Vemos hoje aspectos da Rua Senador Eusébio, no Centro, desaparecida com as obras para a construção da Av. Presidente Vargas na década de 1940. A rua começava na Praça da República e terminava na Avenida Francisco Bicalho. Teve as denominações de Caminho das Lanternas, Rua do Aterrado e Rua São Pedro da Cidade Nova. Conta Paulo Berger que em tempos antigos aterrou-se a borda principal do perigoso mangue, fazendo-se iluminar à noite, de espaço a espaço, com lanternas especiais, pois era o caminho usado pela Família Real para chegar a São Cristóvão. Daí os nomes de Caminho das Lanternas e Rua do Aterrado. Mais tarde o logradouro ficou dividido em dois trechos: Rua de São Pedro da Cidade Nova, a parte compreendida entre as praças da República e Onze de Junho, e Rua do Aterrado, da Praça Onze de Junho até o fim. Em 1869 recebeu o nome de Rua Senador Eusébio.
Por esta região ficava "o bairro judeu", que era a região compreendida pelas ruas Senador Euzébio, Visconde de Itaúna, Santana, Marquês de Pombal, Benedito Hipólito, Julio do Carmo, São Leopoldo, General Caldwell, General Pedra, Marquês de Sapucaí, Machado Coelho, Carmo Neto, Salvador de Sá, Praça da República e a zona do atual SAARA.
A Professora L. Silva levanta a hipótese
de que "a drástica cirurgia da abertura da Presidente Vargas não foi tanto
para dar passagem à avenida, mas para eliminar do coração da cidade um
território que pulsava diferente daquele desejado pela ditadura do Estado
Novo." Continua Silva: "O convívio dos diversos grupos naquele chão
merece ser estudado, pois malandros, comunistas, sambistas, prostitutas, ioruba
e iídiche, formaram um grande caldeirão cultural difícil de ser apreendido pelo
Estado, principalmente porque os classificava como classes populares, cujo
sinônimo era a barbárie e incivilidade, e, sob essa premissa atuava."
Vemos Cinema 11 de Junho, mais tarde Cinema Universal, depois
Cinema Rio Branco, depois Cinema Bruni Rio Branco. Ficava na Rua Senador
Euzébio nº 132, mais tarde renomeada Praça 11 de Junho nº 12-A, no Centro.
A Light, que fundou a Viação Excelsior, “um serviço de
auto-omnibus de alto luxo”, entrou em negociações com a “Empresa Nacional de
Auto-Viação”, que na época era a maior empresa de auto-ônibus da cidade. Esta
lhe cederia todo o seu material que seria substituído pelos novos veículos. Com
a concordata desta empresa a Light adquiriu o seu acervo.
Em 04/11/1927, foi realizada uma experiência com dois dos novos
auto-ônibus, repletos de jornalistas convidados e foram até a Gávea. Partiram
às 16:15 horas, sendo o primeiro veículo dirigido por Silvester e o segundo por
Charles A. Barton, ambos da cúpula da empresa canadense.
O GLOBO de 27/03/1928 relatou: “Examinámos o primeiro omnibus do
tipo Imperial (...). Como se sabe, essa classe de veículos consta de dous
pavimentos. No inferior vão distribuidos 12 bancos, oito dos quaes aos pares e
quatro alinhados lateralmente (...). Na parte superior, isto é, na ‘imperial’,
para onde se sobe por elegante escada de volta, há 17 bancos para dous
passageiros (...). A instalação para o chauffeur é commoda e elegante. Como
medida de previdencia, ha no vehiculo um extinctor de incêndio.”
Em 06/04/1928 foram inaugurados oito auto-ônibus de dois
pavimentos no tráfego da Rio Branco com grandes festas populares.
Em 6 de dezembro de 1941, foi anunciado o fim iminente dos “Chopps
Duplos”, o que ocorreria mais no fim da década de 40. Já considerados obsoletos
e pesadões, estavam restritos às linhas Leopoldina-Arcos e Leopoldina-Clube
Naval. Seus chassis passaram a vestir carrocerias convencionais e os motores
foram convertidos ao gasogênio. Foi a saideira do double-decker carioca.
Olá, Dr. D'.
ResponderExcluirAs fotos do AGCRJ eu conhecia (já havia postado no grupo ou até no fotolog) mas a do "chopp duplo" não lembro de ter visto.
A história do bairro judeu na Praça XI apareceu na novela da Manchete "Kananga do Japão" há mais de trinta anos(!!!). O final da novela coincide com o anúncio aos moradores que a Praça XI seria destruída para a abertura da nova avenida.
Se minha memória não me trai, apareceram imagens de arquivo com as demolições no último capítulo.
Bom Dia! Um Tio meu,funcionário da Ligth, lotado na"Cidade Ligth" me disse certa vez que as reformas para retirar o segundo andar dos Chopp Duplo foram feitas lá. Faltam 55 dias.
