Hoje,
além das fotos do acervo do Correio da Manhã (uma do Bar Bem, colorizada pelo
Nickolas), temos um longo texto sobre São Conrado, com a colaboração de muitos
comentaristas do “Saudades do Rio”. Desde já peço desculpas por não citar os
nomes deles, pois, infelizmente, ao copiar os textos não anotei os nomes dos
autores. Os textos são de São Conrado pelos olhos de seus moradores ou
visitantes. A meu ver muito interessantes, pois não constam nos livros de
história, mas trazem saborosas reminiscências do Rio antigo. Como são
lembranças, às vezes não estão corretas. Peço, então, que eventuais correções
sejam feitas.
O
atual bairro de São Conrado era, até o início do século XX, praticamente
deserto. A região era conhecida como "Praia da Gávea", pois o morro,
visto do mar pelos colonizadores, parecia uma cesta de mastro. O acesso a esta
região, até aquela época, a partir da Zona Sul, era feito pela estrada da Gávea
e, a partir de 1916, pela recém-inaugurada Avenida (estrada) Niemeyer.
Na
década de 30 o bairro começava a interessar aos investidores. Um exemplo foi a
campanha de venda da GAVELANDIA, que dizia: "O sonho que daqui a pouco
será concreta realidade. GAVELANDIA, padrão simbólico da energia criadora e
dinâmica da Land Investors Trust S/A. A GAVELANDIA que na visão ao alto se
localiza sobre a soberba elevação mais próxima da suave orla atlântica surge
glamurosamente coberta de construções em sucessivos platôs. A montanha e o mar
conjugam seus fatores de beleza e salubridade para realizar o encanto do mais
lindo bairro atlântico da formosa capital do Brasil".
Há
hoje em dia um condomínio chamado "Jardim Gavelandia", vizinho da
Casa de Retiros Anchieta, a famosa Casa dos Padres, em São Conrado, com acesso
pela Rua Capuri. Segundo um morador, o vale de São Conrado é uma das regiões mais
interessantes do Rio de Janeiro , inclusive superior paisagística e
monumentalmente ao conjunto da Urca, e mesmo à área do Corcovado. Ali o
conjunto de montanhas criou condições que nunca foram valorizadas nem
exploradas do ponto de vista turístico como poderiam ter sido, ou ao menos
criado um bairro melhor.
Na
década de 1940 foram projetados loteamentos nas encostas próximas à Pedra da
Gávea e à Pedra Bonita (chamado Jardim Pedra Bonita) de maneira a criar um
bairro organizado, mas o excesso de zelo hipócrita cortou a maioria dos lotes,
deixando alguns que hoje formam as ruas Iposeira e Gabriel Garcia Moreno.
Impediu-se assim a criação de um bairro jardim mais bem estruturado. Se não me
engano o Jardim Gavelândia é o que fica do lado da Rocinha , ruas Capuri , São
Leobaldo, Santa Glafira, etc.
O
Gávea Golf Club existe graças aos engenheiros ingleses da Light que resolveram
criar seu clube ali, desenvolvendo um trecho do bairro civilizadamente. As
prefeituras de todas as épocas cercearam as ocupações legais dos terrenos de
encosta, o que daria ao menos um ambiente mais civilizado, mas permitiram
criminosamente e demagogicamente as ocupações irregulares e desordenadas em
vários pontos do bairro. São Conrado acabou sendo um bairro de passagem, com
uma praia poluída pelo esgoto da Rocinha e com uma estrada fantasma (Estrada da
Canoa), coroada com o esqueleto do fracassado Gávea Tourist Hotel. Cabe ainda
mencionar a outra “estrada fantasma “, abandonada, a Estrada do Joá.
Espetacular paisagem, também jogada no lixo. Enfim, parece que tudo isto faz
parte do estigma misterioso que castiga o Rio de janeiro. Deve ser alguma
maldição dos tamoios, os verdadeiros donos destas paragens, massacrados nestas
regiões, nos séculos XVI e XVII .
Além
das belas fotos da Praia de São Conrado vemos as famosas barraquinhas derrubadas
em meados dos anos 60. Eram, segundo alguns, o último limite que as “moças de
família” se permitiam ir. Se topassem ultrapassar esta fronteira e ir para a
Barra da Tijuca...
“Quando
a Prefeitura resolveu remover as barraquinhas, o dono de cada uma ficou com o
"direito" de construir um comércio estruturado, em alvenaria, no
mesmo lugar. Alguns construíram (inclusive "seu" Nelson, dono do
boliche "Pé-de-Vento"), e muitos venderam o "direito".
Alguns
que, direta ou indiretamente, compraram estes direitos:
-
O Sr. Loyola (pai da Vera Loyola), dono do Bar Bem, ficou com estes terrenos
entre o Bar Bem e a Igrejinha e os terrenos entre a Igrejinha e a rua anterior.
