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quarta-feira, 24 de abril de 2024

GP BRASIL - TURFE

Antigamente o Grande Prêmio Brasil era um dos grandes eventos da cidade do Rio de Janeiro. Era realizado sempre em agosto (agora é no 1º semestre, este ano em junho).

Vemos hoje fotografias dos anos 1950 no Jockey Clube Brasileiro, um dos mais belos hipódromos do mundo.


Na foto acima vemos o Jockey Club Brasileiro no dia do Grande Prêmio Brasil de 1954. No páreo principal, ouviu-se o famoso "Dá-lhe, Rigoni!" e, montando "El Aragonês", com 59 quilos, o famoso jóquei, talvez o melhor "freio" a montar na Gávea, ganhou o páreo.

A seguir chegaram Joiosa, Bakari, Quasi e Yorick. "El Aragonês", um castanho de 5 anos, filho de Ramazon e El-Chú, de propriedade do Stud Piratininga, era treinado por O. Ojeda.

No momento da foto, provavelmente, iria ser corrido um páreo em 1200 metros na grama, pela movimento junto ao partidor (à esquerda, na parte inferior). 

O partidor, naquele tempo, era ainda uma fita e não os boxes metálicos, individuais, de hoje. Por isto, muitas partidas não eram boas, dada a dificuldade de alinhamento dos animais.

Esta bela mulher foi uma ds presentes neste GP Brasil de 1954. Foi uma dos mais espetaculares de todos os tempos. O vencedor, o argentino El Aragonés, foi corrido em último, afastado do penúltimo, tendo virado a reta nessa posição. Foi a maior atropelada jamais vista em um G.P.Brasil ! Foi alcançar a mencionada Joiosa (Stud Rocha Faria) em cima do disco.

Foi a primeira vitória de Rigoni num GP Brasil, o que provocou um delírio entusiástico na assistência. )O magnífico El Aragonês já vencera naquele ano, em SP e com o mesmo Rigoni, o Grande Prêmio IV Centenário, prova com excepcional dotação, superior até ao GP Brasil.

Para os turfistas e apreciadores de corridas da época, a vitória do argentino foi, contudo, imerecida, pois a aguerrida Joiosa, do Stud Rocha Faria, sofreu bastantes percalços durante todo o percurso (3000m), culminando com a queda, à sua frente, de dois concorrentes (Titanic e Efusivo). Isso obrigou seu jóquei, o bridão chileno Emigdio Castillo, a desviá-la do caminho original. Sua atropelada, porém, numa brecha junto à cerca interna, foi tão ou mais espetacular que a de El Aragonês, por fora, com pista totalmente livre. A diferença entre os dois, no disco de chegada, foi apenas de cabeça.


No ano de 1955 o vencedor foi o argentino Mangangá, filho de Gulf Stream e Margarida, estreava na Gávea e o fez de forma espetacular, derrotando Adil, um excepcional cavalo que venceu por três vezes consecutivas o GP São Paulo, em Cidade Jardim, mas nunca conseguiu vencer o GP Brasil. 

Em terceiro finalizou Quiproquó (que chegara em 10º lugar em 1954), com Ballenato em quarto e Profundo em quinto. El Aragonês, montado pelo chileno Luiz González, não atropelou como no ano anterior e terminou fora do marcador.

Em fotos da revista "Manchete" vemos o aspecto do Hipódromo da Gávea em 1955.


O hipódromo lotado aguardava a largada do GP Brasil. A bandeira vermelha hasteada indicava que as apostas já haviam sido encerrada e a largada do páreo era iminente. 

A prova, durante muitos anos, foi disputada em 3000 metros e de uns tempos para cá passou a ser disputada em 2400 metros.

À época, agosto devia ser um mês frio, pois as elegantes usavam e abusavam de roupas de inverno.

Chapéus dos mais diversos tipos e casacos de pele sempre faziam sucesso.


