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sábado, 1 de outubro de 2022

DO FUNDO DO BAÚ: PROGRAMAS DA TV TUPI


Na década de 1950 a TV Tupi, Canal 6, a primeira do Rio, começava a funcionar no final da tarde. O aparelho tinha válvulas e a imagem era em P&B. No início da programação aparecia a figura do "indiozinho", o chamado "sinal de espera". Quando entrava no ar, havia que acertar a antena, para diminuir o "chuvisco". E a toda hora levantar para corrigir a imagem, com os controles de "horizontal" e "vertical". Para mudar de canal também havia que levantar para rodar o seletor. Deve ser por isso que a obesidade era mal menor à época.


Eram muitos os programas de sucesso. Em 1955 foi lançado o primeiro programa de perguntas e respostas da TV brasileira, "O Céu é o Limite", comandado por J. Silvestre. Patrocinado pela Varig (Ilka Soares, belíssima, à esquerda, usava o uniforme de uma aeromoça), era emocionante: "continua ou desiste", perguntava o J. Silvestre do " certo, absolutamente certo!".

Lembro de um candidato, Oriano de Almeida, que fez grande sucesso respondendo sobre Chopin. 

Todos os domingos, um pouco antes das duas horas da tarde, as ruas da cidade se esvaziavam repentinamente. O fenômeno se repetiu durante 10 anos seguidos, de 1956 a 1966. Neste horário, entrava no ar, pela TV Tupi, o Teatrinho Trol, uma verdadeira coqueluche feita de bruxas e princesas, castelos e florestas encantadas, gelo seco e neve de sabão, óperas e boas histórias do teatro e da literatura mundial. O "Teatrinho Trol" tinha a Norma Blum de princesa (ou Neide Aparecida ou Iris Bruzzi), Roberto de Cleto de príncipe, Fabio Sabag e Zilka Salaberry como a bruxa. Grandes atores convidados apareciam na tela, como Fernanda Montenegro e Moacir Deriquem. O programa inicialmente era ao vivo, com três ou quatro cenários trocados nos intervalos, numa correria tremenda.

“Gladys e seus bichinhos” foi outro programa que marcou época na TV dos anos 50 e 60.  Grande contadora de histórias, ilustrava as mesmas com seus próprios desenhos, executados de improviso ante as câmaras.


Falcão Negro, interpretado por Gilberto Martinho no Rio e por José Parisi em São Paulo também fazia sucesso. As aventuras eram escritas por Péricles Leal que abusava da astúcia de seu personagem e lhe dava capacidades quase sempre ilimitadas. Perdemos a conta de quantas espadas o Falcão Negro enfiou embaixo do braço dos vilões. Dentre estes destacava-se o Dary Reis, cujo personagem era odiado pelas crianças. E até o Jece Valadão.

Um episódio inesquecível foi quando o cenário caiu e, como o programa era apresentado ao vivo, o Falcão Negro ficou segurando o cenário até a direção perceber e entrar com o intervalo. A namorada do Falcão Negro era a Lady Bela.

Foram muitos os programas da TV Tupi que deixaram saudade: 

"Almoço com as Estrelas", aos sábados, com Aerton Perlingeiro; a "Tarde Esportiva", aos domingos, com Oduvaldo Cozzi, Ruy Viotti, Ari Barroso e José Maria Scassa. "Câmera Um", com Jacy Campos; todo dia às 20 horas o "Repórter Esso", com o Heron Domingues ou o Gontijo Teodoro; "Noite de Gala", às segundas-feiras, patrocínio do "Rei da Voz", do Abrahão Medina, com Flavio Cavalcanti ("Noite de Gala passou também na TV Rio e na TV Globo). 

Os programas de auditório com o Carlos Frias, tipo "A Bela ou a Fera"; os "Espetáculos Tonelux" com a Neide Aparecida; os musicais com Jackson do Pandeiro e Almira, Ivon Cúri, Luiz Gonzaga, Fafá Lemos e seu violino.

O "Clube do Guri" com Collid Filho; as séries como "Patrulha Rodoviária" com Broderick Crawford, "Jet Jackson", "Bat Masterson" com Gene Barry, "Rin-Tin-Tin" com o Tenente Rip Masters e o Cabo Rusty. O programa de calouros, com o gongo do Ari Barroso, o programa de sorteios da Duchen.

