Vemos um
bonde em frente ao Colégio Militar, num dia tranquilo do século passado. Em
1889, oito meses antes da República, foi instalado o primeiro Colégio Militar
brasileiro, no Rio, dedicado sobretudo à educação dos filhos dos oficiais do
Exército. Em 09 de março de 1889, Sua Majestade, o Imperador Dom Pedro II,
dispôs-se a assinar o importante Decreto de nº 10.202 que aprovou para o
Imperial Colégio Militar o seu primeiro regulamento. A ânsia do Ministro da Guerra,
Thomaz Coelho, de colocar em funcionamento o Colégio, levou-o a fazer, em 07 de
abril de 1889, sua primeira visita oficial ao Palacete da Baronesa de
Itacurussá, cujo terreno fazia esquina com as ruas São Francisco Xavier e Barão
de Mesquita, e se prestava a servir de sede do Colégio Militar. Em 29 de abril
de 1889, foi lavrada a escritura de compra e venda do Palacete da Babilônia. Por
fim, no começo de maio de 1889, dois avisos importantes do Ministério da
Guerra: o do dia 02, concedia licença aos candidatos inscritos para serem
matriculados e o do dia 04 determinava que a abertura das aulas se realizasse
dois dias depois.
Conforme conta
Milton Teixeira, a linha de bondes que passava por aí era a da antiga Companhia
São Cristóvão, herdeira da primeira linha de bondes que funcionou na América
Latina, em 1859, numa concessão feita pelo Governo Imperial em março de 1856 ao
cidadão tijucano Thomas Cochrane. A Companhia dos Bondes da Tijuca teve grande
sucesso inicial, mas em 1868 faliu quando estava sendo dirigida pelo notável
Barão de Mauá. Em 1870 retornou a circular já em mãos estrangeiras e com o nome
de Companhia São Cristóvão. Foi encampada pela Light no início do século XX e
finalmente estadualizada em dezembro de 1963, depois de longa queda-de-braço
entre o Governador Carlos Lacerda e a Light. A linha foi extinta afinal em 20
de janeiro de 1968.
Vemos o bonde
"PÇA. 15 NOVEMBRO", com seus dois reboques, cheio de passageiros.
Diversos funcionários da Light supervisionam o embarque/desembarque e orientam
o motorneiro. No bonde, no segundo banco, uma senhora lê o jornal e dezenas de passageiros
portam chapéus "Palheta”. Estamos quase na Praça da República, entre o
Campo de Santana, Ministério da Guerra (Quartel-General) e a antiga estação da
E.F. Central do Brasil, aliás belíssima.
Foto do Arquivo Nacional / Fundo Correio da Manhã, mostrando bonde em circulação na Praça Tiradentes, na década de 1940. É de impressionar a elegância da vestimenta de todos os retratados, inclusive menores. Poses de "malandro", chapéus e paletós generalizados.
Esta linha, que recebeu o número 25, tinha o seguinte itinerário: IDA: Praça Tiradentes - Constituição - Gomes
Freire - Resende - André Cavalcanti. VOLTA:
André Cavalcanti – Riachuelo – Resende – Visconde de Rio Branco – Praça Tiradentes.
O Helio talvez saiba dar informações sobre este bonde. O que sei é que a fotografia é de 1963. Seria relacionada com as últimas viagens dos bondes? O bonde, bastante avariado, tem número de ordem inciado por "2".
Os bondes
começaram a assim ser chamados devido à dificuldade de troco para as passagens
de 200 réis. A Botanical Garden Rail Road Company, já com o nome Companhia
Ferro Carril Jardim Botânico, optou pela venda de cupons - nos Estados Unidos
chamados BONDS - que agrupavam, de uma só vez, cinco passagens. Desta forma, a
venda de bilhetes para cinco viagens não necessitaria de troco, visto que as
notas de 1000 réis circulavam em grande quantidade.
Com o correr o tempo e por terem estes cupons a foto impressa dos veículos da
companhia, o povo passou a chamá-los de BONDES, apelido que ultrapassou as
fronteiras do Rio, designando este transporte em todo o Brasil.
Existe uma contradição nessa postagem ao informar que "a linha foi extinta em 20 de Janeiro de 1968". A concessão da Light terminoubem 31 de Dezembro de 1963 e a CTC, criada em primeiro de Janeiro de 1964, passou a administrar o acervo da Light, que em 1964 e 1965 extinguiu a maior parte das linhas da cidade, restando as de Jacarepaguá em Janeiro de 1966, a do Monteiro em Outubro de 1967, e a do Alto da Boa Vista em Dezembro de 1967. Portanto a data de 30 de Janeiro de 1968 é incorreta.
ResponderExcluirOlá, Dr. D'.
ResponderExcluirBondes não são a minha jurisdição. Deixo para o Helio. De perto mesmo, só vi o em exposição no Centro Cultural da Light.
