Texto do Helio Ribeiro.
Hoje tenho a satisfação
de apresentar meu time de botão aos ilustres visitantes e comentaristas deste
resiliente e famoso blog. Vou dividir o texto em blocos. Ao longo da descrição,
sempre que eu usar a primeira pessoa do plural nos pronomes e verbos estarei me
referindo ao meu irmão e a mim.
INTRODUÇÃO
Nossos primeiros times de
botão datam talvez de fins da década de 1950 e eram aqueles times de plástico
transparente, com jogadores em forma de cúpula e com o emblema do time afixado
por dentro. Ao longo do tempo, acabamos ganhando os times do Flamengo,
Fluminense, Vasco, Botafogo, América e Bangu. Não os tenho mais, há décadas.
O TIME DEFINITIVO
Como aquele tipo de
jogador não me agradava, em princípios da década de 1960 optei por usar tampas
de relógio de pulso, que eram denominadas de "vidrilhas", embora
fossem de plástico. Consegui dezenas delas aporrinhando relojoeiros nas ruas da
Alfândega e Senhor dos Passos. Com isso, meu time definitivo tinha 4 goleiros e
70 jogadores, sendo 63 vidrilhas e 7 botões de galalite.
OS GOLEIROS:
Apresento-lhes meus
quatro goleiros. São caixinhas de fósforo preenchidas com pregos, pedaços de
metal ou tarugos de chumbo das tarrafas que meu tio fazia em casa. O invólucro
é papel de alumínio ou dourado da embalagem interna de maços de cigarro da
época. Os brasões, faixas e listras que enfeitam o "peito" dos
goleiros eram recortados de maços de cigarros. Por fim, um plástico envolvia o
goleiro, para melhor conservação. Sejam sinceros: eu tinha bom gosto, não
tinha?
AS VIDRILHAS:
Eis aqui alguns dos meus 63
craques em vidrilhas. Após consegui-las dos relojoeiros, eu fazia uma seleção
(algumas estavam rachadas ou opacas), pintava-as por dentro com spray prateado
e colava na parte externa o número delas, obtido de algarismos em folhas de
decalque compradas em papelaria. Havia vidrilhas de vários diâmetros e alturas.
As mais altas davam "bombas" rasteiras a gol, as mais baixas encobriam
o goleiro adversário. O 53 era temido pelo adversário, pois dava
"bombas" fulminantes e rasteiras.
OS BOTÕES DE GALALITE:
Foram as mais recentes
aquisições do time. Eram em número de 7, sendo o 61 e o 63 os becões. Os
demais, comprei-os por sua beleza. Mas não os usava muito. Preferia as
vidrilhas. Os números estão quase apagados pelo tempo.
AS BOLAS:
Usávamos vários tipos de
bola: miolo de pão, papel de alumínio de maço de cigarro, aqueles discos achatados
que vinham junto com times comprados, e até mesmo contas de colar de umbanda,
de preferência as brancas e as vermelhas.
O CAMPO:
Não tínhamos aqueles
campos oficiais. Usávamos uma mesa de jantar desativada, na qual traçávamos a
giz a linha de fundo, as áreas e o meio do campo. A desvantagem é que, por não haver
borda protetora, os botões frequentemente caíam no chão após chutar a bola.
Eventualmente, cobríamos
a mesa com um cobertor, simulando grama. Aí usávamos como bola as contas de
umbanda e para chutá-las pressionávamos a borda do jogador contra ela, que dava
um salto para a frente. A desvantagem é que não tínhamos como traçar as linhas
do campo.
OS CAMPEONATOS:
Periodicamente
realizávamos uma Taça do Mundo. Usando um Atlas Geográfico escolar, escolhíamos
países dos cinco continentes e confeccionávamos as chaves, anotando tudo num
caderno. Por meio de par ou ímpar, determinávamos quem jogaria com qual país.
Como eu, desde o lagarto que foi meu ancestral, há 200 milhões de anos, sempre
odiei o Brasil, quando por azar me cumpria jogar como Brasil eu fazia corpo
mole e jogava com displicência, para perder a partida e tirar o Brasil do
campeonato.
Nas Américas, minhas
preferências eram o Canadá, Nicarágua e Uruguai.
Na Europa eram a Suíça,
Áustria, Noruega, Rússia e Romênia.
Nos demais continentes,
eu não tinha preferência alguma.
FF: No dia em que o
Kennedy foi assassinado, nós estávamos em meio a uma partida de Taça do Mundo
quando ouvimos pelo rádio a trágica notícia.
A TAÇA:
Infelizmente não tenho
mais nenhuma delas para mostrar. Era confeccionada com papel de alumínio da
embalagem interna dos maços de cigarro. Pegávamos o papel bem liso, colocávamos
no centro uma moeda, para servir de base da taça, dobrávamos o papel e o
enrolávamos em forma de parafuso (para formar a haste da taça) e usávamos a
extremidade do cabo de uma vassoura para dar forma à taça em si. Ficava uma
beleza!!
O RESSURGIMENTO:
Por volta de início da
década de 1970, já não jogávamos mais botão. Mas na segunda metade dos anos 1980
fizemos um grande campeonato mundial, envolvendo também vários amigos e
parentes, todos já marmanjões. Para isso compramos duas mesas de botão (uma
grande e uma pequena) e disputávamos as partidas ali. Inclusive as mulheres
participavam, embora só jogassem entre si e só usassem a mesa pequena. Havia
até árbitro para cada partida, bem como súmula e controle de artilharia.
Porém a quantidade de
partidas era muito grande, só jogávamos aos sábados de tarde, nesse ínterim
minha esposa ficou grávida, e acabamos encerrando o campeonato pela metade.
De lá para cá, nunca mais
meus craques entraram em campo.
O RETIRO DOS CRAQUES:
Hoje em dia, já aposentados, meus craques estão desfrutando um merecido descanso em um retiro, mostrado acima.