A TV Tupi marcou época.

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

CORRIDA DE SUBMARINOS NO CASTELINHO


Nesta foto de Gyorgy Szendrodi vemos a região do “Castelinho”, em Ipanema, em 1971. Hoje muitos da nova geração nem sabem onde é. Nem sabem o que é uma "corrida de submarinos".

Vemos alguns automóveis talvez já posicionados para a "corrida de submarinos" que se iniciaria após o por-do-sol.

Lado a lado, os muitos carros ficavam de frente para o mar para esperar a passagem dos "submarinos" que vinham lá do Arpoador. Geralmente era o carro do “velho”, pois era raro naqueles tempos todos os jovens terem carro próprio. Podia ser qualquer veículo, Corcel, Aero- Willys, Ford Galaxie (este era a suíte presidencial), ou mesmo o Fusca, mas com aquele “vem cá, meu bem!” colocado entre os bancos sobre o freio de mão.


Foto do acervo do Correio da Manhã mostra uma noite de lotação completa no Castelinho. Era um tempo que a cidade ainda estava tranquila e se podia namorar dentro do carro, sem problemas, aí no Castelinho, como também no Arpoador, no mirante do Leblon, na Lagoa entre o Piraquê e a Hípica, no Morro do Pasmado, no Arpoador, em São Conrado, na Barra, somente para citar alguns pontos.

Coisa absolutamente impossível de acontecer nos dias de hoje, com os costumes e o ambiente tão mudados. 

Quem viveu, viveu. Quem não viveu, não sabe o que perdeu.

A única preocupação era a Polícia, pois assalto não havia. Motel era muito caro para a maioria. Dia de festa grande era quando se juntava uma grana para ir no motel Havaí. Uns tempos depois no Mayflower. O Playboy tinha estacionamento coletivo, o que era um risco. Muito mais tarde o Dunas ou o Kings, para ocasiões especiais.   Era a época das boates na Barra, o Flamingo, Comodoro, Macumba, o restaurante Dinabar, acho que foi o primeiro da Barra, o Praia Linda e a Tarantella. E dos motéis Recreio da Gávea, Colonial, Holiday, Scorpius, Xá-Xá-Xá e Seventh Seven.


Foto do acervo do Rouen, num início da noite, ainda com algumas vagas disponíveis no Castelinho. A Vespacar da Geneal ou a carrocinha do GB Lanches estavam disponíveis para alimentar os namorados: era só acender as luzes que os atendentes se chegavam aos carros. Tal como acontecia nos vários "drive-in" espalhados pela cidade, onde o que menos interessava era o filme.

Os vidros dos carros, embaçados por dentro, garantiam a privacidade necessária.  

terça-feira, 27 de setembro de 2022

EDIFÍCIO SEABRA - FLAMENGO


Postal do Edifício Seabra (imagem encontrada na Internet). Atendendo à solicitação feita ontem o "post" de hoje é sobre o Edifício Seabra.

O Edifício Seabra se destaca na esquina da Praia do Flamengo com a Rua Ferreira Viana, com sua base de granito, escura, e muitas colunas e arcos. Foi inaugurado em 1931, tem 12 andares e foi feito sob encomenda do Comendador Gervásio Seabra, que reservou para sua família os três últimos andares, que têm uma entrada exclusiva pela Rua Ferreira Viana, com elevador particular.


Anúncio do “Correio da Manhã” em 1932. O projeto do edifício é do arquiteto italiano Mario Vodret e construído pela empresa J.A. Costa. Até o nono andar há quatro apartamentos por andar, de tamanhos variados, acessados por quatro elevadores.


Aspecto da portaria do Edifício Seabra nos anos 60.


Vemos o Edifício Seabra nos anos 70, já com vários arranha-céus na vizinhança.


Em 31/05/1933 o “Correio da Manhã” noticiou um grande escândalo no Edifício Seabra: “Um advogado tenta assassinar, a tiros, o commendador Gervasio Seabra, matando-se em seguida”. 

Segue a reportagem: “O agredido negou conhecer o agressor. Emmaranha-se o caso. Apparecem as contradições, que o inquérito procura repôr em seu legitimo logar”. 

Os policiais envolvidos foram o comissário Bias Pimentel, o delegado Belens Porto e comissário-inspetor Armando Salles. O incidente aconteceu no 10º andar. O atirador disparou duas vezes e se suicidou. 

