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quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

PRAIA DE BOTAFOGO - SEARS


A Sears está na memória afetiva de toda uma geração nascida em meados do século XX. Como conta o Rouen:

Quando criança a seção de brinquedos no 1º andar, o departamento de roupas infantis no térreo, local chato onde perdíamos horas com nossas mães experimentado um tênis ou uma sandália Alpargata

• Depois crescemos e viramos “teens”, visitando a seção de discos e com a rala mesada comprando LPs de 33 1/3 RPM de Rock, Twist, Bossa Nova, Música Italiana.

• Passamos a ser adultos e frequentávamos a seção de peças e assessórios de carro, também no 1º andar, porém com instalação no térreo com entrada pelas ruas Prof. Alfredo Gomes e Muniz Barreto. Quanta grana gastamos em Radio Motoradio, Alto-Falantes Bravox ou Novik, Pneus Sears (fabricados pela fantástica marca Michelin), antena Truffi, Capas Procar para os bancos, etc...

• Casamos e passamos a comprar ferramentas. Vieram os filhos, as fotos do fim de semana entregues para revelar em um balcão ao lado da escada rolante (3 dias para pegar o envelope com as 36 fotos).

• O Milkshake da lanchonete ou, pagando com cheque, um almoço no 8º andar na Camponesa, que aceitava reservas pelo tel. 46-9022.

• Sem esquecer a máquina de pipoca que emanava o seu cheiro num raio de 50m e o artesão de vidro que fabricava na hora pequenos bibelots com tiras coloridas de vidro e um maçarico.


Nesta fotografia, de 1958, vemos o prédio da Sears e sua vizinhança. Acervo Correio da Manhã, Arquivo Nacional.


O prédio da Sears, no Rio de Janeiro, foi construído pela Construtora Pederneiras, em tempo recorde, com a colaboração da R.W. Hebard & Co., de Nova York, no local onde funcionava o Hotel Botafogo, demolido em 1948, e inaugurada em 06/06/1949.

Ficava na esquina da Praia de Botafogo com a Rua Professor Alfredo Gomes, indo até a perpendicular da Praia de Botafogo, a Rua Muniz Barreto. 

O "slogan" da Sears era: "Satisfação garantida ou seu dinheiro de volta".


A SEARS foi um choque de modernidade em nossa cidade na época da inauguração em 1949, com um conceito de loja que já existia nos EUA desde o século XIX com a Bloomingdale de NY. 

A colorização é do caríssimo Conde di Lido.

Segundo o prezado Rafael Netto e outros comentaristas do "Saudades do Rio" a SEARS era assim:

 1º piso: vestuário, perfumaria e acessórios. Na entrada da Praia de Botafogo era moda feminina, da escada rolante para trás, seção infantil do lado da Rua Alfredo Gomes e masculina no fundo da loja.

 2º piso: brinquedos, seção automotiva, esportes/camping, bonbonnière, utilidades domésticas, fogões/geladeiras e cozinhas planejadas (e mais alguma coisa que eu posso estar esquecendo) A seção automotiva era no "canto" onde ficava a entrada do estacionamento. Entrando na loja a área esportiva/camping e em frente a ela a seção de brinquedos (com a parede tomada de bonecas até o alto). Em frente à escada rolante a bonbonnière (com a famosa pipoca) e do outro lado utilidades domésticas. O fundo da loja (a parte virada para a Praia de Botafogo) eram as cozinhas planejadas.

 3º piso: Discos, som/TV, tapetes, decoração e móveis. Caixa central e lanchonete. A escada rolante acabava deixando um grande vão livre, a parte do fundo (na direção do estacionamento) era a enorme seção de móveis (acho que não existe nenhuma loja atual que tenha algo parecido), de um lado da escada rolante discos e som/TV, do outro decoração e tapetes. A caixa central era virada para a Praia de Botafogo, com janelas. A lanchonete ficava no caminho entre a caixa e a escada que descia até a entrada da Praia de Botafogo e fechou nessa época.

 4º piso: escritórios (folha de pagamento, contabilidade, gerência geral, etc.)

 5º piso: depto. pessoal, refeitório

 6º piso: telefonista, dentista e outras utilidades

 7º piso: estoque

 8º piso: restaurante A Camponesa (fechou por volta de 1980) e estoque 

Nesta foto vemos a família de Mark Ackley, um americano em visita ao Brasil, almoçando no Restaurante A Camponesa, no prédio da Sears. Foto garimpada pelo Nickolas Nogueira.


Foto de Kurt Klagsbrunn, do Acervo de Victor Hugo Klagsbrunn. Havia uma enorme expectativa pela abertura da Sears. Muitos "teasers" na Imprensa levaram uma multidão à loja naquele 06/06/1949. 


