Hoje revisitamos a casa de James Darcy, meu tio-avô, na Av. Atlântica,
esquina de Rua Figueiredo Magalhães. Foi demolida em meados da década de 1950,
sendo construído neste terreno o Edifício Vesper.
As três primeiras fotos são do acervo da família D´ e são do início dos
anos 50. Mostram a vista da Avenida Atlântica, da Rua Figueiredo Magalhães e a
biblioteca. A quarta foto, do acervo de Carlos Dufriche, é da década de 30 (vejam os postes no canteiro central) e já mostra a
verticalização de Copacabana. Se esta verticalização tivesse sido encerrada nesta
época teríamos ainda um bairro muito elegante, com prédios altos de gabarito,
quase todos em estilo art-déco, casas e prédios baixos de 5 andares no máximo,
que substituiriam muitas casas, mas sem a selva de pedra de hoje. Num paralelo
poderíamos imaginar Copa como um grande Bairro Peixoto.
Sobre James Darcy, assim escreveu Gilberto Amado
("imortal" da ABL, poeta, diplomata e jornalista), por ocasião de sua
morte:
"James Darcy nasceu no Rio Grande do Sul em 1876,
tendo sido um notável homem público. Foi fulgurante expositor, na Federação de Porto Alegre, das
idéias e programas de Júlio de Castilhos. Foi jurisconsulto, Consultor Geral da
República, sucessor de Clovis Bevilaqua, colaborador de Rio Branco, que tantas
missões difíceis e de alto alcance internacional e nacional lhe confiou. Foi
professor universitário, administrador das Caixas Econômicas e presidente do
Banco do Brasil; homem múltiplo em tantos aspectos desdobrado ao longo de uma
vida de trabalho e atividade intelectual.
A sua casa, nas primeiras décadas do século XX, cheia
de sua biblioteca, uma das mais completas do Brasil e certamente a mais
completa do ponto de vista da bibliografia política e literária, era uma
espécie de abrigo espiritual e moral onde se viviam instantes altos e simples,
nobres e alegres. A
mesa, certos domingos, tinha que ser encompridada, de ponta a ponta da sala de
janelas abertas sobre o mar murmurante na praia
deserta ainda não cortada de tanta
buzina de automóvel.
No meio de todos, James Darcy, que a todos era
superior em tanta coisa, por certo que de autoridade que nele espontaneamente
emanava, animava-os, guiava-os, fazia-os dar o máximo naquelas horas fugidias. James Darcy tinha conhecimentos
extensíssimos não só literários como
de todas as belas artes. Ouvir-lhe descrever uma visita ao Vaticano ou ao
Palácio Pitti era um encantamento. Sabia do que falava e só falava do que
sabia. Sua voz esplêndida, seu ar fidalgo, seus traços nobres
sugeriam comparações. Pensava-se
num paladino, num navegador genovês.
Sua carreira política foi breve; seu gosto por ela
efêmero. Dedicou-se
aos livros e aos amigos. Aqueles, enriquecendo-lhe o espírito, o tornaram a
estes ainda mais querido. Sua importância foi grande. Sua presença não se
apagou com sua morte no Rio Grande
do Sul em 1952; durará para sempre na saudade dos que o conheceram.”
James Darcy propôs à família que se demolisse a casa
e, no Edifício Vesper, todos morassem. Meu sempre sábio avô, embora adorasse sua família, achava
mais prudente manter uma certa privacidade. Assim é que apenas as famílias das
filhas de James Darcy foram ali morar.
|
Os apartamentos do Edifício Vesper são fantásticos. O JORNAL DO BRASIL de 28/09/1956 tem um anúncio de aluguel do apto. 801 do Edifício Vesper: 3 salas, 5 quartos, 5 banheiros sociais, copa e cozinha, 3 quartos de empregada, banheiro completo de empregada, grande área interior coberta com dois tanques, rouparia e garagem.
ResponderExcluirEstive poucas vezes na casa e algumas mais no apartamento de uma tia. Deste assisti ao famoso desfile de Craveiro Lopes pela Avenida Atlântica. Nesta época ali morava o conhecido comentarista Conde di Lido.
