Há muitos anos, nos tempos do provedor Terra, o “Saudades do Rio”
comunicou que entraria de férias. Na ocasião, um caro amigo perguntou se podia
criar o “Saudades do Rio – O Clone”, do AD (Administrador Desconhecido). Claro
que autorizei e passamos a ter mais um excelente “fotolog” do Rio Antigo. A
postagem de hoje foi feita lá e reproduzo o texto e alguns dos comentários
feitos na ocasião. Fica a ideia de resgatar as melhores postagens daquele tempo
e disponibilizar para os amigos amantes do Rio antigo.
Escreveu o A.D.: “Recebi essas imagens do colaborador Luiz de Lucca, a quem agradeço a gentileza. Reproduzo abaixo o email do Luiz:
"Prezado AD;
Seguem fotos para vc. publicar no "Saudades do Rio", se quiser. O motorneiro é o meu avô materno, num bonde da linha Boca do Mato, por volta das décadas de 1930 ou 1940.”
Helio Ribeiro comentou: “Esse modelo aparece muito nas fotos do
Malta da década de 1920. É um modelo primitivo, sem proteção para o motorneiro,
que ficava à mercê das intempéries. Trata-se de um carro motor pequeno (2
eixos). Havia também os médios (4 eixos), igualmente sem proteção para o
motorneiro. Pelo tipo de algarismo do número de série (315), a foto foi tirada
entre 1933 e 1937, porque antes de 1933 os algarismos tinham as bordas
quadradas e após 1937 eles eram de tamanho bem menor. O Luiz de Lucca é um
grande conhecedor dos bondes e seu site é um repositório formidável de dados,
fotos e filmes sobre bondes. Sem contar suas extensões no YouTube e no MyVideo,
onde ele compilou e fundiu trechos de muitos filmes em que aparecem bondes.
Vale muito à pena visitar o site dele e as extensões.”
O Candeias, aliás aniversariante de hoje e a quem parabenizamos, comentou: “Viajei muitas vezes em bondes deste tipo. No
final da linha abaixava-se a peça de madeira que aparece sobre a cabeça do
menino e levantava-se outra igual do lado oposto. Uma vez uma delas caiu sobre
minha cabeça e fez um grande estrago. Minha sorte foi não ter caído, pois o
bonde estava andando. Cabeça dura a minha.”
O Helio disse que, além de baixar o travessão (a tal peça de
madeira citada pelo Candeias), os bancos eram rebatidos em torno de um “pivot”,
de modo que os passageiros ficassem de frente para o sentido de movimento do
bonde.
Nos modelos mais modernos que os da foto, além de baixar o
travessão, o estribo também era rebatido. Do lado oposto o travessão era
suspenso e o estribo baixado. Tudo isso para evitar o embarque pelo lado
"contramão". Mas nem sempre funcionava porque havia os rebeldes que
insistiam em embarcar e saltar pelo lado "interditado".
A Cristina Coutinho fez um comentário interessante: “Quanto ao
local, Boca do Mato, apesar de nunca ter ido, conheço pela personagem Tia
Zulmira, de Sergio Porto (Stanislaw Ponte Preta) que lá morava. Também conheci
um senhor cego que trabalhava na Biblioteca Estadual na Presidente Vargas e que
morava neste lugar. Para mim era inacreditável que uma pessoa cega viesse
sozinha de um lugar da ficção e tivesse que transitar pela Presidente Vargas.
Nesta época não havia mais bondes e o senhor cego enfrentava mesmo eram os
ônibus.
O saudoso ETIEL disse: “Bonde nº 87 - Boca do Mato. Da estação do
Meyer (lado Dias da Cruz) até Rua Aquidabã, onde retornava. Por ali, também,
era o ponto de retorno do bonde 75 - Lins de Vasconcellos. Vocês estão me
ativando lembranças cinqüentenárias: Vilella Tavares, Hospital Naval Marcílio
Dias, Maternidade Carmela Dutra, Pedro de Carvalho etc. Além, óbvio, do sempre
lembrado refúgio da macróbia Zulmira.”
O próprio Lucca
complementou: “Quase isso, Etiel. Sim, o ponto final do Meyer era na altura da
Estação, lado Dias da Cruz, bem em frente ao antigo "Café Londres"
(creio que hoje seja outro estabelecimento comercial, mas não sei ao certo).
Mas ia além da Aquidabã. Da Dias da Cruz, virava à esquerda, para a Pedro de
Carvalho (onde, na época, ficava, se não me falha a memória, a Liga dos Cegos),
até a esquina da Aquidabã, entrando nesta e percorrendo toda a sua extensão,
até dobrar à direita, entrando na Maranhão, percorrendo também toda a rua,
terminando na esquina com a Dias da Cruz, de onde retornava. Detalhe: o trecho
final - Aquidabã e Maranhão - era em linha singela. O ponto final da linha do
Lins era realmente por ali, se não me engano na esquina de Pedro de Carvalho
com Aquidabã.”
