JOGOS, por Helio Ribeiro
Hoje vamos voltar no
tempo e relembrar alguns dos jogos existentes na nossa infância, muitos dos
quais nunca saíram de linha. Lembrando que naquela época dispúnhamos de espaço
para os folguedos, fosse por morarmos em casas com quintal, fosse por podermos
brincar na rua ou, eventualmente, em alguma praça próxima. Muitos dos jogos
antigos, que eram realizados ao ar livre, não poderiam ser usados atualmente,
eis que a moradia padrão é um "apertamento" e é totalmente proibitivo
brincar na rua, seja por causa do trânsito, seja por falta absoluta de
segurança. Uma opção é o playground dos edifícios, quando possível.
Mas certamente as
crianças e adolescentes de hoje não se interessam por nenhum desses jogos. A
moda é matar adversários em videogames, com bastante sangue espirrando para
todo o lado. Ou usar armas de air soft ou paint ball, também para
"matar" adversários. Matar, matar... Sinal dos tempos.
Voltemos agora ao
passado. Peço desculpas pelo tom pessoal que costumo sempre dar a meus relatos.
Naturalmente, essa é apenas uma amostra dos jogos da época.
1) Tamborete
Esse era um clássico.
Quem não teve ou não brincou com esse jogo não teve infância.
Luiz: Eu, depois de ganhar vários, passei a detestar. Não sei o que era pior, jogar com a peteca ou com a bola.
2) Corrida de cavalinhos
A versão mostrada na foto
já estava modernizada em relação àquela com a qual brincávamos, em que a pista
de corrida era de papelão. Os cavalos corriam em raias e avançavam de acordo
com pontos obtidos jogando um dado.
Luiz: a do meu irmão era assim. Os cavalinhos corriam numa pista e se movimentavam por vibração da mesma. A vibração se devia a uma manivela única, que ficava na cabeceira da pista e era rodada. Havia macetes para ganhar: modificar a posição das pernas dos cavalos para dar mais equilíbrio, rodar a manivela mais rápido ou mais devagar, etc.
3) Pega-varetas
Também um clássico. Na
minha casa, sentávamos à mesa minha mãe, meu padrasto, minha tia, minha prima,
meu irmão e eu, jogando o pega-varetas. Lembro que a vareta preta era a mais
valiosa. Se não me engano, valia 35 pontos.
Luiz: além da habilidade era preciso sorte. Se, na sua vez, a vareta preta ficasse fácil de retirar, a vitória era quase certa. Ótimo para treinar coordenação motora.
4) O Céu é o Limite
Jogo baseado no programa
de TV homônimo, apresentado por J. Silvestre, e que fazia estrondoso sucesso na
década de 1950.
Foi meu sonho de consumo,
mas era caro. Quando cursei a quarta série primária, a professora da minha
turma, dona Marina, cada mês comprava do próprio bolso um brinquedo para os
dois primeiros colocados nas provas. Num desses meses, o brinquedo para o
primeiro era justamente esse jogo. Todo mês eu disputava com a colega Cármen
Lúcia a primeira colocação. Naquele mês, fui o segundo colocado e meu brinquedo foi um jogo de boliches de madeira,
mostrado mais abaixo nesta postagem. Fiquei frustrado.
Como jamais tive o jogo,
não consigo descrevê-lo em detalhes. Mas lembro que havia perguntas e respostas
e um fio com plugs nas pontas: um era introduzido no orifício da pergunta e o
outro tinha de sê-lo no orifício da resposta correta. Se isso acontecesse, uma
luz se acendia.
Luiz: jogo muito interessante, pois acabávamos decorando a resposta. O jogo tinha várias cartelas perfuradas, cada uma com um tema diferente. Porém, quando descobrimos que havia uma relação fixa entre o orifício da pergunta e o o da resposta correta, bastou decorar estas posições para acertar todas as perguntas, independentemente de saber ou não a resposta.
