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sábado, 16 de julho de 2022

BONDE DA SÉRIE 1800


Esta foto foi garimpada pelo A.J.Caldas e é de autoria de René Burri. Encaminhei-a para o Helio Ribeiro. Segundo ele dos 100 bondes da série 1800 ele nunca havia visto rodando somente 8, sendo um deles exatamente o 1848. 


 A foto foi, em seguida, colorizada pela craque Christiane Wittel.


Esta foto, publicada às 21h de 16/07/2022, foi garimpada pelo Nickolas e mostra mais um bonde da série 1800, agora nos Estados Unidos.
Nada como constatar que há lugares em que a memória é preservada e valorizada.



 

quinta-feira, 14 de julho de 2022

PEQUENOS MERCADOS

Como contam Gorberg & Fridman, mercados regionais eram antiga reivindicação dos habitantes do Rio. Com a quase exclusividade no final do século XIX do Mercado da Candelária, que depois viria a ser substituído pelo Mercado da Praça XV, os lavradores às vezes não conseguiam vender seus produtos.

Em 1899 pequenos mercados foram autorizados a funcionar desde que:

1)    Seguissem todos os preceitos de higiene, fossem de ferro sobre base de alvenaria e destinados exclusivamente aos produtos da pequena lavoura, peixes, aves, etc.

2)    Fossem construídos nos pontos designados em terrenos próprios ou desapropriados da Prefeitura.

3)         Tivessem prazo de concessão de 20 anos.

4)    Findado este prazo reverteriam para a Prefeitura os mercados e os respectivos terrenos.

Foram autorizados os seguintes pontos:

Distrito da Glória vizinho à Praia do Russel.

Largo de São Salvador.

Aterrado vizinho ao Morro da Viúva (atual Praça Nicarágua).

Perto do Largo do Guimarães.

Praça General Osório (Largo do Capim).

Vizinhanças das ruas Uruguai e Conde de Bonfim.

São Christóvão próximo ao antigo matadouro (Praça da Bandeira).

Praça Sete de Março em Vila Isabel (Praça Barão de Drummond).

Praça da Harmonia.

No Méier perto da Estrada de Ferro Central do Brasil.

Santa Cruz.

Inhaúma.


Mercado Público da Praça da Bandeira. Estrategicamente localizado para atender aos bairros do Rio Comprido, Tijuca, Vila Isabel, São Cristóvão e outros na direção da Zona Norte.

Esta foto faz parte do livro “Mercados no Rio de Janeiro”, de Samuel Gorberg e Sergio Fridman,


Mercado da Praça General Osório. Anteriormente o local era conhecido como Largo do Capim. Ficava entre as ruas Uruguaiana e dos Andradas, abrangendo as de General Câmara e de São Pedro. O local desapareceu quando da construção da Av. Presidente Vargas na década de 40.


Mercado  de Madureira. Vejam o comentário de 08:11 sobre este mercado.


quarta-feira, 13 de julho de 2022

BONDE 57


Hoje vemos o bonde 57, nº de ordem 1902, da linha Caju, abarrotado de gente. O Helio Ribeiro informa que, em 1957, o itinerário era o seguinte:

CAJU e CAJU RETIRO (ambas as linhas):                                                               

Praça da Independência - Constituição - Praça da República (igreja de São Jorge) - Presidente Vargas (lado ímpar) - Francisco Bicalho - Francisco Eugênio - Figueira de Melo – São Cristóvão - Benedito Otoni - Rua Praia de São Cristóvão - Gen. Sampaio. Daí em diante, a linha CAJU seguia por General Gurjão - Ponta do Caju e a CAJU RETIRO por Carlos Seidl (antiga Rua Retiro Saudoso), até o número 1293.    

Sobre a Ponta do Caju podemos recordar que desde a década de 1840, com a construção do cais na enseada de Botafogo, havia um serviço de barcos a vapor da Ponta do Caju até lá. Este serviço de barcas era o principal meio de transporte do Centro a Botafogo, com barcas para o Saco do Alferes, para a Ponta do Caju, para o Cais do Brito, perto do Cais Pharoux, e para a Praia do Caju.

