Vemos a Rua Visconde de Pirajá, entre Farme de Amoedo e Teixeira de Melo, em frente ao nº 135. A Visconde de Pirajá era mão-dupla quando os ônibus elétricos forma implantados. Quando foi passada para mão única, não houve jeito rápido de transferi-los para a Prudente de Morais. Acho que, depois de algum tempo, só ficou na contramão a linha que pegava a Farme de Amoedo, dobrava na Alberto de Campos, pegava a Montenegro e ia para a Lagoa.
Os ônibus elétricos foram um dos maiores desperdícios que a cidade já viu. O sistema começou a ser desligado menos de cinco anos após sua implantação. Chique era a marca deles: “Alfa Romeo”. Importados da Itália.
Neste trecho, entre as ruas Teixeira de Melo e Farme de Amoedo havia uma profusão de agências bancárias, hoje desaparecidas: do Banco Nacional, do Bamerindus e do Banco Real todas no nº 174, do Unibanco no nº 151 e do Banco Boavista no nº 142.
Nesta foto do Arquivo Nacional vemos a Rua Visconde de Pirajá na altura do número 22, bem pertinho da "La Veronese", que resiste até hoje em Ipanema (está no nº 29 desde 1956, vendendo massas frescas). Ali na calçada, saindo de casa, meu bom amigo Walter Chagas. A fotografia é de meados da década de 60, quando trafegavam os ônibus elétricos e na Visconde de Pirajá havia mão-dupla para eles, no estilo "mata-paulista". Provavelmente este ônibus é o da linha 16, Largo do Machado-Ipanema, via Copacabana. A torre que se vê à direita talvez seja a do prédio do Cinema Ipanema, na Praça General Osório. O motorista do carro em primeiro plano parece que vai atropelar o fotógrafo.
Mais uma foto do início
dos anos 70 do acervo do F. Patrício, hoje mostrando o cruzamento da Rua Joana
Angélica com a Rua Visconde de Pirajá, em Ipanema, na altura da Praça N.S. da
Paz. Vemos um Karman-Ghia cruzando a Visconde, um táxi “Zé do Caixão”, três
Fuscas, um Opala e dois ônibus da Ciferal. As linhas de ônibus que aparecem na
foto: a 403, indo para o Rio Comprido, e a 571, circular da zona sul.
Na quadra seguinte, à
esquerda, além da Igreja de N.S. da Paz, cujo vigário na época era o legendário
Frei Leovegildo Balestieri, grande empreendedor, ajudado pela beata D. Itália
(aquela que distribuía rosas na saída da missa no “dia das mães”, mas apenas
para as que portavam alianças de casada). Nesta época iniciava carreira nesta
igreja o Frei Clemente, que se tornou famoso pela “missa dos jovens” que era
realizada no Colégio Notre Dame, aí perto, no final da tarde dos sábados.
A igreja foi construída a
partir de 1918, em homenagem à paz depois da 1ª Guerra Mundial. Foi erguida com
o dinheiro da indenização pago pela desapropriação da antiga Igrejinha de
Copacabana. Foi projetada por Gastão Bahiana, numa releitura do estilo
neobizantino. Tornou-se a matriz da paróquia de Ipanema em 1920. Depois da
Igreja vê-se o prédio onde funcionou o Colégio São Francisco de Assis e o
prédio do Cinema Pax. Frei Leovegildo Balestieri, que instalou ar-condicionado
para conforto dos fiéis ("quem gosta de calor é o Diabo no
inferno!"), criou ao lado da Igreja a Obra Assistencial Casa Nossa Senhora
da Paz, com serviços médico-assistenciais para a população carente. Dando vazão
a seu lado empresarial, montou uma pequena indústria de azulejos no subúrbio,
ganhou o controle do guarda-volumes na Central do Brasil e construiu o Center
Hotel no Centro da Cidade. Em 1952 já havia inaugurado o Cinema Pax e, anos
depois, abriu um rinque de patinação (o Gelorama), um boliche e um teatro de
arena, tudo para arrecadar fundos para a Igreja. Também ali funcionou nas
décadas de 50 e 60 a Academia Rudolf Hermanny e do Eitel Seixas. Chegou a ser
sócio do Canecão. Exagerando, imaginou demolir a Igreja para a construção de um
"shopping", onde ao lado de butiques e lanchonetes, haveria uma
capela. Uma violenta campanha d´O Pasquim sustou a idéia e a Igreja está lá até
hoje. Entretanto, "nosso" frei foi incluído naquele mural do Ziraldo
no Canecão.