Chama a atenção o modo de vestir daquela época bem como o intenso tráfego na pista interna da Praia de Botafogo, no sentido em direção a Copacabana. Aparentemente o bonde parado defronte à Sears é o causador do engarrafamento. Podemos ver entre o casarão à direita e o prédio da Sears, o Colégio Anglo-Americano. 

Escada rolante da Sears em 1949, instalada pela “Otis”, fez um enorme sucesso enre os visitantes. Alguns não tiveram coragem de utilizá-la nos primeiros tempos. 

A primeira escada rolante no Brasil foi instalada, em 1931, na loja "Casas da Criança", que tinha como endereço Rua Ramalho Ortigão 8-10 e Rua Sete de Setembro 151-153.

Foto de Kurt Klagsbrunn.

Foto de Kurt Klagsbrunn. A inauguração da primeira loja da Sears, na Praia de Botafogo, atraiu multidões. A revista Life, de 27 de junho, informou que "nunca houve uma inauguração como a do Rio de Janeiro: a massa começou a se juntar no alvorecer e permaneceu por horas a fio na fila até que as portas se abrissem. 

Um Núncio Apostólico abençoou a instituição. Os 123 mil compradores amontoaram-se nas cozinhas modelo, lançaram-se feito moscas sobre as geladeiras e voltaram para casa com tudo que puderam, de algodão absorvente a sementes de zínia".


Foto  de Uriel Malta, da Brasiliana Fotográfica. Em destaque o prédio da Sears na Praia de Botafogo.


A Sears fervilhava na época do Natal. A decoração era atração.


Foto do acervo de "Saudades do Rio - O Clone". A foto com Papai Noel era uma exigência dos pais. Muitas crianças ficavam aterrorizadas...


Foto garimpada pelo Nickolas, num belo ângulo. Notar parte da decoração da Sears.



Neste dia dos anos 60 a Sears teve pouco movimento e, provavelmente, os fregueses que já lá estavam tiveram que aguardar longo tempo para voltar para casa. 


A foto, do JBAN, mostra o estacionamento da Sears, em Botafogo, no segundo andar, com entrada pela Rua Muniz Barreto. 

Muitas e muitas vezes subi esta rampa, anos antes desta foto, no Kaiser da família D´. Minha avó era freguesa assídua e ir à Sears era considerado um grande programa por todos nós.

Nesta época, conta o JBAN, o estacionamento da loja, ridiculamente pequeno para os padrões atuais, era disputadíssimo nos períodos de Natal, Páscoa e Dia das Crianças. Estacionar ali era um inferno. Vemos também um caminhão que sempre estava ali, recolhendo embalagens de papelão e caixotes, e a entrada para loja, que dava para a seção de pneus e acessórios. 


O JBAN, revirando uns guardados, encontrou um envelope de negativos e, dentro dele, a nota fiscal da revelação. Qual não foi a alegria e a surpresa de encontrar a nota da saudosa Sears Roebuck, emitida em 8/6/1976. 


Anúncio de página inteira do "Correio da Manhã" nas vésperas da inauguração da Sears, em 1949.

Sobre a Sears, alguns comentaristas do SDR se manifestaram:

P. Stilpen lembra de duas coisas interessantes: 1) uma máquina que permitia que você visse seus pés dentro de um sapato (como um Raios X) que desejava adquirir; 2) do show do Roy Rogers e da Dale Evans, no estacionamento do 2º andar, com entrada, hot-dogs, pipoca e Coca-Cola grátis. Creio que em meados da década de 1950.

O JBAN se recorda da doca de carga na fachada lateral para a Rua Alfrego Gomes. Todos os dias entravam aqueles caminhões verdes de marcha-a-ré para descarregar mercadorias, sem atrapalhar o trânsito.

O Plinio se lembra do estacionamento do segundo andar: "Mal o carro parava eu já saltava correndo para abrir aquela pesada porta (pelo menos para as crianças) que dava entrada à loja, bem junto de onde se vendia pneus. Brincar na escada rolante, tomar Coca-Cola com torrada Petrópolis na lanchonete, tudo era divertido. Menos é claro esperar minha mãe terminar suas compras. "

Cristina Coutinho fala do "cheiro de pipoca, do friozinho do ar condicionado e das subidas e descidas pelas escadas rolantes que nos transportava para variados mundos, tudo isso, tão marcante, faz com que até hoje me refira à "rua da Sears", ao "shopping no lugar da Sears". Tenho uma foto com o Papai Noel da Sears. A última compra que fiz foi uma bicicletinha de presente para um filho. Comprei às vésperas de seu fechamento."

