O
H. Hubner publicou a foto em P&B outro dia e me fez lembrar do que observei
há muito tempo na igreja de São Paulo Apóstolo, em Copacabana.
O
ano de 1933 marcou o IV centenário de aprovação da Ordem dos Clérigos
religiosos de São Paulo Apóstolo. Aqui no Brasil a solenidade contou com um marco
indelével: a fundação da Matriz de São Paulo Apóstolo em Copacabana, na Rua
Barão de Ipanema esquina com Rua Leopoldo Miguez, iniciativa de duas grandes personalidades:
Sua Eminência o Sr. Cardeal Sebastião Leme, arcebispo do Rio de Janeiro, e do
Revmo. Padre Jorge M. Billmann, Provincial dos Padres Barnabitas.
Nos
anos 50/60, possivelmente época da primeira foto, o vigário desta igreja era um
nordestino, o Padre Zelindo. Substituiu o Padre Maffei, que passou a dirigir o
Colégio Santo Antonio Maria Zacaria, no Catete. Os barnabitas também mantinham,
colado à igreja, na Rua Leopoldo Miguez, o Colégio Guido de Fontgalland, onde o
Padre Maffei foi dos primeiros diretores.
O
grupo de padres daquela época era completado pelos padres Paulino, Colombo, Mário,
Henrique e Heraldo. E o Irmão Francisco, atrás de óculos fundo de garrafa, a
tudo supervisionava. Era ele que abria e fechava a igreja, acendia e apagava as
velas, recolhia o dinheiro da coleta, marcava missas, etc.
Domingo
havia missas desde as 6 horas da manhã. A missa mais concorrida era a de 10
horas, quando o Padre Colombo fazia sermões famosos. E não perdoava os
atrasados ou apressados, que chegavam tarde ou saíam cedo da missa. Do alto do
altar dava broncas. O provincial dos Barnabitas morava nesta igreja e foi um dos
primeiros padres a abandonar a batina para se casar.
Nesta
época a missa era celebrada em latim, com o padre de costas para o público. Os
homens sempre bem vestidos, as mulheres sem decotes, com os ombros cobertos, um
véu cobrindo a cabeça e um terço na mão. Realmente se “assistia” à missa, pouco
se participava.
Na
segunda foto, de tempos mais recentes, vemos o antigo altar ao fundo e o novo, virado para a plateia, à frente. À esquerda ficava a
sacristia, com grandes armários onde ficavam as roupas dos padres (para a missa
havia que vestir uma meia dúzia de peças, cada uma com um significado). Atrás
do altar um corredor com armários, onde ficavam guardados cálices, crucifixos e
também um armário de balas, que eram o prêmio para os coroinhas. De vez em quando
alguém que encomendava uma missa dava uma gorjeta em dinheiro. À direita ficava
uma sala, semelhante à sacristia, para atendimento dos frequentadores da igreja
que iam marcar as missas ou conversar com os padres.
Ao
lado da igreja havia um grande pátio, onde era possível aos coroinhas jogar
bola. E havia um pequeno depósito com engradados de Coca-Cola que, pasmem, era
servida sem gelo para os coroinhas em determinadas ocasiões. Após seis meses
como coroinha era autorizado usar uma faixa na cintura e depois de um ano era
permitido colocar um colarinho de plástico na gola. Desconheço a razão destes
símbolos.
Além
das missas havia várias outras solenidades e era um grande sinal de prestígio
ser o coroinha que manejava o turíbulo com o incenso. Os fiéis, muitos, se
integravam às organizações Filhas de Maria, Congregação Mariana e Apostolado da
Oração.
Os
coroinhas, meninos entre 8 e 14 anos, decoravam as respostas em latim e, feito
papagaios, repetiam tudo na hora certa. Nas missas de dias de semana usavam
batina preta e nas de domingo usavam batinas vermelhas. A tarefa mais difícil
para eles era carregar o pesadíssimo livro de missa de um lado para o outro do
altar. Subiam três degraus, pegavam o porta-livro e, apoiado nele, o livro
propriamente dito. Desciam os três degraus, faziam uma genuflexão e subiam os
três degraus do outro lado. De vez em quando tropeçavam na batina e lá ia o
livro pelo chão do altar até à mesa de comunhão, que separava o altar dos
bancos.
Além
dos coroinhas que ajudavam diretamente a missa havia outros que passavam as
sacolas de esmolas entre os bancos dos fiéis. Nas paredes da igreja, perto da
entrada, havia vários recipientes com água benta. Alguns padres bebiam mais
vinho que outros durante a cerimônia. Aos sábados aconteciam os casamentos e as
cerimônias de Primeira Comunhão dos alunos do Catecismo.
Não
sei se hoje em dia continua assim.
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