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sábado, 4 de setembro de 2021

CASAS



 Postagem pelo celular envolve algumas limitações. 

Saudades das casas da minha infância e dos que já se foram. 

A primeira é em Petrópolis numa rua em frente ao Rio Piabanha, bem atrás do Palácio de Cristal. 

A segunda é na Rua Barata Ribeiro, em Copacabana. 

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

O DELEGADO

O Rio tem um grande número de personagens folclóricas, polêmicas ou lendárias. Uma delas aparece hoje por aqui.

A legenda desta fotografia do arquivo da Última Hora é "Delegado Padilha na inspeção do trânsito em 52". O policial, do qual alguns colegas falam muito bem (outros nem tanto), retratando-o como um homem sério e comprometido com o cumprimento da lei, sem medo de enfrentar os poderosos, nesta época tinha sido deslocado para o Serviço de Trânsito. Não ficava trancado no gabinete, mas ia para a rua e tomava as providências necessárias.

Anteriormente o delegado Padilha tinha se notabilizado como defensor dos bons costumes, sendo parte do folclore carioca a história de que prendia os então chamados de "transviados", homens que usavam calças muito justas (usava o "teste da laranja ou do limão").

Na foto, além dos lotações, sendo um deles da conhecida linha "Estrada de Ferro - Leblon", vemos uma praticamente desaparecida motocicleta com "side-car". Atrás do guarda com o antigo uniforme dos guardas de trânsito vemos o jipe do jornal "Última Hora".

Na época da foto o tráfego de veículos era controlado pela Delegacia de Trânsito Público, subordinada à Secretaria de Justiça e Segurança Pública. Ou seja: o trânsito era fiscalizado pela Polícia Civil. Os Detrans foram criados em 1966 por lei federal. Na época da criação do Detran carioca, o Lacerda chamou para trabalhar no novo órgão antigos funcionários da Panair, que havia sido fechada poucos meses antes.

Padilha começou na policia nos anos 40 sendo um policial comum passando por vários distritos. Na década de 50, mais precisamente em 1951 ele foi nomeado para combater a prostituição da cidade. Padilha não era fácil. Ele percorria a cidade de Norte a Sul com sua equipe sendo o terror das prostitutas e também dos casais de namorados. Ele era tão intransigente que foi deposto desse cargo por interferência do Presidente da Republica, pois a imprensa carioca pressionava para isso.

Em 1952, Padilha voltou à ativa quando foi nomeado para chefiar o Serviço Secreto de Trânsito (que nome louco), que havia sido criado por ele e pelo General Ciro, que era Chefe da Polícia. Padilha em seu escritório recebia telefonemas com queixas sobre abusos de motoristas de táxis, carros estacionados em local proibido, contra lotações, etc. Ele anotava tudo mandava prender o motorista e rebocar o carro. Geralmente saia do escritório e percorria pontos de táxi onde prendia, rebocava carros, etc.

Na foto Padilha, de branco, impecável, multa um lotação.


Padilha era tão temido e tão famoso que acabou virando samba de autoria de Moreira da Silva, Bruno Gomes e Ferreira Gomes, chamado “Olha o Padilha!”.

Pra se topar uma encrenca 

basta andar distraído 

que ela um dia aparece

não adianta fazer prece
eu vinha anteontem lá da gafieira
com a minha nêga Cecília
quando gritaram "olha o Padilha!"


Antes que eu me desguiasse,
um tira forte e aborrecido me abotoou
e me disse: "tu és o Nonô, hein!",
mas eu me chamo Francisco
trabalho como um mouro, sou estivador,
posso provar ao senhor...

Nisso um moço de óculos ray-ban
me deu um pescoção,
bati com a cara no chão.
E foi dizendo: "eu só queria saber
quem disse que és trabalhador...
tu é salafra e achacador!
E essa macaca ao teu lado
é uma mina mais forte que o Banco do Brasil,
eu manjo ao longe esse tiziu"
e jogou uma melancia
pela minha calça a dentro
que engasgou no funil...
Eu bambeei e ele sorriu.
Apanhou uma tesoura e o resultado
da operação
é que a calça virou calção.

Na chefatura um barbeiro sorridente
estava à minha espera.
Ele ordenou: "raspa o cabelo dessa fera!".
Não está direito, seu Padilha,
me deixar com o côco raspado
eu já apanhei um resfriado
isso não é brincadeira
pois o meu apelido era Chico Cabeleira..
(Não volto mais na gafieira,
ele quer ver minha caveira...
eu, hein, se eu não me desguio a tempo
o homem me raspa até as axilas!)

No samba, para exagerar, foi trocada a laranja pela melancia...



