativa de duas grandes personalidades: Sua Eminência o Sr. Cardeal Sebastião Leme, arcebispo do Rio de Janeiro, e do Revmo. Padre Jorge M. Billmann, Provincial dos Padres Barnabitas.
Nos anos 50/60, possivelmente época da primeira foto, o vigário desta igreja era um nordestino, o Padre Zelindo. Substituiu o Padre Maffei, que passou a dirigir o Colégio Santo Antonio Maria Zacaria, no Catete. Os barnabitas também mantinham, colado à igreja, na Rua Leopoldo Miguez, o Colégio Guido de Fontgalland, onde o Padre Maffei foi dos primeiros diretores.
O grupo de padres daquela época era completado pelos padres Paulino, Colombo, Mário, Henrique e Heraldo. E o Irmão Francisco, atrás de óculos fundo de garrafa, a tudo supervisionava. Era ele que abria e fechava a igreja, acendia e apagava as velas, recolhia o dinheiro da coleta, marcava missas, etc.
Domingo havia missas desde as 6 horas da manhã. A missa mais concorrida era a de 10 horas, quando o Padre Colombo fazia sermões famosos. E não perdoava os atrasados ou apressados, que chegavam tarde ou saíam cedo da missa. Do alto do altar dava broncas. O provincial dos Barnabitas morava nesta igreja e foi um dos primeiros padres a abandonar a batina para se casar.
Nesta época a missa era celebrada em latim, com o padre de costas para o público. Os homens sempre bem vestidos, as mulheres sem decotes, com os ombros cobertos, um véu cobrindo a cabeça e um terço na mão. Realmente se “assistia” à missa, pouco se participava.
Na segunda foto, de tempos mais recentes, vemos o antigo altar ao fundo e o novo, virado para a plateia, à frente. À esquerda ficava a sacristia, com grandes armários onde ficavam as roupas dos padres (para a missa havia que vestir uma meia dúzia de peças, cada uma com um significado). Atrás do altar um corredor com armários, onde ficavam guardados cálices, crucifixos e também um armário de balas, que eram o prêmio para os coroinhas. De vez em quando alguém que encomendava uma missa dava uma gorjeta em dinheiro. À direita ficava uma sala, semelhante à sacristia, para atendimento dos frequentadores da igreja que iam marcar as missas ou conversar com os padres.
Ao lado da igreja havia um grande pátio, onde era possível aos coroinhas jogar bola. E havia um pequeno depósito com engradados de Coca-Cola que, pasmem, era servida sem gelo para os coroinhas em determinadas ocasiões. Após seis meses como coroinha era autorizado usar uma faixa na cintura e depois de um ano era permitido colocar um colarinho de plástico na gola. Desconheço a razão destes símbolos.
Além das missas havia várias outras solenidades e era um grande sinal de prestígio ser o coroinha que manejava o turíbulo com o incenso. Os fiéis, muitos, se integravam às organizações Filhas de Maria, Congregação Mariana e Apostolado da Oração.
Os coroinhas, meninos entre 8 e 14 anos, decoravam as respostas em latim e, feito papagaios, repetiam tudo na hora certa. Nas missas de dias de semana usavam batina preta e nas de domingo usavam batinas vermelhas. A tarefa mais difícil para eles era carregar o pesadíssimo livro de missa de um lado para o outro do altar. Subiam três degraus, pegavam o porta-livro e, apoiado nele, o livro propriamente dito. Desciam os três degraus, faziam uma genuflexão e subiam os três degraus do outro lado. De vez em quando tropeçavam na batina e lá ia o livro pelo chão do altar até à mesa de comunhão, que separava o altar dos bancos.
Além dos coroinhas que ajudavam diretamente a missa havia outros que passavam as sacolas de esmolas entre os bancos dos fiéis. Nas paredes da igreja, perto da entrada, havia vários recipientes com água benta. Alguns padres bebiam mais vinho que outros durante a cerimônia. Aos sábados aconteciam os casamentos e as cerimônias de Primeira Comunhão dos alunos do Catecismo.
Não sei se hoje em dia continua assim.
 
 

8 comentários:

  1. Tema complexo e que vai gerar comentários polêmicos. Embora eu tenha tido formação católica, a estrutura que a Santa Madre Igreja ainda possui foi responsável por tanto enriquecimento desmesurado. As igrejas pentecostais aprenderam bem a lição e ainda aperfeiçoaram. A rotina entre coroinhas, sacerdotes, e sacristãos deram margem a "fatos bastante polêmicos". O luxo e o fausto nas igrejas sempre contrariaram a realidade da maioria dos fiéis, quase sempre pobres. Deus não precisa de dinheiro

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  2. A riqueza da igreja católica é um espanto. Visitar o museu do Vaticano é deslumbrante mas faz pensar se o valor ali contido não poderia ser mais bem empregado. E o exemplo de alguns altos dignitários também é reprovável. Mas o assunto é complexo e polêmico.

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  3. Dizem que Ceará,indivíduo ,chefiava uma Gama de coroinhas lá em Fortaleza.Ganhava balinhas e bebia Coca quente.Se fosse na minha igreja ia levar bala perdida e chumbo grosso.Xo Satanás ..

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  4. Bom dia a todos. Hoje temos um fundo do baú onde são lembrados pelo mestre Dr. D', todos os fatos históricos desta igreja, como os ritos da missa da igreja católica. Não conheço esta igreja, mas na foto colorida, podemos observar que ela é muito bonita. Embora não seja praticante assíduo de nenhuma religião, gosto muito de conhecer igrejas e catedrais, nelas sempre encontramos muita arte e história, além do seu interior sempre nos transmitir uma grande tranquilidade.

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  5. A Igreja Católica Apostólica Romana com seus defeitos e virtudes quer queira quer não faz parte da história do mundo.
    Apagar tudo o que ela produziu de bem e de mal nesses dois mil anos é impossivel.

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  6. Fiz primeira comunhão lá . Aos domingos , após a missa comia chuvisco no Ponto de encontro.

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  7. Acho que todo ano uma turma do Curso Infantil Eva Levy fazia Primeira Conunhao nesta igreja.

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  8. Padre Colombo usava uma batina branca. Muito humano, eloquente e acolhedor. Deus o tenha.

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