Nesta fotografia, da década de 70, do acervo do desaparecido JBAN,
vemos uma bela casa, que já não existe, na esquina da Rua Voluntários da Pátria
(antiga Rua Nova de São Joaquim) com a Rua Dona Mariana (que durante algum tempo chamou-se Rua Urbano Santos). Sua irmã gêmea ainda
existe do outro lado da rua, embora bastante descaracterizada.
A Rua Dona Mariana, passagem obrigatória para a
minha ida diária ao Colégio Santo Inácio, até a década de 70 era recheada de
palacetes belíssimos, alguns poucos ainda existentes. A Rua Voluntários da
Pátria, uma das mais caóticas da Zona Sul, nunca me agradou.
E não podíamos encerrar o ano sem um comentário do ilustríssimo Professor Pintáfona:
“Insuspeito Patriota Guanabarino, Protetor
Voluntário da Cultura, Inaciano e Mariano Esculápio Montenegrino, Fotográfico,
Fotogênico e Fotofóbico Dr. D´,
Tomando proveito da fresca brisa invernal que
adentra a Baía e sopra sobre a Sebastiana urbe, sento-me à janela, em meu
simples escriptório para dedicar-me ao prazeroso navegar pelo informático éter
e deleitar-me com o saber emanado de seu vívido sítio internético de convívio
virtual, principal bastião da cultura cidadã e baluarte da iconografia carioca.
Uno-me aos seus incontáveis discípulos para sorver o néctar da cultura aqui
exsudado e confortar o combalido espírito com o maná ofertado pelos deuses do
conhecimento.
Ave D´ ! Os que vão aprender te saúdam !
Douto facultativo, a imagem que se descortina
em meu écran electrónico, apraz-me sobremaneira e adentra a minha retina como o
bálsamo sobre a ferida do bravo gladiador. Ainda petiz, mal saído dos cueiros,
saía eu em caleça, pelas sombreadas ruas do bairro de Botafogo, acompanhado de
minha querida mãe, Sra. Hermengarda Pintáfona e de meu saudoso e pranteado
progenitor, o Coronel Pintáfona, herói da Guerra do Paraguai, captor do solerte
Solano Lopez, amigo pessoal de Osório e do nosso eterno Imperador Pedro II.
Íamos em visita a alguns amigos que viviam em uma belíssima mansão à Rua de São
Clemente, à sombra do Morro do Corcovado. Como me eram prazerosos esses
felizes passeios ! Apesar de meus genitores estarem há decênios em companhia do
Pai Eterno, sinto a falta deles como se hoje houvessem partido para o Reino dos
Céus. Saudades...
Não fora os laços que me prendem à Mansão Pintáfona, sita à
Rua da Pedreira da Candelária, há muito teria me mudado para o verdejante vale
de Botafogo. Além das vantagens da proximidade com a natureza e da ventilação
permanente advinda da enseada de mesmo nome, o local fica próximo da Praia de
Sacopenapam, local ainda ignoto e selvagem, que é o último refúgio da Anta
Copacabanensis, animália misteriosa e arisca, que é foco de vários compêndios
de minha autoria.
No momento encontro-me em meio a um estudo que busca analisar
os estranhos hábitos da besta-fera, entre eles a sua atracção por beberagens
alcoólicas destiladas e por objetos de coloração rosácea. Sacopenapam é um
ecossistema em separado com ocorrência freqüente de animais não encontrados em
outras partes de nossas matas. Entre eles destaco a já citada Anta, o Boto
Ipanemensis, que tem a sua origem comprovada em Sacopanapam, o Panda Clarensis
Peixotus, o Mico Tuminelus Alcazarensis e a Capivara Tijucanensis, que vez por
outra atravessa a Serra da Carioca e vai pastar nos abundantes campos de
gramíneas da região. Caro Confrade, Sacopenapam e sua estranha fauna é trabalho
para toda uma vida!
Contrariado, despeço-me do culto amigo. Minha
espevitada assistente, a desassossegada Mme. Simmons, avisa-me que uma refeição
ligeira foi servida no alpendre. Um copo de leite achocolatado e sequilhos
aguardam a minha presença.
Despeço-me Avarandado, Arborizado e
Assobradado.
Seu Criado, Dr. Hermelindo Pintáfona"
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