O prezado Mauricio Lobo, do Tempore
Antiquus, faz uma descoberta de fotos muito interessantes, seja do Rio, seja de
Petrópolis. As duas primeiras de hoje foram recentemente publicadas por ele e
mostram a Estrada do Joá, com o Bar e Restaurante do Joá.
O ângulo da segunda foto já é bem
conhecido de todos que curtem fotos do Rio antigo. Esta foto foi publicada na
edição de março de 1942 da "Revista Ilustrada" e tinha a descrição de
"um dos pontos de maior renome turístico da cidade". Era o Bar e Restaurante
Joá, inaugurado em 03 de janeiro de 1930. Quem ali trabalhou foi o garçon José Rodrigues
Valente que, no JB de 10/12/1971, conta que “os primeiros dias no emprego foram
muito fracos, pois por conta da 2ª Guerra Mundial havia racionamento de gasolina.
Acabada a guerra o local voltou a ser sucesso, tendo no serviço seis garçons que
se desdobravam para atender a todos. Havia música de “juke-box” (Fox-trots, Swings,
Sambas) e embora não houvesse pista apropriada a maioria dos fregueses dançava.
A casa abria às 8 horas da manhã e poucas horas depois já estava cheia de fregueses
para o café da manhã ou drinques. A partir de 1955, conta ele, o movimento começou
a cair, mas em 1971 continuava a trabalhar lá embora houvesse dias em que não
atendia a nenhum freguês. A “juke-box” foi trocada por uma vitrola e as cadeiras
de vime por outras de plástico.
O interessante é que a revista, naquela
época, estava fazendo um comparativo, um "antes e depois". Comparava
a situação da época com a cidade de 35 anos antes. E para isso estampou a
primeira foto, mostrando o "guarda chuva erguido por Pereira Passos em
1906 para abrigo ocasional dos que buscavam aqueles arredores". Se da década
de 1940 aquela área já era meio isolada, imagina em 1906!
A terceira foto já é da década de 50,
quando Carlos Reis, em "Brasil Revista", descreve esta região de uma
maneira deliciosa, como podem ver na transcrição abaixo:
"O Joá oferece uma visão panorâmica de deslumbramento, de onde se
descortina a entrada da Baía da Guanabara, com o seu espetacular Pão de Açúcar.
O Joá, freqüentadíssimo, mormente nos dias da canícula carioca e aos domingos e
dias feriados, é cheio de hotéis, dentre os quais se destaca o famoso Hotel
Colonial, um primor de arquitetura e de conforto.
O Joá forma um elevado de 123 metros acima da
planície adjacente. Bem perto dali é encontrada a famosa Pedra da Gávea com 842 metros de altitude
acima do nível do mar. Mais adiante, há outro acidente topográfico de relevo, a
Pedra Bonita, isto na chamada Estrada das Canoas, onde se encontra um excelente
hotel desse nome, estrada essa que tem o seu ponto de partida em São Conrado. É um encanto passar-se algumas
horas nesse ponto pitoresco da Gávea. Infelizmente o seu acesso só pode,
à sua grande distância, ser obtido à custa de veículos. E o automóvel, à subida
da serra, torna-se bem caro, o que só é acessível ao desafogado com dinheiro. Poucos,
tomando-se por base os 3 milhões de habitantes da nossa cidade, conhecem o Joá. Este, pelos seus aprazíveis
contornos, pela exuberância saudável da matéria em redor, da pureza do seu
clima, cujas brisas vêem do mar, através do oxigênio bem lavado, que se filtrou
pelos ramos dos arbustos em redor, devia ser mais visitado, servindo de refúgio
aos que, depois de uma semana de tormenta no mallstrôm da cidade, quisessem
recuperar a saúde. É um ponto admirável para o
"week-end", que só o inglês, que o inventou, sabe gozá-lo, à sua
calculada prática da vida, ao seu decidido amor à Mãe Natura."
A quarta foto mostra uma
propaganda do local quando já funcionava uma boate. Nas décadas de 60 e 70 aí
do lado funcionaram a Boate Cassino Royale e o Namore Modernamente. O Cassino
Royale ficava no terreno à esquerda, em um platô. Tinha um acesso antes do
restaurante do Joá, com um elevador para a boate, que ficava no alto. Depois do
Restaurante, ficava o cartaz do famosíssimo "Namore modernamente". Nos últimos tempos, onde foi o Bar e
Restaurante Joá, funcionou o Zipango Club, que seria uma boate para encontros
com "meninas de classe". Depois, consta que foi fechada, tendo sido mudado o nome
da Empresa e feita uma associação com um restaurante japonês (Tanaka), antes do
seu fechamento definitivo.
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Ah, o Namore Modernamente, quanta saudade daqueles tempos. Antes dos túneis a estrada do Joá era o acesso para uma Barra da Tijuca deserta, onde poucas meninas de família aceitavam ir. O limite delas era São Conrado no bar Bem.