São mesmo! Super FANTÁSTICOS!
ExcluirO DI LIDO já nessa época fazia historia em Copa. Hoje, com aquela polpuda aposentadoria de 4 paus fica viajando mundo afora. A Ultima noticia é que vai passar as folias de momo na Cortina D'Ampezo. É um felizardo...
ResponderExcluirBom dia. Bela edificação, cuja manutenção devia ser dispendiosa, mas impossível de ser habitada nos dias atuais. O custo do terreno não deve ter sido absurdo, os encargos deviam ser pesados, mas morar lá devia ser uma maravilha. Quanto aos apartamentos citados,o aluguel de um deles deve custar uma fábula.
ResponderExcluirEm que ano acasa foi demolida?
ResponderExcluirEntre 1953 e1954
ResponderExcluirOs impostos na região são altos mas é o preço que se paga para morar bem.O Prefeito Crivella pretende aumentar o Iptu das áreas nobres e para isso dispõe de uma equipe técnica capacitada e bem qualificada.A moradia na orla da zona sul deveria ser pesadamente taxada e essa cobrança deveria incluir as moradias incluídas nas comunidades do Chapéu Mangueira e Babilônia ainda que com valor simbólico de R$ 1,00.Ganharia a prefeitura na quantidade.Já um imóvel de mais de cem metros quadrados situado a menos de Duzentos metros da areia deveria ter um Iptu de no mínimo R$ 30.000,00.
ResponderExcluirA casa era belíssima mas parece que fizeram um "puxadinho" ali à direita na Figueiredo Magalhães.
ResponderExcluirEm muitas cidades da Europa o gabarito se manteve baixo para os imóveis de orla marítima. Estas cidades ficaram muito mais bonitas assim. Isto poderia ter acontecido no Rio, evitando-se a especulação imobiliária.
Bom dia a todos. Belíssima residência, porém seria totalmente a sua habitação nos dias de hoje neste local. Já quanto ao comentário do mestre Plínio, isso só não ocorre justamente nos E.U.A e no Brasil, justamente onde a especulação imobiliária atua em sua plenitude.
ResponderExcluirDiferentemente dos dias de hoje, o Sr. James Darcy tinha mais apreço a cultura e as artes do que ao poder político, hoje nossos políticos se agarram aos cargos e poder político, para comprar as artes, muito embora a grande maioria seja desprovido de qualquer cultura.
É assim que se observa porque o Brasil a cada dia regride nos valores morais, infectando o restante da maioria da população.
Bom dia a todos.
ResponderExcluirMais uma postagem excepcional por parte do Dr. D', mostrando o arquivo familiar, principalmente com a possibilidade de mostrar várias fotos no mesmo post.
Tenho a sensação de que a mesma mulher aparece nas duas fotos iniciais.
Muito interessante o perfil do sr.James,na certa um intelectual de verdade.A biblioteca pela pistagem e daquelas de causar espanto!!!.
ResponderExcluirQuanto ao imovel em si,concordo que hoje em dia não seria apropriado para habitação ,mas nada impediria o funcionamento de um belo templo.Com uma seleção de fiéis "papa fina" a coisa poderia funcionar bem.O grande problema é que hoje todo mundo tem tarja verde ou similar.E querem atendimento de príncipe...
Acompanho os que elogiaram a casa e admiro a possibilidade de se ver o morro dos Cabritos a partir da praia. Hoje em dia o paredão de prédios das várias ruas entre a praia e o morro impedem isto.
ResponderExcluirApareceu morte em Copacabana a funkeira Heloisa Faissol que de classe media alta resolveu dar uma guinada e passou a provomer festas nas chamadas comunidades inclusive adotando o funk como bandeira.A policia esta investigando,mas o comentarista Joel poderia dar uma opinião, pois parece entender destas ações, pois parece ter trabalhado na area policial.
