Antigamente
domingo a ida ao Maracanã era programa quase obrigatório. Antes, durante a
semana, era importante comprar os ingressos, pois muitas vezes o público
chegava a 100 mil pessoas, lotando o estádio.
Além
dos postos volantes em kombis, havia locais tradicionais de venda, como a
Central do Brasil, o Teatro Municipal ou Mercadinho Azul, em Copacabana. Na
bilheteria do “Maraca”, só em dias de jogos menores, como se vê em uma das
fotos acima. O ingresso, durante muito tempo, custava 34 cruzeiros.
Em
dia de jogo o almoço de domingo tinha que ser cedo, por volta das onze e meia,
para permitir a saída meio-dia e meia, para os jogos da tarde no Maracanã. Os
"aspirantes" começavam à uma e quinze e os "profissionais"
às três e quinze, e ninguém se queixava do calor.
Ía
sempre com o “velho”, em seu Chevrolet, junto com o seu grande amigo Jarbas
Barbosa, delegado, que com seus quase 2 metros de altura era nosso “segurança”.
Jarbas era vizinho e nos encontrava no portão de casa. A ida sempre incluía uma
passagem pela Real Grandeza onde pegávamos o Zezinho. Próxima parada na Mem de
Sá, onde o “velho” fazia uma breve visita aos internados na Casa de Saúde Santa
Luzia. Como eu torcia para a visita não demorar muito pois os
"aspirantes" já estavam jogando!
Sempre
sentávamos na parte da arquibancada atrás do gol, onde encontrávamos a turma
habitual: os dentistas Katz e Radamés, o Taranto com seu enorme rádio de pilha,
o velho de cabeça branca “lá em casa era penalty, lá em casa era falta”, o
Carlos Carrilho (irmão do Altamiro), o Ivan Drummond, às vezes o Nascipe, que
morava na Mariz e Barros e ía a pé para o estádio. A turma era grande.
Não
podia faltar a almofada, pois a arquibancada ainda era de um cimento áspero
(que tempos depois virou um cimento liso até ser substituído pelas atuais
cadeiras de plástico). Era um tempo em que havia "geral", uma só bola
(a G-18 marron) em jogo, gandulas com um puçá para pegar as bolas que caíam no
fosso, substituições não eram permitidas. No intervalo duas turmas saíam do
túnel central carregando cartazes de propaganda, cada uma dando a volta por um
lado do campo, e o placar era manual, com um encarregado de trocar os números
na hora dos gols. O aviãozinho com aquela faixa de propaganda sempre sobrevoava
o Maraca antes do jogo e no alto-falante o que mais se ouvia era: "no
Pacaembu, gol do Santos (e depois de uma pausa) Pelé!".
De
vez em quando o “velho” participava da diretoria do Flamengo e então entrávamos
para o setor das cadeiras especiais ao lado da Tribuna de Honra, sempre
encontrando o Farah, funcionário eterno do Flamengo, vigiando a roleta e
facilitando minha entrada (um garoto de 10/12 anos) sem apresentação da carteirinha.
No
capítulo alimentação só mate ou café, servidos em copinhos de papel, e sorvetes
da Kibon (Chica-Bon, Kalu, Jajá e Tonbon). Não tinha ainda chegado a época do
Geneal. Quando escurecia era um espetáculo ver a arquibancada cheia e o acender
de fósforos ou isqueiros o tempo todo, brilhando como vagalumes - a iluminação
fraca e o hábito de fumar contribuíam para este espetáculo. Ficou a saudade do
excelente futebol daquela época e, mais ainda, muito mais, a saudade de
assistir as partidas ao lado do "velho".