O Cine Pax, bonito prédio "art-déco", com suas colunas no alto da escadaria, foi inaugurado em 30/10/1952 e funcionou até 1977, quando foi substituído pelo Novo Pax, que foi demolido em 1979 e em seu lugar surgiu o “Forum de Ipanema”, um "shopping" luxuoso, nas galerias de um arranha-céu. O Pax tinha 926 lugares. Mais adiante, quase na esquina da Maria Quitéria, funcionou o cinema Roma-Bruni a partir de 1971, depois Bruni-Ipanema e, finalmente, Star-Ipanema. Na esquina propriamente dita da Maria Quitéria há uma loja de sucos e, ao lado, havia a Imperial Flores que resistiu bravamente por décadas até que virou Sorveteria Itália.
Na quadra seguinte, à direita, fica a Praça N.S. da Paz. Esta praça foi aberta em 1894 pelo Barão de Ipanema e já se chamou Praça Coronel Valadares e Praça Souza Ferreira. Hoje, remodelada após as obras para a construção da estação do Metrô, voltou, gradeada, a ser utilizada pelos ipanemenses. E uma lâmpada THOMPSON ainda iluminava a Visconde.
Esta fotografia do Arquivo Nacional mostra a esquina das ruas Visconde de Pirajá e Garcia D´Ávila. É impressionante como pouco mudou em termos de prédios nos últimos 30-40 anos. Além do fato de ainda não termos sinal neste cruzamento (eram raros em Ipanema até a década de 70), o mobiliário urbano, com o Rio Cidade, mudou bastante.
O trânsito era bastante tranquilo naquela época e a Padaria Eldorado, logo após aquele toldo, no nº 477 era a melhor de Ipanema. Nas imediações ficava a famosa Sorveteria Morais, que tanto sucesso fez em Ipanema.
A Garcia D´Ávila, principalmente entre a Barão da Torre e a Visconde de Pirajá se sofisticou, com várias lojas chiques, inclusive uma concentração de joalheiros. A Rua Garcia d´Ávila, segundo P. Berger, era a antiga Rua Pedro Silva. Teve o nome alterado em 09.11.1922 pelo decreto 1816. Por volta de 1894, o 2º Barão de Ipanema, José Antonio Moreira Filho, fez um loteamento em Ipanema, cujos terrenos eram vendidos pelo Coronel José Silva. Este último deu o nome de seus filhos a várias ruas do novo bairro, daí a origem da Rua Pedro Silva.
A destacar na esquina do lado ímpar a loja do Bob´s de Ipanema, uma das primeiras desta rede de lanchonetes. No nº 451, onde hoje há uma grande agência do Itaú, funcionou com enorme sucesso a Churrascaria Carreta que servia uma carne maravilhosa, tendo rodízio apenas de maminhas. E não vinham em espetos, mas já cortadas em fatias bem finas, numa bandeja de metal, duas ou três fatias de cada vez. Além da linguiça de entrada, faziam sucesso o espeto misto (que já vinha servido da cozinha, com filé mignon, galinha e porco) e o "T-bone". O destaque era o molho vinagrete, que não existia melhor. Entrava-se na Carreta por um corredor onde havia as jóias expostas na vitrine da Doarel. Cumprimentava-se os maitres Teixeirinha e seu fiel escudeiro Márcio. Depois disso, saborear uma maminha mal-passada, com uma farofa só de ovos, servida pelo Pepe, pelo Mão Branca ou pelo Zé Paraíba. De sobremesa, uma fatia de torta com creme.
