Uma história complicada esta do “Buraco do Lume”, situado no Centro,
perto da Rio Branco, São José e Nilo Peçanha.
O Decourt fez um ótimo texto sobre o assunto, do qual copio boa parte
hoje aqui.
Buraco do Lume, hoje conhecido
como praças Melvin Jones e Mário Lago foi uma das últimas áreas antes ocupadas
pelo Morro do Castelo a ser urbanizada, em pleno anos 70.
A razão para isso foi a confusa história fundiária do local. Com a
demolição do morro e os planos urbanísticos para a Esplanada do Castelo, a
pequena área atrás do lado ímpar da Rua de São José, entre a Rua da Quitanda e Rua
da Ajuda, renomeada à época de Rua Chile, foi confusa, principalmente porque os
terrenos de alguns sobrados avançavam sobre as fraldas do morro. Esta indecisão
provocou uma curiosa situação: enquanto novas avenidas eram abertas, como a
Erasmo Braga, Graça Aranha e Nilo Peçanha, o trecho da São José permanecia ali
nos anos 50.
A situação começou a mudar quando no final da década de 50, a nebulosa
Lume Empresarial comprou vários imóveis no lado ímpar da São José para levantar
sua imponente sede, um arranha-céu de mais de 20 pavimentos que daria frente
tanto para a Rua São José quanto para Av. Nilo Peçanha. Mas a Lume (que deixou
pouquíssimos registros de sua história) faliu e as obras de sua projetada sede
se resumiram então aos tapumes abandonados ocupando uma área nobre. Restou um enorme buraco escavado para as
fundações e garagem do prédio.
O povo logo apelidou o canteiro de obras
abandonado de Buraco do Lume, que convivia com a moderna e valorizada Esplanada
do Castelo e restos da cidade colonial, que ali permanecia nos velhos sobrados
da Rua de São José, formando um enclave numa zona que se modernizava.
A construção do Ed. De Paoli no final dos anos 60, que obedecia a um
novo PA da Rua de São José, entre a Rio Branco e o Largo da Carioca, na
realidade um prolongamento da Av. Nilo Peçanha, era a solução para aquela área.
Os poucos imóveis que sobravam no lado ímpar da São José foram desapropriados,
o terreno da futura sede da Lume foi expropriado pelo Estado.
No início da década de 70 uma nova praça surgia no Centro, substituindo
a praça da Av. Erasmo Braga tomada anos antes para um terminal de ônibus e
nessa época já pela construção do Ed. Menezes Cortes e promovendo a integração
da velha cidade com a Esplanada do Castelo.
O “Jornal do Brasil”, em
1975, cobrava uma atitude do Governador Faria Lima para devolver à cidade a
praça que o Estado deu ao BEG para aumentar seu capital e este, anos depois, a
colocou à venda. O Grupo Lume, que comprou o espaço, faliu e só conseguiu pagar
uma parte do que devia.
O mesmo “Jornal do Brasil”
relatava que no local onde estava o buraco havia uma praça chamada Henrique
Laje. Quando começaram as obras do edifício do BEG a área foi transformada em
canteiro de obras. Terminado o prédio o local do buraco virou estacionamento clandestino.
Aí o Governo do Estado resolve incorporar o terreno ao patrimônio do BEG.
Segundo o Jornal do Brasil isto provocou, além de ofensa à moralidade
urbanística, sensível alta das ações do BEG. Ou seja: uma praça foi dada a um
banco estatal. O banco, porém, não quis ficar com ela e vendeu-a pelo pitoresco
número de Cr$ 111.111.111,11 ao Grupo Lume. O Grupo Lume empenhou a praça ao
Grupo Halles que acabou sendo empenhado pelo Governo Federal e despejado goela
abaixo pelos meandros do BEG. Como o Grupo Lume também foi empenhado pelo
Governo, discute na Justiça com o falecido Halles, de quem é a praça.
Enfim, um “imbróglio” e
tanto.