UNTISAL é o remédio anunciado na frente do bonde. Pesquisando na Internet dá para perceber que o remédio servia para tratar a transpiração, o reumatismo e qualquer outra coisa desde unha encravada a câncer...
Molde da propaganda estampada no cartaz do bonde.
Chega a ser irônica descrição da "Boca do mato" de antanho se comparada com a realidade atual. No pé do morro da Camarista Meier e "fundos do Lins de Vasconcelos", a região é uma das mais perigosas do Rio, "valhacouto de quadrilhas de roubadores e de latrocidas". No "Baixo Meier" atual funcionava a antiga estação de bondes do Meier e o "Boca do Mato" tinha um dos trajetos mais curtos existentes e era possível faze-lo a pé. Assim como todas as linhas de bonde da região do Méier, o Boca do Mato deixou de circular em 13 de Março de 1965.
ResponderExcluirOlá, Dr. D'.
ResponderExcluirÉ sempre bom relembrar as postagens antigas, incluindo as colaborações de quem já se foi.
Durante muito tempo havia a lenda de que "AD" era André Decourt. Mas ele já tinha seu próprio site.
A última foto seria chamada no mínimo de "provocante" por algumas pessoas.
Como sou uma nulidade em relação a bondes, acompanharei os comentários.
Desde muito tempo vendia-se soluções para todos os males. Ainda hoje acontece. Vê o caso da falsa enfermeira de MG vendendo dose de vacina contra gripe como se fosse para Covid. E caíram...
Faltam 48 dias, se tudo correr bem.
Bom Dia! Nos anos 40/50 minha Madrinha morou em um edifício (que ainda está lá), na Rua Maranhão quase esquina com Aquidabã. Para ir em sua casa pegava o bonde da linha 87,que já tinham sido modificados e já estavam com vidros na frente e traseira. Apesar de gostar de bondes a novidade ali na época eram os lotações "Treme-Treme" (UNIC-Diesel encarroçados CIRB) da Viação S.O.F.A. que faziam a linha Lins-Lagoa e em dias e horários de corridas de cavalos, a linha era Lins- Jockey,com "vista" vermelha. Faltam 32 dias.
ResponderExcluirAndei nesse bonde bem menino pois minha a avó paterna, a italiana, morou nessa região. Ainda tenho fotos desse tempo mas não sei dizer em que endereço. Aliás em matéria de bondes acho que conheci e usei quase todos que circulavam pela região do Engenho Novo/Meyer, inclusive o que ia para o Cachambi ,onde moravam parentes na rua Honório. Para aqueles que desconhecem por frequentarem mais recentemente este blog esclareço que, apesar do meu apelido Docastelo, referência à região onde morei por mais de quarenta e oito anos, minha origem é do subúrbio do Meyer/E. Novo, onde residi até meados de 1961. Meu primeiro endereço, ainda bêbê, foi na rua Silva Rabelo, tendo como vizinho próximo o cômico do cinema nacional Oscarito.
ResponderExcluirO Rio tem e teve nomes muito simpáticos e meio misteriosos. Boca do Mato é um deles.
ResponderExcluirAs ruas do Centro como Caminho da Prainha, Latoeiros, Das Belas Noites, Beco do Bobadela, Das Boas Pernas, Beco dos Aflitos, Fresca, Barbonos, Praia do Peixe, Ourives, Beco dos Adelos, Ilhota, são exemplos.
Camarista Méier e Malvino Reis são nomes diferentes.
agradecemos ao travessão que caiu sobre a cabeça do Candeias. A partir disso seu cérebro desenvolveu a habilidade de cantar para nosso gaudio! Parabéns ao travessão e ao Candeias por ter sobrevivido e hoje nos brindar com sua voz magnifica!
ResponderExcluirApesar de ter pego o finalzinho dos bondes, sempre adorei este meio de transporte e gostaria que ainda existisse. Com o número cada vez mais crescente de bandidos, assaltantes e baderneiros, as empresas de bondes teriam um grande prejuízo, pois os calotes seriam uma constante, o que inviabilizaria definitivamente a sua continuidade.
ResponderExcluirBom dia a todos. Bondes tema que gosto muito e sempre aprendo alguma coisa nova em cada postagem.
ResponderExcluirDesejo ao gerente Dr. Luiz D', a todos os comentaristas diários e familiares uma feliz Páscoa.
A última foto realmente dá margem a interpretações.
