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sexta-feira, 19 de março de 2021

HOTEL DE FRANCE

Vemos, à direita, em foto do acervo do AGCRJ, o Hotel de France na esquina da Praça XV com a Rua Primeiro de Março. Na transição do século XIX para o século XX o viajante que chegava ao Rio de Janeiro devia contratar um despachante versado em assuntos alfandegários para desembaraçar sua bagagem. A seguir, livre da burocracia, podia seguir a pé para alguns dos hotéis do Centro, como o de France. Este era bem frequentado e tinha recepcionistas que falavam vários idiomas como inglês, francês, alemão, espanhol e o flamengo. Este hotel tinha um magnífico terraço panorâmico onde os hóspedes podiam fazer suas refeições. Mesmo em seus últimos anos, quando já estava fora de moda, continuou muito frequentado porque sua cozinha era tida como excepcional.

Antes de ser o Hotel de France ali funcionou o Hotel de l´Empire, pertencente em 1835 a Jacques Neuville, e que aparece na aquarela mostrada na terceira foto de hoje. Este Hotel de l´Impire foi pioneiro em organizar bailes de carnaval (anúncio no “Jornal do Comércio” dizia que haveria um baile de carnaval, querendo que tudo se passasse com a devida decência e boa ordem, devendo as máscaras apresentar-se asseadas e decentes). 

Vemos, nesta foto enviada pelo Francisco Patricio, o Hotel de France por um outro ângulo. Na placa da esquina está escrito "Rua Direita", que vai da Praça XV à Ladeira de São Bento. Era um hábito nomear assim a rua que atravessava a cidade indo da igreja principal de uma localidade até outra igreja ou local importante. Esta era a Rua Direita do Carmo a São Bento. Anos depois foi rebatizada com o nome de Primeiro de Março, para comemorar o fim da Guerra do Paraguai. Centenas de cidades têm a sua "Rua Direita".

Quanto ao Hotel de France, demolido na década de 1930, em seu lugar foi construído o Edifício Taquara, propriedade da Baronesa da Taquara, pela Companhia Constructora Nacional. Originalmente tinha cinco pavimentos, além de um amplo subsolo, sendo os seus alicerces já preparados para suportar futuramente mais pavimentos.

 Na foto, destaque também para as belas luminárias e o chafariz do Mestre Valentim.


 Nesta aquarela de Friedrich Wernecke, de 1847, vemos o Hôtel de l´Empire. Este hotel, um dos primeiros do Rio de Janeiro (1825) é, talvez, o único desta época cujas linhas arquitetônicas se conhece. No local, Largo do Paço, esquina da Rua Direita, funcionaram depois os hotéis do Universo e de France. Mais recentemente abrigou o Instituto do Açúcar e do Álcool.

24 comentários:

  1. Em outro local li que a aquarela seria de Eduard Hildebrand e do acervo de Mario Calabria. A conferir.

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  2. Olá, Dr. D'.

    Postagem muito interessante. Eu passei por muito tempo pela região, seja a lazer ou indo / voltando do trabalho ou estágio.

    Dando um pitaco sobre aquarelas, elas podem ter estilos muito parecidos se forem pintadas por alunos de um mesmo mestre. E até usando uma mesma imagem (ou rascunho) como base.

    A primeira foto me parece ser ainda do final do século XIX. A rua Sete de Setembro ainda estava bloqueada pelo passadiço.

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  3. A "Rua Direita" era o coração da cidade, "centro nervoso e pensante". Era onde funcionavam as "Casas de Grosso", estabelecimentos de grandes dimensões onde se vendia de tudo, desde quinquilharias até móveis e escravos. Diga-se de passagem que as condições sanitárias eram deploráveis e até nesses hotéis não era diferente. A pavimentação do calçamento ao contrário dos dias atuais onde o escoamento se dá para o meio-fio, se dava para o centro, ou seja o acúmulo de dejetos e de água tornava a cidade um lugar extremamente insalubre. A Ladeira de São Bento é a continuação da atual Primeiro de Março e desde que me entendo é fechada com grades e no passado levava ao Mosteiro. Com a abertura da rua Dom Gerardo e do acesso ao Mosteiro através dela, a Ladeira de São Bento foi fechada.

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  4. Bom Dia! Hoje terei uma aula de Centro da Cidade. Como já disse em uma ocasião,só leio os comentários no dia seguinte. Uma pessoa da família precisa deste computador para trabalhar em casa,como muitos estão fazendo momento. Faltam 46 dias. Faltam 46 dias. Dr D parece que foi em duplicata.Por favor elimine uma.

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  5. É...nossa cidade modificou e muito. Hoje o que temos por lá?

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  6. Nada como desembarcar do navio e chegar rapidinho a pé no Hotel de France e tomar um drink desfrutando da vista deslumbrante para a Baía de Guanabara.

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  7. Nas fotos o cenário que provavelmente os meus bisavós encontraram quando desembarcaram nesse Largo do Paço, vindos de Portugal, aproximadamente 1870.
    A aquarela é mais antiga, mas acredito que pouca coisa tenha mudado nos 25 anos seguintes.

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  8. Olhando as imagens, a "aula" do texto e os comentários, nos transportamos no tempo e viajamos na imaginação.

