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quarta-feira, 16 de julho de 2025

UM COLÉGIO NO VIDIGAL

A postagem de hoje é sobre o "Gymnasio Anglo-Brazileiro", que existiu no Vidigal. 

Foi a Companhia Viação Férrea Sapucaí que, em 1891, iniciou a construção da Av. Niemeyer, coleando a montanha, como um dos trechos da futura estrada de ferro a vapor, projetando uma ligação do bairro de Botafogo ao porto de Angra dos Reis, como conta P. Berger.

Com a interferência da Companhia de Melhoramentos da Lagoa, que reclamou contra o traçado desta ferrovia, os trechos até a praia da Gávea (São Conrado), que já tinham sido abertos, foram abandonados com a paralisação da obra.

Em 1911 Charles W. Armstrong construiu na “Chácara do Vidigal”, o “Gymnasio Anglo-Brasileiro”, no Vidigal.

A Praia do Vidigal, era assim chamada porque ali morou o major Nunes Vidigal, na época de D. João VI e Pedro I. 

Em 1912, o proprietário do colégio, o inglês Charles Weeksteed Armstrong, obteve permissão para completar a estrada abandonada aumentando-a em 400 metros, a fim de melhorar o acesso ao colégio. A obra ficou pronta em 1913, executada pelo engenheiro Ricardo Feio que não só abriu o “corte do Leblon”, como construiu cerca de 1000 metros da atual Av. Niemeyer.

Mais tarde, o coronel Conrad Niemeyer, grande proprietário de terras no local, homenageando o Primeiro Congresso de Estradas de Rodagem, prolongou-a até a Praia da Gávea.

Um pouco mais adiante, por ocasião da visita do Rei Alberto da Bélgica, em 1920, o Prefeito Paulo de Frontin alargou e calçou esta avenida.

FOTO 1: Vemos o "corte do Leblon", em fotografia de Malta, de 1920.


FOTO 2: A propaganda acima é do Gymnasio Anglo-Brasileiro instalado em 1911 na Chácara do Vidigal. O terreno, situado a 300 pés acima do nível do mar, tinha soberba vista sobre o oceano. O cenário era grandioso, com floresta virgem e com o mar ao lado. A água era abundante e a mais pura possível, suprida por inúmeras fontes e riachos que por ali corriam.

O "Gymnasio" tinha o telefone "Ipanema 789" (nos anos trinta o número do telefone era 7-2982) e a caixa-postal 46.

O "Gymnasio Anglo-Brazileiro" no Rio de Janeiro e São Paulo e o "Collegio Anglo-Brazileiro" para meninas no Rio de Janeiro, foram “Collegios Modelos Inglezes, fundados por Mr. Charles W. Armstrong.

Um prospecto informava: "A primeira “razão de ser” destes collegios é o desenvolvimento physico dos alumnos, confiados ao nosso cuidado, ao lado do intellectual e moral.

Em São Paulo ficava na Av. Paulista. No Rio foi escolhida a mais bella chácara á beira mar, para a installação da primeira sucursal, onde os meninos pudessem gosar sempre das brisas salubres do Oceano aberto, simultaneamente com ares da montanha e da floresta. Por isto é tambem que os exercicios militares, a gymnastica sueca e os jogos atheticos constituem partes essenciais da vida “au grand air”, dos seus alumnos.

Os banhos de mar completam o effeito salutar dos exercicios ao ar livre, havendo construído na propria praia, um grande “tanque de natação”, que tem 250 metros quadrados de superficie, enchendo-se com a propria agua do mar, por meio de uma bomba. Ahi os meninos se banham ás horas frescas da manhan ou da tarde, tantas vezes por semana, quantas o medico julga conveniente. Ha sempre fiscalização, se bem que todo o perigo seja afastado, pois os meninos nunca se banham no proprio mar, onde o movimento das ondas trazia inconvenientes.

Ao lado da educação physica, a intellectual e a moral merecem a maior attenção. A pratica das linguas vivas, ensinadas pelo methodo “directo” e intuitivo é uma especialidade dos Collegios Anglo-Brazileiros. Estes idiomas são ensinados exclusivamente por professores que vieram dos paizes onde são faladas. Desta fórma os meninos adquirem uma pronuncia aperfeiçoada, conseguindo quasi todos “falar correntemente” o inglez e o francez em menos de dois annos.

