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sábado, 6 de novembro de 2021

ITAJUBÁ HOTEL

O “Saudades do Rio” constantemente é acionado por pesquisadores e temos o maior prazer em ajudá-los no que for possível. Por exemplo, o tema de hoje foi solicitado pelo J.P.B.Lopes. Esta semana recebemos também pedido de A. Assumpção sobre foto de Hans Mann. Outro dia do P. Tinoco sobre a sede do Flamengo, M. Groot sobre os aeroportos do Rio, L. Viola sobre o posto de gasolina da Catacumba, E. Mello sobre os pracinhas, A. Aram sobre bondes e por aí vai.

Para atender ao Lopes me valho de fotos do prezadíssimo Rouen, no seu “Arqueologia do Rio”.

Em 01 de junho de 1928 foi inaugurado o Itajubá Hotel, na Rua Alvaro Alvim 13/27, Bairro Serrador. O “Bairro Serrador” foi ideia de Francisco Serrador que, no local do Convento da Ajuda, construiu, naqueles terrenos baldios, o que é hoje a Cinelandia.

Assim escreveu o “Correio da Manhã”, no dia da inauguração do Itajubá Hotel: “A obra tendente a transformar o Rio de Janeiro num centro de turismo, aproveitando-se para isso as admiráveis condições de nossa cidade, banhada por uma baía maravilhosa e com aspectos naturais de um pitoresco inédito e deslumbrante, está tendo o concurso espontâneo dos capitais particulares. Tem salões magníficos, 200 quartos, sala de banho, salões para festas, salas ricamente decoradas e mobiliadas para banquetes e para jantar, instalações magníficas de cozinha e de copa, bar, barbeiro, etc.”

O Itajubá Hotel mantinha uma famosa orquestra que acompanhava cantores como Francisco Alves, Sylvio Salema, Demetrio Ribeiro Sobrinho, Esmeraldino Reis.

Recebia figuras notáveis da política, dos esportes e das artes e, segundo o Menezes, muitos cearenses que vinham ao Rio (junto com os hotéis OK e o Ambassador). No final da década de 20 do século passado o campeão italiano, Bologna Football Club, ficou hospedado neste hotel antes da partida contra o “scratch” carioca. O “Correio da Manhã” dá conta de que os fascistas do Rio adquiriram grande quantidade de ingressos para o jogo nas Laranjeiras, em 25/07/1929. Pelos italianos os destaques eram Della Valle, Baldi, Genovesi, Pitto, Schiafo, Banchero, Magnozzi e Gasperi. Entre os cariocas tínhamos Joel, Pennaforte, Floriano, Rinner, Nilo, Waldemar, Fausto, Paschoal, Arthur. Pouco tempo depois também se hospedaram neste hotel os jogadores do F.C. Torino para jogo em São Januário.

Uma etiqueta de mala do Itajubá Hotel.


Se compararmos este cartão atual do Itajubá Hotel com o da primeira foto podemos verificar que naquela o desenho do hotel está espelhado.


No blogspot literaturaeriodenaeiro encontrei esta foto: o Edifício Itajubá, com doze pavimentos, atrás da carreira de prédios da Cinelândia, em foto da revista “O Cruzeiro”, de 1928. Na época o mais alto do grupo de arranha-céus do “Bairro Serrador.”



Não percam o "Restaurant á Carta" e a "Orchestra ás Refeições". Certamente encontrarão o Professor Pintáfona por lá.

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

PELA VISCONDE DE PIRAJÁ

Vemos a Rua Visconde de Pirajá, entre Farme de Amoedo e Teixeira de Melo, em frente ao nº 135. A Visconde de Pirajá era mão-dupla quando os ônibus elétricos forma implantados. Quando foi passada para mão única, não houve jeito rápido de transferi-los para a Prudente de Morais. Acho que, depois de algum tempo, só ficou na contramão a linha que pegava a Farme de Amoedo, dobrava na Alberto de Campos, pegava a Montenegro e ia para a Lagoa.

Os ônibus elétricos foram um dos maiores desperdícios que a cidade já viu. O sistema começou a ser desligado menos de cinco anos após sua implantação. Chique era a marca deles: “Alfa Romeo”. Importados da Itália.

Neste trecho, entre as ruas Teixeira de Melo e Farme de Amoedo havia uma profusão de agências bancárias, hoje desaparecidas: do Banco Nacional, do Bamerindus e do Banco Real todas no nº 174, do Unibanco no nº 151 e do Banco Boavista no nº 142.


