Fotos de amadores são sempre interessantes. As três de hoje foram enviadas pelo prezado Menezes e são de autoria do Dr. Afonso Costa, amigo do Menezão. Ele residiu na cobertura de um prédio na Av. Augusto Severo e as fotos são da década de 60.
A foto mostra o aspecto que tinha
o Aterro do Flamengo por volta de 1960. A ideia de aterrar parte da orla
marítima do Rio tem mais de duzentos anos. Entre 1779 e 1783 foi feito o aterro
na praia e na infecta lagoa do Boqueirão, com material do Morro das Mangueiras,
para construção do Passeio Público. No século XIX a própria Câmara Municipal
autorizou vários aterros na orla, principalmente em Botafogo, para os moradores
aumentarem os terrenos de suas casas. A Câmara chegava a ressarcir os custos de
execução. A partir de 1870 os aterros aumentaram e passaram a ser executados
por firmas especializadas. Em 1890, o engenheiro Sabino E. Pessoa propôs
arrasar o Morro de Santo Antônio e aterrar a orla marítima do trecho
Glória-Calabouço, formando um platô com 570 metros de largura, maior que o
atual aterro, para construir um luxuoso bairro residencial.
O plano megalômano empacou na
crise financeira de 1891 e pouco dele saiu do papel. No início do século XX,
Pereira Passos e Paulo de Frontin aterraram o trecho da Praça Santa Luzia até
Botafogo, conseguindo um leito urbanizável de largura uniforme de 40 metros,
onde foram traçadas as duas pistas da Av. Beira-Mar.
Nos anos 20 arrasou-se o Morro do
Castelo para aterrar da Ponta do Calabouço ao Saco da Glória (as sobras de
terra deram para fazer um aterro nas bordas do Pão de Açúcar e se criar o
bairro da Urca). O atual Aterro do Flamengo foi iniciado em 1948 sob a
supervisão de Reidy (que, entre outras coisas, frustrou a tentativa de se
erguer a nova Catedral em vez do MAM). Com o início do desmonte do Morro de
Santo Antônio em 1954 as obras se aceleraram. Finalmente, com a eleição de
Lacerda e tendo à frente D. Lota de Macedo Soares, o Aterro do Flamengo se
transformou no que hoje conhecemos. Em primeiro plano vemos a belíssima Praça
Paris. Esta praça arborizada e florida com jardins em estilo renascimento francês
foi elaborada de 1928 a 1930 pelo arquiteto e urbanista Alfred Agache, que veio
ao Brasil convidado pelo Prefeito Antônio Prado Júnior para elaborar um plano
de remodelação da cidade. A fonte central jorrava água por quatro repuxos,
originalmente colorizados por luzes com as cores da bandeira nacional francesa.
Pequenas estátuas decorativas francesas complementam o conjunto. Texto escrito
a partir de "O Rio de Janeiro e suas praças", de Milton Teixeira.
Destaque para o prédio da Mesbla. Segundo o Guia de Art-Déco do Rio
de Janeiro trata-se de "composição típica de um grande número de edifícios
Art-Déco: corpo baixo, marcado por dominantes horizontais (no caso, varandas
semi-embutidas), violentamente contrastado com elemento vertical que assinala o
acesso principal. A torre do relógio tinha, aproximadamente, o dobro da altura
do prédio e é o elemento mais destacado da composição, dominando ainda a
paisagem ao redor. Em reforma posterior, o edifício recebeu o acréscimo de dois
pavimentos sobre o bloco original e foi ampliado lateralmente. A mudança também
alterou seu uso, que de misto (residencial e comercial) passou a exclusivamente
comercial.
Olá, Dr. D'.
ResponderExcluirJá foi dito e não custa repetir. Temos tesouros em casa e muitas vezes não sabemos.
Rio, uma cidade de aterros.
O tempo mostrou que o aterramento da orla da Glória e do Flamengo era uma necessidade. Lacerda teve a determinação de continuar a obra, conclui-la, e urbaniza-la de forma definitiva, contando com a competência de Lota (ou Loto) Macedo Soares. O que chama a atenção é que não se tem notícia de corrupção durante essa obra. Lacerda era esperto demais para deixar rastro.
ResponderExcluirBoas fotos retratando uma época do centro da cidade. O local da moradia do autor delas era muito conveniente se trabalhava na região.