O importante era ver e ser vista. Se tivesse foto nas colunas sociais ou nas edições especiais da "Manchete" ou de "O Cruzeiro", era a glória.




quinta-feira, 18 de abril de 2024

REVISITANDO A ZONA NORTE

Revisitamos a Zona Norte com fotos do acervo do Correio da Manhã. A maioria apareceu no saudoso 1º Concurso Sherlock Holmes do “Saudades do Rio”, muitas enviadas pelo Helio.


FOTO 1: Vemos o Largo do Engenho Novo, em 01/09/64. Situado no limite entre as ruas Arquias Cordeiro e Sousa Barros. À direita deste largo existe o acesso às plataformas da estação de trens do Engenho Novo. A cerca de 80 metros à frente dobra-se à direita e passa-se sob a linha férrea, em passagem inaugurada em 1921 e que permitia também o tráfego de bondes. Essa passagem é impropriamente chamada de "buraco do padre".



FOTO 2Largo do Estacio, em 1940. O fotógrafo está na Rua Joaquim Palhares; os cavalarianos estão entrando na Rua do  Estácio; o desvio dos trilhos dos bondes, à esquerda, levam à Rua Machado Coelho. O gradil, à direita, é da igreja do Divino Espírito Santo.

FOTO 3Largo dos Pilares em 12/03/53. A rua em frente é a João Ribeiro, direção  Thomaz Coelho; à esquerda, Avenida Suburbana, direção Abolição; à direita, Rua Alfredo de Souza Mendes, direção Inhaúma. A moça, com o pezinho no meio-fio, faz charme para o fotógrafo.


FOTO 4Passagem de nível na estação Irajá, em 13/08/1950, da antiga Estrada de Ferro Rio d'Ouro. Os trilhos do bonde estão na Avenida Monsenhor Félix; os do trem, na avenida Automóvel Clube. A locomotiva está vindo da Estação de Colégio e se dirigindo para a de Vicente de Carvalho.

Os trilhos do bonde eram da linha 98 - Irajá, que saía de Madureira (posteriormente, de Magno) e terminavam em Irajá, perto do cemitério, num percurso de aproximadamente 5,5km. Esse ramal de bonde originalmente pertencia à Linha Circular Suburbana de Tramways, subsidiária de uma firma inglesa, e foi inaugurado em 28/09/1911 usando bondes puxados a burro comprados de segunda mão da Companhia de Carris Urbanos, cujos trechos já tinham sido eletrificados pela Light.

Curiosamente, foi o último ramal a burro inaugurado no Rio de Janeiro e também o último a ser desativado já pela Light, em 28/03/1928.

Também curiosamente, constata-se que os ingleses construíram o primeiro e o último ramal de bondes puxados a burro na cidade do Rio de Janeiro.


FOTO 5Praça Barão de Drummond, em 04/03/51, em Vila Isabel. Os ônibus estão parados na Rua Barão de São Francisco, em direção à Rua Teodoro da Silva. Vê-se a escadaria que dá acesso ao Convento de N. Sa. da Conceição da Ajuda. O antigo nome da praça era Sete de Novembro, em comemoração à lei promulgada em 07/11/1831 e que considerava livres os escravos importados da África a partir daquela data. Vulgarmente a praça era chamada apenas de Praça 7.


FOTO 6Vemos a Rua Domingos Lopes, em 15/02/1964. O fotógrafo está olhando em direção ao Largo do Campinho. A rua cuja esquina se vê à direita é a Maria José. O ônibus é da linha 689 – Méier x Campo Grande e está indo em direção à Rua João Vicente, que beira a linha férrea da Central. 


FOTO 7: Esta foto também fez parte do Concurso. É o Boulevard 28 de Setembro. Me diverti muito lendo o "tiroteio" que aconteceu quando foi publicada em 18/11/2010. A briga começou na identificação do local exato da foto e prosseguiu quando divulguei os pontos que cada um dos comentaristas fez. O número de inconformados com o resultado foi enorme.


FOTO 8: Olha à direita!!! Não se sabe se todos que estavam no estribo do bonde passaram ilesos. 

