Águas Férreas era entendido como uma espécie de bairro. Os
moradores não se consideravam de Laranjeiras ou Cosme Velho, mas de Águas
Férreas.
O bonde nº 2502, da linha 3, Tabuleiro da Baiana-Águas
Férreas, sobe a Rua Cosme Velho em direção ao seu ponto final. Ao fundo vemos
as obras do Colégio São Vicente de Paulo. Era o bonde ideal para quem queria
pegar o trenzinho para o Corcovado. O itinerário da linha Águas Férreas era: Tabuleiro da Baiana – Senador Dantas - Luís
de Vasconcelos - Augusto Severo – Largo da Glória - Catete - Pedro Américo -
Bento Lisboa - Largo do Machado - Laranjeiras - Cosme Velho.
A foto de Malta, mostra a Rua do Catete por volta de
1920. Este local, o Largo do Valdetaro, ficava junto do Palácio do Catete. Segundo
o Decourt a largura do largo permitia esse refúgio, tal qual ocorria na frente
do Largo do Machado onde ele foi apelidade de “Ilha dos Prontos”. Na realidade
não havia pista exclusiva para os bondes, nese trecho eles apenas faziam o
traçado com menos inflexão acabando por passar bem tangente ao largo. Não sei
se nos anos 40, quando os refúgios começaram a ser retirados os trilhos foram
reposicionados, mas é uma possibilidade.
Vemos a tranquilidade da vida carioca daquele tempo, com os passageiros comodamente sentados no bonde, alguns lendo o jornal do dia. Uma senhora calmamente sobe os estribos, sem nenhuma preocupação. O bonde "Águas Férreas", de número 108, tinha duas tabuletas na frente: uma com o itinerário "Via Cattete, Laranjeiras, Cosme Velho". A outra, com um anúncio onde está escrito "TENNIS, um dos cigarros da Cia. Souza Cruz. E o maço custava 200 réis. À esquerda vemos os infatigáveis Lulu & Dudu na labuta diária.
Esta foto, feita por volta de 1915, mostra o Largo da
Glória. Destaques para a Igreja do Outeiro da Glória, ao fundo, e o monumento a
Pedro Alvares Cabral, obra de Bernardelli para as comemorações do 4º centenário
do descobrimento do Brasil. Em primeiro plano o bonde de nº 177, que fazia a
linha 3, Águas Férreas.
Vemos o poste da parada de bonde (indicada pela faixa branca), com uma campanhia de alerta e um telefone (nossos especialistas em bondes poderão nos dar maiores esclarecimentos sobre estes aparelhos). Quanto aos anúncios que aparecem na tabuleta pregada no bonde, na foto em “alta”, pode se ler "Beba Leite Boe" e nas tabuletas pregadas nos protetores metálicos das árvores está escrito "Gordon", mas não foi possível identificar a que produto se referia. Atrás do reboque do bonde estão três calhambeques.
Vemos o bonde 3, Águas Férreas, nº de registro 2503, no
terminal do Tabuleiro da Baiana. A pose do funcionário da Light chama a atenção
pela elegância, pois está inclusive usando colete. Vemos um grupo grande
preparando exemplares de jornais para distribuição. Lembro que, na década de
50, os jornais chegavam nos jornaleiros nos bairros em pacotes presos por uma
fita métálica e os diversos cadernos ainda tinham que ser montados, o que os
jornaleiros faziam com uma velocidade impressionante. Não me recordo, pelo
menos até o final dos anos 50, de serviços de assinaturas de jornais, com
entrega domiciliar. Era a época do Correio da Manhã (matutino, que não
circulava às segundas-feiras), Diário de Notícias, Jornal dos Sports, O Globo
(vespertino que não circulava aos domingos e cuja edição de segunda-feira era
matutina), Diário Carioca, Tribuna da Imprensa, Jornal do Brasil, O Dia, A
Notícia, Última Hora, A Noite, A Luta Democrática, Jornal do Commercio, O
Jornal, Diário da Noite, A Manhã. Dados da Unesco mostram que no início da
década de 1950 circulavam no Rio de Janeiro 18 jornais diários, sendo 13
matutinos e cinco vespertinos, com uma tiragem global de 1.245.335 exemplares.
Os principais jornais eram editados com 24 páginas, alguns atingem até 60
páginas aos domingos. O matutino mais popular, o Correio da Manhã, tinha
tiragem de 40 mil exemplares e os vespertinos como O Jornal atingiam 120 mil exemplares.
