Por conta da bela vitória da Seleção Brasileira ontem por 4x1 sobre o
Uruguai vamos, com estas fotos da Rua Miguel Lemos, em Copacabana, homenagear
uma das melhores seleções brasileiras de todos os tempos, mesmo não tendo
alcançado o título de campeã do mundo. Coloco a seleção de 82, aquela de
Leandro, Junior, Cerezo, Falcão, Sócrates, Zico, Eder, ao lado de outras
grandes seleções que também amargaram a dor de não ter tido este sucesso, como
a seleção húngara de 54, aquela de Puskas, Bozsik, Hidegkuti, Grsics, Czibor e
a seleção holandesa de 74, aquela de Cruyff, Neeskens, Kroll.
Eram famosas as festas esportivas na Rua Miguel Lemos desde 1958 quando
um dos integrantes da turma da rua, Cristiano Lacorte foi eleito o torcedor nº 1 da seleção.
Na década de 1950 eram famosas as "turmas de rua" do Rio - as
tipo "juventude transviada" como a da "Barão" (da Torre,
Ipanema), a da "República" (do Peru, Copacabana), a da Urca, a da
Barão de Ipanema, chefiada pelo Vladimir e tendo o Alemão e Ox Bismark como vice-líderes, a do Camões, com o Camilo,
a do Leme com o Tocão. E outras mais tranqüilas,
como a da Miguel Lemos (Copacabana). Esta era liderada por Cristiano Lacorte e
se reunia no bar do "Fernando Vascaíno", na esquina da Miguel Lemos
com N.S.de Copacabana. Lacorte, em sua cadeira de rodas, foi o representante
oficial da torcida brasileira em 1958, acompanhando a conquista do 1º
campeonato mundial de futebol, na Suécia.
Esta turma, em 1958, frequentava o Rian (para ver os filmes do Elvis ou
as chanchadas da Atlântida), o Metro, o Copacabana, via os filmes de Tarzan no
Ritz, os de arte no Alvorada, os franceses no Art-Palácio. No Roxy, após
abrirem-se as cortinas e aquele fortão bater o gongo da Rank Filmes, viam
grandes lançamentos. No carnaval, fechavam a Rua Miguel Lemos (uma das únicas
na Zona Sul a fechar) para seus bailes. Faziam halterofilismo na academia da
esquina de Djalma Urich com N.S.de Copacabana (onde havia no 4º andar, um
anúncio luminoso de um atleta exercitando os bíceps). Torciam pelo Lá Vai Bola,
Pracinha, Maravilha ou Dínamo, no futebol de praia. Na TV Rio, aos domingos,
assistiam ao boxe do TV Rio Ringue e, às 6as.feiras, ao "Noites Cariocas",
com as vedetes da época.
Foi esta turma que flagrou o faquir Príncipe Igor fraudando o público,
tomando laranjada durante seu período de jejum (antes comuns, desapareceram os
faquires). Estudavam no Melo e Souza ou no Mallet Soares (alguns fizeram o
primário na Escola Pública Cócio Barcelos). Discutiam o supersupercampeonato de
1958 entre Vasco, Flamengo e Botafogo. Torciam por Adalgisa Colombo. Tomavam
gemada em pó da Kibon e usaram Alpargatas 7 vidas, de lona com sola de
borracha. Só podiam tirar a camisa quando pisavam na areia e levavam para a
praia bóias feitas com câmaras de ar de pneus.
Dançavam, de "smoking" alugado na Casa Rollas, nos bailes do
Fluminense, do Caiçaras, do Clube Naval, ao som de Steve Bernard, Ed Lincoln,
Waldir Calmon. Assistiam às lutas de Helio (ou Carlson?) Gracie com Waldemar
Santana. No Bob´s da Domingos Ferreira, comiam sanduíche de salada de atum e
tomavam suco de laranja, sundaes ou Ovomaltine, pois ali ainda não se vendiam
refrigerantes.
Assistiam ao Noite de Gala (com Ilka Soares) e aos Espetáculos Tonelux
(com Neide Aparecida). Tomavam Hi-fi (Crush com vodka) ou Cuba-libre (rum com
Coca-Cola). Iam até São Conrado para um chope no Bar Bem. Ouviam a Rádio
Mayrink Veiga e a Tamoio (e a Continental, na transmissão do futebol).
Acompanhavam, com o Brasil inteiro, o episódio da curra de Aida Curi, jogada
(?) do edifício Rio Nobre (Av. Atlântica 3388), quando fugia de Ronaldo Castro
e Cássio Murilo. Viam a garotada colecionar álbuns de figurinhas, se contorcer
nos bambolês e assistir ao Falcão Negro e sua amada Lady Bela. Cristiano
Lacorte deu seu nome à Travessa que une as ruas Miguel Lemos e Djalma Urich,
ali onde ficava o teatro da Brigitte Blair.
Na foto da esquina das ruas Miguel Lemos e Aires Saldanha, vemos
Cristiano Lacorte em sua cadeira de rodas, acompanhado de amigos. Este poste
tipo “respiradouro” são respiradores das câmaras subterrâneas de
transformadores da Light. Eles existiam por toda a cidade onde a rede de média
tensão já era embutida e normalmente funcionavam com a grade de baixo sugando o
ar fresco e a de cima expulsava o ar quente depois de passar por dentro da
câmara. Nos anos 70 eles começaram a
sumir, pois foi criado um sistema que os exaustores colocados em bueiros no
chão (aqueles que saem vento quente) com o desenvolvimento de comportas dentro
deles que impediam a entrada de água das enchentes dentro a câmara.
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