Nesta foto do Arquivo Nacional vemos a Rua Visconde de Pirajá na altura do número 22, bem pertinho da "La Veronese", que resiste até hoje em Ipanema (está no nº 29 desde 1956, vendendo massas frescas). Ali na calçada, saindo de casa, meu bom amigo Walter Chagas. A fotografia é de meados da década de 60, quando trafegavam os ônibus elétricos e na Visconde de Pirajá havia mão-dupla para eles, no estilo "mata-paulista". Provavelmente este ônibus é o da linha 16, Largo do Machado-Ipanema, via Copacabana. A torre que se vê à direita talvez seja a do prédio do Cinema Ipanema, na Praça General Osório. O motorista do carro em primeiro plano parece que vai atropelar o fotógrafo.

Mais uma foto do início dos anos 70 do acervo do F. Patrício, hoje mostrando o cruzamento da Rua Joana Angélica com a Rua Visconde de Pirajá, em Ipanema, na altura da Praça N.S. da Paz. Vemos um Karman-Ghia cruzando a Visconde, um táxi “Zé do Caixão”, três Fuscas, um Opala e dois ônibus da Ciferal. As linhas de ônibus que aparecem na foto: a 403, indo para o Rio Comprido, e a 571, circular da zona sul.

Na quadra seguinte, à esquerda, além da Igreja de N.S. da Paz, cujo vigário na época era o legendário Frei Leovegildo Balestieri, grande empreendedor, ajudado pela beata D. Itália (aquela que distribuía rosas na saída da missa no “dia das mães”, mas apenas para as que portavam alianças de casada). Nesta época iniciava carreira nesta igreja o Frei Clemente, que se tornou famoso pela “missa dos jovens” que era realizada no Colégio Notre Dame, aí perto, no final da tarde dos sábados.

A igreja foi construída a partir de 1918, em homenagem à paz depois da 1ª Guerra Mundial. Foi erguida com o dinheiro da indenização pago pela desapropriação da antiga Igrejinha de Copacabana. Foi projetada por Gastão Bahiana, numa releitura do estilo neobizantino. Tornou-se a matriz da paróquia de Ipanema em 1920. Depois da Igreja vê-se o prédio onde funcionou o Colégio São Francisco de Assis e o prédio do Cinema Pax. Frei Leovegildo Balestieri, que instalou ar-condicionado para conforto dos fiéis ("quem gosta de calor é o Diabo no inferno!"), criou ao lado da Igreja a Obra Assistencial Casa Nossa Senhora da Paz, com serviços médico-assistenciais para a população carente. Dando vazão a seu lado empresarial, montou uma pequena indústria de azulejos no subúrbio, ganhou o controle do guarda-volumes na Central do Brasil e construiu o Center Hotel no Centro da Cidade. Em 1952 já havia inaugurado o Cinema Pax e, anos depois, abriu um rinque de patinação (o Gelorama), um boliche e um teatro de arena, tudo para arrecadar fundos para a Igreja. Também ali funcionou nas décadas de 50 e 60 a Academia Rudolf Hermanny e do Eitel Seixas. Chegou a ser sócio do Canecão. Exagerando, imaginou demolir a Igreja para a construção de um "shopping", onde ao lado de butiques e lanchonetes, haveria uma capela. Uma violenta campanha d´O Pasquim sustou a idéia e a Igreja está lá até hoje. Entretanto, "nosso" frei foi incluído naquele mural do Ziraldo no Canecão.

O Cine Pax, bonito prédio "art-déco", com suas colunas no alto da escadaria, foi inaugurado em 30/10/1952 e funcionou até 1977, quando foi substituído pelo Novo Pax, que foi demolido em 1979 e em seu lugar surgiu o “Forum de Ipanema”, um "shopping" luxuoso, nas galerias de um arranha-céu. O Pax tinha 926 lugares. Mais adiante, quase na esquina da Maria Quitéria, funcionou o cinema Roma-Bruni a partir de 1971, depois Bruni-Ipanema e, finalmente,  Star-Ipanema. Na esquina propriamente dita da Maria Quitéria há uma loja de sucos e, ao lado, havia a Imperial Flores que resistiu bravamente por décadas até que virou Sorveteria Itália.

Na quadra seguinte, à direita, fica a Praça N.S. da Paz. Esta praça foi aberta em 1894 pelo Barão de Ipanema e já se chamou Praça Coronel Valadares e Praça Souza Ferreira. Hoje, remodelada após as obras para a construção da estação do Metrô, voltou, gradeada, a ser utilizada pelos ipanemenses. E uma lâmpada THOMPSON ainda iluminava a Visconde.


Esta fotografia do Arquivo Nacional mostra a esquina das ruas Visconde de Pirajá e Garcia D´Ávila. É impressionante como pouco mudou em termos de prédios nos últimos 30-40 anos. Além do fato de ainda não termos sinal neste cruzamento (eram raros em Ipanema até a década de 70), o mobiliário urbano, com o Rio Cidade, mudou bastante. 

