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segunda-feira, 21 de agosto de 2023

LAGOA

 

Quem diria que esta foto, uma daquelas tiradas para "acabar com o filme", 53 anos depois acabaria aparecendo na Internet?

É um flagrante de uma manhã na Lagoa, do lado de Ipanema, quase em frente ao Viaduto Augusto Frederico Schmidt. Um antigo ônibus 157, Estrada de Ferro - Ipanema, um dos poucos que passavam pela Lagoa, dirige-se para o viaduto. 

Aquele retorno para quem vem do Corte ou de Botafogo ainda tinha seu traçado original, em ângulo mais agudo do que atualmente. Foi um dos erros do projeto de duplicação da Av. Epitácio Pessoa e da construção do viaduto. O outro foi a curva quase em frente à pedreira, para quem vinha pelo Corte do Cantagalo e fazia a curva para passar sobre o viaduto.

Ambos tiveram que ser corrigidos.

Não havia, nesta época, nenhum sinal de trânsito no entorno da Lagoa, muito menos os atuais e costumeiros engarrafamentos. A fiação aérea começava a ser substituída pela subterrânea e já se veem os novos postes e luminárias.

Observem que a antiga faixa que dividia a Av. Epitácio Pessoa em mão e contramão, ainda é visível.


Outra foto da mesma época, num dia de invasão de fuscas.


Este "slide" digitalizado mostra o retorno já remodelado, com umas baias para estacionamento ao lado, e as pistas de Av. Epitácio Pessoa já com as faixas novas. Era uma época em que ainda se permitia estacionamento com duas rodas sobre a calçada dos prédios.


Mais ou menos da mesma época da foto anterior. O carro branco com teto preto, que obiscoitomolhado irá identificar, novamente chama a atenção. 

A iluminação da Lagoa também permaneceu com esses postes e luminárias até 1980/81 quando os atuais postes de 20 metros no canteiro central foram instalados, dando muita celeuma, pois na área do “drive-in” eles ofuscavam a tela e na região do Jardim Botânico, onde as pistas da Lagoa são mais estreitas, a luz entrava direto dentro da casa das pessoas.

A solução foi a adoção de acrílico branco fosco no lugar do transparente na cúpula destas novas luminárias (na região do “drive-in” elas eram todas de acrílico opaco e, em outros lugares, apenas a parte lateral era assim feita.

O curioso é que as pessoas se acostumaram tanto a serem agredidas pelo excesso de luz, que quando a nova geração de luminárias foi instalada nesses mesmos postes nos anos 90 ninguém reclamou, mesmo elas sendo bem mais fortes.


 
O filme não terminava... Para acabá-lo, outra foto com segundos de diferença.

Morar na Lagoa nesta época era maravilhoso, sem dúvida: pouco trânsito (alguns anos antes, então, trânsito quase nulo), silêncio, uma bela vista. Mas havia o outro lado: telefone era dificílimo conseguir, não havia nenhum comércio (só em Ipanema), não havia estas facilidades de entrega em casa como hoje, as mortandades de peixes eram frequentes (e liberavam um gás que enegrecia todos os objetos de prata, além do cheiro insuportável), havia muitas moscas, a condução era muito escassa (após as 20 horas quase não passavam ônibus ou lotações).



Esta foto, com um ângulo um pouco diferente, é de autoria de meu vizinho e amigo Jaymelac. Mostra as obras para a construção da saída do metrô Ipanema, em extensão desde a Praça General Osório até a Lagoa. Deve ter custado uma fortuna a escavação para, na minha opinião, pouquíssimo uso.

PS: Ontem almocei com o desaparecido Professor Pintáfona, que gentilmente mandou umas linhas para os frequentadores do “Saudades do Rio”.

“Lagunar e Sublime Pontífice de nossa Sebastiana Urbe, Renomado e Afamado Esculápio Montenegrino, Grão-Mestre do Saber Cidadão, Curador Incansável da Iconografia Guanabarina, Mantenedor Incansável da Cultura e da Ciência, Intrigante, Revigorante, Elegante, Galante, Caminhante e Pedalante Dr. D´,

Como o filho pródigo retornado à casa paterna e prostrado aos pés do sacrossanto luminar Ipanemense, humildemente rogo vênia ao culto exegeta por meu longo desaparecimento do seu famigerado sitio internético de convívio virtual, fórum de notáveis que em júbilo agregam-se em torno da luz do conhecimento emanada pelo douto confrade para debater os mais elevados temas de nosso cotidiano viver Carioca.

Uma série de infortúnios e um período de retiro espiritual privaram-me da prazerosa e educativa companhia de seus incontáveis seguidores, acólitos, discípulos, pupilos, aprendizes, visitantes, afilhados, agregados, afeiçoados, apaixonados, frequentadores furtivos, lascivos, incorpóreos e extemporâneos que abrilhantam este Templo do Saber com seus sagazes e oportunos comentários. A todos saúdo com a alegria de quem retorna ao seio da família D´.

