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segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

FINAL DO ANO

O MACAQUINHO NO SÓTÃO, o texto de uma pessoa querida é repetido hoje.

          "Um macaquinho no sótão me azucrina o ouvido, com uma pergunta simples, mas de embaraçosa resposta.

      Aliás, ele aproveita sempre uma data marcante para retornar à pergunta: uma passagem de  ano, um carnaval, um aniversário natalício, o próprio Natal, e lá vem ele, o macaquinho irrequieto, indagando de mim com aquela carinha de levado:

        “Será que este é o último que o senhor vê?”

          Boa pergunta, macaquinho arteiro... Como vou saber a resposta?

         Hoje, por exemplo, é fim do ano. Chegarei ao próximo?

     Se chegar, tudo bem. A pergunta se repetirá, no ano que vem. E nova avaliação, então, será feita.

       Se não chegar... Ah! Se não chegar, aí então terá ocorrido algo importante durante o ano...Mas não vou me preocupar com isso, nem vou ressaltar-lhe a importância.

       Apenas vou contando o tempo, enquanto essa contagem puder ser feita.

    Tenho a consciência tranquila para ser julgado pelo que fiz ou deixei de fazer em prejuízo de alguém.

     Nada me acusa a esse respeito. Sempre procurei dar alguma ajuda, a quem eu pressentia dela precisar."

O "Saudades do Rio" deseja a todos um ótimo 2025, espera que os "sumidos" estejam bem e que todos estejamos aqui no final do próximo ano.

Terminamos com a foto da musa anônima do "blog".




domingo, 29 de dezembro de 2024

DO FUNDO DO BAÚ: GARRAFINHAS

 

O último “DO FUNDO DO BAÚ” de 2024 vai publicado em um domingo.

A foto mostra parte das coleções de garrafinhas de bebidas de meu pai, que encontrei aqui numa arrumação de fim de ano.

Em torno dos anos 1950 era difícil colecioná-las pois chegavam muito poucas ao Brasil. Era um tempo de poucas viagens internacionais para a classe média e, quando aconteciam, a maioria era de navio. Só ricos viajavam por via aérea, alguns nos Zeppelins.

A coleção dependia de contatos nos navios que chegavam ao Rio e a eventuais amigos viajantes.

Além das garrafinhas, o “do fundo do baú” poderia ser a cesta de vime. Ainda existem, mas atualmente são oferecidas em número muito menor do que antigamente, quando muitas empresas as distribuíam de brinde de Natal.

Essas garrafinhas podem ser encontradas nas geladeiras de hotéis atualmente, contendo uma dose da bebida. Essas antigas, acho eu, a maioria não tinha bebida alcoólica dentro. Era apenas um líquido colorido.


quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

O CASSINO DO POSTO 6

Hoje vamos dar uma olhada no “Casino Balneario Atlantico” (utilizaremos no texto a grafia atual de “Cassino Balneário Atlântico”).

A vida noturna em Copacabana iniciou-se lá pela primeira década do século XX, quando o jornalista Edmundo Bittencourt, proprietário do Correio da Manhã e morador de Copacabana, alugou um prédio de sua propriedade, à francesa Mme. Louise Chabas, que instalou um restaurante no local. A casa começou a funcionar em 1907, com o objetivo de ser um "café-dançante", no estilo dos cabarés parisienses. Após Mme, Chabas ter vendido seu estabelecimento em 1910, o Mère Louise sobreviveu algum tempo, mas a casa se transformou num hotel suspeitoso, sendo fechado pela polícia em 1931. Em 1934, neste local se construiu o Cassino Atlântico

Com traços modernos e arrojados, imponente, a construção seguia os padrões dos balneários de Palm Beach e Miami.


FOTO 1: Posto 6, no ano de 1935. Vê-se, à esquerda, o cais onde atracavam as lanchas dos salva-vidas. Destaque para o prédio do Cassino Atlântico, o Clube Marimbás (bem à esquerda), as ruas Francisco Otaviano e Joaquim Nabuco, e ao fundo o histórico Castelinho, construído na praia de Ipanema em 1904. Ao lado do Cassino Atlântico, a casa onde funcionou por muitos anos a Cultura Inglesa, em Copacabana. Observar, também, os barcos da colônia de pescadores que até hoje se localiza neste ponto. 


