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quinta-feira, 3 de setembro de 2020

AVENIDA ATLÂNTICA

O palacete ao fundo. Em primeiro plano meu irmão em 1945.

O palacete em foto do acervo do A. Decourt, colorizada pelo Conde di Lido. 

Foto do quarteirão entre Constante Ramos e Santa Clara identificada pelo M. Zierer.

As fotos de hoje sempre foram motivo para falarmos do Edifício Guarujá, ignorando o palacete da Av. Atlântica que também aparece na foto.

Recentemente o prezado Maximiliano Zierer fez uma espetacular pesquisa, publicada no Facebook, sobre este palacete e descobriu uma história novelesca, resumida abaixo.

Tratava-se de propriedade do tenente do Exército Palmyro Serra Pulcherio que morava com sua família no Leme, na Rua Gustavo Sampaio número 110. Entre 1913-14, mandou construir um novo palacete de três pavimentos em estilo eclético na Av. Atlântica, localizado em um terreno adjacente ao lote de esquina da Av. Atlântica com a Rua Constante Ramos, vizinho do Edifício Guarujá.

O tenente não chegou a morar no recém-construído palacete Pulcherio. Logo depois da sua morte, que se deu de forma violenta, numa briga na Rua São José, no Centro, na madrugada do dia 15/11/1914, uma série de denúncias veio à luz nos jornais.

O primeiro tenente de Engenharia Palmyro Serra Pulcherio foi autor dos projetos e engenheiro-chefe de diversas obras: a Villa Proletária Marechal Hermes, em Deodoro, a Operária Villa D. Orsina da Fonseca, no Jardim Botânico (em homenagem à primeira esposa do Marechal Hermes, falecida em 1912), a estação de Marechal Hermes e a nova Imprensa Nacional. Era homem de confiança do presidente Hermes da Fonseca, sendo encarregado de outros projetos, tais como a construção de um quebra-mar na Av Atlântica (no Leme, onde residia), obras de saneamento na Lagoa Rodrigo de Freitas, e mais tarde obras militares no Estado de Mato Grosso.

Em janeiro de 1917, houve a execução judicial contra os herdeiros do tenente (sua viúva e os três filhos), com a penhora do palacete na Av. Atlântica em decorrência de supostos desvios verificados na construção da Villa Marechal Hermes (A Rua - Semanário Illustrado, 24-1-1917).

Porém, passados 17 anos da morte do tenente Pulcherio, o Supremo Tribunal Federal rejeitou os embargos opostos pela Fazenda Nacional e anulou o processo movido contra o espólio do tenente. Deste modo, o STF deu ganho de causa à viúva e seus filhos, com a total restituição do dinheiro e dos bens penhorados no ano de 1917 (A Noite, 27/8/1931).


16 comentários:

  1. Estória interessante de um tempo que não volta mais. A engenharia e a arquitetura são uma ciência originalmente castrense e é essa a principal razão de no passado os militares serem os responsáveis pela maioria das obras. O desfecho da estória foi lógico e coerente. Se isso tivesse acontecido na atualidade certamente a decisão do STF seria diferente: a viúva nada receberia, seria obrigada a arcar com as custas do processo, o imóvel seria revertido para algum político, magistrado, ou mesmo um "laranja". FF: já que tratava-se de um imóvel "foreiro", o custo devia ser alto.

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  2. Bom dia, Dr. D'.

    Verdadeira aula para quem gosta do assunto. Denúncias de maus feitos vêm de longe. A justiça "célere" do país, como visto também nesta semana.

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  3. Hoje,de fato,dificilmente a familia ganharia a questão,pois vários interesses estariam em jogo. 3 palacetes na ultima foto e otimos locais para um templo diferenciado,com milagres diários,pensão inteira.
    FF: Ontem pelo menos,o Flamengo foi mais efetivo.Diminuiu alguns espaços,marcou melhor e finalizou bem.Mas sem a bola ainda mostrou deficiencias e o goleirinho não passou confiança.Vamos ver se o Dome consegue equilibrar....

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  4. Já tinha uma Odebrecht desviando dinheiro público. E como até hoje o STF protegeu os corruptos. Nada mudou nesse 100 anos.

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  5. Se o processo estivesse ainda tramitando até os dias atuais, os herdeiros perderiam a demanda em 2.042, como na recente sentença na ação movida pela Princesa Isabel, com relação ao Palacio Guanabara, cujo processo perdurou por 125 anos, ou seja, no caso, de 1.917 + 125 anos = 2.042. Justiça brasileira !

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  6. O Tenente morreu no dia em que o Marechal passou a faixa para o Wenceslau Brás.
    Se pelo menos tivessem mantido a distância da praia igual ao Edif. Guarujá para todos os prédios da Av. Atlântica.

