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quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

FACULDADE NACIONAL DE MEDICINA


A foto de hoje mostra, em primeiro plano, um automóvel que facilmente será identificado por nossos especialistas. Em segundo plano, naquela área murada, depois do poste da direita, vemos o "Bandejão" da Faculdade Nacional de Medicina. No mesmo plano, à esquerda, ficava a quadra de esportes da faculdade. Havia, então, uma pequena rua sem saída entre estas duas construções e o belo prédio da FNM. Nesta rua seria a porta principal. A explicação para que a porta principal não desse para a Avenida Pasteur é que esta portaria daria frente para mais dois prédios do conjunto arquitetônico, um deles o Hospital que nunca foi erguido. No meu tempo de FNM já havia sido construída uma porta principal dando para a Av. Pasteur, mas somente era utilizada em cerimônias solenes. No dia-a-dia usávamos a entrada desta pequena rua, cujo nome nunca soube e que hoje já nem existe.
 
"A face do prédio que dava para esta pequena rua possuía 16 janelas altas, com venezianas de ferro. No meio da fachada estava a entrada, elevada em relação ao nível da rua e a ela chegava-se por uma escada com dez degraus de granito, ladeados por um corrimão, também de granito. O pé direito do primeiro andar era de seis metros. Ultrapassado o portal entrava-se no amplo saguão, onde havia a estátua de Asclépius, deus da Medicina na mitologia grega ou Esculápio na mitologia romana".
 
A faculdade foi construída em terreno perto da Praia Vermelha, com projeto feito pelo arquiteto Januzzi, a partir de plano do engenheiro Luiz de Novais, indicado e orientado por Oswaldo Cruz. O projeto previa três edifícios, mas acabou sendo construído apenas um. O lançamento da pedra inaugural foi em 22/05/1916 e o prédio foi inaugurado em 12/10/1918. O terreno ocupado pelo “Bandejão” e pela quadra de esportes ficava bem ao lado de onde hoje é a Escola de Guerra Naval, na Av. Pasteur, quase na Praça General Tibúrcio.
 
O prédio da Faculdade era octagonal, inicialmente com apenas dois andares. Na década de 40 foram iniciadas obras de ampliação através construção de novo andar que desfigurou o prédio, com salas inadequadas, com pé direito muito baixo ao contrário do existente na construção inicial. Um dos lugares mais agradáveis era o pátio interno, que tinha, como relembra o Prof. Doyle,  "árvores que davam sombra aos bancos de pedra propícios para um namoro, conversa fiada ou uma esticada para um cochilo enquanto esperava-se o começo das aulas. Quem ficava até mais tarde na Faculdade e passava pelo pátio no início da noite não pode ter se esquecido do canto de centenas de passarinhos que no fim do dia procuravam abrigo nas árvores nele existentes, entre as quais existia um loureiro, trazido de Epidaurus, por Aloysio de Castro. O espaço do pátio era octogonal, cercado em todos os lados pelo edifício da Faculdade. Em dois lados opostos havia uma larga escada de granito que levava ao segundo andar. A escada era em dois lances, o primeiro, largo, dividia-se em dois mais estreitos e divergentes. Uma das escadas ficava sobre o local onde estava o bar. A outra, na face oposta do edifício".
 
Em 22/09/1966 a FNM foi invadida por forças do Governo Militar. Foi uma ocasião rara, pois como conta o Conde di Lido, em 1968, numa nova tentativa de invasão,  “a gente se defendia de várias maneiras, seja jogando balões de borracha cheios d´água ou outros líquidos pelas clarabóias que havia entre os andares ou atirando conteúdo mantido em formol nos tanques do Departamento de Anatomia. Eu vi muito marmanjo fardado fugindo, aos gritos. Não conseguiram tomar a Escola. Foi glorioso!”
 