O caso ocupou os jornais por bastante tempo, pois a motivação da tentativa de assassinato não foi estabelecida, nem a razão da entrevista. A Imprensa criticou bastante a atuação da polícia. Pelo que li o inquérito não deu em nada.


Nesta foto do Rouen vemos o Edifício Seabra, obra do projetista italiano Mário Vodret, que era arquiteto civil e professor ligado ao Instituto Profissionalizante de Roma. Tem o apelido de “Dakota” por lembrar o edifício Dakota, onde foi filmado o bebê de Rosemary e onde morava o John Lennon.

Foto garimpada pelo Rouen. A Societé Anonyme du Gaz do Rio de Janeiro utilizou uma imagem do Edifício Seabra para fazer propaganda de seus incineradores de lixo. Esses incineradores se espalharam pela cidade e não deixaram saudade. Eram grandes e enormes fornos que queimavam, diariamente, o lixo. Faziam barulho e geravam calor. A fumaça saía pela chaminé dos prédios poluindo agressivamente o meio-ambiente. Felizmente, se não desapareceram totalmente, poucos prédios ainda os usam.  


RUA FERREIRA VIANA - FLAMENGO/CATETE

Hoje vamos falar da Rua Ferreira Viana, no Flamengo, que começa na Praia do Flamengo e termina na Rua do Catete. Foi aberta em dezembro de 1871 e é a antiga Rua Doutor Ferreira Viana, que nasceu em Pelotas, RS, em 1834. Foi advogado, político de renome, deputado e presidente da Câmara Municipal. Durante muitos anos foi advogado da Cia. do Jardim Botânico, como conta Paulo Berger.

É curioso o número de hotéis que há nesta rua: Hotel Regina no nº 29, Hotel Flórida no nº 81, Hotel Ferreira Viana no nº 58 e Hotel Beija-Flor ou Hotel Living no nº 20.


Na Rua Ferreira Viana nº 29 fica um dos mais antigos hotéis do Rio, o Hotel Regina. Foi inaugurado em 3 de setembro de 1922 e é um dos mais tradicionais da cidade. Era nele que ficavam as comitivas presidenciais na época em que a sede do governo federal era o Palácio do Catete.

O “Correio da Manhã” há 100 anos publicou uma reportagem sobre o Hotel Regina: “É um optimo hotel para onde convergem não só os que nesta capital desejam uma vida commoda e confortavel, como aquelles que do interior e exterior do paiz emprehendem ao Rio viagens de negocio ou turismo. A elite dos Estados tem ali o seu ponto de concentração. Seus proprietarios a firma Hercules & Werneck, da qual fazem parte o prestigioso politico fluminense Dr. João Maria da Rocha Werneck e Hercules Ribas resolveram fazer novas installações no predio que pertence ao Sr. Leitão da Cunha. As obras foram conduzidas pelo engenheiro constructor Dr. Graça Couto.

Dessa forma o Hotel Regina ficou em condicções de attender as exigencias de sua clientella elegante. Possue agua corrente e installacções telefônicas em todos os quartos, que ascendem ao elevado numero de 300 e magnifica installação de agua quente e frigorifica distribuída por todo o estabelecimento sendo aquella dos fabricantes Macedo & Irmão e esta a “Frigidaire” de Mestre e Blatgé.

O Hotel Regina possue pequenas saletas especiaes para refeições de creanças, lindos salões de visita, salas de leitura, musica, “fumoir”, ampla e arejada cozinha, confortáveis “toilettes” para homens e senhoras, etc.

Para o serviço de conducção dos hospedes aos andares superiores foram installados tres luxuosos elevadores, que funcionam durante toda a noite.”

 


Nesta foto enviada pelo prezado Carlos Paiva vemos um flagrante da Rua Ferreira Viana nos anos 60. À direita aparece o letreiro do Hotel Flórida. Hoje o hotel faz parte do grupo Windsor. As crianças brincam na calçada, a senhora vai às compras, o senhor ao trabalho e, mais ao fundo, um militar ou um "mata-mosquito" deixa um prédio.

Há alguns anos o Florida inaugurou sua extensão, um caixote envidraçado fazendo esquina com Rua do Catete, descaracterizando completamente a arquitetura da região. E mantém um Centro de Convenções antigo, num casarão amarelo do outro lado da rua.