ResponderExcluirDown no high-society
ResponderExcluirIntrigado, pelo que consta foi solicitada uma "verificação de óbito" pela delegacia da área. O corpo foi encaminhado para o IML. Aparentemente morte natural e somente após a necrópsia se poderá ter certeza. Quanto aos bailes funk realizados nas favelas, é sabido que tem a finalidade de promover o consumo de drogas, tem o "apoio" do poder público, de muitos setores da mídia, e são supostamente e segundo informações correntes, financiados por políticos que possuem "óbvios interesses". Trata-se de uma esdrúxula e primitiva "manifestação gutural" que surgiu e se proliferou nas favelas após o fim do regime militar e basicamente incita os praticantes à promiscuidade sexual, violência, depredações, estupros, etc, sem contar as letras cantadas e gritadas em um português deprimente, quase ininteligível. Políticos como Wagner Montes são autores de leis cujo projeto de Lei apresentado pelo citado torna o funk um "movimento cultural". Pessoas como Heloisa Faissol, caucasiana, e de bom nível cultural, quando detentoras de comportamentos atípicos, acabam se associando à pessoas e comunidades de idoneidade duvidosa, cujo resultado acaba sendo trágico. Seria ela uma versão "eufemística" de Tati Quebra Barraco, triste personagem do circo de horrores que é o funk carioca.
ResponderExcluirNo "gancho" do Joel essa "Tati Quebra Mansão" é o resultado da decadência do que se convencionou chamar nos EEUU de "high society", originando um filme do mesmo nome. Aqui de "locomotivas" a "socialites" foram expressões usadas em Pindorama para designar as damas ociosas mas abastadas que procuravam ocupar seu tempo promovendo efemérides benemerentes, gerando assunto para as colunas sociais. Essa última atualizou-se com os novos tempos e até participou de um "reality show" na tv, além promover , como já foi dito, eventos nas ditas "comunidades". Suspeita-se que terminou vítima de seus próprios hábitos e lembrou outra figura, que tem uma irmã envolvida com a política, com hábitos semelhantes.
ExcluirTia Nalu adora funk.É fã de Dilma Quebra Coco.
ResponderExcluirBoa tarde a todos.
ResponderExcluirBela fotografia, bela história, belo texto, e principalmente, bela biblioteca.
Parabéns.
Caro Luiz: Quanto valia o imóvel na época ?
ResponderExcluirNão tenho ideia do valor da casa . O aluguel pedido em 1956 era de 40 mil cruzeiros pelo apto 801
ExcluirLuiz. Em qual ano ela foi erguida?
ResponderExcluirAcho que há fotos dela por volta de 1910.
ExcluirObrigado.
ExcluirMansões como essa eram a marca do "colonialismo" existente na América Latina e na África até o fim da Primeira Guerra Mundial. Nessa época o tempo dos "sahibs", dos "buanas", e dos "kafir" cedia espaço para empresários do tipo "Farquar", uma espécie de Eike Batista do passado, empreendedor especulativo. Faça-se uma ressalva no Século XIX para Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, homem honesto, vitorioso, que viveu 100 anos à frente de seu tempo, foi vítima de um homem frívolo, invejoso, mas nem por isso incapaz, que dominava sete idiomas, que não se conformava por seu desafeto morar "mais próximo" ao mar do que ele, e cuja residência que se encontra ainda de pé, a cerca de 500 metros do palácio imperial.
ResponderExcluirPercival Farquar. Não foi ele que se perdeu na floresta amazônica em uma expedição?
ExcluirBom tempo anterior à construção da "muralha" de Copacabana. Se nos arquivos digitais (hemeroteca) de jornais da Biblioteca Nacional digitarmos o nome "James Darcy", com certeza vai aparecer muitas vezes na primeira metade do século 20. Jornal do Brasil, por exemplo. Quanto ao funk virar moda em classes A e B, uma novela da Globo pelo menos fez um grande esforço para isso acontecer. Não pergunte qual, nome de novelas são esquecíveis, exceto Beto Rockfeller, Roque Santeiro, Kananga do Japão (essa tinha a Praça 11 dos anos 30 como enredo), Pantanal e mais 1 ou 2.
ResponderExcluirPeralta, o implicante, está com o "sambalelê" quebrado. Levou umas lambadas para aprender a não inventar potocas maldosas.