FOTO 2: Uma foto noturna, do acervo do Correio da Manhã. Em lugar do Mère Louise, foi inaugurado, em 20 de março de 1935, o “Casino Balneario Atlantico”, belo prédio em estilo “art-decó”. Anunciado como o “Palácio encantado do Posto 6”. Sonho maravilhoso dos contos de Sherehazade, viria a preencher uma lacuna existente na mais bela praia do mundo: Copacabana. Foi construído pela Comp. Melhoramentos e Construcções e seu proprietário era Alberto Quatrini Bianchi. Tinha escritório na Av. Rio Branco nº 62 – 2º andar.

FOTO 3: No prédio do Cassino Atlântico funcionou o Cine-Varieté, tornando-se um dos mais chiques e elegantes locais da Avenida Atlântica. Apresentava produções internacionais e nacionais e realizava “matinées” infantis. Aos domingos eram distribuídos brinquedos para as crianças.

FOTO 4: Anúncio das “matinées” dançantes do Cassino Atlântico.


FOTO 5: Final da década de 1930, com o Cassino Atlântico ao fundo. As quatro moças eram amigas e colegas do Colégio Sacré-Coeur de Jésus. Uma delas é minha mãe, a única ainda viva.

FOTO 6: Vemos parte do menu preparado para o carnaval de 1938 no Cassino Atlântico. Entre os champagnes Mumm, Ceuve Clicquot, Crystal, Pommery, Jockey Club. No menu temos Rissoles Feuilletés aux Crevettes (rissoles de camarão com massa folhada), Jambon à la Gelée (presunto com gelatina), Coupe Suchard (sorvete de creme com molho de chocolate), Petits Fours (doces).

FOTO 7: Garimpada pelo Decourt no arquivo da LIFE, vemos o carnaval de 1939 no Cassino Atlântico. Os homens em grande maioria estão de “summer”.

Segundo a revista Fon-Fon, antes da inauguração oficial, foi realizado no cassino um baile de carnaval, em 23 de fevereiro de 1935, assim descrito pela revista:

“O baile inaugural do Casino Balneario Atlantico foi a nota carnavalesca de sabbado passado. Todo o Rio elegante compareceu, por assim dizer, á festa sumptuosa que mobilizou os círculos sociaes da metrópole para o primeiro grande baile do Carnaval de 1935. Luxo. Alegria. Deslumbramento. Delírio. Nos salões do novo centro da elegância, em Copacabana, decorados pelos 96 artistas Gilberto Trompowisky e Luiz de Barros, movimentaram-se as figuras mais expressivas do nosso mundanismo. O Casino Balneario Atlantico, annuncia para os quatro dias de Carnaval outros bailes igualmente sumptuosos.”

 

FOTO 8: Mais uma foto da LIFE mostrando um carnaval tranquilo, num dos ambientes mais chiques do Rio.

Os espetáculos na década de 1930 eram variados: Noite de Santo Antonio, Noite de São João, aos domingos as “matinées” dançantes, desfile das “girls” de “Broadway Scandals” e “Jimmy Shure Parade”, comemorações no Natal e no “Réveillon”, carnaval, artistas nacionais e estrangeiros, aniversários natalícios,

Este “show das girls” foi anunciado no “O Cruzeiro” como “Girl´s Forbidden Show”. Em 1939, Jean Sablon foi um dos artistas mais conhecidos que cantaram no Cassino Atlântico.

Outro grande sucesso foi Manuelita Arriola, “a mais bela voz da sedutora terra mexicana, impressionante figura de mulher, fascinante intérprete das envolventes melodias de Agustin Lara e tantos outros, pela primeira vez no Brasil e estreará no Casino Atlântico.” Em 1940 quem fez sucesso foi o cantor e ator americano John Boles.


FOTO 9: Anúncio para um baile de carnaval no Cassino Atlântico com as estrelas Adelina Garcia (mexicana-americana) e June Preisser (cantora e acrobata).