ResponderExcluirRealmente ir por aí nas primeiras décadas do século XX devia ser bem raro.
Parabéns Luiz pelo trabalho de pesquisa pois as histórias que têm acompanhado as fotos são muito boas. E parabéns para a Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional por ter facilitado o acesso aos antigos periódicos. Bem que o Arquivo Nacional e o Arquivo da Cidade poderiam liberar fotos de suas coleções, afinal são patrimônio do povo.
Da última vez que passei por ali estava abandonado. É impressionante a incapacidade do Rio explorar bem seu potencial turístico. O bar tem uma vista privilegiada, é a meio caminho da zona sul e Barra, tem temperatura agradável. Em qualquer cidade turística seria uma grande atração.
ResponderExcluirEspetacular as fotos e os relatos,da outrora cidade maravilhosa. Nossa cidade era muito bonita com lugares lindos para serem desfrutados por todos cariocas ou não.Pena que estamos do jeito que está.Talvez uma das razões para o descalabro tenha sido o aumento da população.
ResponderExcluirUma cidade criada para um milhão de pessoas,não suporta tanta gente.
Bom dia a todos. Tem anos ou mesmo mais de uma década que não passo por aí, como disse o mestre mayc, a cidade não suporta tanta gente, e complemento e tanta gente já não suporta a cidade, principalmente os seus governantes.
ResponderExcluirEste lugar deixou saudades, com grandes histórias e recordações.
"Vai, menina vai, com jeito vai, senão um dia a casa cai. (bis). Se alguém lhe convidar p'ra tomar banho em Paquetá, p'ra piquenique na Barra da Tijuca ou p'ra fazer um programa no Joá, menina vai..." Esse foi um sucesso de carnaval na voz de Emilinha Borba que sintetizava os "perigos" que cercavam as incautas moçoilas que se aventuravam pelas distantes plagas de um Rio agora distante no tempo. Do local mostrado na postagem a mais nítida lembrança era sua qualificação de que havia uma "caveira de burro" ali enterrada, seguindo a crendice popular de que o lugar era "amaldiçoado" por nenhum empreendimento ter êxito ou se manter por um período mais longo. As seguidas tentativas mal sucedidas de se instalar algum estabelecimento no local só aumentaram essa impressão.
ResponderExcluirDos outros destinos citados parece que só o "drive-in" sem cinema, jocosamente denominado "Namore Modernamente", durou mais tempo. Barato, discreto e com serviços de bar tinha maiores chances de permanecer. Sua famosa "Pedra do Sapo", um pedaço de rocha com formato e pintada como um batráquio, era estrategicamente discreta para iniciativas mais ousadas. Se a opção era um ponto mais romântico havia umas poucas mesas fixas voltadas para o mar com uma vista deslumbrante.
Quanto ao hotel Colonial também oferecia aposentos voltados para a orla, com igual deslumbre, mas acabou prejudicado por sua fama de "hotel dos mosquitos", indiscretos intrusos responsáveis por perturbar o aconchego romântico dos casais. Ao seu lado havia outro hotel mas no momento não lembro o nome. E à movimentada casa noturna Cassino Royale, inspirada pelo romance de espionagem de Ian Fleming, nunca fui.
Outra lembrança do local era um platô que havia acima da via que segue antes de se completar a curva (r. Jacson de Figueiredo). Hoje é um condomínio fechado mas na época também oferecia um belo panorama e uma opção gratuita ao "drive-in" citado.
Depois que mudou de casa o Saudades do Rio ficou melhor ainda. Fotos surpreendentes e textos espetaculares. Parabéns, Luiz.
ResponderExcluirBom dia. Uma pena que não aparece o "Cassino Royale"! Frequentei ali muitos bailes. Mas vamos separar bem as coisas: os "Bailes do Cabide" que eram realizados durante a semana à tarde, não eram para o "meu bico", visto que eram frequentados por "executivos", as meninas eram de "fino trato", e nessa época ainda nem trabalhava. Já a boite que funcionava nos finais de semana à noite em uma época mais próxima e para um público mais jovem, era bem concorrida e muitos frequentadores vinham de longe. Lembro-mede ter conhecido lá uma moça muito bonita e que depois de alguns "afagos", fui levá-la e à irma em casa. Só que ela morava em uma bela casa entre Cordovil e Vigário Geral. Isso foi em 1979 e o único problema foi o gasto de gasolina, pois fui e voltei na maior tranquilidade. Se fosse hoje em dia...Era muito legal você poder curtir a viagem de carro pelo Alto da Boa Vista e pela Estrada das Canoas sem se preocupar com nada além do vento na cara. Podia-se parar em qualquer local nesse trajeto para "dar uns amassos". O "namore modernamente" ficava depois da curva após o Hotel Colonial. Era ridículo, pois ficava-se estacionado de frente para o paredão de pedra. Nada a ver...
