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quinta-feira, 26 de outubro de 2023

LAGOA - PIRAQUÊ - SEDE ESPORTIVA DO CLUBE NAVAL


Nesta pequena ilha, na Lagoa Rodrigo de Freitas, vista em postal da coleção do Klerman W. Lopes, instalou-se em 1940 a sede esportiva do Clube Naval, que foi fundado em 12 de abril de 1884, pelo então Capitão-de-Fragata Luiz Philippe de Saldanha da Gama, o qual viria a ser o vulto de estatura nacional que todos conhecem. Ao longo da sua História, o Clube Naval foi parte ativa em relevantes episódios, tanto do ocaso do Império como em muitos outros ocorridos na época da República.

A Sede Social, dependência mais antiga do Clube, funcionou em diversos pontos no Centro do Rio de Janeiro, antes de ser instalada definitivamente na esquina da Avenida Rio Branco com Avenida Almirante Barroso, em prédio erigido especialmente com tal finalidade.

Foi inaugurada no ano de 1910, e compõe, juntamente com o Teatro Municipal, o Museu Nacional de Belas Artes e a Biblioteca Nacional, o principal núcleo cultural da cidade.

Nos anos de 1940 e 1983, foram inauguradas, respectivamente, as Sedes Esportiva (Piraquê), na Lagoa Rodrigo de Freitas,  e Náutica, no bairro de Charitas, na simpática vizinha cidade de Niterói.

Foi o prefeito Carlos Sampaio que, em 1921, realizou o projeto do engenheiro Saturnino de Brito, abrindo os canais do Jardim de Alah e da Avenida Visconde de Albuquerque, permitindo a troca de águas entre o mar e a lagoa. A areia retirada para a construção deu origem às ilhas Caiçaras e Piraquê.


A Seção Esportiva do Clube Naval foi criada em 1936 e em 1937 foram eleitos os seus primeiros dirigentes: Presidente Joaquim Novais Castelo Branco, Secretário Benvindo Taques Horta e Tesoureiro Levy Araujo de Paiva Meira.

Em 1937, o presidente encaminhou um Memorial ao Presidente da República: “Accentuando-se cada vez mais a necessidade de prover a Marinha de Guerra do Brasil de um centro de cultura physica e sports (…) e após longo trabalho na escolha do local, foi ventilada a ideia de ser aproveitada a ilha existente na Lagôa Rodrigo de Freitas, conhecida com o nome de “Piraquê”. Este local offerece a grande vantagem de poder reunir as installações dos sports terrestres e nauticos.”

Observem o tamanho da ilha de Piraquê na época.

Foto de Malta.


Em 1938 foi concedido ao Clube Naval o aforamento da Ilha do Piraquê. A adaptação dessa ilha viria concorrer de modo indiscutível para incentivar o esporte náutico na Lagoa. O terreno, junto à embocadura do Rio dos Macacos, já nesta ocasião tinha sido aumentado com um aterro.

As obras foram orçadas em cerca de 1.200 contos de réis. Foram eleitos para o bienio 1939-41 o Presidente Joaquim Novais Castelo Branco, o Secretário Francisco Vicente Bulcão Vianna e o Tesoureiro Adalberto de Barros Nunes.

Já vemos a ponte que hoje é a entrada social do Piraquê.

Foto do ano de 1940, da Aviação Naval.

O “Jornal do Brasil” de 07/07/1940 noticiou a visita do Presidente Vargas à “Ilha de Piraquê”:

“O Clube Naval, com o auxílio do Governo Federal, construiu, na Ilha de Piraquê, as suas dependências esportivas, com magníficas praças de esportes, de todos os gêneros. Como se sabe, esse local, à margem da Lagoa Rodrigo de Freitas, possui um notável panorama. O Clube pretende realizar, ali, uma série de campeoatos esportivos, corridas de lanchas, etc.

A sede do clube apresentava um grande movimento, vendo-se nas dependências figuras do maior destaque social.

Quando Sua Excelência ali chegou foi alvo de grande manifestação de todos os sócios e suas famílias. Depois de percorrer as instalações do clube, o Presidente Getulio Vargas, ao som do Hino Nacional, içou, no mastro principal da praça de esportes, o Pavilhão Nacional.