FOTO 10: O Cassino Atlântico, foi um dos principais cassinos da cidade durante a década de 1930. Ele oferecia uma variedade de jogos, incluindo bacará, campista, roleta, blackjack e carteado, atraindo tanto a sociedade carioca quanto visitantes de outras cidades e até mesmo do exterior.


FOTO 11: No entanto, tudo mudou em 30 de abril de 1946, quando o então presidente da República, Marechal Eurico Gaspar Dutra, assinou o Decreto-Lei nº 9.215, proibindo a prática de jogos de azar em todo o território nacional. Essa decisão foi influenciada pela esposa do presidente, Dona Santinha, que era contrária aos cassinos. Com a proibição, o Cassino Atlântico foi fechado, assim como outros cassinos no Brasil.


FOTO 12: Acervo do Museu Aeroespacial, década de 1940. Copacabana com poucos edifícios, o Cassino Atlântico na esquina da Francisco Otaviano com Avenida Atlântica. Ipanema e Leblon praticamente só com casas. As línguas-negras em Copacabana, a vegetação de praia em Ipanema, as favelas com poucos barracos, a então pequena ilha dos Caiçaras.


FOTO 13: Garimpada pelo Nickolas. O Cassino tinha salões amplos, arejados e moderníssimos. O “grill-room”, obedecia às linhas elegantes e mais em voga no momento, oferecendo com suas luzes multicores e em profusão, um espetáculo soberbo.

A firma “Ceibrasil Representações Ltda.”, foi a responsável pelas instalações de condicionamento de ar, ventilação e refrigeração. Os ventiladores eram os fabricados pela Buffalo Forge Company. Na construção do “grill-room” foi prevista a futura instalação completa de condicionamento de ar.

Os serviços de luz, força, gás, água quente e fria, com caldeira, ficou a cargo da firma F.R. Moreira. A carga total da instalação de luz atingia a 240 kw.

Os salões de jogos, danças, cinema, possuem iluminação especial e dispunham de gerador. Os três elevadores eram da marca “Atlas”, de fabricação de Pirie, Villares e Cia.


FOTO 14: Uma rara imagem, garimpada pelo Tumminelli, de um periodo de glamour nas noites cariocas: os shows do Cassino Atlântico no Posto 6, em Copacabana.


FOTO 15: De uma das varandas do Cassino Atlântico a visão da Praia de Copacabana. Ainda poucos edifícios altos na orla.


FOTO 16: Imagem do “grill-room”. As “soirées” elegantes do Cassino Atlântico marcavam momentos imperecíveis na vida mundana do Rio. Conforto, luxo e bom gosto distinguiam este grande centro de diversões que honrava os nossos foros de cidade avançada. Seus salões reuniam o que havia de mais “rafiné” na Cidade Maravilhosa.

FOTO 17: Foram poucas as imagens das instalações internas do Cassino que consegui. Esta é a decoração do "grill-room" para a festa “Noites de Shangai”.

FOTO 18: O aspecto de um bar interno. O Cassino Atlântico, com suas grandes atrações, era o refúgio da nossa “haute gomme”. Diplomatas, cientistas, escritores, homens da mais alta representação social ali passavam seus melhores instantes. As noites eram de sonho, um sonho real com estrelas autênticas ao alcance da mão. A sociedade carioca fazia dessa casa de diversões o seu ponto predileto. O conforto e o luxo, a distinção e a beleza ali exceliam e cativavam.


FOTO 19: Vemos o “salão de conversa”, espaço que antecedia o salão de jogos.

Depois que o Cassino Atlântico foi fechado, houve algumas ocupações até meados da década de 1950, quando ali se instalou a TV Rio.

O jornal “Beira-Mar”, em edição de 1955, comentava: “Há uns vinte anos atrás Copacabana teve sua estação de rádio – a Rádio Copacabana, cujos estúdios estavam instalados num prédio da Av. Atlântica. Posteriormente, e com a construção do palácio do Cassino Atlântico, lá instalou-se a Rádio Ipanema. Nesse mesmo prédio estão sendo montados, agora, os diversos estúdios da nova estação de televisão do Rio de Janeiro – a TV Rio, Canal 13.

