Voltamos a ver aspectos da Av. Chile, por volta de 1959, em fotos do
acervo do Correio da Manhã. Lembramos que a demolição do Morro de Santo Antônio
na primeira metade da década de 1950 transformou o centro da cidade.
O texto a seguir é uma colaboração do Andre Decourt.
Imaginada desde os anos 30, como uma via de articulação entre o Estácio
e o litoral do Centro da Cidade, englobando para isso a Av. Almirante Barroso,
a Rua da Relação, a Av. Henrique Valadares e a Rua Frei Caneca e traçada em
definitivo nos anos 40 como parte do Plano 100, ou 1000, que previa a
modificação de grande parte “dos fundos” do Centro da Cidade, com novas vias
que requalificariam praticamente toda a região entre o Castelo e Lapa, indo até a Praça Tiradentes e por fim até as
encostas do Morro da Conceição. Plano este que nunca saiu do papel, deixando
inúmeros prédios dos anos 50 com afastamentos enormes e pilotis “agachianos” em
estreitas ruas da SAARA e legando parte da urbanização da Esplanada do Castelo,
bem como o túnel Martim de Sá.
Tão logo o desmonte do Morro de Santo Antonio permitiu a ligação entre o
Castelo e a Lapa, a nova avenida foi aberta sem um plano urbanístico e até mesmo
um PA definitivo, pois todo o resto da região ainda era tomado por lama, abas
do morro que desaparecia e decrépitos sobrados na região da Rua do Lavradio que,
desde os anos 40, com o julgo da desapropriação, aguardavam seu fim sem muita
dignidade.
Inaugurada por JK a avenida cortava a árida região, com um arremedo de
urbanismo, como iluminação pública, árvores, meio-fios e algumas calçadas. Mas
como ela ficaria ninguém sabia, bem como ela seria ocupada, visto que os
terrenos ainda pertenciam ao Distrito Federal e à Igreja, o que pode indicar o
destino da avenida como sede de inúmeras estatais nos anos 70.
Desse urbanismo nada mais resta, nem mesmo a quota da avenida, pois na
obra do Governo Negão de Lima, onde ela ganhou seu atual contorno, ela foi “recaixada”
neste ponto, ficando plana, para a passagem da Av. República do Paraguai,
antiga Norte-Sul, conforme os planos dos anos 40.
PS: aguardemos a aula de obiscoitomolhado sobre os automóveis.
Avenida que nada parece ao resto do Rio, no meu intendimento fica como um pedaço de Brasília no centro. Feia, árida e com prédios estatais em volta. Nós anos 50 e parte dos 60 a urbanização somente pensava nos carros, o resto era detalhe.
ResponderExcluirOlá, Dr. D'.
ResponderExcluirMais uma aula do Andre Decourt (FF: descobri que o INCOR teve um Decourt como um dos fundadores...).
Dando meus pitacos, muitos projetos para a cidade foram abandonados nos anos 50 com a decisão de JK de transferir a capital de qualquer jeito até o final do eu mandato. Ele pegou o que já estava começado e concluiu.
Peguei muitas vezes o 201 do Rio Comprido até o Castelo ou Praça XV e ele passava pela Avenida Chile. Fui testemunha da construção das torres na avenida. O contraste com as ruas ao redor é gritante.
Sobre a postagem de ontem só digo que "quem tem padrinho não morre pagão", seja em qual época.
"seu mandato"...
Excluir"seja em qual época que fosse"...
A demolição do Morro de Santo Antônio e a subsequente construção da Avenida Chile encerram alguns mistérios. Projetos nunca concluídos aumentam a suspeita de que fatores desconhecidos tiveram importância. O livro "O demolidor de Presidentes" de Marina Gusmão de Andrade faz menção de que o Jornalista Carlos Lacerda, dono da Tribuna da Imprensa situado na época na Rua do Lavradio, "teria recebido" três andares em um prédio na "futura Avenida" como suposto pagamento de algum "favor". A tal Avenida Norte-Sul que "leva do nada para lugar nenhum" é um outro fator "digno de pesquisa".
ResponderExcluirNa foto 1, uma rara imagem da estação Brasília, construída para substituir a gare do Edifício Carioca, o da Seda Moderna. Como se nota, ficou num descampado ensolarado e a caminhada era muito desagradável especialmente com a farda do Colégio Militar. O caminho entra a estação e a calçada da Chile era pavimentado com bloquetes sextavados de concreto - ali os vi pela primeira vez - que acolhiam e refletiam bem a luz solar, aumentando o calor. Aquelas arvores plantadas na avenida nunca cresceram. Sombra, só no Tabuleiro da Baiana, cuja laje do telhado se vê nitidamente. O edifício em construção é o Santos Vahlis, na Senador Dantas, 117 e está lá até hoje. Por cima do Liceu de Artes e Ofícios se vê também o Marquês do Herval.