Notícia do Correio da Manhã de 1952 Edição 18310 (para os que duvidaram da existência do Serviço Secreto de Trânsito...).

quinta-feira, 2 de setembro de 2021

PRAÇA JACARANDÁS - JARDIM BOTÂNICO

Um dos locais mais agradáveis da Zona Sul carioca é o conjunto de ruas que fica no Jardim Botânico, entre a própria Rua Jardim Botânico e o Morro do Corcovado, entre o Parque Lage e o Túnel Rebouças. Quem explorar a região de carro, podendo até entrar pelo Jardim Botânico e sair pelo Humaitá, vai se deparar com ruas tranquilas, com muitas casas e prédios baixos, uma temperatura alguns graus abaixo do resto da cidade e muito verde. É a área que vemos nesta imagem do Google. Vamos ver hoje duas fotos da Praça Jacarandás (ou Praça dos Jacarandás), que fica junto às ruas Araucária e J. Carlos, próximo à Rua Maria Angélica.

 

Esta foto foi enviada pela Ana, antiga comentarista do “Saudades do Rio” no tempo do Terra e pertence à família de seu marido dela. O lugar calmo, com poucos prédios baixos, ainda permitia ver lá ao fundo a Lagoa Rodrigo de Freitas, hoje tapada pelos inúmeros prédios erguidos entre a Rua Jardim Botânico e a Lagoa. Este local foi onde morou a comentarista Beatrice Portinari durante a infância.


A foto é da Praça Jacarandás e foi tirada da varanda do prédio onde os sogros da Ana moravam na Rua Araucária. O local era muito agradável e tranquilo, talvez por não servir de passagem. A praça é pequena. O terreno em primeiro plano (com árvores grandes) está hoje ocupado por um prédio. Esta foto é dos anos 50, mas muita coisa ainda permanece igual na região, principalmente à medida que se afasta da Rua Jardim Botânico e se vai subindo o morro. 


Esta outra imagem do Google mostra a Praça Jacarandás atualmente, minúscula, mas ainda com seu charme.

 

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

IGREJA N. S. DO ROSÁRIO DO LEME

Postal da Coleção Klerman Wanderley Lopes. A Rua Araujo Gondim, homenagem ao Dr. Carlos Cochrane de Araújo Gondim, é uma simpática rua no final do Leme, junto do Morro da Babilônia. Somente em 1951 passou a se chamar Rua General Ribeiro da Costa.

Na época da fotografia, segundo conta Brasil Gerson, quem aí morava era o Vereador Torquato Couto: tinha sua casa, à semelhança de um solar, com estábulo para vacas leiteiras inclusive. Foi nesta rua que foi construída, já no século XX, a Igreja de N. S. do Rosário do Leme.


Foto enviada pela tia Lu, do acervo do Sergio Coimbra, e colorizada pelo Conde di Lido.

Vemos um aspecto de um casamento na Igreja Nossa Senhora do Rosário no Leme. Situada na antiga Rua Araújo Gondim nº 60, atual Rua General Ribeiro da Costa nº 164, a igreja teve a pedra fundamental lançada em 1929. Foi inaugurada em 1939, quando o bairro possuía lindos casarões e palacetes.

A fotografia de familiares e convidados, às portas da igreja, é até hoje tradicional nas cerimônias ali realizadas. A igreja pertence à Ordem dos Dominicanos e tem magníficos vitrais nas laterais. O carro é um La Salle 1940, último ano em que esta marca foi fabricada pela GM.

 

Outra foto do casamento. Notável personalidade desta igreja foi o Frei Marcos de Mendes Farias que, desde a década de 60 até o início deste século, fez um grande trabalho social junto à população do Leme, além de muito ajudar os perseguidos pela ditadura. Tive o prazer de conhecê-lo. Tratava-se de uma pessoa muito inteligente e agradável.

Foto do Jornal Excelsior publicada no blogspot Leme. Dez anos após o lançamento da pedra fundamental, acontecia missa pela conclusão das obras e da torre da Igreja da Virgem do Rosário do Leme. A igreja foi praticamente concluída em 18 de outubro de 1936, mas ainda faltavam a fachada e a torre, concluídas em 1939.


Foto recente do interior da Igreja de N.S. do Rosário (site Carla Flores).

terça-feira, 31 de agosto de 2021

MISTURA FINA

Hoje republicamos duas fotos do desaparecido Rafael Netto, o velho Rafa. Esta primeira, de dezembro de 2005, mostrava como estava o “Mistura Fina”, na Av. Borges de Medeiros nº 3207, quase esquina com Rua Carlos Esmeraldino (que poucos conhecem), na Lagoa.