Em mais uma foto colorizada estupendamente pelo Nickolas vemos o bonde "Águas Férreas", de número de registro 2507, linha 3, bem em frente a uma parada de bonde na Rua Augusto Severo. Nessas fotos de bondes sempre aparece alguém carregando um pacote, talvez uma marmita, tal como faz o senhor de terno branco. Outra curiosidade, era como o pessoal utilizava os ternos brancos e não voltavam todos sujos para casa ao final do dia, tanto devido ao calor, a poeira da rua ou mesmo a esbarrar em locais sujos como colunas, bancos de condução e etc.
Olá, Dr. D'.
ResponderExcluirEsse local é desconhecido para mim, mas me identifiquei com vários locais do itinerário, como Catete e Glória, por exemplo.
Sobre a montagem de jornais, presenciei durante a década de 90 nas bancas da Presidente Vargas nos dias de semana ou até em bancas mais próximas de casa, aos domingos. De vez em quando ainda erram na montagem e algum jornal fica com caderno faltando ou sobrando. Já aconteceu comigo. Mais raro é encontrar caderno de um jornal em outro. Geralmente entre O Globo e o Extra.
O Globo não circulou aos domingos até pouco menos de 50 anos atrás. O JB, salvo engano, não circulava às segundas por um bom tempo.
Também era normal não ter circulação de jornais em datas especiais como carnaval, sexta-feira da Paixão, Natal e Ano Novo (alguns ainda não), além de alguns feriados nacionais.
Quando meu pai exercia a advocacia seu escritório era no Edifício Itu, sob o qual havia o Tabuleiro da Baiana. Eu era bem pequeno e lembro perfeitamente o movimento de entrada e saída dos bondes e mais tarde dos ônibus elétricos. Nas vezes em que fui com meus pais ao Corcovado, não fomos de bonde até o Cosme Velho e sim de ônibus.
ResponderExcluirO Mercury 47-48 da primeira fotografia tem a maior pinta de ser táxi, pois tem cara de ter maçaneta caída... Deve ser implicância minha com os modelos retrógrados insistentemente mantidos em linha pelo Henry Ford.
ResponderExcluirA foto colorizada é escandalosamente bonita.
Eu queria saber como obiscoitomolhado consegue ver esses detalhes. Eu nem sequer vi maçaneta no carro.
ExcluirComo crítico que sou não posso deixar de comparar a última foto e seu entorno com a mesma região na atualidade. O bonde irá passar alguns metros depois em frente ao "Rollas", casa de aluguel de Smokings. Na atualidade a situação é bem diferente. Os ternos de linho usados no passado deram lugar aos trajes surrados ou maltrapilhos que podem ser vistos atualmente na região onde sujeira e a desordem são a tônica. À noite a prostituição masculina e é intensa e os "micheteiros " e enrustidos circulam livremente. A casa de aluguel de Smokings deu lugar a "outro tipo de "Rollas".
ResponderExcluirJoel, quando da formatura de um amigo na Escola Naval, em 1974, para a festa noturna no Clube Piraquê, tive que alugar um smoking no Rollas, Suponho que era a única casa especializada neste tipo de comércio, à época.
ExcluirTenho quase certeza que sim. Em 1976 e 1977 eu aluguei Smokings no Rollas para ir aos bailes do CMRJ.Tempo bom... Ainda nos anos 70 inauguraram a loja "Só à rigor" no Largo da Segunda-feira. Hoje existem várias lojas para esse mister mas desde o final dos anos 70 nunca mais vesti um Smoking.
ExcluirNa primeira foto: o bonde 2502, encerrada a companhia Jardim Botânico, foi transferido para a Seção Méier da Light.
ResponderExcluirNa terceira foto, o número do bonde é 117, e não 177.
Esse nome "Águas Férreas" só conhecia das fotos antigas de bondes.
ResponderExcluirO Rio é pródigo em criar nomes de sub-bairros, alguns vingaram e são consolidados, como Anil, Tanque, etc, em Jacarepaguá; Dendê, Portuguesa, etc, na Ilha; Jabour, em Bangu; Cosmos, Mendanha, etc, em Campo Grande...
Alguns sub bairros sumiram, como Aldeia Campista, Alegria, Maria Angu, Mariópolis, Viegas, e outros...
Parabéns para a tia Nalu aniversariante do dia.
ResponderExcluirTaí, comentei sobre ela e então, além da linha do bonde, tem a primeira foto da Rua Cosme Velho, considerada jurisdição dela.
ExcluirEspero que nossos abraços virtuais possam chegar até ela, via SDR.