O trânsito era bastante tranquilo naquela época e a Padaria Eldorado, logo após aquele toldo, no nº 477 era a melhor de Ipanema. Nas imediações ficava a famosa Sorveteria Morais, que tanto sucesso fez em Ipanema. 

A Garcia D´Ávila, principalmente entre a Barão da Torre e a Visconde de Pirajá se sofisticou, com várias lojas chiques, inclusive uma concentração de joalheiros. A Rua Garcia d´Ávila, segundo P. Berger, era a antiga Rua Pedro Silva. Teve o nome alterado em 09.11.1922 pelo decreto 1816. Por volta de 1894, o 2º Barão de Ipanema, José Antonio Moreira Filho, fez um loteamento em Ipanema, cujos terrenos eram vendidos pelo Coronel José Silva. Este último deu o nome de seus filhos a várias ruas do novo bairro, daí a origem da Rua Pedro Silva.

A destacar na esquina do lado ímpar a loja do Bob´s de Ipanema, uma das primeiras desta rede de lanchonetes. No nº 451, onde hoje há uma grande agência do Itaú, funcionou com enorme sucesso a Churrascaria Carreta que servia uma carne maravilhosa, tendo rodízio apenas de maminhas. E não vinham em espetos, mas já cortadas em fatias bem finas, numa bandeja de metal, duas ou três fatias de cada vez. Além da linguiça de entrada, faziam sucesso o espeto misto (que já vinha servido da cozinha, com filé mignon, galinha e porco) e o "T-bone". O destaque era o molho vinagrete, que não existia melhor. Entrava-se na Carreta por um corredor onde havia as jóias expostas na vitrine da Doarel. Cumprimentava-se os maitres Teixeirinha e seu fiel escudeiro Márcio. Depois disso, saborear uma maminha mal-passada, com uma farofa só de ovos, servida pelo Pepe, pelo Mão Branca ou pelo Zé Paraíba. De sobremesa, uma fatia de torta com creme.


quinta-feira, 4 de novembro de 2021

BONDE 13 - IPANEMA

Recordamos hoje o bonde 13, linha Ipanema, que sempre vi com reboque. Era o que eu usava para ir de Copacabana até Ipanema. Seu itinerário era Tabuleiro da Baiana - Senador Dantas - Luís de Vasconcelos - Augusto Severo - Largo da Glória - Catete – Marquês de Abrantes - Praia de Botafogo - Rua da Passagem - General Goes Monteiro - Lauro Sodré - Túnel Novo - Prado Jr. - N. S. de Copacabana - Francisco Sá - Gomes Carneiro – Visconde de Pirajá (até o Bar 20, onde havia um rodo). 

Eu gostava de ir no reboque, pegando o bonde no ponto em frente à Spaghetilandia, restaurante entre as ruas Dias da Rocha e Raimundo Correa. Ía na contra-mão pela Av. N. S. de Copacabana, Francisco Sá e Visconde de Pirajá. Quando ia assistir a algum filme no cinema Astória, passava em Ipanema pelos cinemas Ipanema, Pirajá e Pax. A Visconde tinha poucas árvores e calçamento com paralelepípedos.

Outra ocasião em que pegava o 13 era para ir até ao Tabuleiro da Baiana durante o carnaval. Não faltava um frasco de lança-perfume para atingir os passageiros de algum outro bonde que vinha em sentido contrário. Brincadeira inocente para as crianças.

A maioria das fotos de hoje são do acervo do Helio Ribeiro. Este é um fotograma de um filme de Jean Manzon. O apinhado bonde 13 está na Rua General Goes Monteiro e as casas ao fundo eram da Santa Casa. Foram demolidas para a construção de um posto de gasolina, acho que do Touring. Segundo o Helio, com mais de 1200 bondes circulando diariamente pela cidade, eram poucos os acidentes graves com passageiros nos estribos. Mais comum era um novato sair catando cavaco após saltar do bonde andando. Era comum o "Olha à direita!" gritado pelo condutor quando o bonde ia passar tirando "fino" de algum obstáculo.

Esta foto foi publicada recentemente. Conforme comentou o Joel Almeida, nesta foto de 28/02/1963, vemos o bonde 13 circulando na Rua General Polidoro. Este trajeto alternativo foi adotado quando da implantação dos ônibus elétricos para Copacabana que circulariam pelo Túnel Novo. A linha 13 seria desativada no dia seguinte.

Pois foi no dia 01 de março de 1963, quando estava prevista a extinção da linha de bonde 13, Ipanema, que a turma frequentadora do Bar Zeppelin resolveu fazer a “despedida” do bonde. O 13 trafegava por todo o bairro, indo até quase a fronteira com o Leblon, o Bar 20, vindo desde o Tabuleiro da Baiana.