O Collegio Anglo-Brazileiro para meninas funcciona sob a habil direcção de Miss M. S. Hull e segue as mesmas normas que os collegios para o sexo masculino, com certas modificações de regimen necessarias para as meninas.

Mr. Armstrong reside, com sua familia, no Gymnasio Anglo-Brazileiro do Rio de Janeiro, onde dirige o Collegio pessoalmente, visitando frequentemente os outros collegios sob a sua direcção superior.

Prospectos de todos os Collegios com os srs. Crashley & Cº, Rua do Ouvidor 58; com o sr. Paulo dos Santos Jacintho, Rua do Rosario 79 ou nas Secretarias dos Collegios."

FOTO 3: Uma piscina ao ar livre foi construída. Como se vê no prospecto os jogos atléticos constituíam uma das características do colégio, que funcionava em regime de internato. Não estando ainda aberta a Av. Niemeyer chegava-se lá pelo alto, por via da antiga Estrada do Major Vidigal, aberta antes de 1814, passando pela Chácara do Céu.

FOTO 4: O ônibus do "Gymnasio Anglo-Brazileiro" transportava os alunos para o estabelecimento da Avenida Niemeyer nº 404.


FOTO 5: Reportagem da revista "Fon-Fon": "Pittoresco trecho da praia, onde foi construida uma explendida piscina de natação, alimentada pela agua do oceano. Ahi se exercitam diariamente no salutar sport do nado os alumnos do Gymnasio Anglo-Brazileiro, conceituado estabelecimento de ensino."


FOTO 6: "A turma de menores do Gymnasio Anglo-Brazileiro, acreditado estabelecimento de ensino, em exercicios suecos, que são executados diariamente, ás primeiras horas da manhã por todos os alumnos."


FOTO 7: "O valoroso "team" do "Gymnasio Anglo-Brazileiro", campeão infantil de "foot-ball", em 1912.

FOTO 8: "A casa das machinas, onde se acham installados o motor electrico e a bomba por meio dos quaes se enche a piscina de natação com agua do mar. Junto á casa das machinas  Mr. Charles W. Armstrong, Director do Gymnasio.


FOTO 9: Os exercícios de natação no ano de 1918.

FOTO 10: "Gymnasio Anglo-Brasileiro", um instituto modelar de educação intellectual, moral e physica".


FOTO 11: Os alunos formados na área da piscina de água do mar.


FOTO 12: As instalações tinham também um dormitório, sendo um internato para preparar jovens de famílias ricas para a universidade. O diretor também morava no estabelecimento com sua família.

Em 1899, Armstrong criou o Ginásio Anglo-Brazileiro em São Paulo e, devido ao seu sucesso, abriu uma filial em Niterói, Rio de Janeiro, em 1910. Após um assalto e um problema com impostos no ano seguinte, ele desistiu e recomeçou na Gávea, em sua propriedade recém-adquirida, a Chácara Vidigal – vendida pelos proprietários, que por sua vez a haviam comprado da família Vidigal.

Por volta de 1913 foi fundado, também, o “Collegio Anglo-Brazileiro” para meninas (THE ANGLO-BRAZILIAN SCHOOL FOR GIRLS), tendo como diretoras Miss Hull (Universidade Real de Irlanda) e Mlle. Maillard (Universidade de Paris), no Alto da Gávea, na Rua Marquês de São Vicente nº 689.

Nas primeiras décadas do século XX, consoante com a Reforma Educacional de Ruy Barbosa, com base no pensamento liberal da época, buscava-se modernizar o país. Para tanto, a Educação Física voltava-se para a construção do corpo, o que era comum nos estabelecimentos edu­cacionais, bem como objetivava-se a educação física inte­lectual e moral, com base no aforisma "mens sana in corpore sano".

Armstrong escreveu a obra “Contos para meus discípu­los” onde e explica: “Nada pode me causar maior satisfa­ção, como educador, do que a verificação de que noventa por cento dos meus alumnos educados por este regimen têm-se tornado perfeitos cavalheiros, dos quaes a pátria brasileira poderá bem orgulhar-se”. 

O conto é proveniente do método de ensino do “Mode­lo Inglez”. Tanto na obra, quanto na prática do educador estão entrelaçados os valores, virtudes e qualidades de herói, líder e gentleman.

Tais práticas pedagógicas consideradas inovadoras eram destaques nos periódicos da sociedade brasileira, que exaltavam "os valores morais e as virtudes corporais na formação do homem moderno, prático e vigoroso, daí a atenção especial à educação physica, em que os sports modernos, a gymnastica sueca, os jogos tradicionais, as competições esportivas eram considerados “vantagens da educação inglesa”, cujo ideal é a completa harmonia de desenvolvimento moral, intelellectual e physico.