ResponderExcluirEsta fotografia do ônibus chopp duplo é de 1941 em diante, devido ao táxi Chevrolet bem à frente do ônibus. O outro táxi também é Chevrolet, mas de 1939.
ResponderExcluirFaltou um mapa para sabermos o lado da Senador Euzébio - imagino que seja o lado do Sambódromo e não o lado da Central. Hoje, a Senador Euzébio é uma rua no Flamengo, o que dificulta a pesquisa.
Deixei essa frase, mas aumentei a pesquisa e apareceu que é a rua do lado do Sambódromo, enquanto que a rua do lado da linha férrea era Visconde de Itabuna.
Visconde de Itaúna.
ExcluirNão falta mais. Publiquei o mapa solicitado.
ResponderExcluirClicar sobre a foto para ela aumentar de tamanho.
ResponderExcluirÉ o oposto, biscoitomolhado: Senador Euzebio era a do lado da linha férrea e Visconde de Itaúna a do lado do Sambódromo.
ResponderExcluirObrigado, Helio, vi o mapa agora.
ExcluirData vênia, discordo da professora L. Silva: as demolições para a construção da avenida Presidente Vargas se limitaram ao lado esquerdo da Senador Euzebio e direito da Visconde de Itaúna (sentido Central -Leopoldina), e só no trecho Praça da República - Praça 11. O resto do trecho, até a Leopoldina, já tinha sido aberto por volta de 1907.
ResponderExcluirPela delimitação da área indicada no texto, foi uma pequena parte demolida. O resto ficou intacto (e em boa parte ainda está até hoje).
Simplificando: a Rua de São Pedro compreendia o trecho da atual Presidente Vargas entre a Candelária e a Praça da República; entre a Praça da República e a Francisco Bicalho tinha o nome de Visconde de Itaúna. Já do lado oposto, o trecho da atual Presidente Vargas entre a Candelária e a Praça da República tinha o nome de General Câmara, e o trecho entre a Praça da República e a Francisco Bicalho tinha o nome de Senador Euzébio. A General Pedra, que ficava entre a estrada de ferro e a Presidente Vargas, desapareceu nos anos 70. Existia entre essas duas vias um sub-bairro bastante populoso, que acabou de transformando em uma extensão da zona do baixo meretrício. Lembro-me perfeitamente da General Pedra, pois
ResponderExcluirminha mãe me levava em uma "rezadeira" que morava lá. O "bota-abaixo" que ocorreu na região da Presidente Vargas entre a Praça da República e a Francisco Bicalho foi responsável pela demolição de cerca de 1200 imóveis.
Invertido, também: a continuação da São Pedro era a Senador Euzebio; a continuação da General Câmara era a Visconde de Itaúna.
ExcluirComplementando meu comentário: muito mais destruição ocorreu no trecho entre a Praça da República e a Candelária.
ResponderExcluirO mapa foi a cereja no bolo...
ResponderExcluirNas postagens anteriores sobre a Rua Senador Euzébio, fiquei meio perdido quanto a sua exata localização. A publicação do mapa, matou a charada.
ResponderExcluirVão acabar com a Praça Onze, não vai mais haver as escolas de samba, não vai... Adeus Praça Onze adeus já sabemos que iria desaparecer... Chora o tamborim chora o pandeiro chora o mundo inteiro...
ResponderExcluirSó com esse mapa eu vou gastar um bom tempo tentando entender como era aquele trecho antes da Av. Presidente Vargas... Lamento pelas construções perdidas. Nas fotos já vi algumas que eram belíssimas. Como várias que se foram.
ResponderExcluirA descontinuidade dos tapumes faz crer que demoliram as construções conforme conseguiam negociar com os proprietários.
ResponderExcluirBem que a novela citada pelo Augusto poderia estar disponível na rede. Não vi todos os capítulos mas é uma boa recordação da antiga Praça XI e arredores.
Acho que nela começou o estilo de começar uma cena com foto ou filme antigo e ir passando para o cenário da novela.
Brilhante. Que aula!
ResponderExcluirTeria o Getúlio se inspirado em alguma avenida de Moscou pós revolução, ou na Av 9 de Julio, de Buenos Aires? O caráter ditatorial do Estado Novo indica mais a primeira opção...
Das belas construções que vieram abaixo talvez o Igreja de São Pedro dos Clérigos tenha sido a mais lamentável perda.
Uma dúvida: o Canal do Mangue faz o escoamento apenas de águas pluviais ou também recebe o fluxo de algum rio. Se sim, onde esse rio nasce?
Desaguam no Canal do Mangue os rios Maracanã (nasce no Alto da Boa Vista), Joana (Alto da Boa Vista), Trapicheiro (Maciço da Tijuca), Comprido (Floresta da Tijuca) e Papa-Couve (Maciço da Tijuca).
