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sábado, 3 de junho de 2023

DO FUNDO DO BAÚ - OTELO CAÇADOR

Otelo Caçador foi um cartunista que durante décadas tinha uma página inteira no Caderno de Esportes de "O Globo", às segundas-feiras. O título era "PENALTY" e o sub-título era "Penalty não é coisa que se perca".

Boêmio, era figura assídua do bar "Degrau", quando este ainda era do lado par da Av. Ataulfo de Paiva (depois atravessou a rua e existe até hoje no Leblon).

Seus papos com o jornalista e compositor Luiz Reis, o "Cabeleira", grande amigo e também flamenguista fanático, foram antológicos.

Escreveu um livro de sucesso, chamado "Livro Negro do Penalty", que tenho aqui em algum lugar, mas não consegui encontrar.

Um de seus desenhos mais famosos é o "Caneco Bela Vista", que vemos abaixo, que era ofertado a times grandes perdedores.


Após a conquista da Copa do Mundo de 1958 os europeus, encantados com o futebol brasileiro daquela época, contratavam excursões de times brasileiros, que passavam mais de mês jogando em vários países.

O esperto empresário Zé da Gama, que presidiu o Madureira, "vendeu" o time mineiro "Bela Vista", como um grande time (na época os meios de comunicação eram deficientes, vendendo-se por isso gato por lebre).  Segundo jornais da época, em determinado momento o empresário deixou de honrar os compromissos (cota para o clube, diárias para os jogadores), o que ocasionou uma rebelião dos membros da delegação que chegaram a tentar voltar para o Brasil. Como não tinham dinheiro para tanto, continuaram a jogar, ou melhor, a dar vexame , comprometendo a conquista brasileira de 1958.

O time perdia mais que o famoso "Ibis". O Bela Vista, da cidade de Sete Lagoas-MG tomou goleadas incríveis, como para Newcastle da Inglaterra, sendo o placar de 12 x 2. Na volta, diante do grande vexame, teve o seu registro cassado pela CBD.

Um dos times que ganharam este troféu de ruindade foi a própria seleção brasileira quando da sua fracassada excursão em 1963, que teve como ponto mais baixo a derrota para a Bélgica por 5x1. 

Na ocasião o chefe da delegação, o folclórico Mendonça Falcão, deu entrevista dizendo que “os belgicanos jogaram muito”!

Mendonça Falcão, presidente da Federação Paulista de Futebol, rivalizava nas frases com o imbatível Vicente Matheus, presidente do Corinthians, que disse coisas como:

“Comigo ou sem migo o Corinthians será campeão”

“Quero agradecer à Antarctica, pelas Brahmas que mandou de graça pelo nosso aniversário”

“Depois da tempestade, vem a ambulância”

“Peço aos corintianos que compareçam às urnas para naufragar nossa chapa”

“Tive uma infantilidade muito difícil”


Otelo também publicava, para ser recortado da página, o  "diploma de sofredor", que pode ser visto acima, para ser preenchido e ofertado a um torcedor rival. No espaço em branco se colocava o placar do jogo.

Na página também escalava, à semelhança do "escrete da rodada", o seu "escrete de pernas-de-pau" (onde havia lugar cativo para qualquer jogador que perdesse um "penalty").

Criou também a coluna do "placar moral", onde colocava o resultado que achava justo para determinada partida (ali o Flamengo nunca perdia).


O sucesso de Otelo era como o brilhante futebol que o Brasil apresentou nas décadas de 50 a 70.


23 comentários:

  1. Bom dia, Dr. D'.

    Muita coisa do texto de hoje eu não sabia ou lembrava.

    Sempre houve espertos tentando se dar bem com futebol. Atualmente estamos assistindo a (mais) um esquema de manipulação de estatísticas e, quem sabe, de resultados.

    Vender "gato por lebre" era muito mais fácil antes. Não que tenha deixado de existir. Hoje ainda se vende jogador por "melhores momentos" em DVD ou algo do gênero.

    Peguei muito pouco do Otelo.

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  2. Em tempo, mais umas pérolas atribuídas a Vicente Mateus: "Isso é uma faca de dois legumes" e "Fulano é invendível e imprestável". Dizem também que ele chamava o Biro-Biro de Lero-Lero...

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    1. Você misturou "alhos com bugalhos". Vicente Mateus era uma outra "anta", mas nada tinha a ver com Mendonça Falcão.

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    2. Melhor ler a referência a "Vicente Matheus, presidente do Corinthians" no texto.

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  3. A leitura da página do Otelo era obrigatória.
    Em 1963 eu achava a seleção imbatível e essa excursão foi uma decepção.
    Lembro da derrota para Portugal dos cracaços Coluna e Eusébio.
    Do jogo contra a Bélgica lembro das manchetes gigantes dos jornais.
    Não lembro dos outros jogos exceto de falarem do Trappatoni que diziam ser o melhor marcador do Pelé e de um jogo estranhíssimo contra a RAU, República Árabe Reunida, que eu não sabia nem onde era.
    O Diploma de Sofredor mandei e recebi muitos no colégio.

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  4. Eram outros tempos! Era uma época na qual os jogadores viviam uma realidade bem diferente da atual, onde muitos são donos de verdadeiros impérios, possuem aviões, helicópteros, etc.### A coluna de Otelo Caçador era publicada na edição matinal de Segunda-feira de O Globo.### Mendonça Falcão era um personagem bizarro. Suas atitudes eram no mínimo "curiosas", para não dizer outra coisa. Ele tinha o hábitos de entrar nos vestiários após os jogos "de terno e gravata" e se abraçar com os jogadores nus embaixo do chuveiro. A uma foto no livro A Estrela Solitária, de Ruy Castro, mostra essa cena. Se o Paulo Silvino assistisse essa cena diria: "Ahhh, isso é uma bichona"!

