Hoje é sábado, dia da série “DO FUNDO DO BAÚ”. E de lá saem estas
fotografias de um telefone público e das fichas que eram necessárias para sua
utilização (durante largo tempo não aceitavam moedas ou cartões). Este tipo de telefone se
localizava principalmente dentro de bares. Tempos depois surgiram os famosos “orelhões”
da Telerj.
Até a década de 60 era uma dificuldade ter um telefone próprio em casa,
havia fila para comprar telefone e um comércio paralelo onde ele era muito
valorizado. As pessoas declaravam a
propriedade da linha para o Imposto de Renda. Uma das saídas era conseguir uma
“extensão”, isto é, compartilhar a linha com outro morador do mesmo bairro.
Tirar o fone do ganho e ouvir o sinal de discar imediatamente, como
hoje, somente em filmes americanos - aqui se esperavam longos minutos até se
conseguir uma linha. Algumas mães colocavam os filhos para “esperar linha” e,
em algumas empresas, havia um funcionário destacado para isso...
Conseguido o sinal havia linhas cruzadas e muitas ligações não se
completavam. Eram demoradíssimas as ligações para Paquetá ou Petrópolis, por
exemplo, sempre através das telefonistas (aguardavam-se umas quatro horas até
que a telefonista completasse a ligação). Havia "macetes" para
conseguir linha: discar zero, discar um e segurar o disco de discagem por
alguns segundos, bater na tecla de desligar e por aí vai.
Outros truques eram utilizados para falar de graça nos telefones
públicos: um deles era ir batendo os números de forma ritmada, com pausa entre
cada número, naquela peça em que o
auricular ficava pendurado. Para prolongar indefinidamente o tempo de uso sem
pagar mais se usava um diodo. Como o diodo tem a propriedade de permitir a
passagem de corrente elétrica apenas em uma direção, quando vinha o
"pulso" para comer mais uma ficha, ele passava pelo diodo e voltava,
permitindo uma chamada de tempo infinito. Como não permitia a passagem de
energia no sentido contrário, não dava curto na linha. Em algumas ocasiões, por
algum motivo o telefone entrava em curto permitindo o sinal de discagem
gratuitamente.
É inegável que o progresso foi fantástico nos últimos anos, com melhoria das condições técnicas e com o acesso fácil a um aparelho telefônico.
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O "Saudades do Rio" transcreve a opinião do ilustre Professor Hermelindo Pintáfona sobre o assunto:
ResponderExcluir"Telefônico comunicador do saber carioca, hipocrático manivelante do reino da baquelite, Dr. D´,
É com regozijo que observo que o douto amigo, possui um moderno aparato telecomunicador de última geração. Por esta singela razão sua ligação à grande teia é veloz e isenta de interrupções. Aqui em minha modesta mansão à Rua Bento Lisboa, possuímos um eficiente aparelho, embora um tanto antigo. Embora já utilize a moderna manivela, o bocal e o fone auricular são peças separadas. Este aparelho foi recebido por meu amado progenitor, o Coronel Pintáfona, diretamente das mãos do grande Alexander Graham Bell, durante a Exposição da Filadélfia em 1876, onde estava a convite de seu dileto amigo Sua Majestade D. Pedro II, como membro da comitiva imperial. Desde então nos tem prestado relevantes serviços por todos estes anos. Robusto ainda, funciona como no primeiro dia.
Sempre que faço uma chamada à Confeitaria Colombo ou ao meu amigo D. Eugênio no Palácio Episcopal na Glória, minha pulsante assistente, a elétrica Mme. Simmons, aciona a manivela e prontamente Dona Ana Lucia, a nossa telefonista da Estação da Rua Doiz de Dezembro nos atende e completa a ligação.
Dona Ana Lucia, moradora dos recantos da Tijuca, há anos presta bons serviços à CTB. Todos os dias sobe no bonde no ponto em frente ao Colégio Militar e após baldeações desce no Largo do Machado. Excelente funcionária, todos os Natais enviamos para ela uma cesta de frutas secas e um regalo para os seus netinhos.
Sagaz luminar, com o advento da válvula à vácuo e o tubo de raios catódicos, a computação eletrônica tomou um impressionante impulso. Eu, como homem de ciências não poderia ficar para trás. Adquirimos um equipamento de processamento computacional, que ligado ao vetusto aparato comunicador, nos liga aos mares etéreos da comunicação internética. Graças a ele, podemos visitar regularmente seu sítio internético de convívio virtual e beber desta fonte inesgotável de conhecimento e cultura.