Estamos na Rua Barão do Bom Retiro, já no bairro do Grajaú, entre as ruas Alexandre Calaza e Nossa Senhora de Lourdes. O prédio baixo que se vê acima da Rural é na curva de chegada ao cruzamento triplo com as ruas Alexandre Calaza, Engenheiro Richard e Teodoro da Silva.

A foto foi tirada durante uma greve de transportes, ocorrida em 10/10/1961. O bonde da linha 68 - Uruguay x Engenho Novo está se dirigindo para o Largo de São Francisco, via Grajaú, Tijuca e Estácio. Normalmente as ruas de ida do trajeto dos bondes eram as mesmas de vinda, mas este trecho da Barão de Bom Retiro era de mão única. Nota-se pintada na carroceria do bonde, acima da mulher que aparece imprensada dentro na cabine do motorneiro, uma letra "B", indicativa de que o bonde pertencia à Seção de Tráfego do Boulevard 28 de Setembro, localizada onde atualmente se encontra a quadra da escola de samba Unidos de Vila Isabel e responsável pelas linhas de número 60 (Muda x Marquês de Abrantes) até 75 (Lins de Vasconcellos).

terça-feira, 16 de abril de 2024

ARCO E FLECHA EM COPACABANA


Há coisas que, contando, ninguém acredita: pois o grupo da foto praticava arco e flecha em plena Praia de Copacabana na década de 50, como podemos ver nesta fotografia do acervo da "Última Hora".

A casa lá atrás era formada por duas residências geminadas e pertenceu em épocas distintas às famílias Ludolfi, Melo Cunha, Martineli e Cauí. Dava frente para a Gustavo Sampaio e fundos para a Atlântica. Hoje o local é ocupado pelo Edifício Sayonara, na Av. Atlântica nº 880 que, durante algum tempo, ostentou uma cor rosa. 

Ficava ao lado de onde é hoje o Supermercado Zona Sul.



O arqueiro parece usar um calção de cetim. Outro tipo de calção daquela época era o usado pelos "banhistas" (salva-vidas), que era feito de lã. Ambos muito estranhos.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

COLÉGIO MILITAR

 

Em 1889, oito meses antes da República, foi instalado o primeiro Colégio Militar brasileiro, no Rio, dedicado sobretudo à educação dos filhos dos oficiais do Exército.

Em 09 de março de 1889, Sua Majestade, o Imperador Dom Pedro II, dispôs-se a assinar o importante Decreto de nº 10.202 que aprovou para o Imperial Colégio Militar o seu primeiro regulamento.

Sua divulgação ocorreu em 05 de abril de 1889 por intermédio da Ordem do Dia para o Exército de nº 2251.

A ânsia do Ministro da Guerra, Thomaz Coelho, de colocar em funcionamento o Colégio, levou-o a fazer, em 07 de abril de 1889, sua primeira visita oficial ao Palacete da Baronesa de Itacurussá, cujo terreno fazia esquina com as ruas São Francisco Xavier e Barão de Mesquita, e se prestava a servir de sede do Colégio Militar.

Em 29 de abril de 1889, foi lavrada a escritura de compra e venda do Palacete da Babilônia.

Por fim, no começo de maio de 1889, dois avisos importantes do Ministério da Guerra: o do dia 02, concedia licença aos candidatos inscritos para serem matriculados e o do dia 04 determinava que a abertura das aulas se realizasse dois dias depois.


Postal da coleção do amigo Klerman W. Lopes - 1904


Gabinete de Física, Química e História Natural do Colégio Militar do Rio de Janeiro, parte de um álbum comemorativo do 17° aniversário de fundação do Colégio Militar, de 1906, doado por um ex-aluno da turma de 1906, cujo fotógrafo foi J. David, édit., Levallois - Paris.


Aula de esgrima em foto do mesmo álbum citado anteriormente.


Sala de aula em foto do mesmo álbum citado anteriormente.


O "Palacete da Babylonia" em foto do mesmo álbum citado anteriormente.


O dormitório em foto do mesmo álbum citado anteriormente.