A TV Rio fará transmissões simultâneas entre o Rio e São Paulo, a exemplo do que acontece nos Estados Unidos e Europa. Para isso será montada uma rede de torres de transmissões entre as duas capitais, com as suas intermediárias, sendo que a primeira já foi erguida no alto do Sumaré.

Sucessivamente serão erguidas as torres restantes em Mendes, Barra Mansa, Itatiaia, Cachoeira Paulista, Moreira Cesar, São José dos Campos, Mogi das Cruzes e São Paulo.”

Li, também, que o Botafogo Futebol e Regatas inaugurou onde havia funcionado o Casino Balneario Atlantico, seu Departamento do Posto 6, em 25 de janeiro de 1947. Funcionava também no antigo cassino uma boate e salões do “Dinner Club”. Meu amigo e colega Odone, morador do Posto 6, me disse que durante algum tempo havia também uma seção do clube AABB instalada no prédio.


FOTO 20: A foto do JB mostra a demolição do prédio em 1972. Em meados dos anos 50 o prédio foi ocupado pela TV Rio até o início dos anos 1970, voltando o prédio para a posse de seus antigos proprietários, a família Bittencourt.

Em 1971, na maior transação imobiliária do Rio até então, a área do Cassino foi vendida à firma H.C. Cordeiro Guerra. Em 1972 o prédio foi demolido e, em 1974, lançado o Shopping Cassino Atlântico e o hotel Rio-Palace. Depois virou Hotel Sofitel e agora é Hotel Fairmont.

 FONTES: A. Decourt, R. Tumminelli, J. O´Donell, M. Zierer, Nickolas,  Saudades do Rio, Correio da Manhã, Jornal do Brasil, Fon-Fon, Beira-Mar, O Cruzeiro.

terça-feira, 24 de dezembro de 2024

NATAL


E chegamos ao Natal. Para alguns é uma data importante, para outros apenas uma noite ou um dia de reunir a família. De qualquer forma há uma convenção de se desejar votos de paz e tranquilidade por um mundo melhor, mais justo, com menos violência. Desejar muita saúde para todos.

É o que o “Saudades do Rio” deseja a todos os que por aqui passam.

Sobrevivemos às famigeradas "caixinhas" e "livros de ouro": do porteiro, do faxineiro, do lavador de carros, do frentista, do manobrista do estacionamento, do atendente do bar, do jornaleiro, do entregador de jornal, do entregador de revista, do carteiro, do lixeiro, do atendente do vestiário no clube, dos guardadores de carro, do garçon habitual, do vigia noturno e por aí vai. Não há 13º salário que consiga pagar todas essas despesas.

Sobrevivemos ao trânsito infernal, às lojas entupidas, às compras de última hora, às festinhas das empresas e ao tenebroso "amigo oculto". De bom, os almoços e jantares com ex-colegas de colégio e de faculdade, com companheiros do futebol, com a turma do clube e da praia.

Preparemo-nos para o jantar de hoje  onde as crianças ficam enlouquecidas esperando os presentes, a sogra retardando a entrega para que a "galera" adolescente não vá logo para a "night", talvez um calor infernal, pois o ar-condicionado não dá vazão face à multidão familiar, a comida inteiramente de acordo com a tradição europeia e "perfeitamente adequada" à temperatura do Rio, e, um caso à parte, os cunhados "malas", que acabam por estragar a noite.

Preparemo-nos ainda para o almoço de amanhã, com o "enterro dos ossos" e todo mundo reunido novamente, com cara de ressaca por conta dos excessos da noite de hoje. Nada de discutir política, religião ou futebol. Nada de abusar do álcool e relembrar desavenças familiares.

Felizmente, como lembra meu amigo Odone, escapamos de ter que buscar ganhar o diploma de "pai-herói" por levar os filhinhos para ver Papai Noel no Maracanã. Era assim: antes do clímax (a chegada do Papai Noel), milhares de puxa-sacos da Xuxa se apresentavam numa sequência abominável de mediocridades. 