ResponderExcluirA foto 2 mostra os pontos de ônibus e lotação para a Zona Norte, que viriam a ser muito usados por mim, para ir ao Colégio, o que encurtou em muito o trajeto anterior, que me obrigava a caminhar até o largo de São Francisco. O prédio da velha gare está à esquerda, confrontado e intimidado pelos novos De Paoli, Central e Caixa Econômica. Entre os últimos, o BEG. Emparedaram tudo, bem mais alto que o Santo Antônio, e queriam arejar; doce ilusão. As árvores plantadas já tinham sumido.
Na foto 4,um Mopar pequeno, parece Dodge 1949 pela cabeça de carneiro no capô, ao lado de outro Mopar do pós-guerra. Em frente, vê-se uma woody, do final dos anos 40. Os bloquetes de concreto estão bem visíveis, bem como a deterioração do pavimento.
Na foto 5, na frente da casa do Marquês do Lavradio, dono da rua, passa um Ford, 37-38, já bem surrado, nos anos 60.
Na foto 6, que me parece a esquina da Senador Dantas, antes do Santos Vahlis, vemos um Cadillac Fleetwood 1954, passando por um modesto Hillmann Minx 1950. Estacionado na chuva, um Citroën Traction muito acabado. Devia ser pré-guerra, pois em 59-60, um Citroën de 48 em diante era muito bem cuidado. A moça junto ao Hillmann veste um modelo saco interessante.
Em pensar que esse caddy estonteante, deve ter terminado seus dias a beira da dutra em Nova Iguaçu la pelos anos 70..
ExcluirMuitos anos depois a Avenida Chile seria interditada para a construção da linha 2 do metrô entre o Estácio e a Carioca. Foram vários meses com um buraco enorme até que o projeto foi cancelado, o buraco tapado e a rua asfaltada novamente.
ResponderExcluirAcho que o mais correto seria dizer anos. Lembro em certa época que o mato tinha dominado a região.
ExcluirA segunda foto é seguramente da segunda metade dos anos 60 por vários motivos, entre os quais o modelo dos ônibus e dos carros e a iluminação por lâmpadas de mercúrio. A quinta foto é na esquina da rua do Lavradio e igualmente é "pós 1965", pois não há mais vestígios de trilhos de Bonde e o processo de urbanização estava recém concluído. A última foto é de 1959 e é na esquina de Senador Dantas. Meu pai tinha escritório no 18° andar do Edifício Itu sob o qual existia o Tabuleiro da Baiana, e ainda bem criança eu observava a paisagem da sacada e o "entra e sai" dos bondes e mais tarde dos Trolley-buses.
ResponderExcluirBom dia Saudosistas. Conheci muito bem esta área, será que os comentaristas do SDR sabem qual foi a primeira construção concluída na AV. Chile? Sabe quantos campos de futebol tamanho oficial foram construídos logo após o desmonte do Morro de Santo Antônio? Nas fotos 1 e 3 dá para localizar diversos prédios interessantes como o antigo DOPS, Igreja de Sto Antônio, Hotel Marialva, os prédios do Lgo da Carioca antes da construção do ed. CEF.
ResponderExcluirEu não sei, Lino. Favor informar.
ExcluirA primeira construção concluída na Av. Chile foi um prédio para uma Exposição de Portugal, ao final o prédio se transformou na Faculdade de Letras de UFRJ, que posteriormente foi demolido e construído neste local o atual Ed. Ventura.
ExcluirLogo após a demolição foram construídos 3 Campos de futebol, que ficavam localizados Campo do V.M (Vem Manso) exatamente onde hoje está localizada a Catedral, Campo do Flamenguinho,
por trás de onde existe hoje o Brizolão, e o campo do Real, onde hoje está construído os prédios do BNH e BNDES. Todos os times de pelada do Centro do Rio e até a Praça Onze e o Estácio, jogavam ali, e disputavam o Campeonato do Morro Sto Antônio. Fica fácil entender porque o futebol brasileiro hoje está repleto de uma mulambada que tanto eles como a Imprensa acham que são craques.
Não sai da minha cabeça que esta avenida foi criada às pressas para abrigar as sedes de três grandes estatais (Petrobrás, BNDES e BNH) antes da transferência da capital para Brasília...
ResponderExcluirChamava-se aquela região de "triangulo das Bermudas" mas era mentira ente 64 e 85 não havia corrupção. Kkkk
ExcluirEstranho, porque os prédios já foram construídos depois da mudança da capital. E várias sedes de estatais continuam no Rio, ou continuavam até serem privatizadas...
ExcluirA exemplo do Morro do Castelo, também o Morro do Santo Antônio foi substituído inicialmente por um deserto difícil de transpor sem um camelo.
ResponderExcluirE também concordo que a Av. Chile é o nosso pedaço de Brasília.