No número 22 da Visconde de Pirajá funcionou uma casa de Shows de nome "Preto 22" e se não me falha a memória era de propriedade do apresentador Flávio Cavalcante. Em 1976 foi inaugurada a discoteca New York City, e já na década de 80 o "Carinhoso".## A lasanha da Veronese continua sendo a melhor do Rio.## Os Trolley-buses na zona sul tiveram vida curta. Lacerda "vendeu" o sistema de transporte público para os empresários do setor e após a extinção dos bondes na zona norte em 1966 Negrão de Lima desativou praticamente todas as linhas da zona sul, permanecendo no subúrbio e em Jacarepaguá até 1971.
ResponderExcluirNesta quadra citada pelo Joel havia o teatro Santa Rosa onde assisti shows fantásticos como um do Simonal, Marli Tavares e o Bossa 3. Acho que se chamava Quem tem bossa vai a rosa. E peças de teatro como Fernanda Montenegro interpretando Millor. Acho que o noneceta “É”.
ExcluirNonoceta= nome era
ExcluirOlá, Dr. D'.
ResponderExcluirContinuamos fora da minha jurisdição, mas posso fazer algumas intervenções.
Na época dos bondes havia o "mata-paulista". Com os trólebus pensei que haveria alguma adaptação. Pelo jeito, não.
A primeira foto é icônica por não mostrar fuscas, algo raro. Como eram feitas as ultrapassagens de um trólebus por outro?
A terceira foto já mostra um telefone público (orelhão).
A última foto mostra, além do 434, os postes de esquina com a identificação das ruas ainda em fundo branco e as papeleiras, provavelmente de metal. Atualmente as papeleiras que ainda resistem na cidade são de plástico.
Não era possível ultrapassagens.
ResponderExcluirEu desconfiava mas a posição do trólebus da frente, na primeira foto, me deixou com dúvidas.
ExcluirFF: hoje o Flamengo continua hoje sua maratona "atleticana", contra o goianiense, depois de jogar contra o mineiro e o paranaense (este duas vezes)...
Normalmente não ultrapassavam mas em caso de necessidade o cobrador descia e puxava as lanças desconectando-as do cabo. Acho que havia una bateria que proporcionava alguma reserva.
ExcluirVárias vezes eu tenho na memória o momento em que "lanças" dos Trolley-buses se desconectavam dos cabos de energia, principalmente em curvas mais fechadas. As viagens eram silenciosas e agradáveis, mas esses ônibus eram muito quentes e as janelas eram insuficientes para a ventilação.
ResponderExcluirNão era só em Ipanema que havia falta de sinais de trânsito, pois na zona a carência também era grande. A verdade é que o número de guardas de trânsito era grande. Existe uma foto dos anos 50 em que aparece um guarda de trânsito orientando o trânsito na esquina da Rua Maxwell com Pereira Nunes. Naquela época a Maxwell funcionava em regime de mão dupla e a Pereira Nunes recebia o fluxo do trânsito vindo do Grajaú, de Vila Isabel, e do Méier, e tinha um fluxo intenso. Em Ipanema muitos cruzamentos não possuíam sinais de trânsito e que eu me lembre na Jangadeiros e na Teixeira de Melo também não havia sinais nós cruzamentos com a Visconde de Pirajá.
ResponderExcluirNão achava que era carência. O trânsito funcionava muito melhor sem os sinais nas ruas internas de Ipanema. Eu saía de Ipanema em meados dos anos 70 e ia até Nova Iguaçu sem pegar um sinal sequer. Os motoristas eram diferentes. Paravam nos cruzamentos e davam passagem para os outros.
ExcluirEu estou na contra mão das opiniões pois gostava dos trolleys. Eram confortáveis e silenciosos. Seus motoristas uniformizados com camisa branca e gravata, eram mais educados e solícitos do que seus colegas dos ônibus comuns. Talvez os critérios de seleção fossem mais rígidos para a contratação desses profissionais.