As horas se passavam e nada do Papai Noel chegar. As crianças, a princípio felizes e com grande expectativa, começavam a ficar irritadas e impacientes. Não havia mais lugar para sentar. O calor era senegalês, ou carioquês, como se diz no Senegal. Não havia como levar as crianças para fazer xixi porque senão elas perderiam o lugar, então elas começavam a se aliviar ali mesmo. Era fácil reconhecer: elas ficavam subitamente quietinhas e os olhinhos ficavam virados pra cima e pro lado, como se quisessem disfarçar. E o xixi rolava arquibancada abaixo se juntando a outros afluentes numa cascata de espuma. Quando Papai Noel chegava as crianças já estavam chorando e com fome. Você jurava nunca mais cair nesta furada, passava a mão nos pentelhos e os levava pra casa cansado, mas orgulhoso do seu diploma de "pai-herói"...

O Rio, infelizmente, não se enfeitou como antigamente e como fazem muitas cidades mundo afora. Mas não tem importância. É só uma vez ao ano. Vamos nos armar do melhor dos espíritos e desfrutar de mais um Natal. Como dizem os espanhóis, “Una vez al año, no hace daño”.

Feliz Natal.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

POR BANGU


FOTO 1: A fábrica de tecidos Bangu foi inaugurada em 1893 na região da Freguesia de Campo Grande, que foi escolhida por haver grandes mananciais indispensáveis ao funcionamento da fábrica. Foram comprados cerca de 3.600 acres de terra, a saber: Fazenda do Bangu, Fazenda do Retiro, Sítio do Agostinho e Sítio dos Amaraes, pela quantia de 132.137$910 Réis. 

Toda essa região fica à margem da Estrada de Ferro Central do Brasil, distante cerca de 1 hora do Centro. Até aquele momento, existia na região apenas uma rua, que havia sido aberta séculos antes pelos jesuítas.  

A construção da Fábrica ficou à cargo da firma The Morgan Snell and Co., de Londres, pelo preço total de 4.100.00$000 Réis.A implantação da fábrica na região trouxe consigo uma série de transformações na paisagem com a abertura de novos caminhos e a chegada dos trens para o transporte das matérias-primas que chegavam e dos tecidos que saiam. Ao mesmo tempo, alterou o modo de vida da população local com o surgimento de um bairro operário nos arredores da fábrica - toda essa transformação se concretizou na implantação de saneamento, de espaços para lazer (o Bangu Atlético Clube) e da Paróquia Santa Cecília. 

Merece especial atenção o fato da Fábrica Bangu ter fundado uma das primeiras escolas do bairro chamada Escola da Cia. de Progresso Industrial do Brasil que, em 1917, passou a ser administrada pela prefeitura. 

O bairro, e mais especificamente a fábrica Bangu, tornou-se um monumento à história da industrialização brasileira, servindo de cenário para uma série de filmagens que visavam retratar a mudança nas cidades, no caso o Rio de Janeiro, com a chegada das indústrias na transição do século XIX para o XX. 

A chaminé da Fábrica tem 57m de altura, 4,12m de diâmetro na parte inferior e 2,44m na parte superior. A base octagonal mede 7,45m entre as faces paralelas. Em 1922 assume a presidência da Fábrica Bangu o Dr. Manuel Guilherme da Silveira Filho, o famoso Dr. Silveirinha. Em 1990 a fábrica é vendida para o grupo Dona Izabel. Em 1995 a fábrica é tombada.


FOTO 2: A foto de Malta, do Acervo da Light, é de 1908. Foi garimpada pelo Augusto.


FOTO 3: Foto da Brasiliana Fotográfica, garimpada pela Conceição Araujo, mostrando uma vista aérea da fábrica Bangu.


FOTO 4: O relógio da fábrica Bangu. A foto está no ótimo livro "Bangu - 100 anos", de Jairo Severiano.


FOTO 5: O campo de futebol da fábrica Bangu. Não confundir com o Estádio de Moça Bonita. Foto garimpada por L. F. Moniz Figueira.


FOTO 6: Loja aberta em Bangu, nos anos 1950, para venda de tecidos Bangu.