Em 1972, com a transferência dos cursos da Urca para o Fundão, começou a destruição do prédio da faculdade, que consumada poucos anos depois, “por motivos de Segurança Nacional”. Por cinquenta milhões de cruzeiros o prédio foi vendido à Eletrobrás, que ali construiria sua sede, o que nunca aconteceu. Foi demolido (fotos da demolição já foram publicadas no “Saudades do Rio”). Hoje em dia, salvo engano, o terreno é propriedade da Unirio.
 
A Faculdade, desaparecida fisicamente, imolada em nome da “Segurança Nacional”, viverá para sempre na memória e na ternura dos que viveram seus dias de aprendizado na Praia Vermelha.


 


26 comentários:

  1. Luiz D´, inicialmente gostaria de parabeniza-lo pela nova fase do Saudades do Rio com textos mais extensos e com muitas informações. É uma contribuição importante para o resgate da memória de nossa cidade.
    É impressionante a quantidade de arbitrariedades e más escolhas dos governantes de nossa cidade. Colocar abaixo o prédio desta faculdade foi um dos grandes absurdos dos anos 70. A descrição acima mostra isto.

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  2. Apesar do Studebaker não ser tão fácil de identificar como os Ford e Chevrolet, este, dessa bela foto, é um Champion de 1948. O estilo de Raymond Loewy entrou no segundo ano e ainda causava sensação, especialmente nos modelos cupê, com a vigia traseira que incorporava o vidro lateral, um arranjo bem aeronáutico. Chama a atenção o quebravento com seu eixo quase no vértice da janela dianteira, fazendo um ângulo estranhíssimo quando aberto (o da porta do carona mostra bem isso).

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  3. Bom dia!
    Então os alunos da FNM deram uma mãozinha para os militares.

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  4. A intenção do quebra vento neste ângulo era refrescar as pernas do carona.

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  5. Bom dia. A ditadura militar cometeu alguns excessos e a interferência em instituições de ensino foi uma delas. É certo que naqueles tempos, inúmeros subversivos, terroristas, e comunistas se misturavam com verdadeiros estudantes, fazendo com que se formasse um mimetismo que encobria as suas atividades criminosas. A partir de 1968, acontecimentos como a "Passeata dos Cem Mil" agravaram o quadro existente. A transferência da FNM para o fundão foi uma tentativa do governo militar de isolar e afastar a instituição de uma "área nobre".

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  6. Vários Helicopteros neste momento sobrevoando a linha Amarela na direção da Linha Vermelha.Alguma "figurinha carimbada" deve estar passando por ali em direção ao Galeão.

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  7. Essa construção durou apenas 60 anos. Quando realmente começou a demolição a subversão já estava sob controle. Os que deram a ordem para acabar com o prédio só queriam mesmo é apagar a história, no melhor estilo do Grande Irmão do 1984 de George Orwell. Vai ter comentarista sumido que pode dizer que foi coisa do Velho General para arrumar serviço para o seu "quase genro" Dr. Celsão, mas acho que isso é pura intriga da oposição.

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  8. Em 22/09/1966 passei a noite estudando para o vestibular e ouvindo os gritos e a confusão que vinham da FNM. Uma noite de horrores.
    Excelente foto!

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  9. Paulo Roberto, acho que os militares "cochilaram" quando não demoliram a maior central do crime de que se tem notícia: Brasília. Essa foi a grande perdição do Brasil, pois a desculpa arranjada por JK de que a capital no Rio de Janeiro "ficava exposta à ataques inimigos" serviu apenas para encobrir o grande desvio de dinheiro praticado por ele e seus asseclas. O rombo causado pela construção de Brasília foi o início da derrocada do sistema previdenciário brasileiro. JK morreu em circunstancias suspeitas em um acidente automobilístico na Via Dutra na altura de Volta Redonda. Como todo político mineiro, é matreiro e tem uma propensão incrível para "enriquecer". São eternos candidatos à presidência da república e nas horas vagas seus negócios são "prósperos". O "eterno candidato" da hora atualmente está labutando no ramo da "farinha".

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  10. Belo texto e bela foto. À direita do fotógrafo ficava o bar Laguna, ponto de encontro para um chope após as aulas. Parece haver uma mulher dentro do carro.