Culto caminhante dos areais da Villa Ypanema, recolho-me agora aos estudos e experimentos. Minha severa assistente, a monástica Mme. Simmons, avisa-me que um pequeno lanche está servido em meu escritório. Um suco de mangas de nosso quintal com bolachas Água e Sal.
Despeço-me ligado, manivelado e comunicado,
Seu criado,
Hermelindo Pintáfona
Hermelindo Pintáfona é cunhado de Diana Palmer. É sempre um prazer ler suas observações.
ResponderExcluirMuitas saudades do velho Pintafona.
ResponderExcluirSerá que os jovens saberiam usar esta traquitana ou iriam apertar os números?
Realmente poder usar um Skype ou FaceTime e falar de graça e com imagem com qualquer parte do mundo, sem chiado e com nitidez, me parece pura ficção científica. Jamais poderia imaginar que estaria vivo para fazê-lo.
Com relação às comunicações um detalhe curioso. No filme "De Volta Para o Futuro II", que mostra como estaria o filho do personagem principal em um futuro imaginário, vários avanços tecnológicos são exibidos. Porém, quando alguém precisa usar um telefone na rua ainda usam os telefones públicos, mas nada de celular. O personagem se utiliza de uma cabine telefônica mas o "telemóvel", como dizem em Portugal, nem pensar. Isso serve para confirmar a dimensão do avanço que foi a introdução da telefonia celular.
ResponderExcluirNo bar da esquina da Av. Pres. Wilson c/ Antônio Carlos tinha um aparelho como o da foto e quando se precisava usar a rapaziada local conhecia todos os truques. Usando-se o próprio fio do aparelho a tecla era acionada com mais sensibilidade. Apesar de ter visto em algum momento o modelo que usava moedas não lembro de ter usado.
O designer do orelhão, copiado em outros países, é de autoria de uma técnica brasileira, nascida na China, Chu Ming Silveira. De "tulipa" a "capacete de astronauta" a proteção acústica terminou por ter o popular apelido de "orelhão".
A propósito, por aqui em Copa está cada vez mais difícil achar um que funcione. Mas ainda há quem os use.
Imagino que tenha sido apenas uma opção escolhida pelo autor, já que no ano em que o filme foi produzido (1989), o celular já era amplamente usado na América. Já a internet, essa sim nunca foi prevista em qualquer ficção futurista.
ExcluirNo ano de lançamento do filme já havia comunicações por rede de computadores e celulares(1977). Os personagens se comunicam por meio de telas de LCD (embora não se possa dizer que seja internet) e fax... Porém não é um filme que almejava prever o futuro apenas divertir.
ExcluirBom Dia ! Assim como um marido "incompetente",que vigia todos os passos da esposa,para que ela não tenha oportunidade de outro "conhecimento", onde constatará que melhores "desempenhos" existem,também assim sempre se comportaram os nossos governantes. Estão sempre tentando impedir que coisas novas que estão fora do seus controles aconteçam ou que as já existentes funcionem direito.No final dos anos 50, tínhamos parentes em várias Cidades Mineiras.Apesar de termos telefones em casa, tanto lá como aqui, completar uma ligação entre as duas Cidades era coisa de pelo menos 6 horas de espera.Mas.... já existia o plano "B". Meu Pai usava o "seletivo". Era um sistema telefônico que funcionava direito e só servia as Estradas de Ferro,onde se falava direto de estação para estação.Com isso era só pedir para chamar a pessoa, desligar e no máximo 10 minutos a ligação de volta chegava .
ResponderExcluirDocastelo : Aqui no Cachambi os orelhões também sofriam vandalismo. Uma das soluções encontradas foi colocar o aparelho dentro do botequim. Só que os instaladores da TELERJ, ao invés de colocar só o aparelho, levaram para dentro do estabelecimento também o poste e o dito orelhão. Assim onde era o botequim do Aurélio, passou a se chamar Aurelhão.
ResponderExcluirBom dia. Não há dúvida de o sistema telefônico e evoluiu bastante e ficou acessível para todos, o preço do serviço ainda é caríssimo. Ficará ainda mais caro se o projeto do perdão da dívida das Teles for aprovado...
ResponderExcluirBom dia a todos. Como diria o sumido "Cumpadi Ménêzes" isso é mais velho do que beata rezar para "Padim Padi Ciço" pra chover no sertão do Ceará. Ainda me lembro no trabalho que pedíamos ao Sr. Ari, que era o telefonista, para ele realizar as ligações externas. O avanço da telefonia no Brasil, após a privatização do setor, foi de anos luz. E ainda tem gente que é contra as privatizações.