Alunos da Bateria de Artilharia em foto do mesmo álbum citado anteriormente.


Recebi o seguinte texto de meu amigo Dr. Odone: "Como você sabe, fui aluno do Colégio Militar do Rio de Janeiro e pertenci o Esquadrão de Cavalaria. Fazíamos várias atividades equestres: instrução, salto, basquete a cavalo e volteio. Esta última modalidade de equitação está exemplificada na foto. O volteio é uma espécie de ginástica a cavalo. Existem exercícios com o animal parado e galopando. A sela possui uma alça na frente e outra atrás. As ditas "figuras" do volteio são várias: terra-cavalo, terra-pescoço, terra-rim, terra-invertido, 360, e terra-terra do outro lado-cavalo. Fazíamos também as figuras com o cavaleiro em pé na anca do cavalo. Tínhamos uma tira de lona forte atada na alça dianteira para ajudar no equilíbrio. 

Esta foto é do acervo do meu colega de turma Marcos da Fonseca Elia, professor de Física e Ciência da Computação da UFRJ. Esta foto foi tirada no dia 6 de Maio de 1965, quando se comemora o aniversário do Colégio. Será que conseguimos impressionar as normalistas?"


Esta foto foi tirada no mesmo dia 6 de Maio de 1965.  É uma parte da demonstração da Cavalaria denominada Salto Fantasia porque saltávamos obstáculos como: dois canhões pequenos juntinhos apontados um para o outro, dois jipes colocados na mesma posição - frente a frente- arcos de fogo, e este muro humano todo formado por alunos da Cavalaria. Repare que a cabeçada e as rédeas eram confeccionadas em nylon para dar a impressão que o cavalo não estava arreado. Nesta foto podemos ver dois cavaleiros em salto simultâneo e "no pelo". Hoje em dia o Estatuto da Infância e do Adolescente não permite mais estas travessuras de meninos de 17anos. Também do acervo do Prof. Marcos da Fonseca Elia.

 

sexta-feira, 12 de abril de 2024

RUA PEDRO AMÉRICO - CATETE

A Rua Pedro Américo, no Catete, tem mais de um quilômetro de extensão, do qual conheço apenas um pequeno trecho. A rua termina pouco após a Rua Francisca de Andrade, tendo uma ladeira na sua parte final. Havia mansões magníficas no fim da rua, mas tudo se perdeu.

Teve os nomes de Rua da Pedreira da Glória e Rua de Cantagalo. Foi aberta em 1810 através da chácara de Bernardo José de Sousa Castro, junto às terras de José Maria Velho da Silva e Salvador Alves Correia Quintanilha.

Inicialmente conhecida como Rua da Pedreira da Glória, pela existência de uma pedreira no local.

A antiga denominação de Rua do Cantagalo provém do fato de ela terminar no Morro do Cantagalo (não confundir com o homônimo de Copacabana/Ipanema).

Nesta fotografia de 2005, de autoria de Mme. Frusca, antiga comentarista do "SDR", vemos o nº 1 da Rua Pedro Américo, onde se localiza a 9ª DP.

Segundo ela, este prédio foi construído especificamente para abrigar a 1ª DP do Rio de Janeiro. Foi projeto do arquiteto Heitor de Melo e foi inaugurado em 1908, na gestão do Presidente Afonso Pena. Fazia referência ao estilo Francisco I, caracterizado pelas porções de alvenaria aparente em contraste com a decoração em argamass. O aspecto maciço do térreo e as pequenas vigas cilíndricas com seteiras aludem à arquitetura militar. 

Isto se deu porque em 1906 a Prefeitura do Distrito Federal deu início a um amplo programa de modernização e melhoria da imagem da força policial do Rio.

Segundo a Mme. Frusca, o relógio visto na fachada tocava um trecho de "Jesus, Alegria dos Homens", de hora em hora. 

Aspecto do início da Rua Pedro Américo no ano de 1972.


Nesta foto de Malta, de 1933, vemos a Rua Pedro Américo. O casarão foi demolido, provavelmente, no final dos anos 50, início dos aos 60. 