O clube resolveu inaugurar o busto do Sr. Getulio Vargas em reconhecimento aos seus serviços àquela instituição.

O Almirante Alvaro Vasconceos, presidente do Clube Naval, proferiu, nessa ocasião, o seguinte discurso:

“Na sede esportiva do Clube Naval está de novo Vossa Excelência em contato com a oficialidade da Marinha de Guerra; aqui, entretanto, sem as restrições que o protocolo impõe nas esferas da alta administração e compensada, esperamos, a falta dos atrativos que o ambiente puramente profissional sempre oferece, pelo maior calor com que nos é possível demonstrar a invariável estima com que no seio dela e Vossa Excelência recebido.

(...)

Desejamos que a visita constate que não foi perdido ou sequer mal aplicado o auxílio que o Clube Naval mereceu do preclaro Chefe do Estado Novo para a construção de sua sede esportiva e de educação física.

A instalação da sede não está nem poderia estar completa. Mas podemos mostrar o muito que já foi feito na Ilha que o eminente Prefeito Henrique Dodsworth, cujo nome Vossa Excelência permitirá seja relembrado nesta homenagem concedeu por aforamento ao Clube Naval.

(...)

Estiveram presentes ao ato, entre outros, o Ministro Aristides Guilhem, o Interventor Amaral Peixoto, o Prefeito Henrique Dodsworth, Comandante Angelo Nolasco, assim como outras altas autoridades, civis e militares. Após provas esportivas foi servido um cocktail.”


O Jornal do Brasil, em outra reportagem dos anos 40, conta que “A Ilha de Piraquê é um pequeno trato de terra encravado na Lagoa Rodrigo de Freitas. Antes de sua cessão pela Prefeitura do DF ao Clube Naval, havia ali apenas alguns exemplares de eucaliptos.

Os dirigentes do Clube Naval viram que a ilha se prestaria à instalação de um campo de esportes. Esse projeto se tornou realidade. Ali se pode praticar basketball, volleyball, tennis, etc. Completando há um parque infantil e um cais para o lançamento de embarcações.


Em foto do acervo do Museu Aeroespacial vemos a Lagoa e o Jardim Botânico em 1945. Destaque para a sede esportiva do Clube Naval (Piraquê), já bem maior do que era quando da inauguração cinco anos antes.

Bem no meio da foto, lá no fundo, há o mastro da bandeira na borda da Lagoa. Este mastro  existe até hoje e fica antes da piscina semiolímpica e quem conhece o clube sabe quanto mais ainda há hoje em dia por trás dele, tais como instalações da outra piscina e um campo oficial de futebol, fora os outros aterros laterais, que comportam instalações como um ginásio poliesportivo e um local para churrascos.

O "logo" na asa esquerda do avião indica que ele pertenceria ao grupo de aviação do Exército, da antiga Base dos Afonsos e não da Aviação Naval , com base no Galeão, unificadas em 1941 com a criação do Ministério da Aeronáutica.

Aterros mais radicais ocorreram na década de 60, com aproveitamento de material retirado para a abertura do Túnel Rebouças e facilitados pelo regime da época. 


Esta foto mostra algo inconcebível aos olhos de hoje. Vemos as dependências do Piraquê, na Lagoa, na década de 50. Podemos notar que a piscina acabava praticamente às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas e tinha um escorrega que, tempos depois, foi demolido.  Muita coisa foi construída após esta piscina, em sucessivos aterros.

Além de comportadíssimos trajes de banho, vemos uma brincadeira para crianças, totalmente incorreta por culpa dos adultos, que consistia em ver quem conseguia agarrar um pato jogado dentro da piscina. O pato devia ficar estressadíssimo e provavelmente devia contaminar a piscina que teria que ser interditada para limpeza...


Esta foto, provavelmente da revista Manchete, mostra a igreja de São José em frente ao Hospital da Lagoa, muitas casas em frente à ilha do Piraquê e as obras para a construção da "Belém-Brasília", trecho da Av. Borges de Medeiros entre o Caiçaras e o Piraquê. 