ResponderExcluirPassava muito por aí para visitar clientes que moram um pouco mais abaixo deste ponto (em direção à Barrinha). Como a estrada é estreita aproveitava para fazer o retorno em frente ao restaurante. Em frente há um condomínio e parece, descendo, uma praia.
ResponderExcluirO curioso é que os terrenos têm a Pedra da Gávea no fundo do quintal. Disseram-me que legalmente a propriedade termina quando começa a rocha nua da Pedra. O lugar é maravilhoso. Os túneis e elevado tiraram o trânsito dali.
Bom dia a todos.
ResponderExcluirAcho que só passei algumas vezes pelo Joá há mais de vinte anos, quando houve a outra obra no elevado e o tráfego foi desviado para a estrada.
De resto, ficarei atento aos comentários.
Um caminho que tentei aprender, mas tive cagaço de pôr em prática foi chegar aí viajando pelo Alto da Boa Vista. Geralmente ia pela Conde de Bonfim, descia no Itanhangá.
ResponderExcluirNão era o Viña del Mar o outro hotel que ficava aí perto? Lembro-me do Trampolim também mas acho que este era na Estrada da Gávea.
ResponderExcluirÓtimas fotos!
Exato. Era esse hotel. O Trampolim era bem mais antigo e de fato ficava na Estrada da Gávea, também conhecida como Circuito da Gávea ou Trampolim do Diabo. Imagine se hoje alguém mencionasse esse nome com o atual prefeito evangélico.
ExcluirO Viña del Mar era o hotel de que falei em outra postagem, mas não lembrava o nome. Barato, sem nenhum luxo, vista deslumbrante com o elevado logo abaixo. E com mosquitos....
ExcluirBoa tarde a todos.
ResponderExcluirRealmente a vista é um espetáculo só!
Seria esse o local?
ResponderExcluirhttp://migre.me/w4PTI
Exato. Totalmente abandonado.
ExcluirBoa noite ! Será que o Clube Costa Brava, que ficava pouco adiante, ainda existe ?
ResponderExcluirSim, continua lá. Andou meio por baixo mas parece que ganhou um gás com aluguel durante a Olimpiada.
ResponderExcluirO Costa Brava ainda hoje é considerado uma das mais atraentes localizações de clubes no país. Na época do seu auge as duas piscinas, uma delas de água salgada, eram suas maiores atrações. Surgiu em um tempo em que era moda entrar de sócio e frequentar esse tipo de clube. O seu Baile do Bucaneiro era um sucesso. Hoje com a Lei Seca se já é complicado ir a bares e clubes distantes e beber alguma coisa imagine-se ir a um evento como aquele. Essa lei pode ser justa mas que prejudicou muito a vida noturna do Rio e seus eventos mais distantes não tenho a menor dúvida.
ExcluirDurante uns dois anos freqüentei a sauna toda quarta-feira. Íamos direto do trabalho e nos encontrávamos lá. Os dois socios chegavam antes e deixavam o nome da turma na portaria. Bebíamos vodka em doses industriais e no dia seguinte estávamos no trabalho. Levávamos umas amigas mais animadas. Se existisse lei seca pegava todo mundo, inclusive as meninas...
ExcluirDevo confessar que esta lei mudou a minha vida.Antes do seu implemento,saia no fim de semana e enchia o talo,bem como a minha companheira.Com o seu advento,a minha cara metade radicalizou e passou a abstinência total e praticamente se recusa a ser motorista da vez e o que nais vier.A alternativa do taxi,só resolve em parte,pois como ela parou de beber a saída fica muito careta.Quer dizer a lei é mais eficiente que o AA e pega todo mundo pelo pé.Uma das poucas lei que de fato funciona.Bebeu,dirigiu e foi pêgo,tá ferrado.Sob o ponto de vista da segurança,nota mil.
ResponderExcluirCanabrava véio de guerra, a opção para aqueles que não se importam se a companheira vai tomar guaraná (batizado ou não), é procurar o bar de esquina mais próximo de casa, preferencialmente no mesmo quarteirão, para não ter que atravessar rua cambaleando. Até porque daqui a pouco vão inventar lei seca para pedestre que pisar em asfalto das vias públicas. Comentário esportivo: sou obrigado a concordar com o Eurico Miranda, jogo com torcida única é melhor nem ter. É só manter as quadrilhas organizadas, que se intitulam torcida, longe dos estádios. Serviços de inteligência podem ajudar muito nisso.
ResponderExcluirJogo para uma só torcida é como pão sem manteiga ou boca sem dente.....
ResponderExcluirSão maravilhosas as fotos ,as histórias , sempre passo por lá e ficava imaginando o que seria aquelas ruínas lindas em outros tempos . Obrigada por dividirem as histórias/fotos .
ResponderExcluirAlguém lembra do "Existe um Lugar", que ficava na Estrada do Joá nos anos 80/90?
ResponderExcluirEu me lembro, fui algumas vezes nas era no Alto da Boa Vista, não?
ExcluirAlguem sabe a auem pertence o prédio do Bar do Joá ?
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