E nem podíamos imaginar o que este povo todo sofria perto do ponto final, como veremos abaixo.


Reportagem do “Correio da Manhã” de 1957 dava conta que o trajeto do bonde 57, Caju-Retiro, lembrava o tempo das diligências.

“Na época em que o viajante se aventurava pelos territórios proibidos do Velho Oeste, sem a competente escolta na boleia, estava condenado a ser depenado pelos índios mal intencionados. E não havia cocheiro bigodudo que arriscasse o couro cabeludo sem a garantia de dois valentes, rifle a tiracolo, zelando pela sua saúde.

No Rio de Janeiro, neste ano da graça de 1957, as coisas corriam um pouco menos sanguinolentas. Os nossos índios da Praia de São Cristóvão e adjacências, embora perdoando as melenas dos condutores, motorneiros e passageiros que violavam noturnamente seus domínios, a bordo das diligências elétricas, frequentemente depenavam os bolsos de desses intrusos e recorriam ao castigo corporal para premiar sua imprudência.

Tantos assaltos sofreu a diligência encarregada de cobrir o percurso Caju-Retiro que, preocupada com a carcaça de seus veículos e funcionários expostos à rapinagem violenta desses comanches e mescaleros sancristovenses, Dona Light então decidiu só fazer os bondes trafegarem nesta linha durante o dia.

O estrilo da matrona canadense despertou os até então sonolentos “Vigilantes de Rio City” fazendo com que um par de anjos da guarda, fardados de cáqui, pau de fogo à cinta, fosse destacado para acompanhar cada diligência da linha Caju-Retiro em seu trajeto noturno.

Desde então, ao badalar das oito horas da noite, o trio solene toma posição na boleia do bonde que irá desafiar a ira das tribos do Caju, tendo ao centro um garboso motorneiro, mais sossegado e mais seguro em seus cultivados bigodes, com a garantia da santa proteção de Cosme e Damião”.

Nem tudo eram flores naquela época...

 

terça-feira, 12 de julho de 2022

BATALHA AÉREA NO RIO


Deparando-me com esta foto fui à Internet pesquisar sobre esta aeronave em vários “sites”. Os especialistas no assunto poderão fazer as correções necessárias, já que meu conhecimento nesta área é mínimo.

Durante a 2ª Guerra Mundial, nos anos 40, várias bases norte-americanas foram instaladas no Brasil, principalmente no Nordeste. Em 12 de novembro de 1943 um esquadrão de Martin Mariner PBM-3S mudou sua sede para a Ilha do Governador, na NAF Galeão, no Rio de Janeiro. Deixaram um destacamento de três aeronaves em Aratu. Para os americanos, apesar da NAF Galeão estar mais perto da zona de caça aos submarinos inimigos, as condições de vida eram consideradas “primitivas” e frequentemente o lugar estava envolto na névoa no amanhecer.


O Martin Mariner PBM-3S tinha menos armamentos que outras aeronaves: somente quatro metralhadoras, todas manuais. A quantidade menor de armamento era compensada com uma carga maior de combustível, já que o PBM-3S era uma aeronave antissubmarino de longo alcance. O Martin PBM Mariner foi um hidroavião usado pela Marinha dos Estados Unidos nas décadas de 1930 e 1940. "PB" significa "Barco de Patrulha", sendo "M" a marca comercial da Martin Company, seu fabricante.


Vemos nesta foto o U.S. Navy Martin PBM-3S Mariner of Patrol Bombing Squadron 211 (VPB-211) voando sobre o Arsenal de Marinha em dezembro de 1943.  Aparecem também vários destroieres incompletos.  Este aeroplano foi usado em 1941 na Batalha do Atlântico, ajudando a afundar dez U-boats dos alemães. No ano seguinte teve papel importante na ligação entre o Havaí e o Pacífico Sul. Participou da campanha desde as Ilhas Marianas até Iwo Jima e Okinawa. Foi muito usado nas operações de salvamento de pessoal da Marinha e da Força Aérea. No final da guerra foi dos primeiros a chegar à Baía de Tóquio.