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  7. Nada mudou nos últimos 100 anos? Não, nada mudou nos últimos 500 anos. Expressões como "sesmaria, Capitania hereditária, e feitoria", não encontram similar em países civiizados do continente americano (leia-se EUA e Canadá), e a razão é simples: lá não existem "amigos do rei". A formação dos grandes latifúndios se originou no citado modelo de colonização. E como o assunto é longo, espinhoso, e certamente há de causar "melindres", vou ficar por aqui.(por enquanto). FF: Witzel "perdeu por 14x1". Eduardo Paes lidera a pesquisa para a Prefeitura com 27%.

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  8. Edifico Guarujá foi um dos únicos a respeitar o plano Agache, para que não houvesse sombra na praia de Copacabana.
    Venceu a especulação mudaram a lei e virou zona. Foi tão acintoso que o próprio jardim do Guarujá virou outro prédio nós anos 60.

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  9. Fui até a banca de jornais digitalizados da Biblioteca Nacional.
    O fato citado, que resultou na morte do Tenente Pulcherio, foi uma verdadeira sequência de faroeste, no trecho da Rua S. José junto ao "finado" Hotel Avenida.
    Segundo o Correio da Manhã, opositores ao governo foram atacados pelos defensores do Marechal Hermes, sendo estes liderados pelo tenente, que considerava como um dos seus aliados um tal Queiroz.

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    1. O Brasil daquele tempo era bastante politizado e essa parcela politicamente ativa era lúcida e escolarizada. Isso de certa forma tem explicações. Uma delas era que apesar de as eleições serem "à bico de pena", nem todo eleitor tinha direito a voto. Isso naturalmente selecionava e qualificação o voto". Analfabetos não votavam e às mulheres só foi possível votar após 1933. Nos EUA a seleção era ainda mais rigorosa e as restrições eram ainda maiores e certas minorias eram proibidas de votar. Até hoje lá o voto é vedado aos analfabetos, mas no Brasil tal excrescência foi criada após 1988. Atualmente o "código eleitoral brasileiro" possui elementos surreais. Não admira que o país chegou ao estado deplorável em que se encontra. Um país onde elementos bizarros como Tiririca, Benedita, Maria do Rosário, Jean Wyllis, e muitos outros, "possuem destaque" não pode ser levado a sério...

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  10. Também na questão da eleição municipal eu sou Do Contra.As viuvas vão ficar ruborizadas de raiva,mas vou fazer campanha para Eduardo Paes,que foi o melhor prefeito do Rio depois do grande Carlos Sampaio.Podem falar o que desejarem,mas o moço trabalhou como poucos e deve ser bem vindo o retorno.Quem estiver satisfeito que fique com o pastor de plantão.Eu sou Do Contra.

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    1. Nessa eu estou "a favor" com o "do contra"...rsrs
      O Dudu foi o melhor governante do Rio desde Lacerda.

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    2. Balela. Se fosse tinha pelo menos botado o pupilo no segundo turno... Teve todos os fatores a favor, como verbas quase ilimitadas para obras (superfaturadas e podres). O segredo foi despejar milhões em verbas de publicidade para a Globo, coisa que aprendeu com o mentor maluquinho...

      O sucessor é tão ruim que o transformou em estadista... Mas a maioria nem pode reclamar.

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    3. Eduardo Paes é uma corruptela do Século XXI de Ademar de Barros, o "rouba mas faz". Esperto e ladino, não deixou rastros. Adepto dos "costumes de Tiberio", deixou o VLT como legado.

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  11. Boa tarde a todos. Uma boa reportagem sobre o passado do palacete em questão. Falar em desonestidade no setor público do Brasil isso vem de muito, muito longe. Falar que o STF tem decisões nebulosas ou melhor dizendo suspeitas, também vem de muito, muito longe. Isso só comprova o que dizia um ilustre visitante e uma piada que também vem de já de muito longe. O ilustre visitante disse: "O Brasil não é um País sério". A piada é aquela que todos nós conhecemos, na qual o final é Deus respondendo a um de seus apóstolos: "Mas olha o povinho de m#### que eu vou colocar lá". Mas a verdadeira realidade é a seguinte, o nosso povo jamais se insurgiu contra políticos e o judiciário. Faço uma aposta, no dia que o povo invadir o congresso ou o supremo e pegar alguns deputados, senadores e juízes e matá-los de porrada, garanto que também pelos próximos 520 anos não teremos mais esses casos escabrosos se repetindo no País. É como sentar num formigueiro, sentir uma coceira na bunda, mais não se levantar do lugar por preguiça.

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  12. Alguém tem mais informações ou alguma fonte segura, ou detalhes sobre como foi a morte do engenheiro militar Palmyro Serra Pulcherio? Eu estou fazendo uma pesquisa e gostaria muito de saber qual era o contexto e o por quê da briga que levou a morte dele. Se foi assassinato, ou algo envolvendo alguma conspiração política. Quero escrever sobre isso e entender o que aconteceu.

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