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sábado, 16 de dezembro de 2017

CALÇADA DA AV. ATLÂNTICA


 
As duas fotos de hoje mostram a calçada da Avenida Atlântica junto à areia. É curioso notar que houve mudanças no desenho das ondas, começando já nos anos 20 do século passado, após algumas ressacas.
O sentido das ondas variou conforme o administrador da época. Há algumas fotos antigas em que as duas orientações convivem, bem como já houve trechos com pedras portuguesas, com ladrilhos hidráulicos e até com cimento.
A primeira foto, enviada pelo prezado GMA, mostra um grupo de colegiais (alguém conseguiria identificar a que escola pertencem os uniformes?).
A segunda foto, já publicada por aqui, parece ser dos anos 40.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

CINELANDIA


 
Esta semana, por conta da série sobre a Faculdade Nacional de Medicina, o aniversário do ilustre colaborador Nickolas Nogueira passou sem as devidas homenagens.
Fazemos estas homenagens hoje com duas estupendas colorizações feitas por ele, mostrando a área da Praça Marechal Floriano, na Cinelandia, em épocas gloriosas do Rio de Janeiro.
Em termos arquitetônicos esta região era ainda mais bela do que atualmente, embora ainda resistam o Municipal, a Biblioteca Nacional e o Museu Nacional de Belas Artes.
Destaque nas fotos o calçamento em pedras portuguesas bem colocadas, os automóveis e a tranquilidade dos pedestres.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

FACULDADE NACIONAL DE MEDICINA (VIII)







 
Depois de vermos durante os últimos dias os vários e belos aspectos da Faculdade Nacional de Medicina da Praia Vermelha, hoje temos as fotos da demolição. São fotogramas do filme feito pelo Anderson Abreu.
A pretexto de reunir todos os estudantes na Cidade Universitária do Fundão, o Governo Militar transferiu "para longe" um dos focos de resistência estudantil. Embora alguns cursos tenham ficado na Avenida Pasteur, a Medicina não teve este privilégio. Por cinquenta milhões de cruzeiros o prédio foi vendido à Eletrobrás, que ali construiria sua sede, o que nunca aconteceu.
Naquela época o "Jornal do Brasil" contava: "Os trabalhos de demolição são atrapalhados por ex-alunos, que lá aparecem todos os dias tentando retirar objetos a título de recordação, principalmente azulejos".
E lá se foram os ladrilhos e azulejos importados da Inglaterra que revestiam internamente o prédio, bem como as portas de peroba maciça do campo.
Relatos dos operários da firma Demaco Demolições davam conta que "os rapazes e moças se emocionam quando as picaretas vão destruindo as salas onde há pouco estudavam e muitos deixam nas paredes mensagens como "vim matar um pouco da saudade desse palácio" ou "vim relembrar e agradecer o meu sucesso de hoje”.
A demolição seria concluída em meados de 1976.
Pondera o Prof. Doyle Maia que, se conservada, o prédio da Faculdade Nacional de Medicina poderia hoje ser o melhor local para a preservação do que existe para recordar a História da Medicina no Brasil.
O local foi adquirido pela UNIRIO.
Para todos nós, ex-alunos da Faculdade Nacional de Medicina e amantes do Rio Antigo, restaram umas tantas fotografias e muita saudade.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

FACULDADE NACIONAL DE MEDICINA (VII)






