A
foto de hoje mostra a entrada do Teatro de Arena, na Rua Siqueira Campos nº 143,
no Shopping Center de Copacabana, também conhecido como Shopping dos
Antiquários.
A
peça em cartaz era “Liberdade, Liberdade”, que era anunciada como “Seleção de
textos famosos sobre a liberdade, transformada em espetáculo (musicado) por
Millor Fernandes. Direção de Flavio Rangel.”
A
versão original estreou em 1965, no dia 21 de abril, Dia de Tiradentes, o
Mártir da Independência.
Com
direção de Flávio Rangel, o elenco era formado por Paulo Autran, Tereza Rachel,
Nara Leão e Oduvaldo Vianna Filho, numa produção conjunta do Teatro Opinião e
do Teatro de Arena de São Paulo.
O
roteiro incluía textos de Sófocles, Shakespeare, Beaumarchais, Brecht e de
discursos de Lincoln, Churchill e Kennedy. Nara Leão atuava como cantora,
interpretando canções da guerra civil espanhola, a Marselhesa, sambas de Noel
Rosa e Moreira da Silva, e também como atriz, representando ao lado de Oduvaldo
Viana Filho, um trecho do “Diário de Anne Frank”.
Havia
também declamação de poemas sobre o tema “Liberdade” de autores como Carlos
Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Paul Eluard. Tereza
Rachel interpretava um trecho de “As bodas de fígaro”.
A
repercussão nacional e internacional foi imediata. Até o New York Times
registrou o sucesso do mais ambicioso dos espetáculos de protesto. O sucesso da
peça repercutiu nos mais altos escalões governamentais. O presidente Castello
Branco, em nota de 2 de junho de 1965, dirigida a seu sucessor Arthur da Costa
e Silva, afirmou que as ameaças (da peça) são de aterrorizar a liberdade de
opinião.
Sucederam-se
ameaças de bombas na porta do teatro. Neste clima de
medo, Millôr Fernandes lamenta: "Triste país em que um cara como eu é perigoso."
Em
1966, a Censura Federal proibiu a apresentação desta peça em todo o território
nacional.
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Grande recordação. Eu tive oportunidade de assistir ao vivo este espetáculo em que o destaque absoluto foi a atuação de Paulo Autran.
ResponderExcluirE nele tomei conhecimento de Paul Eluard, cujo poema Liberdade considero uma obra-prima:
Nos meus cadernos de escola
Nesta carteira nas árvores
Nas areias e na neve
Escrevo teu nome
Em toda página lida
Em toda página branca
Pedra sangue papel cinza
Escrevo teu nome
Nas imagens redouradas
Na armadura dos guerreiros
E na coroa dos reis
Escrevo teu nome
Nas jungles e no deserto
Nos ninhos e nas giestas
No céu da minha infância
Escrevo teu nome
Nas maravilhas das noites
No pão branco da alvorada
Nas estações enlaçadas
Escrevo teu nome
Nos meus farrapos de azul
No tanque sol que mofou
No lago lua vivendo
Escrevo teu nome
Nas campinas do horizonte
Nas asas dos passarinhos
E no moinho das sombras
Escrevo teu nome
Em cada sopro de aurora
Na água do mar nos navios
Na serrania demente
Escrevo teu nome
Até na espuma das nuvens
No suor das tempestades
Na chuva insípida e espessa
Escrevo teu nome
Nas formas resplandecentes
Nos sinos das sete cores
E na física verdade
Escrevo teu nome
Nas veredas acordadas
E nos caminhos abertos
Nas praças que regurgitam
Escrevo teu nome
Na lâmpada que se acende
Na lâmpada que se apaga
Em minhas casas reunidas
Escrevo teu nome
No fruto partido em dois
de meu espelho e meu quarto
Na cama concha vazia
Escrevo teu nome
Em meu cão guloso e meigo
Em suas orelhas fitas
Em sua pata canhestra
Escrevo teu nome
No trampolim desta porta
Nos objetos familiares
Na língua do fogo puro
Escrevo teu nome
Em toda carne possuída
Na fronte de meus amigos
Em cada mão que se estende
Escrevo teu nome
Na vidraça das surpresas
Nos lábios que estão atentos
Bem acima do silêncio
Escrevo teu nome
Em meus refúgios destruídos
Em meus faróis desabados
Nas paredes do meu tédio
Escrevo teu nome
Na ausência sem mais desejos
Na solidão despojada
E nas escadas da morte
Escrevo teu nome
Na saúde recobrada
No perigo dissipado
Na esperança sem memórias
Escrevo teu nome
E ao poder de uma palavra
Recomeço minha vida
Nasci pra te conhecer
E te chamar
Liberdade
A declaração de amor definitiva.