Os programas de ensino convergem para a formação do homem moderno, vir­tuoso e prático, na figura do "sportman" e das regras do fair play (jogo justo), difundidas nas festas sportivas e atheticas."

Para finalizar, reportamos como a Gripe Espanhola impactou o "Gymnasio Anglo-Brazileiro":

“Pela primeira vez na historia do Gymnasio foram este anno dispensados os exames finaes e de promoção, sendo adoptada esta medida de excepção em virtude de haverem sido interrompidas as aulas durante a ultima quinzena de outubro, como consequencia inevitavel da epidemia de grippe, que visitou a Capital nesse mez. As promoções serão, pois, feitas, esta vez, pela media annual dos estudos, sendo adoptado, para este fim, o seguinte criterium: a média final de 5 dará direito á promoção, comquanto não haja média inferior a 3 em qualquer materia considerada separadamente. O alumno que tiver a média inferior a 3 em uma materia, e média geral de 5, poderá della fazer exame a 7 de fevereiro p. f., trazendo declaração escripta do pae ou tutor de havel-a estudado durante as férias. Deverão repetir o anno os que tiverem a média final inferior a 5 e aquelles que a tiverem abaixo de 3 em mais de uma matéria.”

23 comentários:

  1. Sensacional. É uma das melhores postagens do ano. Eu desconhecia que existia um colégio neste local paradisíaco há cem anos.
    Os conceitos são interessantes tipo o mens sana in corpore sano.
    A ideia da piscina de água salgada foi muito boa. E tinha até cavalos para montaria.
    No início o colégio ficava longe de tudo pois no inicio do século a cidade “acabava” lá por Botafogo.

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  2. 👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏

    Bom dia, Dr. D'.

    Nada como começar o dia com uma aula e aprender mais sobre o Rio.

    Vou esmiuçar o texto e retornar mais tarde.

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    1. A foto 8 é interessante, mostrando a casa de máquinas literalmente na praia. Supostamente protegida de ressacas, mas posso estar errado.

      Se entendi certo o texto, o inglês foi assaltado em Niterói e transferiu o estabelecimento para o Rio, em 1911.

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    2. O Vidigal original é citado no livro "Memórias de um Sargento de Milícias", um dos melhores que eu já li.

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    3. Dia do comerciante, dia mundial da cobra, dia da drag queen e do Estado de Minas Gerais.

      Em 1868 era fundado o JCB.

      Em 1920 nascia Elizeth Cardoso.

      Em 1930 Nossa Senhora Aparecida era instituída padroeira do Brasil.

      Em 1934 era promulgada a terceira constituição do Brasil.

      Em 1969 era lançada a missão Apolo XI.

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    4. Em 1950 acontecia a última rodada da copa do mundo, com a vitória do Uruguai sobre o Brasil por 2X1.

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  3. Um colégio com idéias européias que já permeavam de uma maneira geral o ensino na Europa aquela época, ou seja, um colégio vanguardista para os padrões educacionais brasileiros. Valorizavam o estudo e a prática de exercícios, o que já fazia o povo inglês e que acarretou especialmente no surgimento de exímios corredores no início do século passado. A idéia da piscina a beira mar foi uma sacada de gênio, evitando que os alunos encarassem o mar. Caso os demais colégios brasileiros tivessem adotado essas práticas, talvez hoje estaríamos colhendo os frutos e sendo um país revelador de talentos esportivos, o que, infelizmente não aconteceu. Desde pequeno, ouço que seríamos uma potência olímpica, o que não aconteceu e o que jamais acontecerá. O time infantil do colégio estava cheio de "gatos", como se diz no futebol. Será que este colégio foi o precursor do Stella Maris, também situado no Vidigal? será que são as mesmas instalações modernizadas? falando em Stella Maris, ô colégio que tinha meninas bonitas!

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  4. o comentário acima é meu. Desculpem.

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  5. Acho que o Armstrong vendeu o terreno para as freiras do Stella Maris. Fiquei em dúvida na pesquisa. Vou ver se acho mais informações.

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  6. Tempo em que havia Educadores, empenhados em dar o melhor para os alunos. Formavam uma geração que respeitava professores. Curiosa a a história da formação das ruas. De um abandono surge uma oportunidade. Região do Vidigal permite Bela Vista. E ainda tinha um prédio por lá sobre o qual já houve rica postagem .