ResponderExcluirA ignorância e a selvageria são predicados fundamentais para a criação de um ambiente adequado para a prática do funk, e os "donos do poder" sabem disso. Não é sem razão que o investimento em educação é cada vez mais pífio. Políticos como o citado por mim exploram a escumalha com maestria. Quem já viu Tropa de Elite 1 tem uma tênue noção do que é uma favela dominada pelo tráfico, e todas elas o são. Paralelamente a um programa educacional de alta qualidade, o tratamento dado à esses marginais deve ser como mostra o filme: Duro e sem "meias medidas".### O ministro Luis Barroso apresentou um projeto de legalização das das drogas. Pode ser que essa solução seja o caminho...
ResponderExcluirNão li as ponderações do Luís Barroso, mas parece que seu objetivo é aliviar a superlotação carcerária e evitar o doutorado no crime que vige lá dentro.
ExcluirQuanto a legalizar a maconha (e posteriormente a cocaína, já citada pelo Barroso), faço as seguintes perguntas:
a) quem vai controlar o plantio e comercialização? Será criada uma Maconhabrás, como mais um cabide de empregos, sendo para ela nomeados políticos de reputação ilibada, como os que temos a dar com o pau? Ou será o Marcola, que entende do assunto?
b) quem vai plantar a erva? A própria Maconhabrás ou isso será terceirizado, provavelmente para os atuais traficantes, que serão transformados em empresários?
c) a droga vai ser vendida ou oferecida gratuitamente? No primeiro caso, vai competir com o preço da comercializada pelos traficantes; no segundo caso, nós que não fumamos vamos sustentar os viciados?
d) onde o drogado vai encontrar a erva? Nos hospitais públicos, clínicas conveniadas, UPA's? Ou vai haver franquias?
e) como vai-se evitar que os postos de distribuição/venda sejam assaltados e a erva roubada e vendida por menor preço no mercado paralelo?
f) hoje o tráfico abrange todo o território nacional, até os mais recônditos rincões. A Maconhabrás fará isso também? Ou para localidades remotas continuará valendo o tráfico tradicional?
g) como as penas por tráfico são pequenas, daqui a alguns anos todos os condenados estarão de novo nas ruas. Privados de seu métier, o que eles farão? Transformar-se-ão em homens de bem, adotando profissões como carpinteiro, pedreiro, etc? Ou migrarão para outras modalidades de crime: roubo de carga, sequestro, assalto a mão armada, etc?
h) se migrarem para outras modalidades, serão presos e voltarão para as penitenciárias, onde em pouco tempo voltará a haver superlotação e curso de doutorado em crime. Aí, o que o Barroso sugerirá? Que essas outras modalidades também deixem de ser crimes, para acabar novamente com a superlotação e com os cursos de doutorado?
Essa turma usa como exemplos de países que descriminalizaram as drogas a Holanda e o Uruguai, cuja área territorial é uma ínfima fração do Brasil. Controlar as drogas em países assim pequenos é relativamente fácil. Mas quem vai evitar o tráfico lá em São Paulo de Olivença, em Mucajaí, em Senador Guiomard, em Marajá do Sena?
Não seria mais eficaz punir com a morte o tráfico de drogas? Evitaria a superpopulação carcerária e dispensaria a descriminalização. Ao invés de seguir o exemplo da Holanda, por que não adotar o da Indonésia?
O Helio tem razão em tudo, mas faltou concluir que esse projeto, se executado, apenas vai legalizar a venda e a distribuição em um negócio bem estruturado cujos donos e operadores irão mostrar as caras, muitas delas bem conhecidas e com mandato eletivo...
ExcluirPeralta, não vou responder.
ResponderExcluirEu moro exatamente onde era a BIBLIOTECA de James Darcy, desde os 2 anos de idade! Faço 52 anos este ano... e o nosso apartamento está a VENDA. Quem se interessar... é um lugar mágico, e uma vizinhança tranquila.
ResponderExcluirA biblioteca ocupava um andar inteiro, ou seja todos os apartamentos do Vésper moram e respiram o Avô de minha Avó.
Excluir