 
E, há 45 anos, em 13/12/1972, a turma da Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil, na Praia Vermelha, colou grau no Teatro Municipal.
Reproduzo o discurso de David Capistrano Filho, saudoso colega e orador de nossa turma:
“A vida, que nos uniu, agora nos separa. Porém a unidade que formamos permanecerá em cada um de nós.
Eram muitas as características que se combinavam determinando a nossa diversidade: chegamos de vários estados, cursamos distintos pré-vestibulares, pensávamos o mundo de modos diferentes, tínhamos origens sociais diversificadas. Cada um de nós era uma história e nossas histórias pouco tinham a ver umas com as outras.
Há seis anos nossas histórias formaram a multidão enorme a pensar, lembrar fórmulas, temer, suar, fazer o vestibular no Maracanã. Dos milhares que se reuniram naquele dia, a turma foi surgindo a pouco e pouco.
Nós tínhamos consciência da magnitude de nossa turma. Nos primeiros dias, de alegria e avidez, transbordávamos dos anfiteatros. Havia que chegar cedo à aula de bioquímica, iam até tarde as aulas de biologia celular. Entre reflexões sobre a condição humana enchíamos a sala e dissecávamos na Anatomia.
Nós tínhamos consciência da magnitude de nossa turma. Mal entrados na Faculdade, já pensávamos na clínica. Com três anos de antecedência, queríamos o Hospital, 40 anos atrasados. Quantas discussões, quanta energia, quanta animação! Hoje sorrimos lembrando os ânimos exaltados, a discussão acirrada, os plásticos, as faixas, os slogans, as passeatas. E o Hospital está aí, metade inaugurado. Sentimos a marca da nossa mão em suas paredes.
No primeiro ano de nossa experiência comum, penetramos toda a Faculdade. Jornal, Cooperativa, Diretório, Semana de Debates Científicos, Atlética, Associação dos Estudantes de Medicina do Estado da Guanabara. Nos agrupávamos e nos conhecíamos, estudávamos e saíamos juntos. A história de cada um era contada a outro, construíam-se amizades, mudavam os modos de ser e pensar. Já não éramos apenas pessoas isoladas, éramos mais, quase uma unidade, quase um organismo.
1968 foi um ano-marco. Já distinguíamos o bom e o mau na Universidade. Não deixamos passar sem o nosso apoio ou a nossa crítica nenhum aspecto da vida da Faculdade. Nos unimos ainda mais. Participamos do movimento mundial da juventude, que empolgou as Universidades e as nações. Misturamo-nos na emoção, na esperança, na participação coletiva que caracterizou o ano de 1968.
1969 marcou o início de nosso contato com o doente, fonte e destinatário de nosso conhecimento. Para muitos, foi como se o curso médico só então começasse realmente. Ainda falta o Hospital, e nos separamos: Santa Casa, São Francisco de Assis, Moncorvo Filho. Nos esforçamos para conseguir o melhor curso dentro das possibilidades existentes, então já reduzidas com o fechamento do Centro Acadêmico Carlos Chagas.
Nas horas difíceis de 1969, soubemos ser firmes e serenos. Saímos – alunos e professores – íntegros, unidos e solidários dos piores momentos.
1970 marcou nossa volta ao Maracanã, depois de uma longa campanha, tentando a vaga no Pronto Socorro. De novo pensamos, lembramos fórmulas, tememos, suamos. Depois, quase todos começamos a viver esta experiência vital para o estudante de medicina que é trabalhar num Pronto Socorro.
1971. Sentimos agudamente a dispersão da Faculdade, gerada pela falta do Hospital de Clínicas. Andamos muito, indo e vindo aos diversos locais onde funcionavam as disciplinas. Tivemos o prazer de passar pelos cursos de Tisiologia, Pediatria, Neurologia, entre outros, que tanto nos agradaram.
Finalmente, em 1972 nos voltamos para o estudo exclusivo do que mais nos seduziu. Espalhamo-nos pelos hospitais, para completar a formação que nos dá direito ao diploma.
Recordemos estes seis anos em minutos. Lembremos que eles foram trepidantes, inquietos, de mudança. Lembremos que fomos fatores de transformação, que alteramos hábitos nas disciplinas, para que toda a turma pudesse aprender. Lembremos que nós nos transformamos enquanto agíamos.
Recordemos estes seis anos em minutos. Orgulhemo-nos de termos ajudado a melhorar algumas coisas, abrindo caminho para as turmas que nos seguiram. Recordemos que foi uma vitória conseguir de nossa velha Faculdade um curso à altura de suas tradições para nossa grande turma.
Recordemos estes seis anos em minutos. Lembremos os erros, as deficiências do ensino, o silenciamento da Universidade. Lembremos que não chegaríamos à metade do caminho se estivéssemos apenas nós unidos. Lado a lado conosco, estiveram nossos professores. Lembremos que não apenas se desdobraram para nos ensinar o que sabiam, mas arriscaram carreiras construídas em anos de trabalho para nos defender, para defender a Faculdade, a Universidade, a Liberdade. Mestres que hoje homenageamos souberam ocupar os mais altos postos de direção na Universidade mantendo uma linha de conduta que os honrou sobremaneira, demonstrando que não lhes faltava coragem para enfrentar todos os desafios e pressões. São eles os professores José Leme Lopes, Lauro Sollero, Bruno Alípio Lobo, Clementino Fraga Filho. Juntamente com os demais que recebem a nossa homenagem – mestres Newton Bethlem, Brito Pereira, Sidney Reis, George Doyle Maia, Antônio Paes de Carvalho e no nosso Diretor, José de Paula Lopes Pontes – recolhem hoje aplausos nascidos tanto de seus próprios méritos como do reconhecimento de serem representativos das melhores qualidades do Corpo Docente da Faculdade, ao qual estendemos nosso elogio.
A vida nos ensinou a importância da união. Fomos superando o que nos dividia, ressaltando as aspirações justas e comuns. Nós aprendemos que a união liberta.
A vida nos ensinou a importância do conhecimento, não apenas da ciência médica como da vida de nossos compatriotas, das nossas crianças, dos homens, mulheres e velhos de nosso país. Nós aprendemos que o conhecimento liberta.
A vida nos ensinou a importância da liberdade, para promover a união e o conhecimento.
Aproveitemos o que a vida nos ensinou na atividade profissional, que amanhã começa para nós. Conheçamos a nossa profissão, cada vez menos liberal. À medida que somem os consultórios particulares – o que constitui processo social irreversível – mais somos dependentes dos grandes hospitais, pertencentes tanto ao Estado como a grupos privados. Defendamos a institucionalização da Medicina, combatamos a sua privatização e consequente comercialização. Defendamos a justa remuneração do nosso trabalho, combatamos os que enriquecem às nossas custas e às custas dos doentes. Concordemos com as palavras do atual Presidente do INPS: “a saúde não deve beneficiar ninguém, pois que lágrimas e sofrimento não devem se converter em dividendos”.
A vida, que nos uniu, agora nos separa. Porém a unidade que formamos permanecerá em cada um de nós. O tempo de nossa convivência acrescentou-nos novas dimensões. Já não somos os mesmos de há seis anos. Já não somos tão diferentes. Completamo-nos. Cada um de nós não é somente uma história. Crescemos e na história de cada um de nós há capítulos comuns, memória coletiva, ideais de todos nós.”
As últimas fotos mostram o convite de formatura, a Faculdade já fechada e meu antigo uniforme do time de vôlei da FNM.