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  5. Bom dia Saudosistas. Otelo Caçador era leitura obrigatória as segundas-feiras, principalmente no dia em que o Flamengo perdia, por pior que fosse a derrota ou que o Flamengo tenha jogado mal, no Placar Moral estava lá registrado a vitória do Flamengo. O diploma de sofredor era o que mais se distribuía nas terças-feiras em salas de aula, após se recortar do jornal em casa na segunda-feira. Bons tempos em que as seções de esporte eram repletas de bons colunistas, coisa que hoje acredito já nem exista nos jornais.

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  6. Lembro bem dessa coluna e a zoação no colégio. Tempos outros de ingenuidade. Dia desses li num "Há 50 anos" do Globo que a renovação do contrato de Pelé com o Santos emperrava no recebimento de mil dólares por partida no exterior...

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  7. O Luiz poderá dirimir a minha dúvida. Reza a lenda que um dirigente da CBD , ao sobrevoar o Coliseu em Roma , teria dito " os italianos cuidam mal dos seus estádios"...

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  8. Na seara das pérolas futebolísticas, Claudiomiro, bom jogador do Internacional nos anos 70, se emocionou ao chegar a Belém do Pará para uma partida: "é um orgulho jogar na cidade em que Jesus nasceu".
    O atacante Jardel, revelado no Vasco e ídolo no Grêmio, certa vez vaticinou que clássico é clássico e vice-versa.

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    1. Durante a Copa do Mundo de 1958 na Suécia, um jornalista brasileiro perguntou a Pelé qual era a fruta de sua preferência, e a resposta de Pelé foi "minduim".

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  9. Conde, o Estádio é um formato arquitetônico que teve origem na antiga Grécia e era voltado para esportes e jogos. A afirmação do dirigente da CBD é correta: o Coliseu não deixa de ser um Estádio.

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  10. Lá em casa, década de 60 e início dos anos 70, só se comprava O Globo na segunda-feira, quando não tinha Jornal do Brasil. Isso me fez um fã da página do Otelo.
    Eu e um colega sentávamos na calçada e ali mesmo líamos as notícias do jogos da rodada do fim de semana, vidrados também nas figuras com o desenho das jogadas dos gols dos clássicos.
    No Campeonato Carioca de 1969 o Otelo criou a corrida de foguetes, cada um representando um clube da disputa, influenciado pelo programa Apolo que atingiu o auge naquele ano. Foi o Flu que "chegou" na Lua, depois de uma polêmica decisão contra o Fla, até hoje motivo de debates entre os que assistiram o jogo, discussão motivada pela estranha atuação do Armando Marques e também do goleiro argentino do rubro negro.

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  11. Tem frases no texto do gerente que realmente se referem ao Vicente Matheus.
    E dizem que a frase das cervejas falava em "brahminhas" da Antárctica, no diminutivo.
    Não duvido que a partir disso algum dicionário tenha adotado o termo como sinônimo de cerveja.
    Lembrando para os bem mais novos que naquela época as duas fábricas da bebida eram ferrenhas concorrentes.

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  12. O goleiro era o Dominguez. Vendeu-se descaradamente.

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  13. Entrevistas:
    1) Jogador do Flamengo no aeroporto nos anos 60, voltando de excursão à URSS, ao ser perguntado como era por lá: "Não vi nenhuma Cortina de Ferro, nem vermelhos. O pessoal era igual à gente".
    2) Laci, ponta-direita do Atlético Mineiro, ao ser perguntado se o nome dele era com i ou y: "Com i, é claro, se fosse com y seria Lacipsilon e não Laci".
    3) Perguntado como o time deu uma virada no segundo tempo a resposta foi "o time deu uma volta de 360º na forma de atuar".
    4) Atacante justificando como perdeu um gol feito respondeu: "Mas o goleiro voou como um gato".

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  14. Tem a do Garrincha na década de 60 que ganhou um rádio numa excursão do Botafogo a Europa, outro jogador chegou perto dele e primeiro falou. Quer me dar esse rádio. Garrincha respondeu, não. Aí o cara falou, pra que você quer esse rádio, ele só fala em Holandês , você não vai entender nada. Aí garrincha falou é mesmo! Sim, liga ele aí. Garrincha ligou e ao ouvir, falou é mesmo, então toma essa porcaria aí.

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    1. Garrincha era um autêntico idiota e protagonizou episódios bizarros. Em 1971 por influência de Jarbas Passarinho e até do Presidente Médici e com o intuito de ajuda-lo, foi criado o cargo de "Embaixador do Café". Sua tarefa consistia em participar de feiras que aconteciam algumas vezes por ano em diversos locais do mundo e elogiar as propriedades do café brasileiro. Por sua participação em cada feira ele ganhava mil dólares. Mas quando era interpelado sobre as qualidades do café brasileiro ele respondia: "Nunca tomei e não sei dizer, eu prefiro a pinga".

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    2. Isso é mentira, era uma pessoa muito simples e com problemas de adição ao álcool. Recomendo o livro "Uma estrela solitária".

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    3. Essa passagem está no livro "A Estrela Solitária".

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  15. Quem era mestre de contar essas histórias de jogadores, era o falecido jornalista Sandro Moreira. Hoje em dia é hilário ouvir as histórias do Vampeta e do Amaral.

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