Saudades
de grandes craques do Flamengo (Garcia, Dequinha, Joel, Rubens, Moacir, Indio,
Evaristo, Dida, Zagalo), do Botafogo
(Manga, Nilton Santos, Garrincha, Didi, Amarildo, Quarentinha), do Vasco (Barbosa,
Paulinho, Bellini, Orlando, Sabará, Vavá, Almir, Walter Marciano, Pinga), do
Fluminense (Castilho, Veludo, Pinheiro, Altair, Telê, Maurinho, Valdo,
Escurinho), do América (Pompéia, Djalma Dias, Leônidas, Amaro, Canário,
Alarcon, Nilo), do Bangu (Decio Esteves, Zózimo, Calazans, Mário). Saudades dos
grandes locutores como Jorge Curi, Waldir Amaral, Clovis Filho, Oduvaldo Cozzi,
Ari Barroso, Rui Viotti, Doalcey Bueno de Camargo, José Cabral, Orlando
Batista; dos famosos comentaristas João Saldanha, Benjamin Wright, Rui Porto,
José Maria Scassa; dos textos de Nelson Rodrigues, Armando Nogueira, Sandro
Moreira, Mário Filho. E das pacíficas torcidas do Flamengo (com a Charanga do
Jaime de Carvalho), do Vasco (com a Dulce Rosalina e o talo de mamão do Ramalho),
do Botafogo (com o Tarzan soltando fogos) e do Fluminense (com o Careca).
Outros
tempos!
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Realmente eram tardes maravilhosas ainda mais quando se ia ao Maraca com os pais e amigos do peito.
ResponderExcluirFui com meu pai que era rubronegro, várias vezes, mas eu torço pelo tricolor.Belas lembranças. Meu pai falava muito nos jogadores argentios Di Stefano e Pederneiras. Marcou muito na minha vida de torcedor quando o Fluminense vendeu o Valdo para o Valencia da Espanha.
Realmente eram "outros tempos". O local da primeira foto é inconfundível: Praça S. Peña em frente à Major Ávila {Rua das Flores}, onde a fachada do cinema Carioca é inconfundível e se situa entre 1960 e 1964. Observem as "andorinhas". Vou pedir licença ao gerente para discordar do texto no ponto em que afirma que os ingressos eram vendidos na bilheteria "só em jogos menores". Muitas vezes meu pai e meus tios entravam em filas imensas para comprar ingressos nas bilheterias. Elas abriam mais cedo, é verdade, ainda que houvesse outros pontos de venda, e muitas vezes o jogo começava deixando pessoas do lado de fora. Outro detalhe não mencionado é que "militares fardados" pagavam um Cruzeiro. Os Cr$ 34,00 se referem um tempo anterior à 1967 quando ocorreu a primeira "desvalorização da moeda". O "alisamento" do concreto nas arquibancadas ocorreu no "recesso" entre 1966 e 1967. A cor das bolas, a mudança para "traves redondas" ocorreram também nesse período. As substituições passaram a ocorrer em 1970 e os cartões coram criados nessa data em razão de "dificuldades linguísticas" na Copa vindoura a se realizar naquele ano.
ResponderExcluirJoel, meu texto não ficou claro. Queria dizer que deixar para comprar ingresso nas bilheterias do Maraca só era boa opção em jogos menores. Nos jogos grandes, por conta da fila imensa, era melhor comprar antecipadamente e logo na quinta-feira anterior, pois sexta e sábado também havia filas grandes nos postos volantes.