5) Batalha Naval
Também um clássico. Quantas e quantas vezes joguei esse jogo, com meu irmão e meu padrasto. Às vezes jogávamos os três ao mesmo tempo, cada um com duas folhas, uma para cada oponente.
Luiz: depois de jogar muito na infância, reencontrei o jogo nos plantões noturnos do Pronto-Socorro. Na falta de pacientes, às vezes jogávamos batalha naval.
6) Ludo, Ludo Real,
Moinho e Xadrez Chinês
Mais um clássico.
Dificilmente se acha alguma criança da época que desconhecia esse jogo.
Luiz: joguei muito Damas e Ludo com este tabuleiro. Nem sabia como jogar os outros jogos.
7) Monopólio / Banco
Imobiliário
Dois jogos muito
conhecidos e bem parecidos. No meu caso, eu tinha o Monopólio. Acho que o Banco
Imobiliário foi lançado posteriormente. O problema desses jogos é que eram
intermináveis. Dificilmente se conseguia levar o adversário à bancarrota.
Luiz: deste tipo de jogos o que eu gostava era o "War".
8) Resta Um
Não era tão conhecido
assim. Para quem não o jogou, no início os pinos eram arrumados como na foto.
Depois você ia comendo os pinos um a um, como se faz no jogo de damas, e ao
final deveria restar apenas um pino, justamente no buraco central, que na foto
está vazio. Não era fácil conseguir isso.
Luiz: logo aprendi a tática. Desafiado recentemente, na primeira tentativa deixei dois, mas ao repetir, deixei um no meio. Para alegria dos meus netos ensinei a eles como fazer.
9) Bolas de gude
Quem não tinha? Havia
vários jogos usando-as, como búrica, triângulo, etc. Alguns exigiam solo de
terra, como o de búrica. As bolas de gude podiam ser de três tamanhos, sendo
que as maiores eram chamadas de "bolão" e as menores, de
"olhinho".
Era um jogo muito
propenso a confusões, quando um jogador resolvia pegar as bolas de gude do
outro, na marra ou usando artifícios. Eu mesmo confesso ter feito isso com um
colega menor, de nome Antônio José, cujas bolas de gude ficavam dentro de uma
lata. Disfarçadamente, eu derrubava a lata, as bolas se esparramavam e eu
aproveitava para pegar algumas e botar no bolso. Que vergonha, Helio Ribeiro!
Vai ter de se explicar com o vermelhinho, após a morte.
Lembro algumas falas
típicas dos jogos de bola de gude, como "Marraio!", significando que
quem a disesse primeiro seria o último a jogar, na primeira rodada do jogo.
Outra fala era "Feridor sou rei!", significando que se a bola de gude
dele atingisse a de outro jogador, aquele assumiria um papel principal no jogo
(não lembro qual). Tinha também "Acompanha!", que tinha de ser
proferida logo após o "Marraio!", e quem a disesse seria o penúltimo
a jogar na primeira rodada. Será que errei nas descrições? Se o fiz, por favor
me corrijam.
Luiz: joguei muito na praça do Bairro Peixoto.
10) Jogo de botão
Também um clássico. Podia
ser jogado em tabuleiros especialmente desenhados para tal, ou então em cima de
qualquer mesa. Durante minha infância jogamos na mesa da sala de visitas, que
não era usada. Desenhávamos com giz as marcações do campo. Depois de adulto,
comprei duas mesas apropriadas, uma grande e outra pequena, e fazíamos torneio
no terraço lá de casa.
Meu irmão e eu tínhamos
botões de times comprados e botões feitos ou conseguidos por nós. Lembro que
ganhamos botões dos seis principais times da época: Flamengo, Fluminense,
Botafogo, Vasco da Gama, América e Bangu. Apesar de termos feito ocasionalmente
botões a partir de casca de coco (os chamados "coquinhos") ou com
plástico derretido em forminhas metálicas de empada, minha preferência eram as
chamadas "vidrilhas", tampas plásticas de relógio de pulso, que eu
conseguia nos relojoeiros do SAARA. Meu time era composto de aproximadamente 70
vidrilhas, cada uma delas devidamente numerada e pintada de prateado. A foto
abaixo mostra alguns dos meus craques.