FOTO 7: Algumas das casas construídas para operários da Companhia Progresso Industrial do Brasil - Fábrica Bangu. Guilherme da Silveira, dono da empresa, tinha uma visão social avançada para a época. Defendia os direitos dos operários sem qualquer intenção demagógica, considerando essencial a colaboração entre o capital e o trabalho (mantinha, por exemplo, uma excepcional creche para as crianças filhas dos funcionários).

Sua política habitacional, concretizada através da construção de casas modelares para o proletariado, superiores até hoje a tudo mais que vem sendo feito, aproveitou terrenos da CPIB, onde foram construídas casas em mais de 12 mil lotes. O projeto desenvolveu-se de duas formas: faziam casas, vendendo-as depois de prontas, ou vendiam-se terrenos, a prestações, incluindo em seu preço a chamada "cota de construção", ou seja, o custo do material necessário à obra. Foram construídas milhares de casas, sempre contando com a honestidade dos compradores, perfeitos no cumprimento de suas obrigações. 

O sucesso desse empreendimento deu a Bangu uma característica especial: é o único subúrbio carioca em que a maioria da população reside em casa própria. Fonte: Bangu - 100 anos, de Jairo Severiano. 


FOTO 8: Aqui vemos o Cine Vitória, em Bangu, citado pelo WB em postagem anterior. Ele já aparecera aqui numa das séries do Helio sobre "Poeiras". Esta foto dos anos 70 foi publicada, também, no "site" Museu de Bangu.

Ficava na esquina da Av. Santa Cruz com a Av. Cônego Vasconcelos. 

O filme em cartaz era "Mundo dos Aventureiros", com Candice Bergen, Bekim Fehmiu, Charles Aznavour, Delia Boccard, Ernest Borgnine, Alan Badel, Olívia de Havilland, Leigh Taylor-Young, Rossano Brazzi, Fernando Rey, entre outros. 

Música de Antonio Carlos Jobim e baseado no best-seller "The Adventures", de Harold Robbins.

sábado, 21 de dezembro de 2024

FOTOGRAMAS

Para o fim-de-semana temos fotogramas enviados pelo prezado GMA.

Vista do galpão de aviação do Iate Clube


O aterro realizado na antiga Praia da Saudade.

O prédio do Cassino Atlântico no Posto 6


A Av. Niemeyer com a igreja de São Conrado lá no fundo.


 Vista de Ipanema e Leblon com o edifício Cordeiro no Vidigal.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

CINEMA VITÓRIA

 

O cinema Vitória foi o último dos grandes cinemas construído na Cinelândia. Ficava na Rua Senador Dantas nº 45-A. Chegou a ter 1269 lugares, era do grupo Severiano Ribeiro e funcionou de 1942 a 1993. 

Foi inaugurado com a exibição do filme "O Grande Ditador", de Charles Chaplin.

A foto é de 1952, quando estava sendo exibido o filme "Appassionata", com Tonia Carrero, Paulo Autran e Renato Consorte.


O cinema Vitória era um dos históricos cinemas localizado na área da Cinelândia, no Rio de Janeiro, no térreo do Edifício Rivoli. Era conhecido por exibir grandes lançamentos de filmes da época. Foi um dos primeiros a ter tela em 70mm. Este era um formato de projeção que produzia imagens maiores, mais nítidas e claras, além de um som mais dinâmico e claro. Hollywood ampliava filmes rodados em 35mm para serem apresentados em 70 mm. Nos primeiros tempos o cinema Vitória exigia o uso de terno e gravata.  

Em seus últimos tempos, nos anos 90, passou a exibir filmes considerados de baixa qualidade, como as "pornochanchadas".


Aqui vemos aqueles folhetos que a Cia. Severiano Ribeiro costumava distribuir em seus cinemas. No verso deles existia a programação da semana nas outras salas desta empresa.

O filmes acima anunciados eram: 

“Angelina, a deputada” (“L´Onorevole Angelina”), estrelado por Anna Magnani, Nando Bruno e Ave Ninchi.

“Viver em Paz” (“Vivere la Pace”), com Aldo Fabrizi, John Kitzmiller e Ave Ninchi, filme italiano, neorrealista, de 1947.

“Sangue e Prata” (“Silver River”),  é um filme de faroeste americano de 1948, dirigido por Raoul Walsh e estrelado por Errol Flynn, Ann Sheridan e Thomas Mitchell. 

