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sexta-feira, 6 de novembro de 2020

HISTÓRIA DE BONDES por Helio Ribeiro

Voltemos ao passado, à época dos bondes puxados a burro.

Em 1866, foi fundada a Botanical Garden Railroad Company. Dado o sucesso desta companhia, nos anos seguintes uma enxurrada de outras foram formadas, sendo as mais importantes e duradouras: a Rio de Janeiro Street Railway, fundada em 1869; a Companhia Ferro-Carril da Vila Isabel e a Companhia Locomotora, ambas em 1872; a Companhia Ferro-Carril Fluminense, em 1873; a Empresa de Carris de Ferro de Santa Teresa, em 1875, e a Companhia Ferro-Carril Carioca e Riachuelo, em 1877.

Pouco após suas fundações, a Botanical Garden Railroad Company foi renomeada para Companhia Ferro-Carril do Jardim Botânico e a Rio de Janeiro Street Railway foi rebatizada como Companhia de São Cristóvão.

Em fins de 1878, as empresas Locomotora, Fluminense, Santa Teresa e a Carioca e Riachuelo fundiram-se e deram origem à Companhia de Carris Urbanos (CCU).

A Jardim Botânico, a Vila Isabel e a São Cristóvão usavam bondes com bitola de 1435 mm. A Carris Urbanos usava a de 820 mm. Em decorrência disso, os bondes de bitola larga eram maiores e tinham mais capacidade de passageiros, além de serem puxados por uma parelha de burros, ao contrário dos de bitola estreita, que eram tracionados por apenas um animal.

A foto abaixo mostra um bonde da Companhia de Carris Urbanos. No letreiro, a palavra "Hospício" se refere à rua Buenos Aires, e "V Sapucahy" é a atual Marquês de Sapucaí.


             Abaixo uma foto de um bonde da Companhia da Vila Isabel, linha Engenho Novo.


               Abaixo a foto de um bonde da Companhia de São Cristóvão, linha Tijuca.


                Abaixo foto de bonde da Jardim Botânico, na inauguração do Túnel Velho.



No mapa abaixo, datado de 1886, vê-se o itinerário das linhas de cada uma dessas empresas, na área do centro da cidade e imediações, referente ao ano de 1878. O colorido foi feito pelo Helio Ribeiro e o mapa mostra a convenção de cores para cada empresa. Os itinerários em vermelho mais escuro e mais fino, principalmente na área portuária, se devem a expansões ocorridas em linhas entre 1878 e 1886, sem indicação de a qual empresa se referem.



Na foto abaixo vemos um bonde elétrico da Vila Isabel. 

Em 1907, a Light adquiriu a concessão das empresas São Cristóvão, Vila Isabel e Carris Urbanos, adotando a bitola 1435 mm e iniciando a eletrificação de todas as linhas. Nessa época, dessas empresas apenas a Vila Isabel dispunha de bondes elétricos, comprados na Alemanha, da firma Van der Zypen & Charlier, de Colônia.

Será que os bondes a burro levavam muito tempo nos seus percursos? E como as linhas que eles faziam podiam ser identificadas à noite, já que não tinham letreiros iluminados? A tabela abaixo, referente ao ano de 1882 e publicada pelo "O Indispensável", esclarece essas duas questões. As linhas da CCU não constam dela porque estavam em reestruturação na época da publicação. O farol citado na tabela provavelmente funcionava a carbureto.

Que tal comparar com os tempos gastos atualmente, de carro ou ônibus, para fazer os mesmos percursos?


OBSERVAÇÃO:  Algumas fotos acima foram obtidas do site do falecido Allen Morrison, em http://tramz.com/br/rj/th/th1.html.

 

18 comentários:

  1. Em nome do "Saudades do Rio" e de todos comentaristas e visitantes gostaria de agradecer ao Helio pela colaboração e parabenizá-lo pelo extraordinário "site" que mantém sobre bondes. É um resgate incrível abordando um tema que tem muito apelo entre os antigos cariocas.

    Aproveito para agradecer, também, a tantos colaboradores que contribuem para o "Saudades do Rio" ser uma pequena referência na memória de nossa cidade.

    São muitos que contribuem com seus conhecimentos, lembranças, com sua arte e com suas pesquisas. Aprendo muito com todos, entre os quais o Carlos Paiva, o Nickolas Nogueira, a Cristina Pedroso, o Francisco Patricio, o Silva, o Reinaldo Elias, todo o pessoal do Facebook Rio Antigo, o Zierer, todos os colorizadores de fotos desde o precursor Conde di Lido, todo o pessoal do antigo Terra, os comentaristas diários.

    Enfim, o "Saudades do Rio" é o resultado da participação de todos.

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    1. Conheci o Saudades do Rio em 2007. De lá para cá, não largo o osso. Leio todo o dia, embora só comente quando acho que tenho algo a acrescentar.

      Parabéns ao Luiz, pela sua dedicação, trabalho, resiliência, capacidade de adaptação com tantas mudanças nos provedores, e pelos valiosos conhecimentos fornecidos aos visitantes, sejam de autoria própria, sejam reproduzindo o que lhe é enviado. Quanto do passado da cidade aprendemos neste site!!

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  2. Bom dia, Dr. D'.