Os hotéis Flórida e Regina, eram chamados, em priscas eras, de "hotéis de mineiros". Muitas famílias moravam nesses hotéis do Catete, quando o Rio era a capital federal.

Em outros tempos, ao ver esta foto, obiscoitomolhado escreveu: “Os automóveis: o táxi está meio difícil, mas pode ser um Chevrolet de 41 a 48. Depois um Dauphine amarelo (acho que não saiu Gordini nessa cor), um Aero Willys 2600 escuro e um Plymouth 53, saia e blusa. De costas, um Mercedes 170 e fechando a fila, um Aero-Willys 60-61 azul.”

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

CENTRO / GLÓRIA / FLAMENGO

Fotos de amadores são sempre interessantes. As três de hoje foram enviadas pelo prezado Menezes e são de autoria do Dr. Afonso Costa, amigo do Menezão. Ele residiu na cobertura de um prédio na Av. Augusto Severo e as fotos são da década de 60.

A foto mostra o aspecto que tinha o Aterro do Flamengo por volta de 1960. A ideia de aterrar parte da orla marítima do Rio tem mais de duzentos anos. Entre 1779 e 1783 foi feito o aterro na praia e na infecta lagoa do Boqueirão, com material do Morro das Mangueiras, para construção do Passeio Público. No século XIX a própria Câmara Municipal autorizou vários aterros na orla, principalmente em Botafogo, para os moradores aumentarem os terrenos de suas casas. A Câmara chegava a ressarcir os custos de execução. A partir de 1870 os aterros aumentaram e passaram a ser executados por firmas especializadas. Em 1890, o engenheiro Sabino E. Pessoa propôs arrasar o Morro de Santo Antônio e aterrar a orla marítima do trecho Glória-Calabouço, formando um platô com 570 metros de largura, maior que o atual aterro, para construir um luxuoso bairro residencial.

O plano megalômano empacou na crise financeira de 1891 e pouco dele saiu do papel. No início do século XX, Pereira Passos e Paulo de Frontin aterraram o trecho da Praça Santa Luzia até Botafogo, conseguindo um leito urbanizável de largura uniforme de 40 metros, onde foram traçadas as duas pistas da Av. Beira-Mar.

Nos anos 20 arrasou-se o Morro do Castelo para aterrar da Ponta do Calabouço ao Saco da Glória (as sobras de terra deram para fazer um aterro nas bordas do Pão de Açúcar e se criar o bairro da Urca). O atual Aterro do Flamengo foi iniciado em 1948 sob a supervisão de Reidy (que, entre outras coisas, frustrou a tentativa de se erguer a nova Catedral em vez do MAM). Com o início do desmonte do Morro de Santo Antônio em 1954 as obras se aceleraram. Finalmente, com a eleição de Lacerda e tendo à frente D. Lota de Macedo Soares, o Aterro do Flamengo se transformou no que hoje conhecemos. Em primeiro plano vemos a belíssima Praça Paris. Esta praça arborizada e florida com jardins em estilo renascimento francês foi elaborada de 1928 a 1930 pelo arquiteto e urbanista Alfred Agache, que veio ao Brasil convidado pelo Prefeito Antônio Prado Júnior para elaborar um plano de remodelação da cidade. A fonte central jorrava água por quatro repuxos, originalmente colorizados por luzes com as cores da bandeira nacional francesa. Pequenas estátuas decorativas francesas complementam o conjunto. Texto escrito a partir de "O Rio de Janeiro e suas praças", de Milton Teixeira.


Vista do Centro com o Palácio Monroe, o edifício Brasília, o edifício Standard e as obras do aterro.


Destaque para o prédio da Mesbla. Segundo o Guia de Art-Déco do Rio de Janeiro trata-se de "composição típica de um grande número de edifícios Art-Déco: corpo baixo, marcado por dominantes horizontais (no caso, varandas semi-embutidas), violentamente contrastado com elemento vertical que assinala o acesso principal. A torre do relógio tinha, aproximadamente, o dobro da altura do prédio e é o elemento mais destacado da composição, dominando ainda a paisagem ao redor. Em reforma posterior, o edifício recebeu o acréscimo de dois pavimentos sobre o bloco original e foi ampliado lateralmente. A mudança também alterou seu uso, que de misto (residencial e comercial) passou a exclusivamente comercial.