ExcluirBom dia. De cara um Dauphine! Esses carros da Renault eram a "cachaça" de meu pai. Esse Shopping nunca "decolou" e seu comércio até hoje é voltado para o "popular". Exceção feita ao Quinto Juizado Especial.
ResponderExcluirGrande espetáculo e grande momento, começava com essa peça a luta contra a ditadura militar. Em frente ao teatro um Dauphine .
ResponderExcluirRara foto em que um Dauphine pode ser admirado e verificado por sua luz de placa pintada, a ausência do friso lateral e as rodas fechadas. Nem precisa ler o escudo. Quanto ao sucesso do protesto, me pergunto: se não houvesse a substituição do Jango pelo Castelo, teria havido a peça?
ResponderExcluirE, se os artistas morassem em Cuba, na mesma época, poderiam ter feito o mesmo sucesso? Só lamento que as autoridades tenham censurado.
Esse assunto é por demais complexo mas merece ser abordado. Em 1965 o país ainda vivia em "relativa calma" em face dos anos vindouros. Manifestação cultural ainda era encarada como "manifestação cultural" e não como "ato de subversão". Foi uma época profícua para eventos desse porte bem como de festivais de música que viriam. A censura passou a atuar com maior rigor a partir de 1968 quando a radicalização da esquerda se acentuou. Não confundir a Censura Federal, que era executada pelo DPF com a com a executada pelo DOPS da polícia estadual. Havia também o DOPS da Polícia Federal mas isso é um detalhe que não vem ao caso. O fato é que muitos desses "artistas" se revelaram comunistas de escol e estão em atividade até hoje, cultivando "dividir o alheio" e mamando nas tetas do governo. O cultuado "Vianinha" sempre teve uma queda pelo "vermelho" e no rastro dele muitos outros. FF. As forças armadas estão nas ruas para atuar na segurança pública. Vamos ver se efetivamente vão vasculhar as favelas em busca de armas, de acordo com sua atribuição constitucional, ou vão agir como a "Farsa Nacional", que se "recolhe após às 18 horas e quando as coisas "engrossam" pedem socorro à P.Militar.
ResponderExcluirNessa época, e nos anos seguintes aqui no Rio, ocorreram excessos da ditadura contra as manifestações culturais e também atitudes truculentas e isoladas de certos comandantes de unidades militares contra populares e estudantes. Como exemplo um comandante do COMAR no RJ, de nome Penalva, cuja mãe morava no meu prédio, que tinha o hábito de reunir meia dúzia de soldados da PA e sair pelos bares da vida à procura de indivíduos, normalmente jovens estudantes, para abordar e constranger, e até agredir sem motivo. Mas nada se pode comparar com a repressão ocorrida em São Paulo com a formação do CCC - Comando de Caça a Comunistas, que se especializou em invadir casas de espetáculos que estariam encenando peças consideradas "subversivas". O maior exemplo foi a invasão do teatro onde era encenada a peça Roda Viva" onde os atores foram agredidos a socos e chutes por esse famigerado grupo paramilitar, inclusive a atriz principal, Marília Pera que, salvo engano, estava grávida. Atitudes típicas desse tipo de regime que ainda é incensado por muitos energúmenos.
ResponderExcluirAcho que vai continuar a mesma coisa de sempre,fazem uma movimentação mas não usam o serviço de inteligencia com a presteza necessária para acabar de vez com o problema da impunidade. As forças armadas não servem para patrulhar e sim para acabar com o foco onde estão os marginais. E todos nós sabemos onde o problema está.
ResponderExcluirVamos dar tempo ao tempo. Os militares com certeza farão o seu trabalho no sentido de buscar os arsenais em poder do tráfico de drogas. A roda da vida faz com que as pessoas lúcidas possam se adequar aos tempos em evolução e nesse momento os militares podem ser a solução para a insegurança no Rio de Janeiro. No passado podem ter cometido excessos, distribuído "cascudos" em jovens arrogantes, mas isso foi no passado. E se alguém ainda tem na memória e no cocuruto lembranças daquele tempo, os tempos são outros...