Foto da esquina das ruas do Catete e Pedro Américo, anterior à construção da Delegacia Policial.


Foto de Malta, de 1906, da esquina das ruas Pedro Américo e Bento Lisboa, com a pedreira lá no fundo.


A Rua Pedro Américo era local de passagem de algumas linhas de bonde, como o "Água Férreas" e o "Laranjeiras".


Nesta foto, à esquerda, vemos a tabuleta do "Hotel Pedro Américo", que fica no nº 173. 

quarta-feira, 10 de abril de 2024

NAVIOS NO RIO

Houve uma época em que o transporte transatlântico de passageiros era feito, principalmente, por grandes navios.


Na foto vemos meu pai a bordo do "Anna C", em viagem de lua-de-mel para a Europa. O "Anna C" foi lançado ao mar em 1948 e foi um dos famosos navios da "Linea C".


Em 1968, quando a Rainha Elizabeth visitou o Rio, ficou hospedada no "Britannia", famoso iate inglês.


Acervo Rouen: Estamos em 1973, numa das poucas visitas que o Transatlântico ‘FRANCE’ fez por aqui. 

Na ocasião a imprensa publicava esta sua foto com o Pão de Açúcar ao fundo e noticiava: “Novamente na Guanabara o maior, mais belo e mais veloz navio do mundo." 

Ele era tão grande que teve que ficar ancorado no meio da Baia da Guanabara. 

O "France" teve o inicio de sua construção em 1957, indo ao mar em 1962 e navegando com este nome e bandeira até 1974, quando foi parado por questões econômicas.  


O "Normandie" foi outro navio que fez várias viagens ao Rio. Teve um triste fim, vítima de incêndio em Nova York, durante a 2ª Guerra Mundial, quando estava sendo transformado em navio-hospital.


Foto colorizada pelo Nickolas mostra o "Normandie" no Rio. Seu interior era em art-déco. 

O "S.S. Brazil" foi construído por volta de 1955 pela Moore-McCormack. Entrando em serviço em 1958 sofreu a forte concorrência das viagens aéreas, então se tornando comuns.

Com o declínio das viagens regulares de navio, as embarcações passaram a ser construídas para cruzeiros, atendendo a outros requisitos (mais espaço para entretenimento e menos para transporte, menos velocidade). 

Montei muitos aviões com os "kits" Revell, mas o S.S. Brazil foi o único navio que montei. Ficou bem bonito. Está aqui em casa em lugar tão escondido de Mme. D´, que não o achei hoje...


Vemos o navio português "Príncipe Perfeito", na Praça Mauá. Veio com 987 turistas para visita de dez dias, em agosto de 1965. Foi construído na Inglaterra por volta de 1960 pela "Swan Hunter and Richardson".

Nesta viagem veio a doação, por parte de antigos alunos da Universidade de Lisboa, para a Universidade do Brasil, por conta das comemorações do IV Centenário do Rio. Tratava-se do primeiro retrato oficial de D. João VI.


No dia 6 de junho de 1958, estando o Navio Hidrográfico Sirius atracado no molhe da Ilha Fiscal, o Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira visitou o navio após sua chegada ao País. 

O Presidente Juscelino foi um dos principais responsáveis pela aquisição do Sirius, o primeiro navio de grande porte construído e concebido para a atividade de hidrografia. 

Na despedida, uma curiosidade, o Presidente observa a aeronave orgânica do Navio pousada no convôo e relata ao então Ministro da Marinha, Almirante de Esquadra Alves Câmara: “Almirante, nunca andei de helicóptero”. Então de forma improvisada JK deixa o Sirius de um maneira nada convencional, voando. Já no interior da aeronave o piloto, na época Capitão-Tenente (FN) Carlos Albuquerque e posteriormente promovido ao posto de Almirante de Esquadra na década de 80, quando exerceu o cargo de Comandante Geral do Corpo de Fuzileiros Navais, pergunta para o Presidente: “ Para onde vamos Sr. Presidente?” e o Presidente Juscelino responde: “Vamos sobrevoar o Catete (Palácio do Catete). Tenho que começar a me despedir do Palácio”. Dois anos depois a capital era transferido para Brasília e a sede do poder executivo deixava de ser o Palácio do Catete.

