Petrópolis era o destino em finais de semana e, sempre, nas férias. A casa de meu avô ficava na Rua Padre Siqueira e consistia nesta primeira construção onde eram os cômodos, além do terreno ao lado, onde havia um belo jardim e, mais ao fundo, um mini-campo de futebol, colado no morro.
A casa, à direita, o portão e, à esquerda, o jardim onde minha avó plantava hortênsias. À noite era um festival de pirilampos no jardim.
Em frente à casa, por anos, um mesmo senhor retirava areia do rio. É possível ver uma monte de areia retirada na calçada.
Esta era a vista da varanda de casa. Ali ao fundo, do outro lado do rio, ficava o Palácio de Cristal. Bem nesta bifurcação o Piabanha tinha duas cores, pois o braço que recebia os despejos da fábrica de cerveja Bohemia era amarelado. E tinha um cheiro característico.
Pela Rua Padre Siqueira, nas férias de janeiro, passava diariamente o Brigadeiro Eduardo Gomes pedalando sua bicicleta. Sempre nos saudava com um aceno.
Na varanda, de frente para o Rio Piabanha, o que mais um menino podia querer com tantos carrinhos e um posto de gasolina para brincar?
Em colorização do Conde di Lido, minha "baratinha".
O programa à tarde era ir a um dos cinemas da Avenida XV, hoje Rua do Imperador, se não me engano. Era o tempo do Petrópolis e do Capitólio.
Na Petrópolis dos anos 50 misturavam-se carros, charretes, bicicletas. Estas, na época, tinham placas.
À esquerda ficava a estação de trem. Sempre íamos esperar a chegada do trem, às 8 horas aos domingos, para comprar o Correio da Manhã e disputar com os irmãos quem leria primeiro o caderno de quadrinhos coloridos.
Mais adiante, à esquerda, havia um "tiro ao alvo", em frente ao ponto final dos ônibus para os bairros como "Retiro", "Cascatinha", etc. Havia as espingardas de chumbinho para destruir pedaços de louça pendurados e as espingardas com uma rolha de vinho na ponta do cano para acertar maços de cigarros dispostos numa prateleira.
O "rink" Marwill, entre o Petropolitano e a Praça da Liberdade, era o local ideal para patinar. Os patins eram alugados ali no fundo. Aos domingos pela manhã, alternadamente, havia jogo de futebol de salão ou de hóquei sobre patins.
Meu avô era freguês do Restaurante Copacabana, também na Avenida XV. O filé com fritas era, óbvio, nosso prato preferido.
As charretes estacionadas ao lado do muro do Museu faziam parte do dia a dia de Petrópolis. Rivalizavam com as charretes mais simples alugadas na Praça da Liberdade, onde também se alugavam cavalos (para dar a volta na praça, para ir da praça até a Catedral, ou por hora).
A Catedral, ainda sem a torre. Minha avó e minha mãe não abriam mão. Domingo era dia de ir à missa.
Nas chuvas de 1966 o morro atrás da casa desmorou, destruindo-a até a metade. Felizmente não havia ninguém na casa. Meu avô optou por vender e o jardim se transformou num estacionamento cimentado e na casa instalou-se uma firma comercial.
Certa vez, passando por lá e fotografando a fachada, o dono saiu e me perguntou a razão das fotos. Disse que havia passado minha infância ali. Gentil, me convidou para entrar, mas preferi ficar com minhas recordações em vez de ver tudo transformado para pior.
Falta dizer que nossas férias eram ótimas, com muitos jogos dentro de casa, jogos de mesa e futebol, pedalar de bicicleta pela parte de terra da União Indústria, do outro lado do rio, andar a cavalo, ir ao cinema, passear no Quitandinha, olhar o Palácio Rio Negro quando o Presidente da República estava lá, ir lanchar nas Lojas Americanas.
Não havia televisão, mas não nos fazia falta. Todo final de tarde, na varanda, ouvíamos "Jerônimo, o herói do Sertão" e "As aventuras do Anjo".
E ter a companhia do avô e da avó era um privilégio.
Coloca aqui, sob o "Anônimo" o comentário do Menezes. Não sei a razão de ele não aparecer nos "Comentários" quando abro o site no desktop. No celular aparece...