Vemos o bonde 13 nesta sua última viagem, parado na frente ao Zepellin por membros da Sociedade dos Amigos do Bonde Ipanema, criada no Bar Zeppelin. Faziam parte deste grupo Millor Fernandes, Paulo Mendes Campos, Aracy de Almeida, Lucio Rangel, Otelo Caçador, Luiz Reis (o Cabeleira), Haroldo Barbosa (o Pangaré), Flávio de Aquino, Edelweiss, Liliane, Willy Kelleer e outros.

Pouco depois das 22 horas lá vinha o bonde, balançando pela Rua Visconde de Pirajá quando a viagem foi interrompida e o motorneiro Argemiro Cardoso dos Santos foi convidado para um chope. Veio um fiscal da Light, mas foi subornado com uísque e chope gelado e acabou aderindo à bagunça.

Como o número de ordem do bonde era 1908, o pessoal aproveitou e jogou o número no bicho e deu 908 na cabeça, grupo da águia, belo símbolo para uma lembrança eterna, que ficará sobrevoando o bairro-poesia da Guanabara.

A birra do pessoal da Sociedade dos Amigos do Bonde Ipanema com os novos ônibus elétricos era tanta que fez um memorial:

“Circula chifrudo ônibus elétrico! Mas nenhuma criança de coração puro tomará sua carona, pois levará um bárbaro choque. O Ipanema jamais daria um choque numa criança. E ninguém brincará carnaval no seu estribo, pois nem estribo você tem. E muito menos sensibilidade poética para conduzir uma morena de maiô, com uma rosa na mão, pois gente de maiô é proibida de entrar em você...”

Na foto consegui identificar à direita o Otelo Caçador, de branco a Aracy Almeida, atrás dela o Haroldo Barbosa e de roupa escura, ao lado do fiscal, o Luiz Reis. Seria o Lucio Rangel o de cabeça branca?

Foto encontrada com frequência na Internet, de 1952, com o bonde 13 na Av. N.S. de Copacabana ao lado de um “Camões” e de um Austin A40. Estamos perto do Lido.



 

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

RUA VISCONDE DE PIRAJÁ - ANO DE 1977

Hoje temos um passeio pela Visconde de Pirajá em 1977 com fotos de Piotr Ilowiecki, a quem o “Saudades do Rio” parabeniza pela bela documentação do Rio daquela época.

Nesta foto vemos a esquina da Rua Montenegro com Rua Visconde de Pirajá (lado ímpar) A famosa e saudosa Montenegro teve seu nome alterado para Vinicius de Morais pelo decreto 2694, de 11/07/1980, assinado pelo Prefeito Julio Coutinho. Para o SDR sempre será Montenegro, por motivos afetivos.

Pena que não aparece a loja da esquina, a Casa Futurista, loja de lingerie que sobrevive há décadas naquela esquina. Hoje ao lado há uma loja fechada, que já foi uma agência do banco Santander, o Armazém do Café e a Drogaria Pacheco, uma das muitas farmácias da região.

Vemos a esquina da Rua Montenegro com Rua Visconde de Pirajá (lado par). Na esquina, durante anos, funcionou uma padaria e há uns dois anos abriu uma filial do Superprix. Ao lado deste há uma Drogaria Venancio. Em anos recentes, logo após havia uma loja famosa, a Casa Alberto, que já fechou, e uma delicatessen que tinha uma sensacional "porchetta" aos sábados, que também fechou durante a pandemia.

Já quase na esquina da Joana Angélica vemos o Condomínio Cidade de Ipanema, no nº 330 da Visconde de Pirajá. Tem 3 andares de lojas e depois o edifício tem muitos andares de salas com consultórios médicos e escritórios. Há uns 5 anos um grande incêndio aconteceu em seus andares mais altos.

A foto deve ser dos primeiros anos desta galeria, inaugurada nos anos 70. No térreo desta galeria funcionou por muitos anos a confeitaria The Bakers e atualmente o espaço é ocupado por uma filial da Confeitaria Colombo.


Nesta foto o Piotr está na porta da galeria do Condomínio Cidade de Ipanema com a máquina fotográfica apontada para a esquina da Rua Joana Angélica com a Rua Visconde de Pirajá (lado ímpar). 

Vemos em cada lado da esquina duas construções que têm muitas e muitas décadas de existência. A Padaria Ipanema, que ali está desde a primeira metade do século XX e do outro lado da rua a Igreja de N.S. da Paz, inaugurada nos anos 40 do século passado.

Ao lado do pão razoável e de muitas guloseimas, esta padaria foi onde ocorreu o lamentável episódio da morte de um mendigo há uns anos.

Fora da foto, logo à esquerda da padaria, ficava a famosa confeitaria Chaika.