Em 2014 recebi da
Tia Alcyone o seguinte email: “Estou lhe enviando a minha primeira tentativa de
colorir uma foto no Photoshop. Não mostre para ninguém." Entretanto, como
a considerei estupenda, achei melhor publicá-la. Vemos o Cine Ipanema, em foto
do acervo do Arquivo Nacional. Este cinema, que terminou seus dias como um
"poeira" da Praça General Osório, tinha quase 2.000 lugares e foi
inaugurado em 17/10/1934. Em estilo "art-déco", era projeto de Rafael
Galvão. Funcionou até 30/04/1967 na Rua Visconde de Pirajá nº 86. Fez grande
sucesso na época da inauguração como podemos ler no livro "Palácio e
Poeiras", de Alice Gonzaga: "Fachada imponente, obedecendo a linhas
simples, retas, de agradável visual, o Ipanema convida o transeunte a
conhece-lo internamente. Observamos, na tarde em que o visitamos, o interesse
dos moradores de Ipanema pelo "seu" cinema, como já o chamam, por
isso que diversos eram os automóveis estacionados à frente da construção, deles
descendo pessoas que solicitavam permissão para percorrê-la".
Como veremos a
seguir o Rouen fez uma série excepcional sobre o Cine Ipanema, uma das
postagens mais completas que já vi. Que todos se juntem a mim para aplaudir de
pé o trabalho “arqueológico” de Monsieur Claude Fondeville.
Quando da
inauguração "Cinearte" registrou da seguinte forma: "O
espetáculo de estreia marcou um legítimo acontecimento social naquele elegante
bairro da cidade, afluindo ao Ipanema, muito maior número de pessoas que o
admitido por sua lotação. Foi mister suspender a venda de localidades, pois o
público insistindo em visitar a nova casa de espetáculos nessa mesma noite,
provocou um início de invasão, espatifando-se os vidros da bilheteria".
Conta o Rouen: “Estamos
nos anos trinta, em Ipanema, onde a Companhia Brasileira de Cinemas ergueu o
Cine Ipanema, em frente a praça General Osório. Dentro do mais puro estilo Art-Déco,
usando e abusando de formas totalmente geométricas, obra do arquiteto Rafael
Galvão. Com o tempo o Cine Ipanema transformou-se num grande
"poeira", não tendo ar-condicionado ou poltronas estofadas (eram de
madeira).
Foi edificado sobre
um terreno de 27,30m de frente por 50m de fundos situado na Rua Visconde de
Pirajá nº 86 e como diz um texto de época sobre a localização: Esta escolha foi
bastante feliz, porque naquela praça podem estacionar, sem atropelo, mais de
uma centena de automóveis e o local, embora bastante próximo dos bonds, está
livre do barulho desses veículos.
Naquele dia em
cartaz, como podemos ver anunciado no canto direito, o filme “Hi Nelli!”, de
1934, um filme de detetive da Warner Brothers com o ator Paul Muni como Brad
Bradshaw. Porém notamos que a sala de espetáculos também apresenta o museu de
cera Wax Museum, como se pode ler no grande cartaz no canto esquerdo.
Andar térreo: Os locais estão mapeados para melhor
conhecimento:
1. Estamos no andar
térreo, que vem a ser uma grande sala de espera e por este local temos acesso à
sala de espetáculos da plateia por meio de um sistema de portas que vedam a luz
exterior.
2. Esta é a plateia,
que possuía cerca de 60% da lotação total do local, número este que era de
2.000 espectadores.
3. Orquestra, pois
nos antigos cinemas esse local era reservado para os músicos na época do cinema
mudo (que já não é mais o nosso caso) e para os shows ou apresentações que
viriam a ter.
4. A tela.
5. Caixa dos
fundos, suficientemente espaçosa para a representação de pequenas comédias e
revistas.
6. Bombonière
7. Bilheteria.
8. WC – Senhoras.
9. WC – Homens.
10. Depósitos
diversos.
11. Saletas
(camarins e instalações sanitárias para os artistas.)
12. Saída de
balcões
13. Saída da plateia.
Estamos na sala de
espera do andar térreo, na extrema direita uma ponta do balcão da bombonière e
bem em frente uma escadaria com construção geométrica e mármore rajado como era
comum nas construções Art-Déco.
Para melhor
conhecermos este pavimento vamos ver:
1. Sala de espera
dos balcões.
2. Guarda roupa (para
guardar chapéus e sobretudos, guarda-chuvas).
3. Balcões.
4. Camarotes.
5. Vazio (Dando
visão para a plateia).
6. Caixa.
7. Confecção de
cartazes
8. Terraço externo.
9. Escritórios.
10. W.C.
11. W.C. Senhoras.
12. W.C. Homens.
13. Refrigerador.
14. Bombonière.
15. Vitrines
(Talvez para locação de espaço para reclames).
16. Depósito
Estamos agora no
primeiro andar, na sala de espera dos balcões. Ao contrário do que esperamos
vendo o aspecto externo do prédio com uma arquitetura Déco profundamente
geométrica, aqui neste espaço encontramos uma decoração simples onde somente
alguns elementos nos remetem à decoração em moda nesta época como os lustres, o
apara-corpo em tubos.