E que ela possa degustar por muito mais anos os queijim de minas e o melzim de Santa Bárbara.
Já fui várias vezes no Cosme Velho, porém não sei dizer se passei no trecho Águas Férreas. Se não me falha a memória, a sumida Tia Nalu falava muito dessa linha de bonde, de seus tempos de estudante.
ResponderExcluirSobre o Tabuleiro da Baiana tenho lembranças dele, mas só como um terminal de ônibus, e de muito pouca claridade, mesmo durante o dia, talvez porque de um lado a laje quase emendava com as marquises das lojas.
Durante muito tempo, fazendo confusão com o que os adultos diziam, eu achava que a Galeria Cruzeiro ficava grudada no Tabuleiro, mas quando aprendi nos Fotologs do Rio Antigo, que em frente a galeria também teve parada de bonde, embora em época diferente, eu entendi porque misturei os dois locais.
Durante o processo de extinção da Ferro-carril Jardim Botânico, vários bondes do tipo sossega-leão foram transferidos para a Light, por ser o modelo mais novo em circulação, eis que foram fabricados em 1936.
ResponderExcluirNo caso das fotos de hoje, todos eles foram para seções da Light; o 2502 para o Méier, o 2503 para a Barão de Drummond e o 2507 para a Penha.
Quanto aos médios 108 e 117, nas fotos, eles foram renumerados no início da década de 1940 para as novas séries 1700, 1800 e 1900 e infelizmente não sei que novos números receberam.
ResponderExcluirDo auge dos jornais impressos, lembro que em meados dos anos 60 o meu pai ainda comprava o Correio da Manhã. Mas esse matutino passou a ser um crítico da ditadura assim que publicaram o primeiro ato institucional e, claro, foi perdendo anunciantes, além de chegar ao ponto de sofrer atentado terrorista de extrema direita, antes mesmo do AI-5.
ResponderExcluirEntão, praticamente sem essa opção de qualidade do CM, lá em casa passou a predominar o Jornal do Brasil, sendo O Globo só na segunda-feira.
Quando o Roberto Marinho lançou seu jornal aos domingos, acho que em 1972 ou 73, o massacre da publicidade na TV Globo foi até considerado uma "covardia". Várias vezes no sábado, durante vários anos, acontecia uma verdadeira "lavagem cerebral" falando sobre a as principais matérias da edição que sairia no dia seguinte.
Existe no Alto da Boa Vista a "Curva de Águas Férreas, que fica a 200 metros do último trecho da Estrada Velha da Tijuca. Quanto aos velhos bairros que foram absorvidos temos a "Consolação" (Freguesia), o Engenho Velho (Freguesia), a Praia das Palmeiras, a Praia Formosa, o "Boca do Mato", o Andarahy Pequeno, "Santa Rita"(Freguesia), Misericórdia, Candelária (Freguesia), além de outros que não lembro. E em tempos atuais surgiram inúmeros "sub-bairros" como Santa Maria, Rio Grande, Boiúna, "Pau da Fome", Pontal, "Cesarão", "Três pontes", "César Maia", as "Rolas 1, 2, e 3", CDD, e é claro "Curicica". Alguns desses locais ficam "nos sertões" de Jacarepaguá, outros no "conglomerado de Santa Cruz". Mais uma prova de que a cidade cresceu e que "a fila tem que andar".
ResponderExcluirNa segunda-feira passada fomos de trenzinho até o Corcovado, uma viagem de 20 minutos em um trem moderno. Chegando lá subimos de elevador e depois de escada rolante até a estátua. Coisa de primeiro mundo, zero effort e muito agradável. Infelizmente o restaurante e as lojas estão fechadas,
ResponderExcluirBoa Tarde! Pela manhã não consegui enviar meu comentário. vamos ver se agora vai.
ResponderExcluirSugiro o vídeo cujo link envio abaixo, achei bastante ilustrativo sobre o tema de hoj. Não tenho certeza, mas a voz me parece do Milton Teixeira.
ResponderExcluirhttps://www.youtube.com/watch?v=GFpTuirJ9zY
E Lulu & Dudu bem representados na gravura.
ExcluirValeu.
Que fim levou "Boca do Mato"?
ResponderExcluirFalando em Cosme Velho, estão depenando o Solar das Laranjeiras.
ResponderExcluirhttps://blogs.oglobo.globo.com/ancelmo/post/arquiteto-denuncia-furtos-no-historico-solar-das-laranjeiras-no-cosme-velho.html