ResponderExcluirBom dia a todos.
ResponderExcluirEm Madureira o telefone ainda era de manivela e se usava o auxílio da telefonista. Com tantos problemas causados pelos clientes, meu pai pediu à companhia que retirasse o aparelho. Acho que foi antes da CETEL.
Cheguei a ter o diodo na carteira, mas não cheguei a usar.
Tem vários "corpos estranhos" no meio das fichas da foto acima.
NA Ilha do Governador, os telefones ditos automáticos só surgiram em 1965, com o advento da CETEL. até então dependíamos das telefonistas. Muitas vezes era mais rápido pegar o bonde ( bons tempos em que a Ilha tinha um bondinho...) e dar o recado "ao vivo" do que se aguardar o sinal para a ligação...
ResponderExcluirJaime Moraes
Bom dia a todos!
ResponderExcluirAcho que o uso de fichas, ao invés de moedas, era por conta da inflação na época (aumentava-se o preço da ficha em vez de recalibrar todos os aparelhos).
Os rasgos das fichas eram diferentes para ligações locais e interurbanas, e creio que entre as diferentes companhias.
Entre os modelos da foto há o que parece ser uma ficha de cassino, dessas de navios de cruzeiro.
Me lembrei de um "causo" do tempo do auxílio da telefonista. Em uma das viagens com amigos para MG um deles era noivo e não avisou à moça para onde tinha viajado. Mas também não contou o detalhe para os amigos. À noite fomos todos ao centro telefônico da cidadezinha para dar notícias às respectivas famílias e ele aproveitou para ligar para a jovem e dar uma desculpa qualquer. O que o incauto não sabia era que a telefonista tinha por norma anunciar a ligação interurbana dizendo o nome da autor da ligação e a cidade de origem. Não deu outra. O noivado foi para o espaço. Até há algum tempo ele agradecia ao sistema da época. A garota era muito chata.
ResponderExcluirLamentável ler sobre o hábito do brasileiro de fraudar. É descrito em detalhes como não pagar por um serviço.
ResponderExcluirVejam bem senhores comentaristas o que diz o texto,especialmente em sua parte inicial.Uma verdadeira odisséia uma simples ligação.Telefone declarado no imposto de renda.Comercio paralelo para comprar telefone.Criança sendo usada para espera de chamada num verdadeiro suplicio.É demais para a minha paciência.E aí os amantes do bolor e viuvas de antanho começam a elogiar o serviço de hoje.Deveriam ficar no tempo das cavernas.Adorando tudo que o texto refere em termos de telefonia.A incoerência é o carro chefe desta turma.E depois ainda perguntam porque continuo sendo Do Contra.
ResponderExcluirO que aumentou em muito a oferta de linhas telefônicas foi o progresso da informática. Claro que a privatização também. O Estado deve-se fazer presente o mínimo possível.
ExcluirQue fim levaram as ações que se eram obrigadas a adquirir ao aderir ao plano de expansão? Temos(?) as ações de meu falecido pai que entrou no plano de expansão na década de 70.
ResponderExcluirEm 1994 estive na telerj de Olaria tentando uma linha. Custava R$1500,00 (incluso as tais ações). No "paralelo"cerca de R$3500,00.
Nos subúrbios o telefone era sempre preto e instalado em armazéns. O comerciante ficava encarregado de transmitir os recados, quase sempre de falecimentos. Até hoje meu tio fica apavorado quando o telefone toca.
ResponderExcluirEra um mercado milionário e as pessoas endividavam-se para comprar uma linha. No início dos anos 70, para ligar para Jacarepaguá, rodava-se a manivela e pedia-se à telefonista: "Por favor, Jacarepaguá 9". As coisas mudaram em meados dos anos 90. Tenho um amigo judeu que possuía Doze linhas e vivia do aluguel delas. Quando veio a privatização, ficou sem saber o que fazer: Perdeu tudo! Mas como toda judeu que se preza, deu a volta por cima. Taí um povo esperto, nunca fica "duro".
ResponderExcluirE ninguém lembrou da Bolsa de Telefones. Ficava em um prédio na Álvaro Alvim, Cinelândia. Havia um quadro negro com as cotações das linhas. Justamente as do Centro que eram difíceis de completar a ligação eram as mais caras. Chegou a conhecer, Joel?