As aeronaves US Navy Martin Mariner sobrevoando o Rio em fevereiro de 1944. Há relato de que em 2 de julho de 1944, um desses aviões se envolveu em um combate antissubmarino. Em circunstâncias desconhecidas o avião caiu no mar no litoral do Rio de Janeiro, matando todos os dez homens da tripulação.  



Vemos os PBM Mariner voando perto do Corcovado em 1943. Em 31 de julho de 1943, um submarino alemão U-199 foi surpreendido na superfície, ao largo do Rio de Janeiro, atacado e afundado na posição 23º54’S – 42º54’W, por cargas de profundidade, por um avião americano PBM Mariner (Esquadrão VP-74 – Marinha dos EUA) e duas aeronaves brasileiras (Catalina “Arará” e Hudson), resultando em 49 mortos e 12 sobreviventes.


Aqui vemos o PBM-3c do VP-211 sendo baixado ao mar na rampa de hidroaviões do Galeão. O Pão de Açúcar aparece no horizonte, bem no centro da foto.


A foto mostra um PBM-3c do VP-211 decolando na frente da Base Aérea do Galeão.

Nos anos pós-guerra estas aeronaves estiveram envolvidas na exploração do Ártico e da Antártica e na Guerra da Coreia.

Aos interessados na participação aérea do Brasil na 2ª Grande Guerra encontrei este “site” que parece interessante:

https://www.abul.org.br/biblioteca/146.pdf

segunda-feira, 11 de julho de 2022

EDIFICIO PALATIUM


Outro dia a incansável pesquisadora Conceição Araújo comentou sobre o Edifício Palatium, sobre o qual eu não tinha conhecimento. Vários comentaristas se manifestaram e o prezado J.A.C. Maia conseguiu o livro da época do lançamento (foram impressos 5000 exemplares pela Empresa Edanee, de São Paulo), origem das fotomontagens que aparecem aqui hoje. Neste livro constam ainda as plantas dos diversos andares, além de uma homenagem ao Presidente Getulio Vargas nas primeiras páginas. 

Fica aqui o agradecimento à Conceição Araújo e ao J.A.C. Maia por possibilitarem esta postagem.

Pesquisas que fiz no “Correio da Manhã”, “Diário de Notícias” e “O Jornal” complementam esta postagem.


Os incorporadores desejavam que o Palatium constituísse uma nova demonstração não só da capacidade da engenharia brasileira, como da excelência da indústria nacional. Evitariam, o quanto possível, a aplicação de material estrangeiro, usando produtos da indústria nacional como a cerâmica, os azulejos, os aparelhos sanitários, as ferragens, os mármores.

Na época os dois prédios mais altos da América Latina eram o “Cavanagh” em Buenos Aires, e o “Palacio Salvo” em Montevidéo, com 30 e 26 pavimentos, respectivamente. O Palatium superaria a ambos. Foi um sucesso de vendas quando do lançamento da obra.


O terreno onde seria construído o Edifício Palatium, na esquina da Almirante Barroso com Rio Branco, era onde existia o Teatro Phoenix e o Palace Hotel. Em 23/11/1940 foi assinado o contrato para a demolição do Palace Hotel. Foram compradores José Coelho Pereira Junior e Luiz Coatz (que já demolira os antigos prédios da Associação Comercial, do Tesouro Nacional e do Teatro Lírico).

O projeto teria 32 andares, 160 metros de altura, 8 elevadores, lojas, cineteatro, 800 salas de escritório, um hotel com 300 quartos com banheiros, etc...

Em 1941 foi feita uma maquete de 2 metros de altura por 1,40m de largura que foi exposta no salão nobre do Palace Hotel para visitação os sete dias da semana.

O Palatium teria uma entrada única pela Almirante Barroso, com um “hall” de cerca de 20 metros de largura por 12 de profundidade, sobre o qual se abririam 3 acessos, um para um grande restaurante, outro no centro para os amplos elevadores dos escritórios e o terceiro para os três elevadores do “apart-hotel”.