    A respeito do comentário sobre as condições sanitárias da época, fico imaginando as misturas de odores em locais mais adensados da cidade como esse: esgoto a céu aberto; estercos dos cavalos das carruagens; cecê dos transeuntes; frituras na banha; comidas de cheiro "forte" como chouriço, bucho, sardinha, bacalhau, algumas já estragadas; colônias e perfumes vagabundos... E o pior seria quando todos esses cheiros vinham juntos e misturados...

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  9. A existência de funcionários poliglotas no hotel em um tempo em que mais de 80% dos habitantes do Rio era composta de analfabetos é uma grande contradição. Fico imaginando como seriam as ruas das Freguesias da Misericórdia, Santa Rita, e Candelária. O cheiro devia ser insuportável. Fora de foco. É cada vez maior a miséria nas ruas da cidade. Isso mostra a fragilidade de uma sociedade que em sua maioria "vende o almoço para comer a janta". Enquanto o governo Norte Americano disponibiliza 1.400 Dólares mensais para cada cidadão, o governo brasileiro disponibiliza 150 Reais. Fica cada vez mais difícil viver em um país onde juízes e políticos que recebem (oficialmente) mais de 200.000 reais mensais, recebem auxílio moradia, e ainda acham que a população deve ter sua "cota de sacrifício".

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  10. Não conhecia esse hotel . Pertinho do Imperador. Do outro lado do Paço . Perto do Hotel Pharoux. Vou ver se tem alguma referência no ótimo "Uma parisiense no Rio". Dia de aprender.

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  11. A aquarela lembra uma daquelas cidades históricas de MG.

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  12. Vemos um ponto de tílburis em frente ao hotel. Eram os táxis da época. Havia também dois outros grandes pontos: um no Largo de São Francisco e outro na Praça 11.

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  13. Essas condições sanitárias deprimentes não eram exclusividade do Brasil. Também as grandes cidades europeias "desfrutavam" dessa qualidade, como Londres e Paris. Mas provavekmente aqui duraram mais tempo.

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  14. Até o início do Século XIX praticamente não havia vida social na cidade, as famílias praticamente ficavam confinadas em casas onde as condições sanitárias eram ruins. Sem banhos e abluções frequentes, a mortandade infantil era comum. As doenças venéreas como sífilis, gonorréia, crista de galo, e outras eram comuns. As mulheres tinham "corrimentos frequentes". Relatos da época fazem com que aqueles que achavam "romântico" viver no passado mudem de opinião rapidamente. Mulheres desdentadas, peludas, pouco assadas, e com mau hálito eram comuns. A proximidade com os indígenas suavizou esses "hábitos europeus" e a situação só teve uma mudança radical no final do Século XIX.

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  15. Essa é uma questão que me indago até hoje... porque demoraram tanto tempo para associar diversas questões à hábitos higiênicos? Ou simplesmente aqueles que propunham isso eram calados? E por qual motivo? Era um outro mundo e isso há pouco mais de 100 anos.

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  16. Estou lendo Leopoldina, um otimo livro.

    E posso citar o exemplo de quando a Leopoldina chegou aqui, as ruas foram cobertas de flores para disfarçar o cheiro das ruas.

    Hélio, com certeza duraram muito tempo.

    Vou dar outro exemplo do livro Leopoldina como as coisas demoravam a mudar por aqui.

    Quando ela chegou aos 19 anos (caso não esteja enganado), o auto cita que ela estranhava o evento do beija-mão.

    Na Europa, essa prática já não existia há muito tempo.

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  17. Por que não manter os nomes antigos dos logradouros? Não são mais românticos e interessantes Largo do Paço, ruas Direita, do Cano, da Vala, da Guarda Velha, das Violas, dos Mercadores, dos Ourives, da Cadeia Velha, do Sacramento, do Hospício,
    do Piolho, Rocio Grande, Rocio Pequeno, etc?

    Quer homenagear alguém? Faça-o em novos logradouros, e não rebatizando os antigos.

    Para que rebatizar a Via das Américas, a Via 11, a avenida Sernambetiba, a Automóvel Clube, a Estrada Velha da Pavuna? Coisa de quem não tem o quê fazer.

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  18. O europeu até hoje não prima pela higiene. Quem já foi à Europa percebe os "fedores mal disfarçados". Desde pequeno ouvia que os "galegos (portugueses) não tomavam banho". Isso era uma "meia verdade", pois os portugueses "citatidnos" fugiam à essa regra, diferentemente daqueles oriundos do interior. Não é sem razão que as construções no Brasil eram "tímidas" no tocante a banheiros. Casas de médio porte possuíam "casinhas no quintal". Imaginem naquele tempo um casal depois de um "rala e rola" noturno sair correndo até o quintal. Como diria o saudoso Belletti, "um espanto"!

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  19. Festas nas igrejas eram o máximo da diversão até o início do século 19.

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  20. E olha que dizem que a temperatura naquela época era mais "amena". Imagina os dias como atualmente com sensação térmica de 50 graus...

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  21. Na verdade, antes de se chamar Hotel I'Emperie, em 1835 o comércio se chamava Café Neuville, e, em anexo, havia o hotel com o mesmo o nome: Neuville (que era o nome do primeiro proprietário).

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  22. Esse hotel de france pertencia ao meu tataravô, pai da minha bisavó julieta das neves

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  23. O Hotel de France pertenceu ao meu trisavô Antônio Machado Velho, na virada do Século XX.

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