A
primeira foto, colorizada pelo ex-aluno Eduardo Bertoni, mostra a entrada da
Faculdade, ornamentada para a inauguração, em 12/10/1918. Sempre se utilizou
esta entrada, que dava para a rua sem saída entre a Av. Pasteur e o sopé do
morro. Esta entrada era voltada para o terreno onde seria construído o
Hospital, que nunca saiu do papel. A entrada principal, voltada para a Avenida
Pasteur, só era utilizada em raras ocasiões solenes.
Durante
minha época de Faculdade, neste terreno em que não foi construído o Hospital,
havia o restaurante e a quadra de esportes. Depois foi ali construída a Escola
de Guerra Naval. Todos nós, entre eles o amigo Eduardo Bertoni, que
frequentamos esta Faculdade, ao vermos a foto sentimos muita saudade. A
portaria, que durante décadas foi comandada pelo Magalhães, compreendia esta
escada e um amplo saguão que levava até ao pátio interno. Nos intervalos das
aulas era por aí que ficávamos.
O
prédio, inicialmente com dois pavimentos (depois foi construído mais um), tinha
100 metros de frente e 80 de fundos. Conta o Prof. Doyle: "A face do
prédio que dava para esta pequena rua possuía 16 janelas altas, com venezianas
de ferro. No meio da fachada estava a entrada, elevada em relação ao nível da
rua e a ela chegava-se por uma escada com dez degraus de granito, ladeados por
um corrimão, também de granito. O pé direito do primeiro andar era de seis
metros. Ultrapassado o portal entrava-se no amplo saguão, onde havia a estátua
de Asclépius, deus da Medicina na mitologia grega ou Esculápio na mitologia
romana". O prédio, também lamentavelmente, foi demolido em 1973, com a
transferência da Faculdade de Medicina para a Cidade Universitária do Fundão.
Restou um espaço que está vazio até hoje!
As
comemorações pela inauguração da Faculdade foram logo perturbadas pela chegada
ao Rio da chamada "gripe espanhola", uma das mais destrutivas da
história. No Brasil provocou 300 mil óbitos, 18 mil na cidade do Rio. O ápice
da epidemia ocorreu na semana seguinte à inauguração. Um fato curioso derivado
da epidemia foi a "aprovação por decreto". Fernando Magalhães
comentou: "Este episódio foi degradante e dolorosamente significativo.
Passara a epidemia mortífera mais rápida e, em menos de um mês, devastara e
desaparecera. Matou aos milhares, mas a sua maior hecatombe foi este decreto
nefasto. Concedeu-se exame para tudo. Em preparatórios, analfabetos foram
aprovados em latim; na instrução superior surgiram velhos egressos, desiludidos
do título, e que voltaram encanecidos aos mesmos lugares que haviam abandonado
quando novos e incapazes." Leitão da Cunha submeteu à Congregação o
seguinte voto, aprovado por unanimidade: "A Congregação lamenta que o
Congresso Nacional tenha aprovado o projeto chamado dos estudantes e cujas
consequências importam na completa desmoralização do ensino.”
Na
segunda foto vemos a faculdade com seu aspecto à época da inauguração, com dois
andares apenas. O edifício, segundo Ferreira Rosa, dotado de excelentes salas
de aula e provido de laboratórios magníficos, tem dois pavimentos sobre uma
área de 80 metros de frente por 100 de fundos. No primeiro andar o arquiteto
empregou a Ordem Toscana; a Ordem Coríntia no segundo. Uma balaustrada arremata
a fachada e, em vez do telhado, tem terraços transitáveis. Há um pátio interno
octogonal, ajardinado, de lindo aspecto, com 1310 metros quadrados de
superfície.
Na
terceira foto vemos o pátio interno que, como conta o Prof. Doyle Maia, "tinha
árvores que davam sombra aos bancos de pedra propícios para um namoro, conversa
fiada ou uma esticada para um cochilo enquanto esperava-se o começo das aulas.
Quem ficava até mais tarde na Faculdade e passava pelo pátio no início da noite
não pode ter se esquecido do canto de centenas de pardais que no fim do dia
procuravam abrigo nas árvores nele existentes, entre as quais existia um
loureiro, trazido de Epidaurus, por Aloysio de Castro. O espaço do pátio era
octogonal, cercado em todos os lados pelo edifício da Faculdade.
Na
quarta foto vemos que em dois lados opostos do pátio havia uma larga escada de
granito que levava ao segundo andar. A escada era em dois lances, o primeiro,
largo, dividia-se em dois mais estreitos e divergentes. Uma das escadas ficava
sobre o local onde estava o bar. A outra, na face oposto do edifício. Na década
de 40 foram iniciadas obras de ampliação através da construção de novo andar,
que desfigurou o prédio, com salas inadequadas, de pé direito muito baixo, ao
contrário do existente na construção inicial. Para os que tivemos o privilégio
de frequentar a Faculdade Nacional de Medicina, a visão deste pátio nos traz à
memória momentos inesquecíveis e muita saudade dos colegas e amigos.
A
quinta foto é uma maquete do foi o prédio da FNM.
Continua
amanhã.
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Com que então passar por decreto começou por causa da gripe espanhola. Segundo o relato foi mesmo uma vergonha, mais uma que tomamos conhecimento no nosso país.
ResponderExcluirMuito acolhedor o pátio interno do prédio da faculdade.
Curioso que a segunda foto parece parcialmente colorida.
Meu avô ajudou a carregar corpos em 1918. Dizia ele que era estarrecedor. Quanto a aprovar por decreto, isso é um absurdo inominável, somente superado pelo ingresso nas universidades através das "cotas raciais". Quanto à excelência das faculdades estaduais e federais de medicina, pelo fato de atenderem milhares de pessoas gratuitamente, estão sendo alvo de um pernicioso "contingenciamento de verbas" que tem por objetivo direcionar populações carentes para planos de saúde populares.
ResponderExcluirDizia um antigo professor da Universidade do Brasil que "a partir da Reitoria até a Medicina, respirava-se o saber !"
ResponderExcluirBons tempos...
Pelo que me lembro, esse novo pavimento abrigava única e exclusivamente uma enorme biblioteca especializada em revistas científicas e periódicos do mundo inteiro, inclusive o Index Medicus, frequência obrigatória de quem fazia qualquer tipo de pesquisa, diferente daquela que ficava no térreo, cujo acervo era só de livros didáticos. O acesso a esse andar era feito exclusivamente pelo elevador (se havia escada, não era acessível ao público) e vez por outra algum gaiato, se aproveitava da ausência momentânea do mengão, (um simpático ascensorista que nunca tirava o sorrisão do rosto) e "sequestrava" o elevador até o último andar. Como não havia a facilidade de comunicação dos dias atuais, é fácil imaginar o transtorno causado já que o problema tinha que ser resolvido aos berros através de andares com 6 m de pé direito.
ResponderExcluirBoa tarde!
ResponderExcluirSegundo minha vó, nascida em 1905, era comum encontrar casas com toda família morta pela gripe.
Boa tarde a todos.
ResponderExcluirInfelizmente o brasileiro cujo DNA nada saudável há, sempre foi assim. Usar esse maldito "jeitinho brasileiro" para fazer as coisas.
Por isso esse país e principalmente essa cidade estão assim.
Luiz,
ResponderExcluirDa para juntar tudo ( fotos,textos, etc) num pen ou cd?
adoraria ter isso tudo junto. Está um primor de pesquisa.
PARABÉNS!!!!!!!!!!!!