Vemos o famoso Tabuleiro
da Baiana, destino das linhas vindas da Zona Sul que passavam pela Cinelândia e voltavam pela
Senador Dantas.
O tabuleiro foi criado na prefeitura de
Henrique Dodsworth em 1937, juntamente com mais uma ampliação do Largo da
Carioca em direção a Almirante Barroso e com o alargamento da Rua 13 de Maio
com a demolição da velha Imprensa Nacional, tendo em vista a desativação, para
posterior demolição, do Hotel Avenida e Galeria Cruzeiro, por onde passavam os
bondes.
Nesta foto do Tabuleiro da Baiana podemos ver na esquina da Rua Senador Dantas o Liceu Literário Português, projeto em estilo neo-manuelino do arquiteto Raul Penna Firme. O Liceu foi a primeira instituição de ensino no Brasil a promover cursos profissionalizantes noturnos e gratuitos.
Foto do Acervo Fotográfico da Light mostrando
o centro do Rio no início da década de 50. Na foto vemos um bonde nº de ordem
1918 - Praia Vermelha, reboque nº 1053, chegando ao Tabuleiro da Baiana, no
Largo da Carioca, e um ônibus "Gostosão".
No fundo, à esquerda o Tabuleiro da Baiana,
de onde chegavam e partiam os bondes para a Zona Sul. À direita vemos os contrafortes
do Morro de Santo Antônio. Naquele prédio com um letreiro do Café Globo
funcionava uma empresa de letreiros luminosos, a Empresa Masson, cujo endereço
era Rua Senador 121. O Café Globo teve instalações na Rua da Guarda Velha
(atual 13 de Maio) e depois foi para o Santo Cristo. Boa parte da região
funcionava como um grande estacionamento. Sobreviveu até nossos dias o prédio
do Liceu Literário Português.
Nesta foto da década de 60 vemos um aspecto
do Largo da Carioca, onde reinava soberano o Edifício Avenida Central. Ao lado
dele, ainda em construção, subia o prédio da Caixa Econômica.
Os trilhos no chão, nesta época, já eram apenas uma recordação dos tempos dos
bondes, quando o Tabuleiro da Baiana já era um terminal de ônibus.
Vemos o Tabuleiro da Baiana à esquerda e, ao fundo, as obras de desmonte do Morro de Santo Antonio. Os carros estão virando à esquerda na Rua Senador Dantas, uma das ruas do Rio que mais mudou de mão através dos tempos. Destaque também para a escadaria da passagem subterrânea que ali existia.
Contou o Milton Teixeira que esta passagem subterrânea, bem como outras obras, foram executadas pela Comissão do Plano da Cidade, um grupo formado por engenheiros e arquitetos e oficializado por decreto pelo Presidente Getúlio Vargas no dia da criação do Estado Novo, 10 de novembro de 1937.
A função dessa Comissão era planejar harmonicamente a cidade. O chefe era o engenheiro José de Oliveira Reis. Quanto ao Largo da Carioca, a dita comissão projetou e executou a obra da estação de bondes da zona sul (apelidada de Tabuleiro da Baiana pelo sucesso da música), a passagem subterrânea, o desmonte do morro de Santo Antônio (executado de 1954 a 1965) e a estação central do Metrô-Rio, a qual não foi executada pelo custo da obra, em plena época de guerra.
A passagem
subterrânea iria ter conexão com a dita estação, cujo projeto tenho a
felicidade de possuir. Era inspirada no monumento megalítico de Stonehenge, na
Inglaterra, com um obelisco no meio. Ficaria na altura onde hoje está a Avenida
Chile, perto da estação de bondes, onde haveria conexão entre elas.
Olá, Dr. D'.
ResponderExcluirMais uma aula. O Largo da Carioca é um dos logradouros com mais intervenções da cidade ao longo do século XX.
FF: ontem morreu o ex-goleiro e ex-treinador Wendell, do Botafogo, Fluminense e da seleção.
Excelente postagem e o texto está impecável. Nada a acrescentar. Quantos aos carros, duas observações: na foto do Café Globo, vi uma picape e uma camionete de madeira, hoje as SUVs e as cabines duplas abundam em relação aos sedãs; e na última foto, uma fileirinha de carros europeus, minoria absoluta, um Hillmann Minx, um Ford Prefect, um galipão americano e um Volvo 444.
ResponderExcluirDa movimentação dos bondes e mais tarde dos Trolley-buses no Tabuleiro da Baiana eu me lembro bem. Meu pai tinha escritório no 18° andar do Edifício Itu, exatamente sobre a Estação de bondes. Mas se não me falha a memória na época dos Trolley-buses a "mão de direção" era invertida, pois os ônibus elétricos entravam pela Senador Dantas.
ResponderExcluirNão faz muitos anos, tive a comprovação de que o olfato é a memória humana mais primitiva: ao utilizar-me de uma passagem subterrânea na L-2 Sul, em Brasília, transportei-me de novo ao tempo em que, de calças curtas e pela mão de meu Pai, transitava apressadamente pela passagem cuja entrada figura nas fotos 6 e 7. (Escusado dizer que a responsável pela “dobra do tempo” foi a fragrância amoníaca que evolava do túnel.)
ResponderExcluirEnfim, cada qual tem a madeleine possível.
Tenho uma lembrança bem clara de - junto com meus pais - pegarmos no Tabuleiro o bonde para Botafogo na volta das idas "à cidade", no início dos anos 60.
ResponderExcluirSó lembro do Tabuleiro no período final, só para ônibus, como vemos na foto 5.
ResponderExcluirAcho que tinha muito "fumacê" dos canos de descarga dos ônibus, debaixo da cobertura.
Na terceira foto, o reboque 1053 era uma adaptação dos primeiros carros-motores da Jardim Botânico, transformados em reboques.
ResponderExcluirIr para a cidade é chamado de "descer" para o moradores da Zona Oeste, no ramal de Santa Cruz. Lembro-me do meu pai dizer: "vou descer amanhã..."
ResponderExcluirLembro também de ele falar no Tabuleiro da Baiana.
Hoje eu entendo essa expressão: sair de uma altitude de em torno de 50 a 80 m de Campo Grande para "ao nível do mar" do centro da cidade é realmente "descer"...
Wagner, antigamente no Rio de Janeiro, no tempo dos golpes, o comum para se aferir o termômetro da crise era a expressão: "A coisa está séria, a Vila Militar vai descer.".
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