Os primeiros andares seriam de lojas, os escritórios iriam até o 20º andar, a partir daí, com 3 elevadores exclusivos, haveria um “apart-hotel” até o 30º andar, tipo sala, quarto, quitinete. O 32º andar seria ocupado por um grande salão e dependências destinadas a um “night-club”.


Em 21/10/1940 foi assinado o contrato de financiamento pela S.A. Martinelli, com tabela Price, 30% de entrada e prazo de 15 anos. Incorporadores: Cia. Imobiliária Rex e Costa Pereira, Bokel Ltda. Projeto de Costa Pereira, Bokel Ltda. com a cooperação dos arquitetos Mario Maranhão e Adalbert Szilard. Na mesa desta reunião estavam o Comendador José Martinelli, ladeado pelos drs. Carlos Saboia Bandeira de Mello, advogado da S.A. Martinelli, Nelson Almeida, da Imobiliária Rex, Roberto Marinho, diretor de “O Globo”, Mattos Pimenta, presidente da Bolsa de Imóveis.

O custo total do Palatium, prédio em estilo neo-clássico, seria de 150 mil contos de réis. As vendas, realizadas exclusivamente por corretores da Bolsa de Imóveis (Av. Rio Branco nº 128), foram um sucesso.

Em maio de 1941 foi publicado no “Diário Oficial”, Seção II, do dia 12, a aprovação pelo Secretário de Viação e Obras da Prefeitura a planta do Palatium, “o mais sumptuoso edifício da América Latina”.

Entretanto, em julho de 1941, após centenas de artigos e anúncios exaltando o empreendimento, o “Correio da Manhã” noticiou que “As plantas aprovadas em maio sofreram tão profundas modificações no projeto original por exigências da administração que os que preferirem desistir da compra poderão comparecer à S.A. Martinelli para devolução do valor investido.”

Entre as exigências da Prefeitura constava construir uma galeria de 70 metros de comprimento por 7 metros de largura cortando o edifício. Além da perda de 490 metros quadrados tal galeria afetaria toda a estrutura do prédio projetado.

Mais adiante, conforme conta o “Diário de Notícias”, nem mesmo o Palace Hotel foi demolido no início dos anos 40, somente cerca de dez anos depois.

O projeto acabou abandonado. Uma versão é que foi por veto do Ministério da Aeronáutica que alegou que a altura do prédio prejudicaria a aterrissagem dos aviões no Aeroporto Santos Dumont. Haveria que deixar de construir 10 pavimentos, o que não seria rentável. Outra versão é que a Prefeitura não queria que hotéis fossem demolidos.

Desenvolveu-se então um litígio em torno do edifício do Palace Hotel, que foi desapropriado pela Prefeitura, tendo em vista a carência de hotéis no Rio. Martinelli acusava a Cia. de Hotéis Palace de não entregar o imóvel já pago, alegando a desapropriação feita pelo Prefeito Henrique Dodsworth. Já o advogado do Palace dizia que era a S.A. Martinelli que não manifestava desejo de recebê-lo, solicitando sempre mais e mais prorrogações. Alegou que quando da desapropriação depositou judicialmente a importância que havia recebido da compradora, mas entendeu que não podia mais fazer a entrega do prédio.

E o “imbróglio” continuou envolvendo a necessidade de hotéis no Rio, tendo como participantes o Prefeito Henrique Dodsworth, o Comendador Martinelli e Octavio Guinle representante do Palace. Estava em discussão a reforma do Palace Hotel e a construção de um outro hotel em Copacabana. Em 1946 faleceu o Comendador Martinelli. E não sei como acabou o litígio.

Como não encontrei notícias de processos relativos à devolução do dinheiro suponho que a S.A. Martinelli acertou tudo com os investidores, bem diferente do que aconteceu com outros empreendimentos similares, como o Panorama Palace Hotel em Ipanema (com entrada pela Rua Alberto de Campos) e o Gávea Tourist Hotel (na Estrada da Canoa, em São Conrado, empreendimento da Companhia California de Investimentos).

As fotomontagens abaixo mostram como o Edifício Palatium seria visto, na época, de vários pontos do Rio.