A foto de alguns anos atrás mostra o tanto que a ilha foi aterrada. Vários pavilhões construídos, um campo de futebol gramado em terreno conquistado à Lagoa, o "novo" ginásio depois das quadras de tênis (são seis),  uma quadra poliesportiva, à direita, com telhado mais elevado, um cinema para centenas de espectadores, restaurantes, terraços, boate, ginásio, até um colégio, de no Popeye, para crianças pequenas.

O clube é muito bem administrado, tem cerca de 3000 sócios civis que pagam uma mensalidade em torno de 700 reais, e muitos sócios militares da Marinha que pagam uma taxa mensal de valor muito menor.

Definitivamente é uma ilha de tranquilidade às margens da Lagoa. Muitos funcionários bem treinados, professores qualificados em variadas modalidades esportivas. Apenas um pouco cheio demais nos finais de semana.

A seguir algumas fotos feitas no interior do clube.


Um dos jardins, a banca de jornal, a lojinha de material esportivo.


A fundo a ponte da entrada social. Há outra ponte de serviço.


Alameda central com o pavilhão administrativo. À direita, fora da foto, o pavilhão feminino. Ao fundo fica o mastro e a piscina semi-olímpica.


À esquerda o pavilhão do salão nobre, do restaurante, do bar panorâmico no 2º andar. Ao centro fica a piscina. À direita, o pavilhão do bar da piscina e da gerência e o antig ginásio. Mais à direita ainda, fora da foto, a escola Popeye, o pavilhão masculino, a sauna.


Vista a partir da alameda principal. À direita o já mencionado pavilhão masculino e uma série de espaços como a sala da TV, o salão da sinuca, do jogo de cartas, etc. Bem lá no fundo fica o grande ginásio do clube.


O simpaticíssimo espaço do bar do tênis, que se estende à direita, junto a uma das quadras. 

À esquerda, gradeado, o espaço da escola Popeye. Depois um campinho de futebol para a garotada. Ao fundo e à direita fica o ginásio "novo". À esquerda o campo de futebol.

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A piscina semi-olímpica com seis raias. Dois sócios podem dividir uma raia para natação. O espaço da raia é suficiente.


Outra vista da piscina, com o restaurante à esquerda e  o bar da piscina à direita.


O mastro. Inicialmente era o final do clube como podemos ver nas primeiras fotos. Hoje deve estar mais ou menos no meio do clube, ou seja, aterros duplicaram o terreno.



A lua vista desde o bar panorâmico do Piraquê. Foto de meu amigo MLC.

domingo, 22 de outubro de 2023

CULTURA INGLESA NO RIO


Em 1934, com o apoio da Embaixada Britânica no Brasil, nascia oficialmente no Rio de Janeiro a Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa, que tinha no seu esboço de projeto a missão de “difusão no país, da língua e das manifestações de pensamento, ciências e artes inglesas e, por igual, no Império Britânico, do que concerne ao nosso idioma e o que se tem feito nas letras, ciências e artes no Brasil.”


O “Correio da Manhã”, em 1934, noticiava a chegada do “publicista inglez Sr. Philip Guedalla, director do Instituto Ibero-Americano da Grã-Bretanha e nome muito em destaque nos meios intellectuaes da Inglaterra”.

“Durante sua permanencia nesta capital, será inaugurada a Sociedade Brasileira de Cultura Ingleza, recentemente fundada e que tem por finalidade a aproximação cultural anglo-brasileira.”

Entre outras altas personalidades presentes na SBCI quando desta palestra estava meu tio James Darcy, cuja casa já foi objeto de várias postagens no “Saudades do Rio”.

Inaugurada em 18/8/1934, com sede no Edifício Odeon, salas 303 e 304, no Centro, em 1936 mudou-se para instalações maiores no Edifício Nilomex, na Av. Nilo Peçanha nº 155, salas 301 a 306. Em 1939 mudou-se para Av. Graça Aranha nº 39 (numeração antiga), no Edifício Montepio.

Eram frequentes as palestras e muitas personalidades inglesas foram recebidas no Rio, entre elas o escritor Compton Mackenzie. Conforme já nos contou o saudoso General Miranda: “O conhecido critico britannico, que ficou hospedado na minha casa à Rua Sorocaba nº 90, pretendia realizar duas conferencias na Cultura Ingleza, mas tendo adoecido, felizmente sem gravidade, resolveu partir para Southampton a bordo do “Arlanza”, impedindo nosso mundo intelectual de ouvir a palavra do autor de “Sinister Street”.”

