Há pouco mais de cem anos
a praia defronte à Igreja de Santa Luzia, que hoje por conta dos aterros ficou a algumas
centenas de metros do mar, recebia banhistas em profusão. Na foto vemos esta grande afluência, em seus trajes de época. A
salientar as boias de cortiça amarradas na barriga de alguém que,
provavelmente, não sabia nadar. Eram, em sua maioria, os frequentadores das “casas
de banho”.
Era curioso o regulamento
das barcas e das casas de banho:
1) Proibido entrar homens
no camarote com uma senhora sem antes verificar-se sua condição de esposo,
exceto sendo pessoa bem conhecida. Ainda assim, a concessão terá lugar somente
nos casos em que as senhoras precisem da coadjuvação (por dar apoio ou
consentir) de seus maridos;
2) Proibido entrar homens
na toilette das senhoras, demorar-se sobre qualquer pretexto na galeria das
mesmas, ou saírem do camarote onde estiverem suas esposas sem que estejam
completamente vestidos;
3) Fumar, à exceção da
tolda da barca, enquanto houver senhoras a bordo;
4) Para as senhoras que
desacompanhadas dos maridos permanecerem
a bordo, será permitida a presença de uma serva, dentro do camarote, sem que
esta se possa também banhar.
Em 1917, o Decreto 1143 determinava no artigo 3 que "as pessoas que fizerem uso do banho de mar devem apresentar-se com vestuário apropriado, guardando a necessária decência e compostura de acordo com as exigências da autoridade respectiva". Somente no final dos anos 20 surgem os "maillots", abandonando-se os vestidos de praia.
Conta Giselle B. Martins em
uma tese sobre os banhos de mar de há cem anos que “os banhos de mar costumavam
ser tomados antes das primeiras horas do dia para evitar o bronzeamento da
pele, pois a tez branca denotava prestígio na época.
Os banhos começavam às
quatro da manhã, hora em que as casas de banho abriam. Neste horário se
banhavam os que não podiam pagar e se despiam mesmo na areia. A partir das cinco
horas vinham as senhoras de capa e cesta com as roupas, famílias inteiras,
mulheres de vida irregular, sofredores reumáticos. Depois das sete era a hora
das “cocottes” e da rapaziada barulhenta que nada, rema, grita. A apoteose era
entre oito e meia e nove horas, com o vai-vem febril de gente entrando e saindo
dos estabelecimentos e lotando os cafés.”
Segundo o memorialista
Carlos Sarthou, conta Patricia Pamplona, a casa de banho pioneira foi a de
Madame Dordeau na Praia do Boqueirão. Teria começado em 1870 com cinquenta
quartos e em 1904 teria quatrocentos.
Madame Dordeau teria ficado milionária e voltado para a França onde teria
comprado um palácio. Iam à praia por volta da virada do século XIX para o século
XX cerca e cinco a seis mil pessoas diariamente (achei este número exagerado, mas considerando que só a casa de Madame Dordeau tinha quatrocentos quartos...). Em 1891 o Almanak Laemmert
divulgava 18 casas balneárias, muitas com banhos hidroterápicos e
eletroterápicos.
A procura era tanta que havia até oferta de “banho de mar em casa”, num anúncio ousado, em que uma mulher desnuda figurava em uma foto, fazendo proveito de uma banheira. Era oferta da Agência Geral Casa Clausen, da Rua dos Ourives.
Olá, Dr. D'.
ResponderExcluirMais uma aula sobre os costumes de cem anos atrás (ou mais).
Uma "pessoa bem conhecida" podia frequentar os camarotes femininos das casas de banho com qualquer companhia, mesmo que não fosse a cônjuge.. Para as mulheres, o rigor. Se não estivesse com o marido, uma serva a poderia acompanhar, mas não no banho. Certas coisas não mudaram...
A evolução do vestuário salta aos olhos a despeito de exageros pontuais.
FF: novamente ontem à tarde Petrópolis foi assolada por um temporal. Pelo menos mais quatro desaparecidos.
Os costumes até em passado recente eram levados a sério por toda a população, e havia inclusive uma Delegacia de Costumes, e mais tarde Delegacia de Diversões Públicas. Atualmente existem fortes tentativas de eliminar boa parte desses costumes que "faziam a diferença" na sociedade brasileira por iniciativa de segmentos "político/ideológicos. Como se pode observar, as normas eram rígidas e "ai de quem não as cumprisse". Mas nos "novos tempos" em que as vestimentas se tornaram exíguas, o pudor é um vocábulo desconhecido para a maioria, foram abolidos do Código Penal os crimes de "sedução e de adultério", e que alunos "em tese homens" do Colégio Pedro II usam saias, o que dizer?
ResponderExcluirA segunda imagem é parte ampliada da foto de um trecho da rua Santa Luzia. FF: Petrópolis mais uma vez vítima da crônica da morte anunciada.
ResponderExcluirBom dia Saudosistas. Ir a praia sempre foi uma atividade de dar prazer, podemos ver que mesmo naquela época, os motivos dos frequentadores de irem a praia, são os mesmos de hoje em dia, tomar banho, paquerar, praticar atividade física e esportes. Outras práticas também permanecem até os dias de hoje.
ResponderExcluirFF: O temporal que mais uma vez desabou sobre Petrópolis evidenciou que o combate ao desmatamento e ocupação irregular de encostas (leia-se favelização) e assoreamento de rios deve ser medida de urgência, sob pena da Cidade Imperial ter sua principal fonte de renda (o comércio e a indústria têxtil) gravemente comprometida. Além disso os imóveis em Petrópolis tem sofrido grande desvalorização e as Companhias Seguradoras já não aceitam mais contratar seguros veiculares de proprietários cujo CEP seja em Petrópolis.
ResponderExcluirEntendi que aquele "exceto sendo pessoa bem conhecida", no primeiro parágrafo, já previa as possíveis "carteiradas" de autoridades e celebridades.
ResponderExcluirNa minha infância um amigo vizinho contava que em dias de muito calor chegou a acompanhar avós em idas à praia antes do amanhecer, permanecendo por lá somente até 7 da manhã. Ou seja, lá pela primeira metade dos anos 60, ou até um pouco mais, ainda existiam idosos com esse costume.
Praia no chamado veranico, geralmente em julho e agosto, costuma ser bem agradável para quem quer evitar queimaduras e muita gente. Até insetos são raros, se a preferência for por local com mata por perto, como a Costa Verde (entre Mangaratiba e Paraty). Só a faixa de horário que é menor, entre 11 e 15h mais ou menos, e nada de frente fria se aproximando, claro, para não deixar de ser veranico.
Trajes de banho mudaram muito ao longo do tempo, bem como os costumes praianos. Já narrei aqui o caso em que vi um japonês de sunga usando um blazer, sentado na areia. De vez em quando ele tirava o blazer, entrava no mar, voltava para a areia e vestia novamente o blazer.
ResponderExcluirEm outro caso, uma mulher chegou na areia, rstendeu um cobertor, colocou um travesseiro e se deitou para tomar sol.
Num terceiro caso, um turista tirou a bermuda, ficou nu em pelo, colocou a sunga, tomou seu banho de mar, depois fez a operação inversa e foi-se embora.
Cada caso em lugares totalmente diferentes.