Magnânimo amigo, primeiramente meu avançado equipamento computacional apresentou diversos distúrbios internos que me vedaram o acesso ao grande éter informático. Ora meu écran electróníco teimava em não acender, ora o armazenador de informações perdia o que lhe era entregue. Chamamos um francês que trabalha na Compagnie du Gaz no Aterrado e que afirmava que dominava as técnicas eléctricas e electrónicas, mas tudo o que conseguiu foi apenas agravar a caótica situação. Quando nada mais dava jeito àquela mixórdia, muito a contragosto e somente por insistência de minha supersticiosa assistente, a ocultista Mme. Simmons, chamamos Donana, uma velha benzedeira que vive em uma tapera nas matas da Tijuca e que dizem que opera milagres com maquinário importado.

Pois bem, mal a velha senhora chegou com seu cachimbo à boca e uma panela de barro onde punha umas ervas malcheirosas e de onde saia uma fumaça nauseabunda, começou a murmurar as suas rezas. Em um átimo, meu equipamento computacional voltou a trabalhar como novo. Totalmente apalermado diante de tal feito, dei a ela dois tostões e um rolo de fumo para picar e lá se foi a bruxa a manquitolar pela Rua da Pedreira da Candelária a oferecer as suas rezas para a vizinhança. Ainda hei de entender o que houve por aqui...

Passada a inaudita experiência, profundamente abalado em minhas convicções recolhi-me ao claustro do Mosteiro de São Bento por um mês para reconciliar-me com Deus e a Ciência. Após este tempo de repouso, orações e missas em canto gregoriano, passei uma temporada na Serrana Urbe de Pedro, aproveitando os ares frescos proporcionados pela altitude àquele belo recanto Imperial.

Em minha estada fiz-me acompanhar de meus diletos e caros confrades, o denso e rotundo Conde di Lido, com seu novo amigo o Conde de Villegagnon, o mordaz, desaparecido e iconoclasta Barão de Santa Tereza, o meridional e anglo-saxão Barão de São Luiz, o culto e polêmico Visconde de Cambuquira, aliado do santo Cardeal Eugênio. Entretivemo-nos por semanas em tertúlias literário-científica-teológicas, sempre acompanhados de um bom vinho, café da Mantiqueira, salgados vindos da Colombo no trem diário e da magnífica e maviosa voz de rouxinol de minha melódica assistente, a cantarolante Mme Simmons. Novamente recuperei meu vigor, reiniciei minha gymnástica calistênica diária, interrompida há decênios e retomei com fervor minha incansável luta pela Cultura, pelo Saber e pela Ciência.

Sábio e Insigne Luminar, sou convocado ao meu gabinete para mais uma sessão de leituras de Química Inorgânica, Genética, Astrofísica e Geomorfologia, leituras leves mais afeitas ao período noturno.

Após os estudos passo à Sala de Refeições onde uma bela sopa de pescado com arroz e um mingau de tapioca com leite me esperam para o jantar. Um cálice de licor de jenipapo e estou pronto para ir ao catre encontrar-me com Mme Pintáfona em meus sonhos.

Antes de despedir-me, envio profalças aos novos comentaristas do “Saudades do Rio”, os quais espero conhecer pessoalmente em futuro ágape.

Despeço-me Ensolarado, Estacionado e Ajardinado.

Seu Criado,

Dr. Hermelindo Pintáfona”





20 comentários:

  1. O trânsito da Lagoa antes da abertura do Túnel Rebouças era "civilizado", mas seu fluxo aumentou de forma absurda em duas doses: em 1967 foi aberta a pista sentido zona sul e em 1969 foi aberta a pista sentido Rio Comprido.## Não é preciso ser especialista para saber qual é a marca do carro branco com a capota preta: trata-se aparentemente de um Corcel GT, salvo engano, 1972.

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  2. Bom dia, Dr. D'.

    A Lagoa é área fora da minha jurisdição. Passei raras vezes pela Borges de Medeiros e mais pela autoestrada ou cruzando do Jardim Botânico para o Humaitá (ou vice versa).

    A foto recebeu o devido crédito? Acredito que não. Espero estar errado...

    Sobre fotos para completar o filme, geralmente fazia com viagens nas barcas entre o Rio e Niterói ou com os bichos de casa, o cachorro ou os pássaros do meu pai. Depois, com a câmera digital, esse "problema" acabou.

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  3. Grande 157. Usei esta linha muitas vezes para ir de Ipanema a Botafogo. Nessa época havia também lotações que faziam este trajeto. E havia uma outra linha que ia pelo Corte do Cantagalo a Rocinha-Mourisco.
    Alguém sabe quantas pessoas utilizam por dia essa saída do metrô que liga a General Osório à Lagoa?

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  4. Sobre o 157, era, às vezes, minha condução do centro (Cinelândia) para Botafogo, mais barato do que o metrô, com direito à vista dos prédios da Praia do Flamengo e de Botafogo.

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  5. O professor Pintáfona faz falta ao Saudades do Rio. Seu estilo é qualquer coisa de sensacional.