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

FACULDADE NACIONAL DE MEDICINA (VI)








 
Seguindo com os “posts” sobre a FNM:
Em 12/12/1972, a exatos 45 anos, realizou-se a missa de formatura da turma de 1972 da Faculdade Nacional de Medicina, da Praia Vermelha. Foi às 10 horas da manhã, na Igreja da Candelária, traje passeio completo. A maioria da turma estava lá.
A segunda foto mostra um grupo de bons amigos da Faculdade, senhores que parecem velhíssimos, mas todos tinham menos de 30 anos de idade quando da foto ...
Na terceira foto vemos os fundos da Faculdade: aquela torre era para um elevador que transportava os cadáveres para o Departamento de Anatomia no 3º andar. Ficava em frente à porta dos fundos do bar e próximo da base da rocha atrás do prédio. Num pequeno compartimento na base desta torre havia geladeiras para conservação dos cadáveres, ainda não "formolados". Por ali ficava também o alojamento de estudantes necessitados. Apesar da incômoda localização, havia ainda um canil usados nos trabalhos de fisiologia e farmacologia, estes alojamentos ajudaram a muitos estudantes que não tinham como se manter no Rio.
A seguir vemos a biblioteca, o pátio interno e o laboratório de Bioquímica.
Por fim, o plástico do Centro Acadêmico Carlos Chagas e outro da FNM.
PS: o professor George Doyle Maia tem 2 livros sobre o assunto: “Biografia de uma Faculdade” e outro, um pouco mais completo, “A Nacional de Medicina 200 anos”.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

FACULDADE NACIONAL DE MEDICINA (V)