 O Richard disse: "Memória olfativa é das melhores que ficaram. Lembro-me bem do aparelho de Raio X para se ver o pé dentro do sapato. Era o máximo! Calça jeans da Sears, ferramentas Craftsman (marca própria), pipoca e milhões de outras coisas faziam essa loja ser a melhor!" 

FlavioM: Alguns detalhes que pedem destaque, porque eram quase exclusividade da Sears: os equipamentos de som para carros, a seção de ferramentas, o "clube do disco" (ou coisa parecida), acumulando créditos para compra de um disco grátis a cada 10 (era isso?), os boxes para instalação dos pneus, ao lado das baias de descarga, os descontos fantásticos quando eles resolviam renovar o estoque ("Semana do Tapete", p.ex.), milk-shake ou waffles na lanchonete, uma das maiores áreas de brinquedos da cidade, e vai por aí afora...

Eu me lembro da minha última ida à Sears, com a namorada, em 1972. Desde então uma vida se passou, mas a memória da Sears continua.





20 comentários:

  1. Depois de ler tudo sobrou pouco para falar.
    A Sears e a Mesbla eram icônicas no Rio.
    Mais uma aula sobre o Rio.

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  2. Muitas vezes fui à Sears na época em que morei em Botafogo em 1965. Como morávamos na Voluntários da Pátria, ir à Sears era "um pulo". Passava-se tardes inteiras percorrendo as seções. Lembro-me da seção de "caça e pesca" onde eram vendidos artigos como barracas, armas de fogo, e até arcos de de diversos tamanhos, bem como as respectivas flechas. Diga-se de passagem que havia filiais da Sears em Niterói e no Meier.

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  3. Fui muito na Sears, embora fosse um programa mais raro do que ir na Mesbla. Lembro muito bem do ar condicionado e da pipoca de máquina. Era uma delícia ir lá.
    Na foto panorâmica de 1958, lembro que vi a feira lá no canto direito, e declarei que era quarta-feira... Mais embaixo, na bela foto com o Cristo, um Chevrolet 51 com jeitão de ser táxi, desfila num Rio arborizado e aberto. Em vez dos prédios, podiam ter só embutido a fiação e que maravilha!
    Não tão maravilhosa é a visão da piscina de trolleybus, onde se exercitam da esquerda para a direita, sempre, um Cadillac 52, saia e blusa, um Ford 51 meio depauperado, uma Vemaguet com frisinho na tampa traseira, um Jeep 101, o Bernardão , um Aero-Willys 2600 e a cereja do bolo, um Jaguar Mark VII, que deve ido daí para o ferro-velho, pois já não valia o preço do conserto.

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  4. A foto 10 mostra mostra uma cena muitas vezes vivida por mim naquela região: as frequentes enchentes. Muitas vezes subíamos a Voluntários da Pátria a pé com água acima do joelho. A data da foto está entre 1963 e 1966. Não é possível distinguir se o ônibus elétrico ostenta alguma faixa pintada. Vale lembrar que quando começaram a circular em Setembro de 1962, os Trolley-buses eram pintados de azul escuro e não ostentavam nenhuma faixa pintada na lateral. No ano seguinte muitos foram pintados com uma faixa vermelha, e somente em 1964 é que a faixa amarela passou a ser o padrão da Companhia de Transportes Coletivos do Estado da Guanabara, criada em 1° de Janeiro daquele ano.

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  5. Não me recordo de ter ido a Sears, apenas algumas lembranças de ter passado em frente quando ia a Praia de Copacabana no fusquinha 76 do meu pai. Já ao Shopping de Botafogo sim, algumas vezes.

    O slogan “Satisfação garantida ou seu dinheiro de volta", também é usado por muitas lojas e de serviços, às vezes apenas na retórica e nem sempre condiz com a realidade.

    Na foto 12, do Papai Noel, lembro perfeitamente de ter ganhado um desses coelhos infláveis.

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  6. Era a Macy´s do Rio. Tinha tudo e na seção de caça e pesca, tinha espingarda de chumbinhos Rossi e Urko, para atirar em latas em Itaipava. Cheiro de pipoca e ar condicionado tinindo. Estacionamento fácil e troca de pneus no local.

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  7. A primeira escada rolante no Brasil em 1931; na Inglaterra, no metrô de Londres, já existiam desde o final do século XIX, de madeira, e algumas duraram até os anos 80 do século XX, quando um incêndio em uma delas na estação de King's Cross, que causou a morte de mais de 30 pessoas, levou à retirada das escadas de madeira ainda existentes de todas as estações.

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  8. Morador que eu era da Tijuca, acho que fui uma ou duas vezes à Sears, porém nada restou na minha memória a respeito desses eventos.

