Nosso
amigo Andre Decourt fez uma série sobre o impactante incêndio do Edifício
Astória, na Rua Senador Dantas nº 14, que é um primor de pesquisa. Pode e deve
ser vista em
http://www.rioquepassou.com.br/2013/06/29/incendio-do-ed-astoria-50-anos-parte-i/
Adiciono
hoje mais algumas fotos do acervo do Correio da Manhã junto a trechos de
reportagens sobre esta tragédia onde muitos foram heróis.
Com o
título de “Cidade parou em suspense durante nove horas de fogo, morte e pavor”,
o jornal dá conta de que duas mulheres e dois homens morreram, 27 pessoas
ficaram feridas, prejuízo de cerca de dois bilhões de cruzeiros e ameaça de
desmoronamento foi o resultado do incêndio iniciado às 10h30 de sexta-feira,
28/06/1963. As labaredas provocadas pelo curto-circuito de um ar condicionado
no laboratório cinematográfico de Herbert Richers, no 14º andar, deram início
ao incêndio (reportagem de dia posterior dá conta que o fogo teve início atrás
de uma tela de cinema que, por ser de nylon, queimou-se produzindo as chamas).
Na febre
de interromper o curto-circuito, alguém desligou a chave geral do edifício o
que causou a queda do elevador no poço, além de interromper as bombas de água
do circuito de combate ao incêndio.
Com as
pessoas desesperadas tentando escapar, abrigadas nas últimas janelas do prédio
de 22 andares, os bombeiros se viram impotentes, pois as escadas Magirus só
alcançavam o 10º andar. Uma senhora, viúva, projetou-se do 13º andar indo cair
em frente à Casa Tavares, fronteira ao Ed. Astória. Logo após, outra morte,
esta de um protético que tentou passar pelo lado externo do prédio e despencou.
Os
bombeiros subiram então ao terraço do edifício do Hotel OK, fronteiro ao prédio
em chamas, atiraram cordas e mangueiras finas em direção das janelas. Um deles
passou para o Edifício Astória para ajudar os que estavam encurralados e as
pessoas começaram a dramática travessia.
Dentro do
prédio em chamas, usando o método de ação conhecido como “linha” – uma fila de
soldados, um molhando continuamente o outro para permitir o avanço em meio ao
calor – conseguiu arrombar uma sala salvando quase 10 pessoas.
Logo a
seguir estava reservada para enorme multidão o mais trágico quadro da sucessão
de lances contristadores: uma moça loura, no 15º andar, no meio da travessia parou
de avançar e desprendeu-se, caindo sobre a marquise da Casa Tavares.
Flashes:
- 8
funcionários da Art Filmes fizeram um buraco e escaparam pelo vizinho Hotel
Serrador.
- O
governador Carlos Lacerda (diferentemente de nossos atuais governantes) foi
para o local acompanhar o incêndio.
- Os
bombeiros usaram 20 milhões de litros de água.
- As
cordas usadas nos salvamentos eram de matéria plástica.
- O
Exército juntou-se aos bombeiros no controle do local.
- 16
grupos de escoteiros também compareceram para ajudar.
- O Hotel
Serrador tinha 275 hóspedes.
- O prédio
Astória era do grupo Novo Mundo.
- Herbert
Richers perdeu Cr$ 250 milhões.
- O bombeiro Napoleão Pereira Cavalcante, o primeiro
a usar a corda sofreu fratura da coluna. Este bombeiro já havia fraturado costelas
quando do incêndio do Hotel Vogue.
-
Faleceram Zita Couto, Sebastião Pereira, Elizabeth Araujo e outro homem (que
não consegui identificar).
- A
Marinha disponibilizou 3 helicópteros que, não podendo auxiliar na remoção de
pessoas, foram utilizados no transporte de material para os bombeiros.
- Em
declaração ao Correio da Manhã o Sr. Herbert Richers disse que “o fogo não teve
início nos seus próprios e que caberá à Perícia comprová-lo”.
- Segundo
o jornal o proprietário do prédio foi acusado por inquilinos com referência à
distribuição de água.