ExcluirSó fico pensando se a primeira foto fosse hoje em dia. No mínimo a Kombi teria sido assaltada pelos vagabundos que existem atualmente naquele local e os ingressos iriam parar nas mão de cambistas. Me lembro que nessa época, em dia de pagamento, minha mãe que lecionava no Instituto de Educação, ficava aguardando o "carro pagador" das professoras e funcionárias chegar com os envelopes com dinheiro para pagamento. Chega a ser surreal mas é verdade! Não havia "facções criminosas" no Maracanã nem em seu entorno. As brigas na geral chegavam a ser cômicas, inocentes. Eu me lembro das milhares de pessoas afluindo ao estádio naquele Dezembro de 1973 por ocasião do "jogo de despedida de Garrincha. Não houve qualquer tumulto ou violência. Ao contrário do Fluminense e Vasco que assisti em 67 e que houve briga no campo e um pouco nas arquibancadas e que o "pivô" de tudo foi o atacante Adilson, curiosamente irmão de Almir, o "pernambuquinho". No final dos anos 80 é que as coisas começaram a se deteriorar. Ressalte-se que a visão que as pessoas mais "antigas" como as que frequentam "este sítio" tem do futebol é bem diferente do que o que acontece atualmente principalmente no enfoque social, o que acaba gerando distorções graves, principalmente em jovens. Antigamente o jogador de futebol era em sua maioria limitado cultural, social, e financeiramente, não sendo modelo de "projeto de vida" para ninguém. A abertura do mercado do futebol europeu nos anos 80 foi o principal fator. No passado, gênios futebolísticos" não eram "endeusados" nem recebiam uma remuneração inexequível com a sua condição. A máxima de "pérolas aos porcos" nunca foi não exata. Indivíduos que em condições normais seriam adequados como porteiros, flanelinhas, estivadores, ou "office boys", se viram detentores de fortunas completamente despropositais às suas condições. Imaginem o que seriam "Dentinho" ex-Corínthians", Neymar, Adriano, e mais recentemente "Vinícius Júnior" sem o futebol? Será que Neymar "comeria" a Bruna Marquezine se morasse na Vila Cruzeiro e fosse "auxiliar de pedreiro"? Certamente se vivêssemos em uma sociedade igualitária como os países europeus, as coisas seriam bastante amenizadas mas nesse "Haiti piorado", as consequências serão sempre funestas. Assim um jovem mediano ao investir em seus estudos para conseguir uma ascensão profissional, prefere se lançar em uma aventura cujo termo é previsível.
ResponderExcluirBom dia a todos.
ResponderExcluirA terceira foto foi tirada entre 1967 e 1970, por causa do padrão monetário indicado na roleta. Na primeira foto me parece que eram dois jogos com ingressos disponíveis. Flamengo X Botafogo e Fluminense X América, jogos que poderão acontecer em 2018. Não consigo identificar o padrão monetário indicado no "posto volante".
Nos dias atuais pessoal não consegue (ou consegue com muita dificuldade) comprar ingresso pela internet, levando para a porta do estádio na hora do jogo muita gente que não deveria estar lá.
Cambistas são outra praga vista nos arredores dos estádios em jogos de apelo, apesar de recentemente ter aparecido a figura do sócio-torcedor, com vantagens de compra de ingressos em relação ao torcedor " comum".
Complementando, a foto da Central parece que faz referência a algum jogo do Benfica disputado aqui no Maracanã.
ExcluirEm 67 foi criado o cruzeiro novo com o corte de 3 zeros. Na verdade o dinheiro vinha se desvalorizando desde a construção de Brasília que foi financiada com emissão maciça de dinheiro.
ResponderExcluirO texto nos faz recordar de algumas coisas no mínimo espantosas,que ocorriam.Entre elas a bola (uma só) G 18,o jogo de aspirantes começando as 13.15 hs e o fato de não haver substituições em qualquer hipótese...Tudo um espanto!!Grandes jogadores mencionados e o futebol de fato virou um grande negócio,onde todos faturam e aí é um jogo de interesses sem tamanho.A imprensa,por exemplo,joga de acordo com os negócios.Os jornalistas cariocas e ou paulistas visando a manutenção de suas benesses,parecem estar falando para um bando de idiotas.Esquecem até mesmo que o mundo está globalizado.Procuram vender o peixe que interessa a eles,suas funções e seus salários.Bons jornalistas são "obrigados" a dividir a bancada de apresentações com ex/jogadores,numa mixórdia total,Mas cada um garante o seu.Em relação aos jogadores e suas ações extracampo o Joel definiu bem.
ResponderExcluirO jogador citado pelo sr. Joel seria mesmo Vinícius ou Negueba Jr.?
ResponderExcluirVinícius Júnior mal completou 17 anos e já foi "vendido à um clube estrangeiro". Milhões de Euros foram um "belo investimento". Resta saber se ele e seus familiares não terão "indigestão" tamanha a quantidade de "pérolas". Como eu sempre digo, os tempos são outros. Que bem o diga nosso estimado gerente que "viveu e respirou Flamengo" no passado e deve notar a diferença...