 
Nos próximos dias a minha turma comemorará seus 45 anos de formatura. Hoje temos algumas fotos que lembram o prédio da Faculdade na Praia Vermelha.
Na primeira foto vemos, à esquerda, o prédio da Escola de Guerra Naval, em final de construção, no terreno anteriormente ocupado pelo restaurante e pela quadra de esportes da FNM, na Avenida Pasteur. Este prédio da EGN foi inaugurado em abril de 1970. Após os automóveis (um Plymouth 1950, uma Rural Willys, talvez um Hudson 1951, tapando um Volkswagen sedan vermelho) vemos um ônibus Mercedes Benz azul, da linha Urca-Leblon. À direita, atrás de um ônibus escolar, um pequeno caminhão da Sadia era descarregado. Ali também ficava o famoso “pé-sujo” Laguna, local de alguns bons chopes.
A segunda foto mostra a Faculdade ao fundo, com os carros estacionados no canteiro central. Destaque para o Karman-Ghia fazendoo retorno.
Já na terceira e quartas fotos podemos observar o bonde 4-Praia Vermelha em seu ponto final e como passava bem junto do prédio da Faculdade.
A quinta foto merece uma descrição: "Caminhava-se pela calçada estreita e a face do prédio que confrontava com essa pequena rua possuía 16 janelas altas. No meio da fachada estava a entrada, elevada em relação ao nível da rua e a ela chegava-se por uma escada com dez degraus de granito, belo trabalho de cantaria. No alto, um patamar onde se abriam três portais, com portas de duas folhas em madeira entalhada. Os portais e as portas eram de altura elevada, pois o pé direito do primeiro andar era de seis metros. Em cima das portas, protegendo a entrada, uma marquise de estrutura metálica. Durante o dia, normalmente, as duas folhas das três portas ficavam abertas. De longe sabia-se quando havia alguma anormalidade ou luto, pois, nessas ocasiões, as portas abriam-se pela metade, permanecendo fechada uma das folhas. Ultrapassado o portal entrava-se no amplo saguão, muito alto, chão ladrilhado e paredes com azulejos brancos. No centro uma estátua, em tamanho natural, que nossa ignorância identificava como Hipócrates quando, na verdade, a estátua é de Asclépius, deus da Medicina na mitologia grega ou Esculápio na mitologia romana". Com essas palavras o professor Doyle descrevia a entrada da Faculdade. Imagino que todos os que subimos estes degraus devem sentir uma imensa saudade.
As demais fotografias mostram o prédio da Faculdade já com seu “puxadinho”: no início dos anos 40 foram iniciadas obras de ampliação através da construção de dois andares sobre os já existentes. Segundo Doyle Maia, as obras foram demoradas e os andares acrescentados desfiguraram o prédio, com salas inadequadas, de pé direito muito baixo, ao contrário do existente na construção original. Dos seis metros do 1º andar e 8 metros do 2º, os novos andares tinham a metade da altura. No terceiro andar ficaram a Histologia, a Anatomia e a Biofísica. Além do calor insuportável, o teto parecia uma peneira, vazando água. No quarto andar foi instalada a biblioteca. A obra terminou em 1944, mas o primeiro curso nestes andares só aconteceu em 1946.

domingo, 10 de dezembro de 2017

FACULDADE NACIONAL DE MEDICINA (IV)








 
A tranquila e pacata Praia Vermelha já foi palco de tempos turbulentos. Ainda segundo o Prof. Doyle, no período que se seguiu à Revolução de 1964 verificaram-se situações absurdas, quando numerosos professores, por simples denúncia de pessoas interessadas em prejudicá-los, foram cassados e expulsos da Universidade.
Apesar de toda a repressão havia alunos com coragem e eloquência para lutarem contra o arbítrio (dentre meus colegas destacava-se neste aspecto o David Capistrano Filho).
O incidente mais grave na Faculdade de Medicina da Praia Vermelha ocorreu em 22/09/1966. O então Reitor da Universidade, Pedro Calmon, se reuniu para almoçar com os alunos no bandejão da FNM (restaurante na esquina oposta à Faculdade, na ruazinha sem saída onde ficava a entrada lateral). Participaram os professores Paulo da Silva Lacaz, Clementino Fraga Filho e Bruno Alipio Lobo (tive aulas com todos).
Não houve entendimento entre os estudantes e as autoridades. Então o prédio foi cercado pela Polícia Militar e, na madrugada, vendo que a Faculdade estava ocupada por poucos alunos de Medicina, alunos de outras escolas e alguns desconhecidos, os professores, depois de várias tentativas de conciliação, se retiraram.
O Governo, então, apagou as luzes daquela parte do bairro e as tropas de choque da PM arrebentaram as portas dos fundos da Faculdade e a invadiram. Os estudantes que não conseguiram fugir refugiaram-se no terceiro andar. Os brutamontes da polícia, depois de dominá-los, fizeram um “corredor polonês” e os alunos foram obrigados a descer as escadas sob pancadas de cassetetes e desrespeito às moças.
Esta foi uma das poucas ocasiões em que a polícia entrou na FNM. Outra ocasião foi em 1968, mas desta feita a polícia tentou, mas foi repelida pelos estudantes, entre os quais o nosso prezado Conde di Lido.
As fotos mostram aquele fatídico dia 22 de setembro e, numa foto do dia seguinte, o eterno porteiro “Seu” Magalhães, tentando evitar a entrada de um policial.