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  11. Bom dia a todos. Na verdade o fotógrafo tinha mais interesse em fotografar o carro novo do que a FNM, que aparece ao fundo cortada pelo fotografo e mais tarde demolida pelo governo militar. Os detalhes destacados no texto acima pelo Dr.Luiz D', são de deixar qualquer simples mortal de boca aberta, face a sua brilhante memória.
    Como mencionado no texto e em comentários já realizados acima, divulgado esta semana que a educação da nossa juventude apresenta resultados a cada década piores do que a anterior, a partir dos anos 60, e em contra partida os investimentos em cada década tem aumentado, donde não sendo um idiota, a cada década mais dinheiro da educação é desviado das suas finalidades originais. Sempre digo que se você quer que uma coisa não seja resolvida ou levada adiante, divida a responsabilidade por várias pessoas, a educação no Brasil é responsabilidade dos governos, federal, estadual e municipal, tem o maior orçamento das pastas ministeriais, é a que pode ter suas verbas desviadas em todos os níveis, é a que a sociedade mais exige aumento e pede para que não tenha seu orçamento enquadrado no controle orçamentário. Porque todos unidos, governos, instituições, se beneficiam desta roubalheira.

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  12. Bonito carro.Quanto a FNM boas historias...A derrubada do predio um grande espanto!!!!

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  13. Observador Universitário18 de janeiro de 2017 às 12:11

    Uma das consequências da política do Governo Militar foi extinguir o movimento estudantil. A seguir, após a queda dos militares, pouco a pouco a estudantada foi se desiludindo com a Política e não houve renovação. Os governos populistas com ápice nos governos de PT cooptaram o que restou da UNE e hoje é isso aí que vemos: ou alienação total ou estudantes "chapa branca". Assim fechou-se a possibilidade de novos ares e manutenção de uma Democracia saudável. Perdemos todos.

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    1. Concordo com o registro. E acrescento que o interesse pela política estudantil em outras épocas começava nos Grêmios dos colégios. Não importavam os matizes e sim as proposições. Eram exercícios para a futura cidadania. Era motivo de orgulho estudantes que se propunham seguir as mais variadas carreiras, inclusive as militares, sem qualquer provocação ou crítica dos colegas. Movimentos contra aumento de passagens nos coletivos eram comuns, até com o discreto apoio dos colégios militares. Depois, foi o que se viu. Salvo engano a última manifestação espontânea efetiva de jovens com relação à política foi no fim do governo Collor. E hoje um ex dirigente da UNE é um polêmico senador. Vida que segue.

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  14. Boa tarde a todos.
    Sempre disse isso. Em minha opinião JK era um canalha. Foi por causa dele que o RJ começou a declinar. Foi ali, a partir de 1960 quando a Capital foi transferida daqui para o meio do país.
    Agora Joel, aqui pra nós que ninguém nos escute. Os militares não acabaram com Brasília porque na certa era interesse deles manter tal enfadonho lugar.
    Eu não sei o porque as pessoas pensam que categorias eleva o ser humano a condição de santinhos.
    Seja civil ou militar, a maioria é tudo pilantra. E mais. Toda ditadura é boa desde que ATENDA OS MEUS INTERESSES. Aquela que não atende os interesses é que não presta.
    Na época eu disse isso no antigo fotolog.
    Detestava a Dilma principalmente pelo passado comprometedor dela, mas sejamos franco. Só reclama como eu quem não comeu.
    Quem estava no poder se fartando, vocês acham de que iria reclamar? Nada.
    Assim também foi no tempo dos militares.
    Parafraseando o Docastelo: "Vida que segue".