- Muito se
falou sobre a obrigatoriedade de escadas de incêndio nos prédios. Projetos
foram apresentados, mas não foram adiantes (típico do Brasil).
- Dois
soldados PM que montavam guarda no Edifício Astória após o incêndio foram
acusados de roubo de material fotográfico de uma das salas, no valor de 3
milhões. O proprietário da sala flagrou-os ao observar a própria sala com um
binóculo.
- Em 1964
foi anunciado Leilão Judicial do Edifício Astória, marcado para 17 de junho: 22
pavimentos, 2 lojas e sobreloja, com 329 metros quadrados por andar num total
de 7500 metros quadrados. Entretanto, o imóvel não foi vendido neste leilão por
não alcançar valor superior a Cr$ 600 milhões. Mais adiante o grupo de
Administração e Participação Acre S/A arrematou o prédio por Cr$ 550 milhões.
- Em 1966
houve o julgamento e todos os réus foram absolvidos, pois não ficaram provados
nos autos, pela Perícia, onde teria se iniciado o incêndio (mais uma vez os
culpados ficaram impunes).
Enfim,
posso comentar que assisti, ao vivo e depois no “Repórter Esso”, pela televisão,
cenas deste pavoroso incêndio e me impressionaram muito. As reportagens das
revistas semanais da época, como Manchete e Fatos & Fotos também deram
muito destaque a este incêndio.
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terça-feira, 22 de agosto de 2017
INCÊNDIO EDIFÍCIO ASTÓRIA
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Incêndio é sempre pavoroso. Vou me restringir à terceira foto, onde há uma rara foto do desmonte do Morro de Santo Antônio, e a garagem dos bondes ainda aparece por inteiro e também o prédio cinza escuro da administração da CFCC, onde se comprava passes escolares. Se não fosse o incêndio, nunca se veria.
ResponderExcluirLembro bem desse sinistro que primeiro soube em plena aula no Colégio Souza Aguiar onde fazia nesse tempo o 4º ano do ginásio. Esperei ansioso pelo término das aulas para voltar para casa e ver de perto na Cinelândia. Minha primeira visão foi praticamente a mesma das pessoas na terceira foto. O terreno em frente era usado como um campinho de futebol, futuro local da atual catedral metropolitana na Av. Chile. Na Cinelândia centenas de populares se aglomeravam para ver o incêndio apesar do isolamento do local. Mas as piores cenas vi pela tv e depois pelas fotos nos jornais, anos depois relembradas pelo incêndio do Andorinhas.
ResponderExcluirEu trabalhava na cidade nesse tempo. Colegas meus de trabalho se dirigiram ao local, mas preferi não chegar perto. Um deles viu o momento da queda dessa senhora e entrou em desespero. Entrou em depressão e ficou meses afastado do trabalho.
ResponderExcluirUm post para entrar no Top Ten do Saudades! Achei que a terceira foto estava invertida, mas depois, observando melhor, acho que as pessoas estão em algum lugar na Lapa, correto?
ResponderExcluirAquele modelo de capacete preto dos bombeiros, se não me engano, perdurou até os anos 1990.
Na última foto, os bombeiros estão na marquise de uma loja na Álvaro Alvim? E que loja era essa que se chamava "Cantinho..."?
Em suma, um dos melhores posts do blog em todas as versões, incluindo Terra e UOL.
[]s
Luiz Antônio
As pessoas estão de costas para a Av. Chile, nos dias de hoje essa posição seria onde tem a primeira travessia elevada entre a pistas da Av. Chile, em frente as torres Ventura, onde antes funcionou a faculdade de letras da UFRJ.
ExcluirSe não me falha a memória o nome a loja era Cantinho Café e Bar, uma lanchonete onde tomávamos cafezino no intervalo das aulas do Miguel Couto.
ExcluirNa região havia um bar/restaurante chamado Meu Cantinho. Seria esse?
ExcluirMuita coincidência, procurando outra coisa, li ontem a edição do JB de 29/6/1963 dos arquivos digitais da Biblioteca Nacional, que fala sobre o assunto.