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  7. O lugar do Gymnasio era fantástico. Imagino que no início a estrada de acesso era de terra e precária. Embora a escola tivesse muitos atrativos sempre me pergunto as razões dos pais colocarem seus filhos em colégios internos.
    Entendo os casos de jovens problemáticos e de pais que trabalhassem no exterior ou que morassem em outros estados mais atrasados e quisessem que os filhos tivessem uma educação esmerada na capital.
    Mas os pais que moravam no Rio mesmo que colocavam os filhos em colégios internos eu não entendo. E conheço muitos que tiveram essa experiência e a maioria não gostou. Tenho amigas do Sacré-Coeur de Jésus que detestaram ter sido internas lá no Alto da Boa Vista.
    Já o regime de semi-internato acho interessante pois os alunos passam um turno estudando no colégio e outro turno seguem as turmas normais. É mais ou menos como as escolas integrais que existem hoje como o São Bento, onde os alunos chegam de manhã e saem à tarde, almoçando na escola.

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  8. Uma curiosidade sobre a postagem de hoje é a grafia de Brazileiro com Z. Muita gente não sabe mas o Brasil só passou a ser grafado com S a partir de 1943, depois de um decreto de 1931 do Getúlio Vargas.

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    1. Tem outra coisa que talvez muita gente não saiba. Eu, por exemplo, só vim a tomar conhecimento disso muito recentemente. É o seguinte: no nosso idioma, o final designativo de algo ou alguém originário de um país normalmente é "ês" (francês, português, inglês), "ano, eno ou ino" (italiano, romeno, argentino, angolano, chileno), "ense" (nicaraguense, canadense). O final "eiro" é designativo de profissão, e não de origem, como por exemplo em marceneiro, carpinteiro, funileiro, açougueiro. Então, por que os nascidos no Brasil são brasileiros? Porque essa palavra designava as pessoas que se dedicavam a extrair pau-brasil, ou seja, era o nome de sua profissão, e não de sua nacionalidade.

      Desconheço o motivo pelo qual houve essa transformação para indicar a origem do país e não mais da profissão.

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    2. Essa dos brasileiros eu sei desde pelo menos 2000, por causa do Eduardo Bueno.

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    3. Acho que a mudança da grafia veio da reforma ortográfica que alterou também o nome da capital paranaense, de Coritiba para Curitiba. A mudança de bahia para baía essa eu não sei dizer...

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  9. Os alunos deviam ir com prazer para o colégio.
    Essa vista estupenda era um estímulo e tanto.

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    1. Dia de proteção das florestas, dia do curupira e dia do emoji 🤔.

      Em 1944 nascia Ronnie Von.

      Em 1954 Volta Redonda se emancipava.

      Em 1955 era inaugurado o primeiro parque da Disney, na Califórnia.

      Em 1994 Galvão Bueno berrava "É tetra, é tetra!!!".

      Em 2007 acontecia o pior acidente com avião em terra no aeroporto de Congonhas com 199 mortos.

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  11. Augusto, o Maracanazo foi em 16 de julho

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    1. Sim. Está lá com os outros fatos de ontem, mesmo com a data de postagem de hoje.

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  12. Bom dia Saudosistas. Bela postagem, desconhecia a existência deste colégio no Vidigal. As atividades extra curriculares, deveria ser um atrativo para que os alunos aceitassem o internato sem grandes reclamações com os pais. Infelizmente estudo e educação nunca foi o forte das autoridades e da grande maioria do povo brasileiro, se fosse e, esta escola tivesse progredido, poderia ter se transformado numa grande Universidade nos moldes das Universidades Americanas ou Inglesas, ocupando todo o belo terreno do Vidigal e ter nos livrado da favela do Vidigal. Mas pensamento de político infelizmente não é realizado pelo cérebro, mas pela b***a e quando raciocina solta gases.
    Como dito por um político brasileiro a alguns anos passados, que favela não era problema e sim solução, mas ele nunca foi morar numa favela, talvez se quer tenha entrado ou passado em frente a uma.

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    1. Lino, o tal político estava certo quando disse que "favela era a solução", já que é a partir das favelas que esses políticos e o Poder Público como um todo, "lucram horrores", seja ideológicamente, politicamente, e principalmente financeiramente, pois graças aos currais narco-eleitorais instalados nas favelas, nunca faturaram tanto com o tráfico de drogas.

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