ResponderExcluirQuanto ao trajeto, o do Boca do Mato era o mais curto, ao que parece. Outro bem curto era o da linha André Cavalcanti. O mais longo era o Cascadura.
Hélio, embora não fossem na Guanabara, os trajetos de bonde mais longos eram o de "Santo Amaro" em São Paulo e o que fazia a linha de Alcântara em São Gonçalo. O primeiro foi extinto em 1968 e seu trajeto atualmente é ocupado por uma linha de Metrô, e o segundo percorria um trajeto de 24 Km e foi extinto em 1964. Esse último era o transporte utilizado por Zizinho ao voltar dos treinos no Flamengo após tomar um lotação na Gávea e em seguida uma barca na Praça XV. Fica difícil acreditar que o grande craque do Flamengo na época tivesse hábitos tão modestos, ao contrário da realidade atual onde qualquer "moleque" com muito menos talento possui avião, iate, mansões, e um "manipulo de seguranças".
ExcluirOutros tempos. No primeiro domingo após a volta da Suécia encontrei com o Dida saltando do lotação na Bartolomeu Mitre e seguindo para a sede do Flamengo.
ExcluirQuanto à falta de proteção para o motorneiro, nos bondes construídos para a Jardim Botânico após cerca de 1910 isso nunca existiu: havia parabrisas de proteção para ele.
ResponderExcluirJá todos os bondes da Light (com raríssimas exceções) não dispunham de parabrisa, o que só foi remediado por volta de 1940. Já os bataclãs, construídos a partir de 1924, tinham parabrisas.
É fácil saber se um bonde dessa época (1910 a 1940) tinha ou não parabrisa: se chapa metálica da frente dele era constituida por 3 partes separadas por tirascde madeira, e se o letreironera bem grande e recuado no teto, então ele tinha parabrisa; se a chapa metálica era lisa e o letreiro era pequeno e bem na frente do teto (como nas fotos de hoje), então não tinha parabrisa.
As minhas lembranças sobre viagens a bordo de bondes são quase apagadas, mas não esqueço de ficar admirando o motorneiro operando o equipamento no "painel" de comando. Eu e meu irmão disputavamos o lugar mais próximo a ele, claro, no horário de menor movimento de passageiros.
ResponderExcluirBoca do Mato é o local conhecido na família pela maternidade onde nasceu a minha prima mais velha pelo lado materno. Um hospital para os comerciários, provavelmente o Carmela Dutra.
No princípio, todos os bondes eram bidirecionais (inclusive os reboques). Com o passar do tempo, foram sendo construidos rodos no final dos trajetos, e os bondes foram sendo transformados em unidirecionais. Mas até o fim dos serviços de bondes, na década de 1960, vários permaneceram bidirecionais e doze foram comprados por museus americanos. Também muitos reboques permaneceram bidirecionais, enquanto outros deixaram de sê-lo.
ResponderExcluirimpressionante o que vc sabe sobre bondes. Isso merecia um livro. Já pensou nisso?
ExcluirO Hélio é o maior especialista de bondes do Rio de Janeiro, inclusive em detalhes que poucos especialista conhecem.
ExcluirO bonde exposto no Centro Cultural da Light é bidirecional.
ResponderExcluirO violonista, guitarrista e compositor Hélio Delmiro tem uma música chamada "87 - Boca do Mato". Está no disco "Violão Urbano", de 2002. Hélio nasceu e se criou no Méier, rua Barão de São Borja, muito próximo a um trecho onde este bonde circulava.
ResponderExcluirUm dos motivos de o local de chamar Boca do Mato é porque ali começava a trilha conhecida como "Caminho do Mateus", que se usava para ir a pé até Jacarepaguá, cruzando pela mata da Serra dos Pretos Forros. Já vi imagens recentes de trechos desse "Caminho do Mateus" que ainda podem ser identificados, embora já bem descaracterizados. O nome "Serra dos Pretos Forros", como o nome indica, é por causa de um quilombo que, com a abolição da escravatura, tornou-se uma comunidade de destino de diversas famílias de escravizados que migraram do interior do Rio de Janeiro. O Martinho da Vila, cuja família é de Duas Barras, morou na Boca do Mato e era compositor da escola "Aprendizes da Boca do Mato", antes de ser o "Da Vila". Se não me engano, por volta dos anos 2000, este trecho da serra passou a integrar o Parque Nacional da Tijuca porque descobriu-se que boa parte da mata ali ainda estava bem preservada.
ResponderExcluirEsses detalhes explicam as razões pelas quais as facções criminosas do Rio consideram essa região fundamental. Não é sem razão que a Avenida Menezes Côrtes é uma região perigosíssima, pois a favela Camarista Méier ocupa parte da vertente da Serra dos Pretos forros e dali se acessa o Morro da Covanca e a Praça Seca.
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