ResponderExcluirMayc, o teu caso é muito raro hoje em dia: um tricolor, filho de pai rubro negro.
ResponderExcluirEu deixei de ir no Maraca por vários motivos, os principais foram: 1 - preço dos ingressos: impensável eu ir no Maracanã e levar os meus dois filhos pra ver UM JOGO do Flu; tenho que liberar pelo menos umas quinhentas pilas do orçamento. Pra ver, como disse, UM JOGO. 2 - Não posso tomar cerveja no estádio: eu não eu estou indo para um culto, estou indo para um jogo de futebol. Como eu não posso tomar uma cerveja? E não me venha com essa estória de Lei Seca, pois quando vou ao Maracanã, vou de trem! 3 - A ditadura rubro-negra: não quero suscitar discussões clubísticas, mas de uns trinta anos pra cá acabou Vasco, Flu e Botafogo no Rio. Tudo é feito em prol do Flamengo. E não é "recalque", inveja ou dor de cotovelo como eles tentam colocar. Num momento futuro, tentarei contextualizar isso...
Muito bom texto! ia ao maracanã com meu tio Reginaldo, americano doente, então só assistia Flamengo X América.Sabia a esclação com Alex, Badeco, Mareco e Eduzinho (irmão do Zico), dentre outros. Almofada, radifno de pilha, ADEG, etc. Bons tempos, diversão sadia, futebol folclórico do Tim , Yustrich, etc.
ResponderExcluirA dimensão do Flamengo parece ser infinita.Suas vitórias alegram milhões,qual suas derrotas.
ExcluirPois é Wagner meu pai nunca me forçou a ser rubronegro,deixou-me escolher o time que quisesse. Minha irmã era vascaína e minha mãe Americana. Talvez coisas de Tijucano
ResponderExcluirÀ exceção de ter tido algumas G-18 marrons e de ainda jogar semanalmente uma pelada às segundas-feiras, pouco contato tive com o futebol e pouco fui ao Maraca, incluindo-se aí uma memorável partida Santos e Milan, vencida pelo Santos por 4 a 2, depois de estar perdendo por 2 a 0 no primeiro tempo; e sem Pelé. Por incrível sorte, fiquei na cara dos 6 gols. A Kombi é 1961, ainda de parachoques e calotas verdes, rodas de aro 15" e as maminhas pisca-pisca (que duraram de 61 a 63).
ResponderExcluirFui muito ao Maracanã e tive a satisfação de ver essa turma toda citada pelo Luiz. Ia com meu irmão, meu primo e amigos, todos com 12, 13 anos de idade, sem a companhia de adultos. Outros tempos...
ResponderExcluirJoel Almeida, sua referência às pérolas que poderão causar indigestão ao Vinícius Jr e família mostra bem a pessoa vil que você é. Lamentável, mas nada surpreendente em se tratando de você.
O direito de poder manifestar opiniões e o respeito à elas são características dos regimes democráticos tão incensados por alguns. Mas isso não dá direito a ninguém de ofender quem quer que seja. Candeias, não conheço você e sua presença nunca me chamou atenção devido à insignificância, mas agora demonstra ser digna de inspirar cuidados, pois em seu comentário "nada me surpreende em você", deixou claro que sou alvo de sua sorrateira e doentia observação e quem sabe das inúmeras agressões anônimas de que sou alvo neste blog. Mas "não estou nem aí" para suas colocações senis. "Requiescat in pace".
ResponderExcluirE eu achando que havia o poder moderador...
ResponderExcluirPena que o nosso amigo Lino esteja viajando para não ver o que vi agora. Liguei a TV e lá está ele,O.O.,o bom rapaz,comandando o Atlético Mineiro. Faltam poucas rodadas para o fim do campeonato e ao que indica ele vai ter pouco tempo para mais uma vez mostrar que é bem melhor do que fala o nosso amigo.
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