ResponderExcluirEu estou com você Mauro Marcello. Achava que os trolleys eram ótimos. Pela primeira vez na vida vi os ônibus só pararem nos pontos e trafegarem com as portas fechadas. Achava bem confortáveis. Acho que faltou manutenção, pois no início os chifres não saíam a toda hora.
ExcluirOs nossos ônibus elétricos eram italianos, uma parte Alfa-Romeo, outra Fiat e outra General Electric. Obviamente exigiam peças italianas e a nossa burocracia, aliada à Receita Federal, sempre impregnada de um nacionalismo nem sempre inteligente, terminou por arrasar um projeto alternativo. Seria alternativo, porque quem resolve problema de transporte de massa sobre trilho (o bonde) é outro sobre trilho (o metrô) por mais que a rapidez de instalação e flexibilidade de operação do auto-ônibus sejam cativantes. Não é outro o motivo do fracasso da continuidade de metrô por ônibus na estação Jardim Oceânico. Coisas de um alcaide muito operativo, mas ignorante em engenharia de transporte, engenharia civil - grande ciclovia - e urbanismo - acabou com o trânsito no centro da cidade e com o centro da cidade propriamente dito. A ideia do VLT é usada em muitos lugares, porém sem prejuízo da locomoção de automóveis e veículos de serviço.
ResponderExcluirNa foto 1, um Chevrolet Bel-Air 1960 (não me pareceu ser Impala) tenta se esconder na frente de um Ford F-100 e na foto 2, um Mercury Comet de 1962, bem raro por aqui, é o carro que quer isolar o fotógrafo do mundo.
O Mercury Comet é o Ford Falcon da Mercury. De ambos derivaram o Mustang e o Cougar, dois sucessos do Lee Iacocca.
Naquele tempo não existia a Receita Federal como nos dias atuais, mas a intransigência do governo militar foi a irresponsável pela falta de manutenção dos Trolley-buses. A primeira e a segunda fotos são provavelmente do final de 1964 ou 1965, já que não há mais trilhos na Visconde de Pirajá. Além disso as faixas amarelas da CTC, empresa criada em primeiro de Janeiro de 1964 confirmam isso.
ExcluirO texto da postagem de hoje mais parece um livro. Rsrsrs
ResponderExcluirLuiz está seletivo esses dias: postando apenas para o pessoal da Zona Sul. Jogou para escanteio muitos comentaristas. Eu inclusive.
Em Setembro de 1965 entrou em operação uma linha de Trolley-buses na região da Penha cuja garagem era na antiga garagem da Light. Já em 1964 circulava uma linha entre Méier e Maria da Graça. Em 1971 circulou o último ônibus elétrico no subúrbio, e algumas linhas atendiam Jacarepaguá, Madureira, e Penha, fazendo ligação com esses bairros sobre o Viaduto Negrão de Lima. A Edgar Romero, e a Penha também eram atendidas. Quem sabe o "Gerente" não se anima e publica algo sobre os Trolley-buses no subúrbio?
ExcluirÓtimas fotos e comentários. Acrescento apenas que para choque em frente aos faróis não seria aprovado hoje. O carro parece um Falcon, argentino, ou um Simca, muito arredondado. O Maitre Garrincha não chegou a trabalhar na Carreta. No fundo uma área ao ar livre com uma lona cobrindo e chão de pedrinhas. A cesta de "papeis" no poste e a esquina onde seria o Gordon. Salvo engano ali funcionou a Loja Oca,com os primeiros móveis do craque Sergio Rodrigues.
ResponderExcluirA foto do bonde em frente ao Cemitério de São João Batista publicada ontem mostra os cabos de alimentação dos Trolley-buses ao lado do que fornecia energia para os bondes, provando que pode ter havido circulação dos dois modais, tal como aparece na foto da Rua da Passagem que enviei para o "Gerente" há tempos.
ResponderExcluirAlguns trolleys foram transformados em ônibus a Diesel, péssima.
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