Nestes terrenos fez uma extensão do Bar Bem, que depois ganhou vida própria
(não lembro o nome, mas acho que era algo "dos Pescadores") e o Bola
Branca (depois Biruta).
-
O Sr. Conrado Niemeyer ficou com o terreno entre a Estrada da Gávea e a R. Engº
Álvaro Niemeyer. Alguns anos depois, fez ali o Top (Pot ao contrário), que
virou Tochas (ou Tochas, que virou Top?)
-
O Sr, Álvaro Niemeyer ficou com o terreno de esquina, logo depois da R. Engº
Álvaro Niemeyer, e, logo, construiu o Pot, com um sucesso enorme.
-
O Sr. Ricardo Amaral ficou com um dos terrenos pouco depois do Pot, e montou um
restaurante focado em automobilismo. Tinha 2 dragsters pendurados nas paredes,
e, em cima da lage, montou um cinema drive-in com carros antigos. Pagava-se a
entrada e se assistia ao filme de dentro dos carros. Um dos diferenciais era
que os garçons e garçonetes eram recrutados entre estudantes de nível superior.
Alguns
dos terrenos das barraquinhas foram ocupados, em épocas variadas, por
parquinhos de diversão, bastante toscos. O "Meu Boliche", que era o
mais frequentado, e que teve a vida mais longa. Na subida da Estrada das
Canoas, á direita.
-
O "King´s" (do Sr. Loyola), um dos 2 boliches automáticos do Rio.
Pouco depois foi fechado e transformado no Motel King's, na época em que o Sr.
Loyola construiu o Vips, na Niemeyer, e percebeu que rendia muito mais que um
boliche.
-
O "Bola Branca", também do Sr. Loyola. Com a redução da procura por
boliches, foi transformado em restaurante, com o mesmo nome, mas mantendo 2
pistas do boliche, que eram oferecidas como bônus às mesas cuja conta
ultrapassasse um certo valor.
-
O ACG - Automóvel Clube da Guanabara construiu um boliche completo, antes da
primeira rua de São Conrado (antes do Biruta), mas que, com a falência do ACG,
nunca chegou a ser inaugurado.
O
"Pé-de-Vento" só veio alguns anos depois. O Sr Nelson vivia jogando
no "Meu Boliche", e chegou à conclusão que era melhor transformar seu
restaurante em boliche. Fez a reforma, inaugurou o boliche, e morreu de
infarto, coitado.
Ricardo
Amaral, pouco depois, montou o "Tobogã" e, em volta do tobogã, um
parque que chamou de "Diverlândia" (a principal atração eram os
karts). Lá se comiam os primeiros crêpes feitos no Rio. O sucesso foi imenso e,
durante uns tempos, chegar do Leblon a São Conrado em um sábado ou domingo era
coisa que demorava de 45 minutos a 1 hora e meia. Mais outro tanto para voltar.
Nós,
que morávamos lá, saíamos pelo Alto da Boa Vista (Gávea Pequena) e Dona
Castorina. A primeira "tirolesa" que teve por ali, quase que bem no
mesmo lugar que o tobogã, mas bem antes, foi instalada pelo Exército, para
treinamento de páraquedistas. Tenho quase certeza que, de vez em quando, eles
deixavam os "civis" fazerem o "exercício".
Este
pessoal dos Paraquedistas fixou as estacas de uma rede de volei, um pouco
afastada do local da "tirolesa". A pedido de um amigo nosso, as
estacas foram instaladas em frente à R. Henrique Midosi, perto das cocheiras do
Gávea Golf (que não existem mais). Virou a rede de volei da minha
"turma" durante muitos anos. Mas houve mesmo uma outra "tirolesa"
pela época do tobogã. Tenho a impressão que também teve uma (talvez a mesma) em
uma das Feiras da Providência na Lagoa.
A
casa onde cresci foi transformada em colégio. Na R. Engº Álvaro Niemeyer, com
fundos para a Estrada das Canoas. Quase em frente de onde foi o Pot.
A
Escola Mater começou a funcionar em 1967, voltou a ser residência em 75. Em 81,
a casa, com o alvará da escola , foi vendida, e voltou a ser colégio.”
Outro
comentarista lembra: “Fomos para lá em 1959. Meus pais compraram o terreno em
um loteamento e construíram a casa. Já tinham 4 filhos e era uma forma de ter
alguma qualidade de moradia por um preço viável. Durante a construção da casa,
um lotação descia da Gávea, pela Rocinha, até o Largo da Macumba, no fim da
descida da Rocinha. Dali tínhamos que ir a pé até o Largo de São Conrado (uns 2
ou 2,5 km). Quando a casa ficou pronta, já funcionava outra linha de lotação,
com ponto final no Largo de São Conrado (São Conrado- Bar 20). Uns meses depois
foi substituído por um ônibus circular, o São Conrado-Real Grandeza, que acabou
virando Vidigal-Mourisco (521 e 522). Quando esta linha foi
"encurtada" até o Vidigal, ficamos só com o Hotel Leblon - Barra da
Tijuca (555) que, anos depois, virou Rodrigo Otávio - Barra da Tijuca.