Luiz: os melhores botões que tive foram presente de minha madrinha. Segundo ela, foram feitos de chifre de boi, por presidiários.
Os goleiros eram de caixa
de fósforo, preenchidas com chumbo derretido, pregos ou qualquer material que
as deixasse pesadas. Depois eu os encapava com pedaços diferentes de maços de
cigarro. Meus goleiros eram muito bonitos, modéstia à parte. A foto abaixo
mostra dois deles. Tenho quatro até hoje guardados.
Luiz: realmente são bonitos. Os meus, feitos do mesmo modo, no final eram encapados com umas fitas-durex coloridas, vendidas nos anos 50/60.
As bolas podiam ser as
que vinham com os times comprados, ou então miolo de pão, papel metálico de
maços de cigarro ou dados pequenininhos.
Também confeccionávamos
taças, usando como material a parte aluminizada dos maços de cigarro, como
forma a extremidade de cabo de vassoura e como base uma moeda.
Disputávamos Copas do
Mundo, usando como fonte um atlas geográfico para escolher os países que fariam
parte do certame, o qual durava muito tempo.
Luiz: as de miolo de pão eram as melhores. Usava também as embalagens metálicas que cobriam as tabletes de chocolate.
11) Autorama
Jogo caro, sonho de muitos meninos. Houve várias versões dele ao longo dos anos.
Luiz: sonho de consumo que nunca tive. Mas tinha um amigo americano, cujo pai foi transferido para trabalhar no Brasil, que tinha um enorme. Constantemente era convidado para brincar lá na casa dele.
12) Boliche
Como citei no jogo
"O Céu é o Limite", acima, este foi o tipo de jogo de boliche que
ganhei da professora. Parece exatamente igual a ele.
Luiz: parece de boa qualidade. O meu era vagabundérrimo: todo de plástico, a bola era muito leve e não se conseguia dar direção.
13) Víspora
Esse era um jogo que envolvia toda a minha família, usando grãos de milho ou de feijão para as marcações. Jogávamos minha mãe, tia, tio, padrasto, meu irmão e eu. Meu tio cantava os números através de gírias, que já escrevi uma vez aqui no SDR mas que vou reescrever, aquelas de que me lembro:
1- começou o jogo
2 - Duque de Caxias
3 - orelha de porco
4 - quatrino que lambe
los pintos
5 - quina
6 - pingo no bojo
7 - machadinha
9 - pingo no pé
10 - despe-te e cai
n'água (que eu entendia como dez pintim cai n'água)
11 - um atrás do outro
12 - dúzia
13 - número da sorte (ou
do azar)
14 - com as trouxas na
cabeça
15 - quinzena
18 - ronco do porco
22 - dois patinhos na
lagoa
24 - viado
29 - distrito de
Madureira
33 - idade de Cristo
44 - dois bicudos não se
beijam
55 - dois portugueses
atracados
66 - noventa e nove (os
distraídos comiam mosca)
69 - de lá para cá como
de cá para lá
77 - duas machadinhas
88 - óculos de padre
Inácio
90 - terminou o jogo
Luiz: outro clássico. Precursor do bingo.
14) Jogo de Preguinho
Luiz: Tomei a liberdade de acrescentar o "jogo de preguinho" ou "dedobol", uma das minhas grandes diversões. Jogado com uma moeda, cada jogador tinha direito a um "chute", com a finalidade de fazer o gol, que era a saída de bola do tabuleiro pela meta adversária. Havia que conhecer o caminho para tiros diretos e com usar a tabela com a lateral do campo ou com algum dos pregos.
15) Iô-IôLuiz: Não via muita graça neste brinquedo, mas admirava a habilidade de colegar, que faziam muitos malabarismos com ele.
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