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  9. Lembro apenas de ter ido lá em princípios da década de 1980, comprar uma furadeira Craftsman de velocidade de rotação regulável, que tenho até hoje.

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  10. Nos EUA existem filiais da Sears até hoje. Em 1997 fui a uma delas, próximo a Atlanta, onde ocorreu um fato engraçado, que passo a narrar. Minha esposa na época resolveu comprar um baby doll para minha filha, então com 10 anos de idade. No mostruário só tinha de cor branca e ela queria rosa. Dirigiu-se então a uma vendedora e, como não sabia direito falar inglês, apontou para o baby doll branco e falava: "rose, rose!" A mulher olhava para ela sem entender, e minha esposa repetia "rose, rose!" A vendedora continuava sem entender. Aí minha filha entrou na jogada e falou "pink, pink!" Aí a vendedora entendeu. Mas só havia branco, mesmo.

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  11. Nessa mesma ocasião minha esposa protagonizou outro vexame: ela resolveu passar por uma porta onde estava escrito PUSH. Aí ela puxou a porta, que não abriu. E ela fazia força e a porta não abria. Então começou a se desesperar, achando que havia ficado presa na seção. Já estava quase pedindo socorro quando minha filha novamente salvou a situação empurrando a porta, que se abriu na hora.

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  12. As lojas de departamentos vendiam armas e munições e mantinham um vasto mostruário. Carabinas de repetição do tipo Winchester, de cal.12, de cal. 22; revólveres cal. .22, .32, .38, pistolas de cal. 6,35 mm, e espingardas de "chumbinho" ocupavam as vitrines. Entretanto até o final dos anos 70 as pistolas semi-automáticas de calibre superior a 6,35 mm tinham a sua venda proibida no Brasil. Somente no início dos anos 80 a Taurus lançou no mercado brasileiro a pistola 7,65 mm de ação dupla. Elas eram expostas em lojas de departamentos como a Sears e a Mesbla, mas seu custo/benefício deixava a desejar...

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  13. Com relação ao folder de propaganda da última foto, resta saber se o guarda-roupa estilo "Chipendale" anunciando era "original" ou do "tipo Casas Bahia". Um Chipendale original era confeccionado de madeira nobre, era o sonho de qualquer dona de casa, e era encontrado nas boas casas de móveis do Catete e da Praça XI. O "padrão Casas Bahia" não é novo: nos início dos anos 70 móveis desse tipo confeccionadas em "aglomerado" ou "MDF" já eram comercializados nas lojas Tamakavi e do Baú da Felicidade em São Paulo.

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  14. O DI LIDO certa ocasião confessou que fez diversas compras ao lado do seu mordomo, que acompanhava-o para carregar as inúmeras bolsas recheadas de novidades.Mas já naquela idade sempre passava pela perfumaria da Loja e separava 4 vidros de Lancaster. Mas contam que por algumas vezes ele o JBAN foram flagrados jogando bafo-bafo em uma das alas do prédio. Seria isso verdade?

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  15. Boa tarde, Dr. D'.

    Estou desde ontem com instabilidades na internet da Vivo. Minhas participações podem ser esporádicas.

    Só conheci o prédio como shopping. Era um dos pontos que eu mais ia em Botafogo. Não lembro se fui na Sears. Mesbla, com certeza. Na Sloper também fui. Infelizmente as Lojas Americanas parecem que terão o mesmo fim de Sears, Mesbla e Mappin.

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  16. Boa tarde Saudosistas. Hoje vou acompanhar os comentários, era fora da minha jurisdição. Deixou saudades.

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  17. Para os amantes do Rio antigo, o Arquivo Geral da Cidade do Rio de janeiro disponibilizou o "Álbum da Cidade do Rio de Janeiro: Bicentenário da Independência" – 2022http://www.rio.rj.gov.br/web/arquivogeral/album-do-bicentenario

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  18. O casarão da sétima foto, ao lado do Anglo me parece ser o local do consultório de um médico homeopata, Dr. Belo.
    Quanto as marcas próprias, além de Craftsman, havia também o Coldspot, Silvertone, Harmony House e Kenmore, muitas delas fabricadas pela General Electric, em São Paulo.

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    1. Doutor Belo? Era meu médico homeopata, quando eu era criança. Não lembro dele, sei disso por informação da minha mãe. Mas em 1984 uma colega de serviço comentou que se tratava com um homeopata com esse nome, no Catete. Marquei consulta e era ele mesmo.

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  19. Ontem o Galeno citou o Álbum do Bicentenário e nele tem aquela famosa foto com vários caminhões de coleta lado a lado no Campo de São Cristóvão.

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