Hoje é sábado, dia do “Do fundo do baú”. Navegando por meus arquivos dei com uma postagem em que se falava da “Banda do Canecão”. O comentário era de um participante do “Saudades do Rio” do provedor Terra, de cognome RENATO. Estava sempre de mau humor e criticava tudo e todos. Entretanto descobri um momento “paz e amor” do RENATO em comentário “proustiano” feito por ele há mais de dez anos:
“Ontem cedo
mexendo nos meus HDs antigos encontrei algo que me conduziu à minha infância, o
LP digitalizado da Banda do Canecão volumes 1, 2 e 3, respectivamente 1967, 68
e 69.
Eu duvidava que a
gravação era realmente ao vivo, mas ontem ouvindo com calma ao fone de ouvido
se observam erros que a fonografia moderna jamais aceitaria, mas nada ofusca a
capacidade de trazer as lembranças.
Na madrugada perdi
o sono e no modernoso iPod 32 GB no escuro do quarto me pus a ouvir o primeiro
volume. Imediatamente me bateu uma enorme nostalgia, viajei no tempo e me
lembrei dos bons tempos em que se amarrava o cachorro com a linguiça.
Enquanto ouvia
aquela gravação em mono ao vivo, tosca beirando mesmo o artesanal, sentia
sabores e aromas. Me veio à mente o cheiro do bife acebolado sendo frito
enquanto eu brincava no quintal, a minha boca encheu-se com sabor do refresco
de groselha geladinho servido com cubos de gelo que assumiam numa ilusão de
ótica aquele indescritível tom carmin, senti também o cheiro do bolo coberto
com glacê de claras batidas com açúcar e limão, cruelmente substituída pela
gordura hidrogenada vegetal.
Me lembrei das
festas de fim de ano que eram animadas na eletrola Telefunken ao som desse
longplay, a família fazia um carnaval dentro de casa, era o que havia de mais
animado naqueles anos para animar uma festa.
À medida que
avançava, lembrei do velho Simca azul piscina que enguiçava a cada 3 esquinas,
da televisão ainda em válvulas Atlas com pés palitos e que só ligava quando se
dava um soco na sua lateral, da lata de banha de porco com carnes lá dentro
conservadas, da laranjada, do doce de abóbora com coco com sabor que não se
consegue mais, da árvore de Natal com neve de algodão e bolas de fino vidro
soprado, do seriado Perdidos no Espaço, das tardes assistindo ao Capitão AZA,
do velho Conga azul marinho.
Da caixa com
cartões educativos Eucalol (hoje falariam cards), do velocípede e da Monareta
68 zero bala, um sonho de consumo, do LP RC o Inimitável também de 68,
particularmente o melhor na minha opinião, aliás mesmo sendo criança que ano
foi aquele de 1968!!!!, da bala Juquinha, do quebra-queixo vendido por um velho
mulato baiano nas ruas que gritava: “...- quebra-queixo, quebra-queixo, olha o
cuszcuz baiano quem vai quereeeeeeeeeerr!”, do arroz com repolho fatiado
fininho e muito bem temperado com alho e cebola, da abóbora com carne seca...
Ouvi esse disco que estava perdido há 2 anos num HD jogado na gaveta me fez
viajar no tempo e reviver que ficam registrados em cores, aroma e sabores que
nenhuma tecnologia moderna ainda será capaz de promover.”
Nota 1: não consegui
descobrir maiores informações sobre a composição desta Banda do Canecão, que
tanto sucesso fez. A única informação que tenho foi dada pelo Candeias: o
saxofonista desta banda era o Mauro Becker, goleiro do time de praia Maravilha
(cujo campo era em frente ao edifício Guarujá, na Praia de Copacabana). Disse
ainda o Candeias que talvez o guitarrista fosse o irmão do Mauro, Carlinhos
Becker, que também jogava pelo Maravilha, como meio-campo.
Nota 2: como é possível uma casa de espetáculos como o Canecão, numa cidade turística, permanecer fechado tanto tempo?