ResponderExcluirO citado Sebastião Pereira morreu por tentar pular para o edifício vizinho, com diferença de 3 andares de onde ele estava. Tentou o que um menino de 12 anos conseguiu, porém o garoto era mais leve e tinha mais elasticidade para o impulso, segundo contou o jornal.
Bom dia a todos.
ResponderExcluirQual foi o último grande incêndio da cidade? Seria o do Andorinha, em 1986? Eu sei que teve outros, mas sem tamanha repercussão. A legislação anti-incêndio e o avanço da tecnologia nos prédios mais modernos podem explicar que praticamente só os prédios mais antigos sejam atingidos.
Alguém ouviu falar de algum incêndio sério nos edifícios Avenida Central ou De Paoli, dois dos principais prédios centrais do Rio? A razão é a eficiência gerencial que transforma essas duas edificações em ilhas de excelência gerencial. Suas brigadas de incêndio e seu sistema de combate ao fogo nunca falharam. O que pode ocorrer no futuro é um eventual relaxamento em sua manutenção, sempre responsável por tragédias desse tipo.
ExcluirHoje em dia as normas exigidas para que esses estabelecimentos comerciais possam funcionar são bem mais rigorosas e essas tragédias são mais difíceis de acontecer mas acontecem. A corrupção para a concessão dessas licenças concedidas pelo Corpo de Bombeiros "vai bem obrigado" ainda no Século XXI. Os desabamentos e explosões ocorridos na Praça Tiradentes e na Praça Carioca em 2011 e 2012 são uma prova disso. Como sempre e por razão obvias, as punições nunca alcançam seus autores e as indenizações {quando existem} deixam a desejar. Lacerda ao acompanhar os trabalhos dos Bombeiros foi de uma demagogia sem tamanho. Os policiais militares ao furtarem objetos no local do sinistro, estavam praticando um costume que infelizmente ainda persiste não apenas na "força pública", mas também em todos os escalões do serviço público de formas diversas e com tipificações variadas, mas sempre subtraindo e se apropriando do alheio. Essas tragédias no Brasil que tanto sofrimento levam à inúmeras famílias e cujas punições devidas à seus autores sempre "deixam a desejar" ou são inexistentes, são a razão direta da existência de um judiciário "cio$o de $eu$ devere$". Exemplos como o de Gilmar Mendes não surgiram "de repente"...
ResponderExcluirJoel, acho que é dever dos governantes estar presente nestas situações. Cabral só apareceu dias depois da tragédia em Angra. Pezão não aparece nunca. Dilma foi a Teresópolis e Friburgo quase uma semana depois da inundação. Em todos os atentados terroristas na Europa os governantes estiveram presentes. Na II Guerra a rainha recusou-se a abandonar Londres.
ExcluirLargo da Carioca
ExcluirBom dia a todos. Me lembro bem deste incêndio, toda a cidade comentava sobre ele, estudava no Colégio Tiradentes e ouvíamos a todo o instante as sirenes dos carros de bombeiros passando em frente a escola, nesta época a R. Visconde do Rio Branco o sentido de direção era no sentido da Praça Tiradentes. Ainda morava em Santa, ao sair da escola minha mãe resolveu que pegaríamos o bonde na Francisco Muratori, para não irmos para o Largo da Carioca que estava tudo interditado.
ResponderExcluirNa foto Nº3 que o mestre Castelo chamou de campinho, era o Campo do V.M. (Vem Manso) na verdade era o único campo de pelada que tinha as dimensões máxima de um campo de futebol com 120x90. As suas balizas ficavam entre a Av. Chile que nesta época era elevada e os fundos da Fundição Progresso, havia também o campo do Flamenguinho que era transversal a este, que ficava entre a Rua do Lavradio e a lateral do campo do VM, exatamente em frente onde hoje existe o Tribunal de Justiça do Trabalho. Neste campo foi onde comecei a jogar as primeiras peladas.
Lino, apenas para esclarecer chamei o local de "campinho" porque era comum designar os campos de pelada dessa forma naqueles tempos. De fato revendo pela foto você tem razão. Como só joguei uma vez nesse lugar não tinha ideia da exata dimensão. Por sinal nesse dia fiz um gol de cabeça em um escanteio.
ExcluirEscanteio batido pelo próprio.