No ano seguinte, 1935, o Gal. Miranda hospedou Lord Salvesen, membro do Supremo Tribunal de Justiça e membro da Camara dos Lords, que aqui chegou a bordo do “Highland Princess”, procedente de Londres e que proferiu a palestra “Pontos de contacto entre as leis da Escossia e o Codigo Brasileiro”, no salão nobre do Itamaraty.


Aos poucos foi abrindo novas filiais pelos bairros, tendo chegado em Copacabana os anos 40, quando abriu uma filial na Rua Sá Ferreira nº 128, em Copacabana. Esta filial de Copacabana, em 1951, mudou-se para uma casa na Av. Atlântica.


A Cultura Inglesa de Copacabana, patrocinou diversos espetáculos no Cassino Copacabana, como o da companhia de teatro de Edward Stirling. Além dos cursos de inglês, a Cultura Inglesa promovia frequentes eventos culturais e sociais, com palestras, debates, apresentações de teatro, música e cinema. Criou e fez sucesso o Rio Coral Group, organizado pela SBCI.


No ano de 1951 a filial Copacabana mudou-se para a casa da foto acima, à Av. Atlântica nº 4228, no Posto 6. Era um terreno imenso, indo da Av. Atlântica até a Av. N. S. de Copacabana. Típica construção da segunda geração de casas do bairro. Foi abaixo junto com o Cassino Atlântico/TV Rio para a construção do Hotel Rio Palace, depois Hotel Sofitel e hoje Hotel Fairmont. Em troca do terreno a Cultura Inglesa recebeu um edifício construído especificamente para ela na Rua Raul Pompéia, no início dos anos 70. 

OBS: não sei se este edifício é onde funciona atualmente a unidade Dorival Caymmi, na Raul Pompeia nº 231.


Esta foto, montada pelo prezado Maximiliano Zierer, mostra um panorama da orla do Posto 6, em Copacabana, em 1936. Trata-se de uma montagem de duas fotos separadas, as quais foram publicadas em “Brasil Revista nº 3, 1936. Podemos apreciar a predominância de casas e poucos edifícios na Av. Atlântica desde a esquina com a Rua Francisco Otaviano, passando pela Joaquim Nabuco, Rainha Elizabeth até a Rua Júlio de Castilhos.

Assim, vemos à esquerda o Cassino Atlântico na esquina com a Rua Francisco Otaviano e, a seu lado e assinalada pela seta vermelha, a casa onde se instalaria a Cultura Inglesa em 1951. Não sei se o Zierer sabe de quem era a casa que foi vendida à Cultura Inglesa.

A última casa da orla no canto direito da foto ficava localizada na esquina com a Rua Júlio de Castilhos. O Hotel Riviera, na esquina da Rainha Elisabeth, já estava de pé e o Pavão-Pavãozinho era apenas um morro coberto de vegetação.


Esta foto da casa da Cultura Inglesa no Posto 6 é do começo dos anos 70. Foi enviada por minha amiga Mrs. Willemsens, que foi diretora-geral durante algum tempo. O carro grande é um já veterano Bel Air 53. Onde estaria o sorveteiro da  carrocinha da Kibon?


Esta foto, do AGCRJ, tem legenda da dupla M. Zierer/obiscoitomolhado: “O casarão geminado ficava no quarteirão entre as ruas Francisco Otaviano e Joaquim Nabuco, no Posto 6. Ali funcionou a partir dos anos 50 a sede da Cultura Inglesa. Foi demolido no início dos anos 70 junto com seu vizinho, o prédio art-déco da TV Rio, antigo Cassino Atlântico. 

Finalmente, o crème de la crème. Não, não é o Jipinho Willys, claro que não! É o fulgurante Mercury Monterey Sun Valley, de 1954. O Monterey apareceu como resposta aos primeiros hardtops da GM, mas esse Sun Valley botou vários corpos de vantagem, com seu meio-teto em plexyglass esverdeado. Só Ford e Mercury ofereciam esse aparato lunar-solar, outro espetáculo!”

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NOTA: A PARTIR DESTA DATA O “SAUDADES DO RIO” DEIXA DE SER DIÁRIO.