Garimpagem de Antonio Modesto Junior.

OBS: O curioso é que pesquisando sobre o Sirius encontrei no “Correio da Manhã” uma notícia do dia anterior, 05/06/1958, dando conta que na véspera “o helicóptero do navio  hidrográfico Sirius, ao regressar para bordo, perdeu a potência do motor nas proximidades da Ilha Fiscal. Os tripulantes, comandantes Wigando Engelke, Roberto M. Monerat eum sargento da guarnição do navio saíram nadando enquanto o helicóptero mergulhava lentamente. O helicóptero foi recuperado e levado a bordo do Sirius”

Terá sido o mesmo helicóptero que levou o presidente? 

Felizmente tudo correu bem. O presidente recebeu honras militares, foi apresentado aos oficiais que servem na Diretoria de Hidrografia e Navegação, percorreu as dependências do Sirius e sobrevoou a cidade de helicóptero.

O Sirius foi o primeiro navio que a Marinha do Brasil fez construir especialmente para levantamentos hidrográficos. Passaria a constituir junto com outros de sua classe, o Canopus e com outros três menores que estavam em construção no Arsenal de Marinha, o Argus, o Orion e o Taurus, o novo grupo de navios que completariam o levantamento do extenso litoral do Brasil.

O Sirius tinha as seguintes características: deslocamento, 1875 ton; comprimento, 78,70m; boca, 12m; calado 3,70m; velocidade máxima, 15 nós; velocidade de cruzeiro, 11 nós; raio de ação, 8000 milhas; propulsão, 2 motores Diesel de 1350 HP. Dispunha de um helicóptero, três lanchas hidrográficas, uma lancha de desembarque e dois jipes. Estava equipado com agulha giroscópica, radar, loran, ecobatimentos e raydist.

O Sirius teve sua quilha batida em 13/12/1956, foi lançado ao mar em 30/07/1957 e incorporado à Marinha de Guerra em 17/01/1958. Saiu de Tóquio em 8 de fevereiro com destino ao Rio de Janeiro, escalando em Kobe, Honolulu, São Francisco,Acapulco, Balboa, Curaçau, Belém e Recife. Sua guarnição compunha-se de 86 homens.

Outro navio famoso no Rio foi o "San Martin", fotografado por William Nelson Huggins, bisavô do amigo Tumminelli. Encalhou  na Praia de Copacabana, em março de 1918.

No verso da foto está escrito: “San Martin stranded at Rio de Janeiro in a dead calm night, carrying grains to the Allied Armies. Taking with a Graflex at 5 am- about sunrise – f4.5 1/10sec.(W Nelson Huggins – Rio de Janeiro)”

O San Martin era um navio francês que vinha de Buenos Aires e teria como destino final o porto de Sète (Cette na grafia de 1918) no Mediterrâneo. Levava um carregamento de milho para as tropas aliadas. Estávamos em fins da 1ª Guerra. O comandante do navio era o dinamarquês Keneldoin. No fim da madrugada de 18 de março, com mar calmo, o San Martin encalhou em Copacabana a mais ou menos 20 metros da Av. Atlântica. 

Houve na época três hipóteses para o acidente:

O Capitão estava no leme, bêbado, e acabou perdendo o rumo indo parar na praia; o Capitão não conhecia bem a entrada do porto e confundiu as luzes do Morro da Babilônia com as do porto; o Capitão recebera uma quantia de milhares de marcos dos alemães para, propositalmente, encalhar o barco e perder a carga que era destinada aos aliados.

A segunda hipótese é a mais aceita. Mas curiosamente a tia-avó do Tumminelli, Edith Huggins, filha de William Nelson, contava que o pai sempre falava da embriaguez do capitão.