Esta foto foi
tomada no ponto assinalado como W na planta baixa deste pavimento como marcado
na foto anterior.
Agora estamos no
segundo e último andar, que possuía dois amplos terraços ao ar livre, pois não
esqueçam que havia a hora do intervalo para poder consumir na bombonière, fumar
e, principalmente, trocar as bobinas da película para que a sessão pudesse
continuar.
Para melhor
conhecermos este pavimento vemos que:
1. Cabine com todo
o equipamento.
2. Os Balcões.
3. Vazio.
4. Caixa.
5. Camarote.
6. Depósito.
7. Banheiro (talvez
dos funcionários ).
8. Terraço externo.
Deste ponto
(marcado em W no post anterior) podemos apreciar todo o esplendor desta sala de
espetáculos. A visibilidade é ótima, a acústica perfeita e a decoração no
estilo Art-Déco é simples e sóbria.
Deste ponto (marcado em W no post anterior) podemos apreciar todo o esplendor desta sala de espetáculos. A visibilidade é ótima, a acústica perfeita e a decoração no estilo Art-Déco é simples e sóbria. – Ipanema” (recebeu o nº 86) e junto com a assinatura do arquiteto o seu endereço, “Rua 13 de Maio 33 e 35” onde igualmente havia neste endereço o escritório do arquiteto Luiz Dantas de Castilho.
No lado esquerdo
desenhado o aparelho de projeção situado no 2º andar.
As franjas
limitadoras nas paredes no estilo marajoara , tipo de desenho bastante
utilizado no Art-Déco brasileiro. O desenho das franjas também acompanha de
forma vertical o facho de luz que jorra pelos 16 vasos divididos em cada
lateral. Estas luzes eram de várias cores o que dava um belíssimo efeito.
Devemos dar uma especial atenção ao formato dos vasos. Na literatura pesquisada
verifiquei a informação de que os dutos para o ar-condicionado achavam-se
embutidos nas paredes e pisos da plateia e balcões, porém, por motivos
independentes da vontade do arquiteto Raphael Galvão, porém este equipamento nunca
foi instalado.
O Ipanema durante muito tempo foi um dos três cinemas de Ipanema. Os outros dois eram o Pirajá, um "poeira" como ele, e o Astória, já mais moderno e que se transformou depois no auditório da TV Excelsior e no cinema Bruni 70.
ResponderExcluirDois prédios foram construídos no terreno onde funcionou o Ipanema, o de n°s 82 e 86. Com uma galeria é comum a ambos. Nos últimos tempos o Ipanema, que nunca teve ar-condicionado, tinha cadeiras de madeira e geralmente passava sessões duplas. Na Semana Santa,sempre exibia “A vida de Cristo”,com filas descomunais na porta!
Instalações luxuosas e decoração esmerada, eram uma contradição em um logradouro então pouco habitado. Em seu lugar existe em condomínio e uma agência bancária. Uma pena. Fora de foco: Marcelo Crivella e mais quatro são presos e vão passar o Natal vendo "o sol nascer quadrado" e "sentar na boca do boi".
ResponderExcluirBom Dia! Por conta de um namoro,estive neste cinema algumas vezes. Aproveitando a oportunidade: E a Tya? Nunca mais "pintou".
ResponderExcluirOlá, Dr. D'.
ResponderExcluirMais uma aula, hoje do francês e do gerente. Cada estúdio tinha sua cadeia de cinemas para exibição. Hoje temos os complexos em shoppings que não se preocupam com exclusividade. Já ouvi que nos EUA pode acontecer o fenômeno reverso, com a autorização de estúdios serem donos de cinema. Aliado ao fenômeno do streaming pode ser um golpe nas atuais cadeias.
FF: pegaram o bispo-prefeito e outros agora de manhã. Será muito interessante assistir a alguns programas na hora do almoço...
Em tempo: falando na Tya, alguma noticia?
ResponderExcluirHá uns meses soube que estava bem. Marido novo e ciumento...
ExcluirTalvez ela vendo os comentários se anime a voltar.
ExcluirBom saber de notícias dela. Será que ainda faz aquele miojo?
ExcluirHoje estou assistindo ao sorteio da loteria Espanhola pela RTVE.es
ResponderExcluirEspero ganhar o "El Gordo".
ExcluirDepois de jornada dupla no cinema Ipanema era de lei uns chopinhos no Jangadeiros, que ficava ao lado.
ResponderExcluirInfelizmente não conheci esse cinema e se passei em frente antes do seu fim, não consigo lembrar.
ResponderExcluirPromessa de ano novo: se eu achar algum cinema de rua aberto no pós pandemia tentarei assistir algum filme nele.
Faço agora um ensaio hipotético que gostaria de compartilhar com os comentaristas que conheceram esse cinema. Como estaria se estivesse de pé? Como seria uma "soireé" em 2020? Seria economicamente viável ou seria uma IURD, uma Pacheco, uma Venâncio, ou uma Raia?
ResponderExcluirA postagem de hoje dá um livro. Frequentei muitos cinemas da Zona Sul, na primeira metade dos anos 1970, mas sempre os de Copacabana. Não conheci o da postagem de hoje.
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