ExcluirBom Dia! Todo protesto para "aparecer" deve ser contestado.
ResponderExcluirLiberdade, liberdade, faz parte da estrofe do Hino da Republica, que ficou proibido durante os anos de chumbo. No centenário da proclamação foi usado no samba enredo da Imperatriz, por sinal samba memorável, um dos mais belos já feitos.
ResponderExcluirPor falar em energúmenos, 30% da população pretende votar no Lullarápio em 2018.
ResponderExcluirEstive neste local recentemente.Não vi esta peça .Nem me recordo se ela voltou a ser exibida.**Dauphine conseguia ser pior que o Gordine.Dois espantos!!!!!!
ResponderExcluirBoa tarde a todos. Na parte da manhã tentei escrever por 3 vezes o meu comentário, porém não sei o que estava ocorrendo, que toda vez que enviar o comentário, o mesmo apagava completamente da tela.
ResponderExcluirEsta peça não tive a oportunidade de assistir na época em que foi encenada, pois ainda era criança, já pouco tempo depois no científico e no vestibular, ouvi vários comentários sobre ela de professores. Também acredito que após a abertura ela não voltou a ser encenada. A transcrição pelo mestre Clóvis do poema Liberdade, é o destaque dos comentários de hoje. Já falarmos de Liberdade nos dias atuais, no meu ponto de vista ela a cada dia está sendo mais tolhida, principalmente pelas novos posicionamentos da sociedade e principalmente de grupos que se dizem formadores de opinião. Eu como bom filho de pais Portugueses, sempre vi a Liberdade associada a outra duas palavras, responsabilidade e palmada.
Boa tarde a todos.
ResponderExcluirDr. D' acendeu o rastilho e saiu de fininho. Tema mais que polêmico que acendeu discussões ideológicas.
O temerário pousou no estado para adoçar parte da mídia local, disse besteira (coisa normal) e se mandou de volta.
Hoje as tropas não foram vistas de manhã nas vias expressas.
Sobre o comentário apócrifo de 12:33, piores são os energúmenos dispostos a votar em projeto de nazista.
Augusto, os textos das fotos e até mesmo a escolha das mesmas já expõem minhas posições.
ExcluirTudo OK. Minha frase pode ter sido infeliz. Só quis destacar que as discussões seriam acaloradas.
ExcluirTenho minhas opiniões sobre o período em questão. Elas se chocam com as de vários comentaristas do espaço.
Nota de falecimento: Jeanne Moreau. Idade: 89 anos
ResponderExcluirFilmou no Brasil, Joanna Francesa, de Cacá Diegues.
Em 2013 Dóris Lessing detentora de dezenas de prêmios, inclusive o Nobel de Literatura, faleceu aos 94 anos, ainda bem lúcida, e, no Brasil, o mais completo silêncio.
Ninguém melhor do que ela para falar de comunismo, socialismo porque os vivenciou enquanto militante. Seus livros deveriam ser de leitura obrigatória nas escola. Os de Simone, também.
A maioria dos nossos "militantes" viveram de renda nas "oropas.
Boa tarde a todos.
ResponderExcluirInteressante da postagem de hoje é que coincidiu com um programa que assisti ontem no início da tarde pela TV BRASIL, antiga TVE.
No programa, o assunto abordado era sobre LIBERDADE.
Vários participantes de diversas religiões, incluindo ateus comentaram sobre: O que é Liberdade?
É um conceito tão difícil de ser definido como também beira ao corriqueiro como aconteceu com o termo DEMOCRACIA.
Ao final do programa, chegamos a conclusão de que LIBERDADE a nível de conceito, vai da definição da cabeça de cada um.
Nem sempre o que é considerado LIBERDADE para um assim chamado progressista, seja do mesmo conceito para um conservador, e vice e versa.
O que sei apenas é de que ninguém é LIVRE, por mais que digam o oposto, pois o ser humano até por forças de sua insignificância de matéria orgânica, jamais é ou será tão livre que possa transformar o mundo a seu bel prazer ou então voar pelos céus tal como um passarinho.