ExcluirMeus tios contavam que iam aos espetáculos de luta livre no "Palácio de Aluminio", situado mais ou menos em frente ao "Balança mas não cai" e ao lado da Banda Portugal, isso já nos idos de 1948. A "vida noturna" naquela região era intensa e muitas "famílias de bem" moravam lá. Muitos judeus egressos Europa mantinham lá um "núcleo moveleiro" que "rivalizava" com o do Catete. Muitas famílias modestas que investiram suas economias em apartamentos no "Balança mas não cai" tiveram enorme prejuízo com os boatos, mas isso é uma outra estória.
ResponderExcluirContribuindo com trechos do que consta do livro "História das Ruas do Rio", do famoso Brasil Gerson, resumo o abaixo.
ResponderExcluirA antiga rua General Câmara (atualmente o lado direito da Presidente Vargas, de quem vai da Leopoldina para a Candelária), inicialmente era um caminho em terrenos alagadiços, e se chamava Caminho da Candelária ou do Gonçalo Gonçalves ou do Azeite do Peixe. Na esquina da rua da Quitanda se chamava Canto do Roxas e na esquina da rua da Vala (atual Uruguaiana) se chamava do Bom Jesus.
Mas o seu nome mais duradouro foi rua do Sabão, por haver nela o armazém de sabão do Rio colonial. Quando, no reinado de D.João VI, foi feita sua continuação após o Campo de Santana, esse novo trecho se chamou rua do Sabão da Cidade Nova, ou Sabão do Mangue ou de São Lourenço, posteriormente rebatizada como rua Visconde de Itaúna, em homenagem a esse visconde, nela falecido.
Segundo Paulo Berger a General CÂmara começava na Rua Visconde de Itaboraí e terminava na Praça da República. Teve os nomes de Rua do Cruzeiro da Candelária, Caminho que vai para o Cruzeiro da Candelária, Rua de Gonçalo GOnçalves, Rua o Travessa do Azeito do Peixe, Rua do Sabão, Rua de Bom Jesus, Rua dos Escrivães, Rua do Sabão da Cidade Velha (a Rua do Sabão da Cidade Nova era a Visconde de Itaúna).
ExcluirAntes de 1630 esta aberta esta rua.
Ainda segundo Brasil Gerson, a rua de São Pedro (lado direito da Presidente Vargas, de quem vai da Candelária para a Leopoldina), inicialmente se chamava Caminho de Antônio Vaz e rua do Carneiro. Quando, em 1742, ergueu-se a igreja de São Pedro dos Clérigos, a rua foi rebatizada como rua de São Pedro. Tal como aconteceu com a rua do Sabão, ao ser aberto o trecho após o Campo de Santana, esse novo trecho foi chamado de São Pedro da Cidade Nova. Brasil Gerson não distingue os trechos até a Praça 11 e daí em diante como tendo nomes diferentes.
ResponderExcluirA Rua de São Pedro, segundo Berger, começava na Rua Visconde de Itaboraí e terminava na Praça da República. Teve os seguintes nomes: Rua de Antonio Vaz, Rua de Antonio Carneiro, Travessa de João Mendes, Caminho que vai para o cemitério dos mulatos, Caminho da Forca e Rua Desembargador Antonio Cardoso. Era uma das ruas mais antigas da cidade e já estava cordeana antes de 1620 no trecho entre o mar e a Rua da Quitanda.
ExcluirA igreja de São Pedro foi demolida em 1942.
Quanto à Kanaga do Japão, segundo Brasil Gerson, ficava na rua Senador Euzebio, número 44. Era uma sociedade recreativa e dançante, uma das tantas da zona, chamadas de "mil e cem" (mil réis pela entrada e cem pelo chapéu) e nela Sinhô tocava piano.
ResponderExcluirLuiz, como vc sabe, todas as principais cidades da Europa têm sua "juderia", principalmente na Espanha. Vc sabe, desculpa minha ignorância, se algo parecido existe em alguma grande cidade brasileira?
ResponderExcluirMuito interessante, não conhecia essas histórias, pelas fotos a Rua Senador Euzébio parecia ser importante, movimentada e conhecida na cidade nas décadas de 10, 20 e 30, muito em razão da sua localização.
ResponderExcluirOlhando essas fotos e alguns imóveis me lembrei das moradias chamadas "cabeça de porco" que existiam na cidade, você já fez alguma postagem sobre elas ou possui fotos sobre o assunto Dr. D?
Caso não, fica a sugestão.
Avenida até hoje incompleta e cheia de terrenos vazios que são estacionamentos. Uma tristeza, o plano Agache já há prévia porém menos destruidora. Uma boa pesquisa falar do Plano Agache e o que sobrou.
ResponderExcluirOs judeus no Brasil sempre viveram pacificamente sem sofrer qualquer perseguição. No período do "Estado Novo" (1937/1945) houve esse temor mas nada de anormal aconteceu. Na Praça XI não havia um gueto propriamente dito, apenas uma espécie de "mercadão de móveis". Os efeitos da "Diáspora promovida por Vespasiano por volta do ano 70 A.D foram quase imperceptíveis no Rio de Janeiro do Século XX, ao contrário de outras diásporas ocorridas e que tanto impactaram a vida ddo Rio de Janeiro.
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