    Se o gerente ainda aprende, imagina então os reles frequentadores deste espaço. Vez ou outra ainda conseguimos colaborar em algum assunto específico. Mas bonde é com o Helio, carro com o biscoito (e outros), Copacabana com o Decourt e por aí vai...

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  3. Parabéns a todos como bem comentou o gerente.
    Na primeira foto a do Hospicio só vejo o Lulu. Será que o Dudu estava internado?
    Como a cidade parecia tranquila naquele tempo e como todos se vestiam com apuro.
    A foto do Colégio Militar me lembra uma outra do mesmo ângulo feita algumas décadas depois e já publicada no blog.
    Olaria era aquela estação na Gávea, não?
    E que capricho e pesquisa nos quadros montados pelo Helio.

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    1. Cesar, era bonde de bitola estreita, puxado por apenas um burro.

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  4. Pelo mapa dá pra ver como a cidade cresceu. Mas não linha linhas de bonde em Madureira, Cascadura, Jacarepaguá, e Irajá. Não são dessa época?

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    1. Sim, havia bondes em outros pontos da cidade, dependendo da época. Mas eram de outras companhias, bem locais.

      Em 1875 foi inaugurada a linha de Cascadura (lado do Campinho) para Taquara e Freguesia. Tração animal.

      Em 1894, as linhas da área de Campo Grande. Tração animal.

      Em 1911, a de Madureira para Irajá. Tração animal.

      Em 1922, as da Ilha do Governador, que já nasceram elétricas.

      A Light incorporou a de Jacarepaguá em 1911 e a de Irajá em 1928 e as eletrificou de imediato.

      As de Campo Grande e Ilha do Governador foram eletrificadas mas constituíram sistemas à parte até sua extinção.

      Quanto a Madureira (lado da rua Carolina Machado), era atendida pelas Cascadura e Licínio Cardoso, da Light. Durante algum tempo, também foi atendida por uma linha que partia do Méier.

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  5. Na foto, o bonde elétrico passando em frente ao Colégio Militar, na Rua São Francisco Xavier e dobrando no Largo Aluno Horácio Lucas.

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  6. Esse modernismo sobre trilhos causou revolta na turma das diligências e similares.
    Com certeza o bonde alemão foi o mais feio da história.

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    1. Concordo. Esse bonde alemão era muito feio. Disputa pau a pau com aquele ônibus conhecido como "sinfonia inacabada".

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  7. Na foto 1 o segundo bonde era para São Diogo.
    E o Visconde de Sapucaí ainda não tinha sido promovido à Marquês.

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  8. Boa tarde a todos. O mestre Hélio Ribeiro, realmente é um grande conhecedor da história dos bondes do RJ. O conhecimento de detalhes destes antigos veículos, bem como das empresas que a administravam são realmente surpreendentes. Muito bom termos o mestre Hélio diariamente entre nós sempre trazendo grandes contribuições para os comentaristas do SDR. Muito obrigado Hélio, por suas aulas sobre os bondes, e também da cidade do Rio de Janeiro.

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    1. Lino, obrigado pelas gentis palavras, mas meu conhecimento é em grande parte fruto da leitura atenta e interessada de textos e obras de outros amantes dos bondes, como o falecido Allen Morrison, o Marcelo Almirante, o Luiz de Lucca, além de conversas com pessoas que guardam de memória informações sobre aquele meio de transporte, como Paulo Henrique Alteirado e Marcos Benechis.

      O conhecimento que posso dizer ser meu próprio é o que consta do meu site, quase todo baseado em anotações e lembranças minhas da época dos bondes, acrescido de algumas contribuições de visitantes.

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  9. Rapaz, que trabalho de qualidade! Parabéns aos mestres.

    Dos locais de urbanização antiga da cidade apenas um hiato que eu verifico na disponibilização de bondes: de Oswaldo Cruz até Santíssimo, passando por locais populosos como Realengo e Bangu. Interessante que ainda encontra-se muitas casas com datas, tradição da época, das décadas de 10 e 20 nesses locais. Recentemente vi uma casa na Rua Leocádia, em Realengo, com data de 1883. Havia considerável massa trabalhadora a ser transportada, seja dos subbairros para as estações de trem, ou para as grandes fábricas da região, como a Bangu tecidos e a fábrica de munições de Realengo. Também havia a Escola Politécnica da Visconde de Mauá, em Marechal Hermes, e o Campo dos Afonsos.
    Parece que nenhuma cia, infelizmente, se interessou por este trecho...

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    1. Acredito que considerassem o trem suficiente para esse trecho, sem densidade suficiente fora do leito da ferrovia para um serviço de bonde.

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    2. Verdade, Wagner. A última expansão feita pela Light foi o ramal da Penha, inaugurado em 02/10/1927. Depois disso, só o ramal Madureira - Penha.

      O auge dos bondes foi por volta de 1940. Depois disso, o serviço começou a decair, em parte pelas restrições de importação de material dos EUA em virtude da II Guerra Mundial. Outros fatores também influíram, como a expansão do transporte rodoviário e o consequente congestionamento de tráfego e a concorrência de ônibus e lotações.

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  10. Hélio, as linhas que passavam por Inhaúma são de quando?

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    1. Ricardo, não sei a data exata, mas creio ter sido na década de 1930.

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