Não se trata de ideologia e sim de coerência. Não existe qualquer "ideal partidário" no Brasil e sim "acordo de facções". Os mais antigos sabem que "ideais políticos","planos de governo", e outras bobagens do gênero, não existem no Brasil. O que existe são "projetos de poder" que visam apenas o enriquecimento de membros da facção e o consequente empobrecimento da população através de "reformas" estruturais supostamente necessárias que ao serem implementadas irão ferir direitos da maioria. Como prova disso, apesar de "formadores de opinião" pregarem o contrário, a qualidade de vida dos brasileiros em sua maioria teve após 1985 uma queda violenta em que além de direitos fundamentais como saúde e educação serem quase extintos, está na iminência de perder o direito ao emprego pleno e à uma aposentadoria decente, sem contar que o direito de ir e vir desapareceu há muito tempo. Além disso, quase todos estão seriamente endividados devido a uma carga tributária extorsiva e juros criminosos. Nunca o país esteve em uma situação tão crítica. Mas gostar desse tipo de "democracia" é pura insanidade...
ResponderExcluirEm 1964 alguns setores da sociedade junto com a grande imprensa consideravam que o Presidente João Goulart queria a ditadura de esquerda. Viabilizaram o golpe da direita, só que o Gal. Mourão precipitou a data e, dizem, se achou o dono da "cocada preta" e aparentemente não gostou de ver o Castelo Branco, Golbery e outros menos linha dura no poder central. Mas era preciso mostrar que o golpe foi para manter uma democracia, mesmo que relativa.
ResponderExcluirOs acontecimentos de 1968 foram só a desculpa que a linha dura precisava.
Detalhe: pelo que já li em algumas edições de abril de 1964 do Correio da Manhã, nos arquivos digitais da Biblioteca Nacional, o apoio desse grande jornal da época durou uma semana e meia no máximo. Acho que consideraram a indicação de um militar para a eleição indireta do substituto do Jango um ato inconstitucional e portanto contra a democracia que os golpistas de então diziam defender.
Após grandes "cacetadas" no lombo,como muitos outros cheguei a imaginar o PT como uma verdadeira luz.Doce ilusão.Tão ruim ou pior que os outros.Quando a sua estrela máxima começou a fazer acordos com profissionais políticos como Collor,Sarney e até mesmo o folclórico Maluf cheguei a conclusão que o que vale é aquela cantilena do "farinha pouca,meu pirão primeiro".E o pior para mim é quando uma pessoa esclarecida acredita neste tipo de gente.Este é um verdadeiro espanto!!!!!
ResponderExcluirA propósito de endividamento vale conferir a entrevista com o ex-ministro Delfim Neto onde ele acusa o Gal. Ernesto Geisel de ser o responsável por quebrar o Brasil. http://jornalggn.com.br/noticia/para-delfim-resistencia-de-geisel-levou-economia-a-falencia-nos-anos-70
ResponderExcluirNota: Há dois aspectos a serem considerados sobre essa entrevista. Ela foi concedida 18 anos após a morte do Gal., impedindo qualquer contestação por parte do acusado. Por outro lado era pública e notória a aversão que Geisel tinha pelo economista que além de acusações de corrupção tinha a fama de ser homossexual, comportamento que desagradaria o Gal.. Nomeado pelo próprio Geisel para ocupar o cargo de embaixador na França foi alvo do rumoroso Relatório Saraiva, elaborado pelo adido militar Cel. Saraiva no qual descreve as esbórnias promovidas pelo "gordo", como era conhecido Delfim nos bastidores do poder. Dessa forma não se poderia esperar qualquer tratamento elegante depois desse "imbróglio".
Vai ver o Delfim queria que o Geisel pagasse as contas da festa do "Milagre Brasileiro" do Governo Médici com o petróleo do Brasil. Quem acabaria caindo de joelhos diante do FMI foi o Figueiredo, em 1982 (foi antes da eleição daquele ano, mas a divulgação só depois). Mas não podemos espalhar isso, pois muitos querem que se acredite que crise econômica é coisa só da "Nova República". Realmente Sarney e Collor fizeram muita besteira tentando remediar (tantos pacotes econômicos que perdi a conta) e só pioraram as coisas, mas a doença vinha de longe.
ExcluirO "milagre brasileiro" foi um fato e realmente a conta foi alta, mas por objetivos louváveis e não por uma pilhagem sistemática como a que as quadrilhas instaladas atualmente no congresso nacional executam. O Brasil está nas mãos do sistema financeiro internacional com uma dívida pública impagável. Quem responderá por isso?
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