Atualmente, em circulação, mesmo parcial, só o de Santa Teresa, hoje a um preço proibitivo (para quem não é da região). Via passar pelos arcos, mas de longe.
Usei muito mais vezes o VLT. Mas não é a mesma coisa.
Tem razão o nosso "comentarista olímpico" quando afirma que o preço da passagem do bonde de Santa Teresa é proibitivo. Um valor de R$ 20,00 para um trajeto minúsculo só pode ser um deboche. O bonde não passa do Largo do Guimarães e a razão é simples: a quantidade de marginais homiziados nas nas favelas da região é tal que praticamente não há mais transporte público além da região citada. Táxis amarelos e Ubers se recusam a subir as ladeiras sinuosas e correr riscos. Os ônibus são raros e em horários incertos. Os ramais do Silvestre e Paula Matos estão inativos. E ainda existe gente que acha que "os dias atuais são melhores"...
ResponderExcluirO que mais me impressiona é a incapacidade - falta de vontade ? - de garantir um mínimo de segurança em um bairro que, convenhamos, apesar dos múltiplos acessos é relativamente pequeno comparado a outros de zonas conflagradas da cidade.
ResponderExcluirÉ "falta de interesse". Santa Teresa é cercada por favelas onde o tráfico é altamente lucrativo e para seus verdadeiros donos é fundamental que essa realidade se mantenha. Não difícil tornar Santa Teresa novamente um bairro aprazível, mas muitas "cabeças coroadas" e elementos incrustados nas Casas Legislativas, Judiciário, Defensoria Pública, e na mídia em geral, perderão muito dinheiro. Em razão disso é interessante que a região se mantenha degradada, desvalorizada, e onde os serviços públicos são precários ou inexistentes. É bom lembrar que favelas só prosperam onde existem crime, desordem, convulsões sociais, e é claro o tráfico de drogas. O excelente apresentador Tino Júnior da Record realiza sobrevôos diários pelas regiões problemáticas do Rio e não se cansa de declarar que "Estado está vendido", assim como o comando da PM", pois não se vê policiamento ostensivo em grande parte da cidade, enquanto traficantes desfilam pelas ruas ostentando fuzis". Um exemplo disso foi a explosão de uma Agência da CEF na principal rua de Vila Isabel ontem onde sete marginais saquearam a agência por quase quinze minutos sem que aparecesse qualquer viatura. Dá até para desconfiar...
ExcluirMuito boas as fotos do período até 1940.
ResponderExcluirJá na foto de 1963 a situação do bonde é lamentável. Melhor seria se o fotógrafo tomasse mais distância, não só para esconder os defeitos do veículo coletivo com para mostrar mais o entorno da via.
Em tempo: será que a concessão da linha só terminaria em 1968, se continuasse sob administração da Light?
Fica a impressão que ideia do Lacerda foi mesmo acelerar o fim dos bondes.
O volume de passageiros supera em muito a capacidade de charme do bonde. Mas em Santa Teresa justifica-se um passe p morador e um turístico. E um PM em cada bonde. É o jeito. Em Viena bondes circulam tranquilamente e em Roma tem o "tram". triste com a crescente desatenção para com a cidade..
ResponderExcluirBom dia a todos. Fotos espetaculares. Qual seria o local da 4ª foto? O problema do Brasil é o mesmo desde a descoberta, deixar esculhambar as coisas, para refazer depois quase sempre com qualidade pior para novamente deixar ser destruída e novamente se refazer, a final o dim dim por fora, este sim deve sempre ser mantido e cada vez maior.
ResponderExcluirA quarta foto mostra um "Sossega Leão" ostentando uma bandeira dos EUA e uma do Brasil, mas é difícil identificar o local. A primeira foto mostra a rua General Canabarro e era trajeto do bonde 70 Andaraí-Leopoldo. Salvo engano era a única linha que circulava nessa rua. Até o final dos anos 50 o bonde entrava na General Canabarro vindo da Praça da Bandeira pelas ruas Pará, Senador Furtado, e Amapá. No final dos anos 50 e em razão das desapropriações e das obras da futura Avenida Radial Oeste, esse trajeto foi alterado: ao sair da Praça da Bandeira o bonde seguia pela Mariz e Barros e Ibituruna até entrar na General Canabarro.