ResponderExcluirDispensável na minha opinião o comentário homofóbico.
Bom Dia ! No meu tempo de motorista de ônibus todos os dias passava várias vezes pelo aterro do Flamengo. Nunca fiz corrida com os concorrentes para chegar primeiro na Pça 15 ou em Botafogo. Na época uma "ferrada" de traseira dava mais resultado que correr para chegar primeiro no "ponto chave".
ResponderExcluirO Dr.Afonso era um apaixonado pela região e portanto prevendo as perspectivas boas de um futuro próximo dessa região, comprou a cobertura e esperou os beneficio da restauração da natureza que inicialmente veio depois da obra do aterro. Alguns anos mais tarde veio a obra devastadora do Metro que "arrancou", literalmente, a Praça Paris a menina de seus olhos. Mas com paciência esperou novamente a reconstrução de todo aquele esplendor, como ele próprio definia. Nos seus últimos anos de vida, já aposentado, fazia um trabalho de rua para encher seus dias solitário, depois da morte de sua esposa: Tirava pressão arterial de transeuntes no centro da cidade, dai eu, hipertenso, ter conhecido essa fantástica figura humana.
ResponderExcluirBelo depoimento.
ExcluirBom dia Saudosistas. É, vendo estas transformações que a cidade sofreu ao longo dos seus quase 500 anos de fundação, diria assim: "Como era lindo o meu Francês". Sim, a cidade enquanto teve inspiração Francesa recebeu o título de seus moradores e visitantes de Cidade Maravilhosa, ainda hoje, muitos ainda assim acham e chegam a alardear que é a cidade mais bonita do mundo, sem nunca terem conhecido a verdadeira cidade maravilhosa ou outras cidades mundo afora para fazer tal comparação. Para mim, gostaria tão somente que a nossa cidade tivesse sido administrada, por Cariocas que amassem o seu local de nascimento, que dessem a cidade a verdadeira importância que ela merece, sem tirarem proveito próprio, usando o cargo que deveriam ocupar com dignidade, honestidade e orgulho. Eu mesmo ainda criança tive o prazer de ver e acompanhar estas obras da cidade.
ResponderExcluirConcordo.
ExcluirNão conheço nenhuma cidade no mundo que se compare a beleza natural do Rio de Janeiro.
ExcluirFalar com Anônimo é complicado, mas vamos lá. Por favor me aponte as belezas naturais que você vê no Rio.
ExcluirNunca entendi onde exatamente ficava esse Morro das Mangueiras.
ResponderExcluirLapa, mais para os lados do Catete ou próximo aos Arcos?
Comentei algumas vezes que meu pai não concordava politicamente com Lacerda, mas elogiava a administração dele da GB.
Eu acho que fez tudo pensando na eleição para presidente de 1965, que acabou não acontecendo. E não conseguiu eleger o sucessor no governo estadual, já que as Zonas Norte e Oeste aparentemente não aprovaram a sua administração.
ResponderExcluir"A Lagoa do Boqueirão ficava à frente do Aqueduto da Lapa. Esta lagoa foi aterrada na última década do século XVIII, no tempo do Vice-Rei Luiz de Vasconcelos e Souza ou Marquês do Lavradio. A lagoa foi aterrada com terras do desmonte do Morro das Mangueiras, vizinho ao local. Sobre o aterro foi construído o Passeio Público."
Em: https://www.riodejaneiroaqui.com/pt/antigas-lagoas.html. Consultado em 26.09.2022. Itálicos meus.
ótimo óleo de Leandro Joaquim
ExcluirImpressionante a quantidade de aterro gerada pelo desmonte do Morro de Santo Antônio...
ResponderExcluirComo não publiquei dois comentários rebatendo a observação do comentarista Cesar também não publiquei outro comentário de apoio.
ResponderExcluirO aterro é lindo apesar das autoridades não o cuidarem muito, a noite torna-se muito perigoso e em algúns lugares Moteis ao ar livre. Apesar disso um enorme parque, principalmente no Domingo com o fechamento das pistas.
ResponderExcluirIsso são horas?! Em 20.0, as 7:55, não sei por que, anotei que o SdR tinha tido 1.445.796 visitas. As 23:02 de 26.9 estamos em 1.449.668.
ResponderExcluirBreve 1,5M. Palmas para o Luiz Darcy!