ExcluirNão conheci, Docastelo. Mas via nos classificados de jornal que os prefixos 21, 22, 23, 32, 42, 43, e 52 eram os mais valorizados. Em 97, um corretor de telefones de Niterói tentou me aplicar um golpe me vendendo linhas celulares 024 como se fossem 021. Entrei no escritório dele e vi um maço das chamadas "cartas de confirmação da Telerj" sobre uma mesa, umas 30. Peguei um isqueiro e as tais cartas e disse: " Ou me devolve o dinheiro agora ou essas cartas virarão cinzas". Não preciso dizer que devolveu com juros...
ExcluirNão peguei a época do telefone de manivela, mas meu irmão sim.
ExcluirPeguei a época de Telerj e Cetel. O orelhão tinha desenhos exemplificando uso de fichas para ligações para telefones CETEL (3 e depois 4) uma ficha a cada 3 minutos, para telefones Telerj (2 e 5) uma ficha a cada minuto e ligações para Baixada e outras regiões (7) uma ficha a cada 18 segundos.
Nos anos 70 a situação mais complicada era em Copacabana no trecho entre Santa Clara e Siqueira Campos. Não havia condições de instalar novas linhas por ali.
ResponderExcluirEste o maior castigo recebido da Tia Nalu.Ficar aguardando a ligação.Só não falo para quem ela ligava.
ResponderExcluirMeu avô era barbeiro e chegou a ter o telefone público em casa, provavelmente por ser a barbearia na mesma propriedade. Minha tia era a telefonista e meu pai levava os recados. Lá na década de 30 ele teve que chamar uma dupla que era integralista para aguardar uma nova ligação e logo depois foi a vez de chamar uma autoridade política. Só que esse não "engolia" os chamados Camisas Verdes. Como o costume não permitia que senhoras e senhoritas ficassem sozinhas com homens na sala (do telefone no caso), minha vó mandou meu pai ficar por perto da minha tia. Ele, aos 10 anos ficou apavorado com o encontro inesperado, porém conta que todos se comportaram muito bem, naquele silêncio que parece que o tempo nunca vai passar e provavelmente os primeiros acabaram não falando ao telefone coisas que a autoridade não poderia ouvir. No ano seguinte aconteceria o fracassado levante integralista e muito seguidor do Plínio Salgado sumiu ou foi "sumido", assim como muito uniforme com o sigma foi para o fundo do baú, acompanhado de muita naftalina.
ResponderExcluirAinda dentro do tema da postagem um sugestão de vídeo para quem ainda não viu o documentário "A Explosão Telefônica", um filme de propaganda de Jean Manzon. https://www.youtube.com/watch?v=IFEIZnmgMWs
ResponderExcluirNão posso dizer que o sistema telefônico do Niterói fosse de primeira mas era bem superior ao da Guanabara.Por ser uma cidade menor e pelo fato de o velho Estado do Rio ter sido administrado com muito mais competência do que o antigo distrito federal e a Guanabara, a verdade é que a quantidade de linhas e a qualidade do serviço eram infinitamente superiores.
ResponderExcluirBoa tarde a todos.
ResponderExcluirNessa hora eu penso exatamente como o Do Contra.
Essa época já vai tarde!
Como era um inferno se fazer uma ligação telefônica naqueles dias!
Coisa de Brasil atrasado e pré-histórico como aqui sempre se costuma ser.
Lembro que até início dos anos 80 não eram tantos telefones públicos assim quebrados. Isso começou pós 1983 com o consentimento do Governador da época cuja filha era amante de traficante.
O que mais tinha lá em casa era essas fichas ao monte. Lembro de que tínhamos que ficar com várias a mão pois se no meio da ligação estivesse na iminência de cair, colocava-se outros para aguentar e continuar até terminar da conversa.
A única coisa que achava atraente era na década de 70 aqueles orelhões que tinham suas cabines com uma cor laranja e os telefones já eram vermelhos.
Enfim... Se Doctor Who fosse brasileiro, nunca que teria dado certo.
E viva o futuro!
Max Nunes, ao ser indagado sobre a próxima inauguração da ponte Rio- Niterói respondeu:
ResponderExcluir"Por um lado é bom, por outro ... é Niterói!".
Uma coisa é certa: Niterói é uma cidade inesgotável para se fazer piadas sobre ela. Até da vida real. Uma colega, que lá morou, certo dia ia saindo de casa quando um urubu doente caiu em cima do carro dela, amassando o teto. Ficou traumatizada a ponto entrar em depressão e não sair de casa por dias.
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