ExcluirKKKK ...The Flash!!
ExcluirQue tragédia. Pela extensão até que foram poucas as vítimas fatais. O desespero de ficar cercado pelo fogo, tal como aconteceu recentemente naquele prédio em Londres ou mais atrás nas Torres Gêmeas, é inimaginável. Ninguém merece.
ResponderExcluirKarak,vou procurar meu comentário no rescaldo....
ResponderExcluirBoa tarde a todos.
ResponderExcluirEssa eu não me lembrava.
Sabia do Andraus em 1962, do Joelma em 1974, do Barão de Mauá em 1981, e do Andorinhas em 1986.
Outro incêndio que comoveu muito a sociedade carioca foi o do Grande Circo Americano em Niterói em 1960. Dizem de que foi daí que surgiu da personagem Gentileza.
Pelos registros históricos, acredito eu de que outro prédio que teve um incêndio acredito que tenha sido daquele da Caixa Econômica na Avenida Rio Branco que dá para os fundos do Largo da Carioca.
Luiz. Uma pergunta, já que você foi testemunha ocular deste incêndio do edifício Astória: Qual incêndio foi pior? O Astoria ou o Barão de Mauá?
As fotos são realmente impactantes e sensacionais. Parecem até cenas de filmes.
O incêndio do circo em Niterói ocorrido em Dezembro de 1961 foi criminoso e vitimou mais de Quinhentas pessoas. Os três autores, dois homens e uma mulher, foram presos.O curioso é que até hoje nada foi construído naquele local.
ExcluirGrandes tragédias urbanas como desabamentos, incêndios, explosões, naufrágios, etc, ocorridos no Brasil se tornam mais dramáticos e contundentes porque seus responsáveis quase ou nunca são punidos. A corrupção, o corporativismo, e a incrível ineficiência da justiça são os principais fatores.
ExcluirSe não me engano hoje está lá a policlínica do exército. A crítica é que não há nenhum monumento lembrando o triste acontecimento.
ExcluirO Anonymus está corretíssimo, ouvi de um operário que trabalhou na construção da Policlínica Militar de Niterói que durante as escavações foram encontrados restos humanos mesmo que tenha sido algum tipo de bravata, confirma a informação sobre a localização. Já a única coisa que foi feita no local em memória da tragédia teria sido o jardim plantado pelo profeta Gentileza.
ExcluirO cemitério do Maruí foi expandido devido ao acúmulo de corpos, os quais ficariam insepultos sem tal expansão. Muitos corpos foram levados para o estádio Caio Martins e alguns foram levados para a garagem de bondes, cujo prédio fica quase em frente e que hoje abriga um centro cultural. Aquela região de Niterói era o único caminho possível para São Gonçalo, Maricá, e interior do "Estado do Rio", além de ser próximo a uma estação ferroviária bastante movimentada. Daí o movimento ser intenso. A sorte é que era Domingo e por isso o movimento era bem menor. Se fosse um dia útil, a tragédia poderia ser maior.
ExcluirA informação que tenho é quem foi acusado, preso e depois morto foi um doente mental.
ExcluirSó não entendo como um circo pode funcionar com lona feita de material inflamável.
Não há muitos anos circos voltaram a Niterói. Houve demonstrações com maçaricos atestando que a lona ara a prova de fogo.
Sem querer fazer graça com tal tragédia, porém, a foto Nº3 mostra um cara com camisa escura e calça branca.
ResponderExcluirOu esse cidadão estaria ouvindo das tragédias pelo rádio ou então não sei.
Até parece com algo muito corriqueiro nos dias de hoje em se falar ao telefone celular pelas ruas.
Estaria incomodado pela fumaça? Ou chorando?
ExcluirIncêndio Versão Brasileira Herbert Richers.
ResponderExcluirLembrei que recentemente aconteceram dois incêndios, um maior (mais antigo) e um menor, no prédio da Eletrobras, na esquina da Presidente Vargas com a Rio Branco.
ResponderExcluirSemanas atrás teve outro no prédio da antiga Embratel. Pouca repercussão.
ResponderExcluirSeria aquele rapaz de calça branca um viajante do futuro.
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