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  15. Fora de foco para falar mal de meus colegas:
    Tinha exame marcado para as 14 horas. Chegando à famosa Clínica Neurológica às 13h50 houve o seguinte diálogo com a recepcionista:
    Recepcionista: "A Dra. está atrasada. Avisou há 20 minutos que está com problema".
    Eu: "Mas qual é a previsão da chegada da doutora?"
    Recepcionista: "Ela não disse. E há dois pacientes na sua frente".
    Eu: "Quanto tempo demora cada exame?"
    Recepcionista: "Uma meia hora".
    Eu: "Então, supondo que a doutora chegue daqui a pouco, eu terei que esperar pelo menos mais uma hora".
    Recepcionista: "O que o senhor queria que eu fizesse?".
    Eu: "A senhora poderia ter me telefonado. Aí eu evitaria o gasto de deslocamento, a perda de tempo, etc. Insisti ainda perguntando se a doutora não deu uma estimativa de chegada".
    Recepcionista: "Não, disse que quando resolvesse o problema dela telefonaria".
    Isto é DESCASO, DESRESPEITO, ARROGÂNCIA. Os médicos precisam pensar em seus pacientes.

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  16. Luiz.
    Se você que é médico aconteceu isso, tente imaginar o pobre coitado que mora longe e vai passando mal para a fila de um hospital.
    É triste, mas infelizmente é essa a realidade.

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  17. Luiz D´, isso se chama falta de educação! Por mais de uma vez já tive atritos em salas de espera devido ao pouco caso de alguns profissionais. Atrasos de 30, 40, ou mais minutos são intoleráveis. Frases como "o dr. está uma hora atrasado" ou "no Brasil é assim mesmo" são suficientes para eu me destemperar, perder a cabeça, e sugerir que ele pendure um relógio no pescoço ou dizer que ele não está me fazendo nenhum favor. Pontualidade é sinônimo de educação, consideração, e profissionalismo. Nunca se deve tolerar essas condutas desrespeitosas e infames. Acho que pessoas que agem dessa merecem merecem ser destratadas publicamente.

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  18. Meu prezado gerente,este é um dos malefícios que está inserido na conduta dos profissionais da saúde.E as tarjas da vida são grandes responsáveis,seja ela verde,azul ,colorida etc.Como não é bem remumerado,o profissional deixa de lado a qualidade para lançar mão da quantidade.E aí mistura tudo numa só panela,entendendo que o paciente (seja tarja verde ou não) está a sua disposição.Como na minha igreja os cultos são rigorosamente no horário,não admito este tipo de conduta.O profissional tem horário para 5 e marca 10.Um espanto!!!
    Nas minhas idas em procura de consulta,estabeleci que não espero mais do que 20 minutos.Pode ser o Papa.E tem mais,o profissional que atrasa, é assim o ano inteiro.A eventualidade é uma frequência.Pode anotar.

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  19. Vai falar isto num hospital público...

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  20. Relatos desanimadores, tanto o "fora de foco", quanto o tema de hoje. ** Cheguei a me preparar para o vestibular de medicina. ** Às vezes me pergunto em que ponto tudo degringolou no nosso país. Ainda não cheguei à resposta.

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  21. Observador de igrejas18 de janeiro de 2017 às 17:07

    Igreja é empresa!Para que médico se Jesus cura?Atraso significa menos "ofertas".Máquina de fazer dinheiro sem nenhum investimento físico a não ser a o "papo".Igreja evangélica é o Brasil sem crise onde o bolso alheio é generoso.

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  22. Minha enteada, que é médica, disse outro dia a propósito de coisas desse tipo: "É por isso que odeio médicos". Minha endocrinologista é um ET. Nunca se atrasa e não marca vários pacientes para o mesmo horário. Uma vez a paciente antes de mim atrasou-se, era a primeira consulta, com a desculpa de que morava na Barra. "É outro fuso horário"?, perguntou-lhe na lata a minha médica. A mulher recebeu cartão amarelo.

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  23. Obiscoitomolhado está se entregando.

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  24. Nalu, muita gente acha que a coisa começou quando o Cabral, o Pedro Álvares, saiu da tal rota do Caminho das Índias.
    Gustavo, é só clicar no nome obiscoitomolhado do comentário e entrar no blog dele para saber o nome.

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