 

O cinema Vitória ficou muito tempo abandonado após seu fechamento. Nosso prezado Menezes, CEO da "Calango Air", é o autor dessas fotos, pois na época trabalhava nas vizinhanças.

OBS: segundo o Joel Almeida, no final dos anos 90 funcionou no local o "Bingo Senador", onde não só havia o chamado "bingo de cartela" como também o "vídeo bingo", um salão destinado às máquinas caça-níqueis. Em 2007 a decisão liminar da Justiça Federal que mantinha na legalidade as "Casas de Bingo" foi "cassada" e os bingos foram "oficialmente fechados". Mas o "Bingo Senador" se manteve na ilegalidade e funcionou ainda por alguns anos sem nenhum problema, bem como outros na Cidade do Rio de Janeiro.

Outra fotografia da autoria do Menezes mostrando a demolição do Vitória.

Aspecto do prédio em 2010 em imagem do Google Maps. Sempre acho curioso como prédios podem ficar abandonados por muito tempo no centro da cidade.


Em 2011, também em imagem do Google Maps, vemos andaimes para adaptação do prédio da Rua Senador Dantas.

Nesta imagem do Google Maps, de 2018, vemos a "Livraria Cultura" funcionando onde era o cinema Vitória. Foi inaugurada neste local em 2012 e neste ano de 2018 fecharia as portas.


No local atualmente funciona a "Assist – Associação dos Servidores Municipais, Estaduais e Federais do RJ."

O local foi tombado pelo Decreto n° 27.705 de 19/03/07 – D.O. Rio de 20/03/07.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

CARAVANA ATÉ BRASÍLIA - 1960

 


Dois meses antes da inauguração de Brasília (21 de abril de 1960), uma caravana partindo dos quatro cantos do país rumo a capital foi idealizada para fazer a ligação “transbrasiliana” por meio de um cruzeiro de estradas criado pelo então Presidente da República, Juscelino Kubitscheck.

A ideia da caravana foi do major José Edson Perpétuo, primo e ajudante de ordens de Juscelino Kubitschek. Segundo o coronel Affonso Heliodoro, então subchefe da Casa Civil da Presidência, Brasília já estava praticamente pronta e o Perpétuo quis fazer essa caravana de veículos de fabricação nacional, rodando com pneus nacionais, queimando petróleo nacional, sobre asfalto nacional.

O convite foi feito a todos os fabricantes instalados no país, que prontamente atenderam ao chamado e se uniram na organização, cedendo veículos, motoristas e mecânicos. Aventureiros, jornalistas, engenheiros e operários também pegaram carona na expedição. De ônibus FNM a Romi-Isetta, uma amostra da indústria nacional

Havia de tudo o que fabricávamos na época: Jeep e Rural Willys, DKW, Kombi, Fusca, Simca Chambord, Toyota Land Cruiser, caminhões Mercedes, Chevrolet, International e até ônibus Caio com chassi FNM.

Vemos a Caravana Leste em frente ao Palácio do Catete no Rio de Janeiro prontos para a largada. 
Aparecem na foto: Rural Willys, três Simca Chambord, Toyota Land Cruiser, Kombi e Vw Sedan sob a bandeira com as cores verde-amarelo. 

Os participantes da Caravana da Integração Nacional formaram quatro colunas, uma de cada ponto cardeal do país. 

COLUNA SUL – A Coluna Sul percorreu 2,3 mil quilômetros saindo de Porto Alegre.

COLUNA OESTE – A Coluna Oeste partiu de Cuiabá e rodou 1,1 mil quilômetros até Brasília.

COLUNA LESTE – A Leste largou no Rio de Janeiro, sob o olhar de JK, na porta do Palácio do Catete, e percorreu 1,2 mil quilômetros até Brasília.

COLUNA NORTE – Foi a mais complicada, a mais difícil e a mais longa. Com muitos problemas para os 60 veículos que compunham a longa travessia. Ela durou 10 dias e percorreu os 2,2 mil quilômetros de uma Belém-Brasília ainda em construção.