Não
fomos completamente pioneiros porque uma primeira leva tinha se instalado em
São Conrado nos anos 40. Depois, realmente, as coisas deram uma parada, até a
década de 60.
Não
havia nenhum comércio, exceto os restaurantes, "barraquinhas",
parquinhos e um hotel de alta rotatividade (Hotel Recreio dos Bandeirantes). Em
algumas épocas, conseguíamos entrega em casa de pão e leite.
O
Rio era dividido em Zona Sul, Zona Norte e Zona Rural. A Zona Rural começava na
entrada da Av. Niemeyer.
Quanto
ao colégio, era o único particular por lá. Já existia, desde antes da década de
60, a Escola Pública Lúcia Miguel Pereira.
Telefone,
era uma dificuldade. A CTB tinha um cabo, instalado na década de 40, mas que,
mal foi instalado, já estava "lotado". Sem chance de conseguir um
número. Lá em casa, tínhamos que ir até o Hotel Recreio dos Bandeirantes, para
pagar um telefonema por lá.
No
final dos anos 60, foi criada a CETEL, que instalou, finalmente, novas linhas.
Nosso telefone era o 109. Qualquer ligação CTB/CETEL era feita via telefonista,
com a devida espera, como qualquer interurbano da época.
Havia
um hotel na Estrada da Gávea, à direita de quem volta de São Conrado para a
Gávea. Entre a R. Henrique Midosi e o Gávea Golf. Mais ou menos onde hoje fica
o último retorno da Lagoa-Barra em São Conrado (indo para a Gávea)”.
Nesta
época das fotos, o acesso, a partir da Zona Sul, era feito pela Avenida Niemeyer
ou, menos usado, a Estrada da Gávea. Fui várias vezes na Casa de Retiro
Anchieta, dos padres jesuítas, para “retiro” dos alunos do Santo Inácio. Era
muita mais uma diversão do que um retiro. À noite jogávamos cartas, ouvíamos os
páreos do Jockey no rádio de pilha, alguém bancava as apostas, para desespero
dos padres. Lembro que após as 22h desligavam a luz, mas continuávamos a
jogatina com velas roubadas da capela ou de lanternas levadas nas malas.
Famosa
também era a “corrida de submarinos” junto à Praia do Pepino. Pagava-se para
entrar num terreno arenoso e tudo era garantido. O risco era atolar o carro na
areia.
Quanto
ao Gavea Golf & Country Club, é preciso explicar que ele sempre foi cortado
ao meio pela Estrada da Gávea, no mesmo trajeto que ela faz hoje - aquela pista
pequena, mais baixa que a autoestrada. Dizem que a propriedade sobe morro
acima, até o viaduto das Canoas, o que deve ser verdade, porque aquela faixa de
mata continua virgem.
Um
pouco mais tarde, no início dos anos 70, com a construção do Hotel Nacional
(1968-1972) e a abertura da autoestrada Lagoa-Barra, o movimento aumentou
muito, com novos empreendimentos comerciais. Por essa época quem não ouviu o
"jingle": "É um mal não frequentar o Bem", do programa Ritmos
de Boate, do Big Boy, na Rádio Mundial? O Big Boy tinha três programas na Rádio
Mundial 860 AM (atual CBN). "Mundial é show musical", todos dias de
semana, das 18 às 19 horas; "Ritmos de Boate", todos os dias de
semana, das 22 às 23 horas, com patrocínio do Bar Bem e Vip's Motel, e
"Cavern Club", aos sábados, de 18 às 19 horas, onde só tocava
Beatles. Uma curiosidade sobre o Motel Vip's: o nome foi criado com as letras
iniciais dos três filhos do Ignacio de Loyolla. Vera, Ignacio e Pantaleão.
Antes
da construção do Hotel Nacional o terreno em frente à praia serviu durante
muito tempo de uma espécie de drive-in sem tela de cinema. Havia um precário
serviço de bar, mas um eficiente serviço de desatolamento dos automóveis que
ali ousavam estacionar.
SATURIN
TURISMO: Começou a operar em outubro de 1951, licenciada pelo Departamento de
Concessões da Prefeitura do então Distrito Federal, iniciando com uma frota de
cinco ônibus de fabricação francesa, do tipo Chausson, com capacidade para 40
passageiros cada um, que seriam fiscalizados pelo Departamento de Turismo e
Certames.
Seus
passeios inaugurais ocorreram em 20/10/1951, com excursões ao Alto da
Boa-Vista-Canoas e o “Rio à Noite”, como podemos ver no anúncio acima.
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