Durante dias o trabalho para a retirada do barco foi contínuo. Os rebocadores da Marinha do Brasil, “Laurindo Pitta”, “Audaz” e “Tenente Claudio”, e mais os rebocadores da Cia. Costeira, “Tito Brito” e “Standart” se revezavam na tentativa de desencalhe do San Martin, mas em vão. 

Decidiram então retirar a carga de milho do navio para deixá-lo mais leve e tentar rebocá-lo na maré alta. A carga foi retirada (não toda. Muito milho ainda ficou nos porões do navio). A autoridade policial era responsável pela segurança dela que era depositada na areia, a pedido do Inspetor alfandegário Vossio Brigido, para salvaguardar os interesses do Fisco. Essa manobra para desencalhar o navio não adiantou nada.

O tempo foi passando, interesses de firmas seguradoras e marítimas em resgatar o navio e seu conteúdo foram se desenrolando e nada foi sendo feito de concreto. Enquanto isso o navio continuava encalhado na praia, o milho já apodrecido ia parar nas areias, levado pelo mar. 

Certa vez a ressaca fortíssima, em maio ou abril, partiu o já fragilizado casco do San Martin fazendo com que o milho apodrecido, que ainda estava em seus porões, se espalhasse nas areias, e que o cheiro que estava relativamente “preso” no navio se espalhasse pelo ar, para desespero dos moradores de Copacabana. 

Aí começava o apelo dos moradores de Copacabana às autoridades. Mas a nossa velha conhecida atitude dos órgãos públicos apareceu: o jogo de empurra. A Saúde Pública dizia nada poder fazer porque o navio estava sob a responsabilidade do Ministério da Marinha, que por sua vez nada podia fazer a respeito… e o fedor aumentava a cada dia.

A “Revista da Semana”, aproveitou em uma de suas edições para provocar a Cia. City Improvements (que era responsável pela coleta de esgoto do Rio). Com a grafia original:

“Está de pêsames a City Improvements. A cintura de ouro do campeonato de mao cheiro, que lhe pertencia indisputadamente, há muitos annos, foi-lhe arrebatada pelo veleiro San Martin (…) cuja carga apodrecida ao contato da água do mar espalha pela Av. Atlântica um cheiro nauseabundo. (…) A poderosa empresa ingleza considerava-se a monopolisadora do fedor no Rio. Ella, só ella, poderia espalhar pela cidade cheiros pestilenciaes. A concorrência que está lhe fazendo o San Martin, é, além do mais, illegal. Esse navio á vella não tem o direito de empestar a cidade. Esse direito cabe, legalmente, á City Improvements (…).”

E assim o tempo foi passando, o navio cada dia mais destruído pelo mar, pondo em risco os banhistas com seus destroços presos na areia e os que se soltavam do navio, como vigias, pedaços de madeira, etc. O jornal “A Noite” foi categórico em uma matéria que em certa passagem dizia assim: “Houve alvoroço, mas logo foi cercado da benevolência infinita de nossas autoridades públicas. Simularam inquéritos, procedimentos judiciaes (grafia da época), etc., e, dentro em pouco tudo jazia no esquecimento. Ninguém mais se lembrava da “esbórnia” do San Martin.”. 

Em 1919, o que restou do navio seria dinamitado. Era a única solução. Mas pelo visto não foi… Os destroços do San Martin permaneceram na arrebentação por muitos anos. Em fins dos anos 60 a tão sonhada dinamitação do San Martin aconteceu. Durante os estudos de levantamento topográfico para a duplicação da Atlântica e a implantação do Interceptor Oceânico (sob o atual canteiro central), verificou-se que o que restou do San Martin estava bem no caminho do Interceptor. E assim um dia ele foi dinamitado. Certamente pedaços do que restou desta explosão estão hoje sob o canteiro central da Av. Atlântica.

Nunca ninguém foi responsabilizado pelo ocorrido. Nem o capitão, nem a empresa dona do San Martin, como também nunca foi conclusiva qualquer uma das três hipóteses do acidente.