A coluna Leste teve largada oficial no Rio de Janeiro, sob o olhar de Juscelino na porta do Palácio do Catete, então sede do governo federal, para um percurso de 1,2 mil quilômetros.

Foram três dias de asfalto, mas a maioria dos integrantes já estava rodando desde São Paulo. “A bandeira saía do Rio de Janeiro em automóveis brasileiros, com pneumáticos brasileiros, petróleo brasileiro para trefegar por estradas asfaltadas com asfalto brasileiro”, comemorou JK na época.

Seguiram por Petrópolis, Três Rios, Juiz de Fora, Santos Dumont, Barbacena e Belo Horizonte. A partir daí por Sete Lagoas e Três Marias, João Pinheira, Cristalândia e até Brasília.

O feito histórico marcou época não só pelo ineditismo de uma ação tão complexa e grandiosa, mas por usar uma frota com apenas veículos nacionais na estrada. Foram 137 no total.

Fruto de um movimento pela implementação do transporte rodoviário no País capitaneado pelo setor de indústrias, a caravana chegou ao Planalto Central em 2 de fevereiro de 1960, antes da inauguração de Brasília.

A caravana foi uma viagem de contornos épicos, que teve a participação de 287 expedicionários em 137 carros, caminhões e ônibus que saíram dos quatro cantos do País. Uniu todos os fabricantes de automóveis do Brasil. Eles cederam veículos, motoristas e mecânicos para a jornada. Aventureiros, jornalistas, engenheiros, operários e políticos também participaram da expedição.

A ideia era, como diz o nome, a integração: o governo JK havia criado a noção de um País integrado pela construção de estradas, pela ampliação de aeroportos e por uma marcha para o interior. Na chegada dos viajantes, apesar da chuva, os candangos compareceram em peso à festa, que contou com missa na Catedral e churrasco oferecido pela Presidência da República.

Havia de tudo que se fabricava na época: Rural e Jeep Willys, DKW, Kombi, Fusca, Simca Chambord, Toyota Land Cruiser, caminhões Mercedes, Chevrolet, International, ônibus Caio com chassi FNM e até 25 Romi-Isettas.


A Coluna Leste teve largada oficial no Rio - na porta do Palácio do Catete - para um percurso de 1.200km, em três dias de asfalto. Na foto estão na Rua Silveira Martins. A maioria de seus integrantes, porém, já vinha rodando desde São Paulo.

E foi a turma dos paulistas que trouxe os veículos mais pitorescos: nada menos que 25 Romi-Isetta enfrentaram a estrada. Pequenas em tamanho e potência, as briosas maquininhas fizeram enorme sucesso.

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A caravana do Norte, que saiu da Praça da Catedral, em Belém, foi a que mais rodou e, disparado, foi a que enfrentou mais problemas: percorreu os 2,2 mil quilômetros de uma Belém-Brasília ainda em construção. Foi uma sequência de atoleiros e contratempos numa via sem a menor infraestrutura durante dez dias de chuvas ininterruptas.

As dificuldades enfrentadas eram tantas – em caminhos muitas vezes abertos às pressas – que por onde passaram com seus caminhões, jipes e ônibus, os expedicionários eram recebidos como heróis. Carros de passeio não fizeram parte do comboio da Coluna Norte que, diante de tantas dificuldades, recebeu o título de “Operação Tartaruga.”

Em Brasília foi construído o “Marco da Caravana da Integração Nacional”.  O monumento foi instalado no canteiro da Esplanada dos Ministérios, em frente à Catedral, entre as vias N1 e S1.

É uma cruz de metal com altura de 5 metros, com os pontos cardeais, que identificam o Norte, o Sul, o Leste e o Oeste de um cruzeiro chamado Brasil A estrutura foi idealizada para simbolizar a expansão da malha rodoviária e a implantação da indústria automobilística em Brasília. 

No desfile feito na Esplanada dos Ministérios, o presidente da República esteve dentro de um Romi-Isetta (consta que este automóvel faz parte de uma coleção de veículos históricos de um proprietário de Ribeirão Preto – SP).

Em Brasília, Juscelino desfilou na caravana dentro de um Romi-Isetta.