Hoje
é sábado, dia da série “DO FUNDO DO BAÚ”. E de lá saem estas fotografias da
Praça Edmundo Bittencourt. Me trazem muito boas lembranças, pois nos anos 50,
foi a “minha pracinha”, no Bairro Peixoto.
Era
um lugar muito tranquilo, tendo naquela época, em seu entorno, casas
construídas na década de 40 e prédios com apartamentos no térreo, sem elevador,
na década de 50. Mais adiante, no final desta década, os prédios com pilotis no
térreo, com revestimento como pastilhas e painéis em mosaico na portaria.
O
nome da Praça Edmundo Bittencourt é em homenagem ao fundador do “Correio da
Manhã” e um busto o homenageava, tendo na base a inscrição: “Paladino de todas
as liberdades”.
Era
uma pracinha típica da época, onde as crianças brincavam livremente nos brinquedos
(rema-rema, gangorra, balanço e escorrega), compravam sorvete na carrocinha da
Kibon, pipoca e algodão doce na carrocinha do pipoqueiro. Cavávamos buracos no
chão de terra para o jogo de bola de gude. Ou então jogávamos pião ou
improvisávamos uma “pelada” de futebol, com todos os pequenos correndo
desesperadamente atrás da bola, sem nenhum senso tático.
Havia
muitos grupos de bambus espalhados pela praça, onde era possível se esconder
nas brincadeiras de “mocinhos” contra índios e bandidos. Às vezes íamos
vestidos a caráter, com cinturão com revólveres nas cartucheiras, que davam
tiros com espoletas compradas nas Lojas Brasileiras, ali na esquina da Travessa
Angrense com Av. N.S. de Copacabana. Chapéus de “cowboy”, lenços no pescoço,
botas, completavam a indumentária.
Houve
uma época que no lado da Rua Anita Garibaldi havia cavalos para alugar, além de
charrete e carrinhos puxados por bodes. Era tão tranquilo que não havia perigo
em dar uma volta na praça ou mesmo fazer um passeio longo a cavalo, subindo
pela Rua Decio Vilares e descendo pela Rua Maestro Francisco Braga.
Improvisávamos chicotes com galhos de árvore. Tempos depois, já adolescente nos
anos 60, desembarcava neste local onde ficavam os cavalos de um ônibus elétrico
voltando do colégio para assistir a aulas de inglês no IBEU.
Era
um lugar muito bom, também, para se andar de velocípede ou aprender a andar de
bicicleta. Pela pracinha do Bairro Peixoto também circulou o meu primeiro
carro, a “Baratinha 7” (vista na foto colorida) da “scuderie” D´, um “descapotável”
com um habitáculo restrito (cansei de ralar o joelho ao entrar ou sair do
"cockpit"). Acionada por pedais tipo "vai e vem", pelo
sistema FNP (força nas pernas), que exige uma tração diferente da dos pedais
dos velocípedes, que usam o RQV (roda que vai). Sua lubrificação era com óleo
Veedol Top Power-40 (similar ao Ludaol G-23 e à Hemo-Kola P-21). A buzina era
acionada por meio da tecnologia ABCF (aperte o botão com força). Seu friso
lateral foi criado pelo famoso estilista Tutu La Minelli. As rodas usavam pneus
Michelin gentilmente cedidos por M. Rouen, diretor técnico de competições do
"Rally das Pracinhas da Zona Sul" (ocorriam nas praças do Lido,
Eugenio Jardim, Jardim de Alá, General Osório e da Paz), supervisionado pelo Gustavo Lemos e o Dieckmann, diretores gerais. No GP do Bairro
Peixoto, a “Baratinha 7”, como testemunhou o avô do nosso Decourt, bateu o recorde de velocidade, graças à tração
integral que repartia o torque em tempo real de 100:0 para 55 na frente e 45 na
traseira. O modelo 302, visto na foto, era um clone, em escala menor, do Dodge
51, o que deixava o nosso João Novello, desde aquela época, babando verde (o
que preocupava, sobremaneira sua babá Creusa). Como recurso de segurança, o
destaque era o sistema de freios PNC+ (pés no chão +), que integrava os
controles de estabilidade/tração, corrigindo qualquer derrapagem.
Eram
famosas as disputas com o Conde di Lido que, pilotando um carro da Scuderie do
Xá da Pérsia, assistido por mecânicos da Abissínia, era imbatível no circuito
da Praça do Lido e adjacências. No GP da Praça Eugenio Jardim, onde anos mais
tarde brilharia a Tia Lu (a única que concluiu a prova em marcha-a-ré), o
grande adversário era o Rockrj, o rei do Corte do Cantagalo. O infante JRO não
perdia uma prova e, por conta de sua admiração por estes bólidos, iniciou nesta
época sua coleção de carrinhos que, hoje, conta com 7.482 modelos. Tia Milu, apesar dos esforços, não conseguiu incluir a Praça General Tibúrcio no calendário. E a Tia Nalu, sempre preocupada com os animais, vinhas das lonjuras das Laranjeiras para protege-los de atropelamentos. Até hoje o
Rafael Netto nega que estas corridas tenham se realizado pois, como consta no
livro do Jô e na Super-Interessante, isto somente se daria após a década de 70.
Precedendo as provas havia um “show” do Carlinhos Candeias, cantando músicas
infantis. Fotos dessas competições estão sendo pesquisadas pelo Derani no
Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro e serão publicadas brevemente no
Caderno de Automóveis d' O Globo, pelo Jason Waldvogel. Os pilotos eram
abençoados pelo Bispo Rolleiflex antes da partida.
Em
dias de muita chuva, com todos os circuitos com instalações impraticáveis e
interditadas, o condutor da "Baratinha 7" encontrava restrições dos
fiscais de pista (a babá e a arrumadeira), que davam bandeira preta caso o
piloto ameaçasse dirigir dentro de casa. Isto, é claro, até que o recurso à
máxima instância, ao Bernie Ecclestone daquela época, fosse interposto:
"VOVÔ, posso andar com a Baratinha dentro de casa?"
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