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  6. Nada de Barra, nem Recreio. Meu sonho suburbanesco é um bom cafofo de 100 m2 pra cima na Lagoa.

    Estaria a bruxa Donana ainda viva e em atividade para promover uma sessão de descarrego num clube de futebol cujo símbolo é uma cruz de malta, localizado ali pelos lados de São Januário?

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    1. Wagner, na falta da Donana, o ilustre Vascaíno Cabo Daciolo tem se incumbido da tarefa de orar, dia sim e outro também, no alto do monte, ou melhor, da Colina Histórica. Mesmo não sendo praticante do catolicismo, Daciolo tem feito noites de clamor à São Januário e jejuando na Igreja Nossa Senhora das Vitórias em busca dos pontos que retirem o Vasco da agonizante zona da degola. Ontem, os céus ouviram mais uma vez seus (e nossos) clamores e deitou-lhe água suficiente a fim de evitar que o ataque atleticano tivesse sucesso.

      O Vasco, realmente, é pra quem acredita!!!

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  7. Primeira foto,Bel Air 55,Chevy 52,Chevy 63
    Segunda foto só nacionais
    Terceira foto vou de Jaguar XJ,ali no canto esquerdo
    Quarta foto o corcel é modelo 73
    Quinta foto um Oldsmobile vai solitário na pista da diteita

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  8. A foto 2 mostra uma Rural Willys a 90º em cima da calçada, atrás de um fusca
    No primeiro ano do ginásio, em 1966, tinha um vizinho de andar cujo filho também estudava no Guido e que eventualmente nos levava de carro, uma Rural branca e azul marinho, ao colégio.
    Sentávamos os 2 ao lado dele, no banco inteiriço, e curtíamos bastante a (curta) viagem.

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    1. Correção: o ano foi 1965.(acho que inconscientemente quis ficar mais moço um ano.)

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  9. Havia um projeto do Estado da Guanabara que prévia um mega túnel naquele descampado chamado Praça Professor Arnaldo. Tempos que o carro era solução pra tudo.

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  10. Além dos citados 157 e do Rocinha-Mourisco, passavam por aí o 25, que depois virou 125, Jacaré-Ipanema, que fazia ponto final na então chamada Praça Corumbá, que ficava junto ao Corte do Cantagalo. E os lotações eram de duas linhas: Largo do Machado-Ipanema e Estrada de Ferro-Leblon.
    Em meados dos anos 60 foram substituídos pelos ônibus elétricos das linhas 15 e 16, Largo do Machado-Ipanema, ambas circulares, com ponto final apenas no Largo do Machado.

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    1. O 25 virou 474 - Jacaré x Ipanema.

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  11. Grande Prof. Pintáfona, sempre um texto agradabilíssimo. Não é ele mesmo o Visconde de Cambuquira?
    Outro incômodo do passado, além dos citados na postagem e o de dia falta água, de noite falta luz, o pernilongo e seus similares.
    O citado Oldsmobile já seria da fase que era preciso muito mais dinheiro para importar carros ou era de diplomata.

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    1. Não, o Professor Pintáfona é da Zona Sul carioca.
      Do Visconde de Cambuquira não se tem notícia oficial há tempos. Foi lembrado por ter completado 50 anos do caso Carlinhos, no qual teve participação como repórter.

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    2. Então sei quem é esse Visconde. Se não me engano também andou por Varginha do ET e, dizem, foi candidato a genro do Velho General, cuja filha nunca quis casar.

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  12. O time cruzmaltino melhorou em campo, mas parece que Santos e Bahia ainda não estão colaborando para que o Vasco suba na tabela.

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  13. Hoje o CRVG completa 125 anos de história, com glórias e dramas. O futebol carioca só é forte com os quatro principais clubes bem. Que o Vasco em breve possa se juntar aos outros três no G-4, para desgosto da turma além-Dutra...

    Falando nisso, a Portuguesa da Ilha está a dois jogos do acesso à série C e o Volta Redonda pode subir em breve para a série B.

    O Sampaio Correia, da região dos lagos (não sei a localização correta) venceu o Olaria na final da segunda divisão e disputará o campeonato "carioca" de 2024...

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    1. Sampaio Corrêa é um distrito de Saquarema.
      Torci pelo Olaria, mas não deu. Um clube com uma boa sede social, talvez a melhor entre os pequenos do futebol profissional do Rio. Um estádio acima da média, porém aquém do que se exige atualmente. O Carioca deve ser o único campeonato que só desce e sobe um de cada vez. E para piorar o que desce tem chance de disputar a segunda divisão no mesmo ano. Essa FERJ é um fenômeno.
      E depois da derrota do alvi-anil da Leopoldina prefiro nem criar expectativas com a Portuguesa e o Volta Redonda, que apesar de não ser carioca é considerado o clube mais sério do interior fluminense e sofreu, junto com o América, nos anos 80 e 90, por enfrentar o poderoso da federação daqueles tempos, o falecido Caixa D'Água.

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