ResponderExcluirAlgumas observações sobre as postagens de hoje. Alertando a todos que sou um apaixonado pelos bondes, mas não um pesquisador do assunto. Portanto, valho-me de outras fontes para obter informações sobre a história deles. Principalmente nos textos do Allen Morrison e do Marcelo Almirante, que são excepcionais. Vamos lá:
ResponderExcluir1) quanto ao texto da primeira foto ==> a Companhia Carris de Ferro da Cidade à Tijuca não foi a primeira a operar bondes na América Latina em 1859, e sim a terceira, precedida pelas do Chile (1857) e México (1858). Além disso, a Companhia São Cristóvão, originalmente fundada com o nome de Rio de Janeiro Street Railway em 1869, não era herdeira da companhia do Thomas Cochrane, e sim apenas obteve concessão para operar o mesmo trajeto desta, além de outros. A São Cristóvão, apesar de seu nome, não operava somente na área de São Cristóvão, tendo também linhas para o Estácio, Rio Comprido, Catumbi e Caju, além da Tijuca (na época chamada de Andarahy Pequeno). Mas a área do Andarahy Grande (que englobava os atuais bairros do Andaraí e Grajaú), Vila Isabel e Engenho Novo era da Companhia Ferro-Carril de Vila Isabel, fundada em 1872 pelo Barão de Drummond. Na foto, o bonde que aparece é da companhia de Vila Isabel. Em alta definição dá para ver as iniciais CVI na lataria frontal do bonde, que por sinal é de origem alemã, da companhia Van der Zypen & Charlier, de Hamburgo. O número de ordem dele é 49 e o ano é 1912. Essa numeração ainda é da Vila Isabel. Depois todos esses bondes seriam renumerados pela Light, na faixa 386 a 435.
2) quanto à segunda foto ==> quase certo ser um bonde da linha Lins de Vasconcellos. O segundo reboque parece ser de segunda classe.
ResponderExcluir3) quanto à terceira foto ==> não é da década de 1940, porque nessa época o tamanho dos números de ordem era diferente. A foto é da década de 1930. Segundo consta, o bonde foi parado por um piquete grevista da companhia Jardim Botânico. Não se se é verdade. Uma curiosidade é que a linha André Cavalcanti originalmente se chamava Silva Manoel, antigo nome daquela rua, alterado por volta de 1927. O modelo do bonde parece corresponder aos comprados na Inglaterra, da fabricante United Electric, em 1908.
ResponderExcluir4) última foto ==> é o bonde número de ordem 2571. Não sei por que o número foi apagado, pois no original do Correio da Manhã via Arquivo Nacional está visível. Foto tirada no dia 01/03/1963, último dia de circulação da linha 13 - Ipanema. Muitos carros-motores desse tipo foram aproveitados pela Light após o fim da Jardim Botânico. Mas o 2571 não foi um deles, talvez pelo estado deplorável em que se encontrava.
ResponderExcluirNo Centro Cultural da Light estive lendo um relatório de uma consultoria canadense, datado de 1925, em que era sugerida a criação de linhas de metrô alimentadas pelos bondes. Até a década de 1940 o transporte por bondes era o mais usado (exceto trens), por ser ramificado para grande parte da cidade. No pós-guerra começou a invasão do transporte rodoviário, que acabou inviabilizando os bondes por competirem com eles não só pelos passageiros como também pela ocupação das ruas.
ResponderExcluirMuitas cidades Norte-americanas desativaram bondes ainda nos anos 40, mas muitas os preservaram. Além de San Francisco, Nova Orleans foi uma das cidades que mantiveram seus sistemas após alguma adequação. Em 1947 os bondes utilizados e desativados em Nova York do tipo "Centex" (Central exit) foram vendidos para a Prefeitura de São Paulo onde receberam o apelido de "Gilda", personagem vivida por Rita Hayworth no filme do mesmo nome, onde se juntaram aos do tipo "Camarão" e circularam até 1968. As grandes cidades europeias ainda mantém seus sistemas de bondes. No Rio de Janeiro depois de modernizados e sob certas condições, poderiam estar poderiam estar funcionando até hoje em pistas seletivas. Mas a corrupção falou mais alto. Em Santa Teresa se não houvesse forte pressão de setores influentes da população já teriam sido suprimidos (ou o que resta deles).
ExcluirEm várias cidades do mundo encontrou-se soluções para a manutenção dos bondes convivendo com carros e ônibus; acredito que - senão em todas, pelo menos na maioria - já existia um metrô "robusto", que possibilitou a manutenção da quantidade de veículos de superfície em níveis controlados.
ExcluirParabéns Mestre Hélio, suas explicações são uma verdadeira aula, sobre a história dos bondes, que até hoje ainda são uma paixão dos Cariocas que tiveram o privilégio de viajarem neste meio de transporte.
ExcluirNos meus tempos de Colégio Militar, de 1953 a 1961, era frequente usuário dos bondes. Não podíamos andar fardados nos taiobas, uma regra ridícula na minha opinião.
ResponderExcluirRapaz, essas leituras dos comentários do Hélio são verdadeiras aulas...
ResponderExcluirSe o Helio fosse pesquisador saberíamos até os nomes dos passageiros…
ResponderExcluirÉ impressionante o conhecimento dele.
"Uma curiosidade é que a linha André Cavalcanti originalmente se chamava Silva Manoel, antigo nome daquela rua, alterado por volta de 1927".
ResponderExcluirUma dica sobre o que o Hélio disse.
Caso queiram conhecer nomes antigos de ruas e decretos dos nomes atuais, usem o site abaixo:
ruas.rio/servicosonline/consulta.php