Apesar de todos os apelos, protestos e "abraços" simbólicos, pouco a pouco as últimas casas e outros terrenos da Lagoa iam dando lugar a mais edifícios. Nesta esquina com tapumes da Av. Borges de Medeiros, entre a Hípica e a sede náutica do Vasco, existia até pouco tempo antes da foto um posto de gasolina. Em breve, mais um edifício seria erguido no local.

Seria apenas mais uma construção na orla da Lagoa se não fosse por seu vizinho famoso, o restaurante e casa de shows “Mistura Fina”, por onde já passaram grandes nomes da música nacional e internacional. Há muito tempo o imóvel do "Mistura Fina" estava na mira das construtoras e sua demolição já fora anunciada várias vezes. Para evitar esta demolição associações de moradores e fãs do jazz chegaram a propor seu tombamento, devido ao valor cultural da casa. Mas a Prefeitura não se sensibilizou.

Nesta casa onde funcionava o “Mistura Fina”, anteriormente moraram Elza Soares e Garrincha e, em outra época, funcionou o restaurante “Les Templiers”, um dos mais chiques e caros da cidade, que também tinha um piano-bar onde se alternavam Luizinho Eça e Eduardo Prates. Chamava-se “O Teclado”.


 

Esta segunda foto feita pelo Rafa, de abril de 2007, confirma o que era previsto há vários anos: chegou ao fim a história do famoso Mistura Fina da Lagoa, palco de referência do jazz e MPB na cidade.

Já em 2005 o posto de gasolina a seu lado havia sido desalojado e dizia-se que a construtora estava aguardando a desapropriação do “Mistura Fina” para então lançar um empreendimento no local. Foi o que acabou acontecendo pouco mais de um ano depois. O “Mistura Fina” fechou definitivamente as portas na Lagoa no início de abril de 2007. De nada adiantou a mobilização de artistas e apreciadores da música que defenderam bastante tempo a permanência do Mistura na Lagoa, contra a especulação imobiliária. 

Vemos que o prédio já está sendo demolido, enquanto o terreno do lado, na esquina, já ostenta o nome do novo prédio, o Lago Maggiore.


Esta foto do “site” da empresa mostra o “Mistura Fina” então em pleno funcionamento. Ficou nesta casa da Lagoa por 15 anos. Tinha também filiais em outros bairros, como Ipanema, Barra e Lapa. O dono era o Pedro Paulo Machado. No primeiro andar havia “jam sessions”, bar e restaurante (com uma ótima feijoada aos sábados). No segundo andar uma sala de “shows” onde grandes artistas se apresentavam como Luizinho Eça, Carlos Lyra, Mauro Senise, Nana Caymmi, Rosa Maria, Ron Carter, Dionne Warwick, Leny Andrade, Wagner Tiso, Ivan Lins, Claudete Soares e tantos outros.

Hoje, no local, há também um prédio de apartamentos.

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

LARGO DE SANTA RITA

Vemos a Igreja de Santa Rita de Cássia, pouco antes das reformas de Pereira Passos. Em estilo barroco jesuítico, com decoração interna em estilo rococó, fica localizada no Largo de Santa Rita, entre a Av. Marechal Floriano e a Rua Teófilo Otoni. As primeiras notícias de uma capela no local datam de 1710, tendo sido feita uma reforma da fachada em 1904 (logo após quase ter sido a igreja posta abaixo quando se alargou a Av. Marechal Floriano).

A imagem de Santa Rita data de 1765. Segundo A. Mauricio, havia na sacristia, cavado na parede, um poço cuja água continha virtudes especiais contra doenças dos olhos. E, também ali ocorreu um fato inusitado: durante muitos anos foi uso enterrarem-se corpos nas igrejas. Um dia morreu um macaco de grande porte, a quem o dono dedicava grande estima. A peso de ouro comprou o sacristão e o sineiro e o animal foi sepultado na igreja. Descoberto o engodo, o povo se revoltou contra o dono do macaco, que teve que fugir. O macaco foi desenterrado e tomou destino conveniente...

A rua ao lado da igreja é a dos Ourives (atual Miguel Couto), a Teófilo Otoni é paralela à Marechal Floriano, atrás da igreja. As torres são da Igreja de São Pedro dos Clérigos, na esquina das ruas dos Ourives e São Pedro,


 O Largo de Santa Rita, antigo sítio do Valverde ou do Vila Verde, foi cemitério de escravos, conhecido pelo nome de “Cemitério dos Pretos Novos”. A foto mostra o Largo de Santa Rita antes do alargamento da Rua Marechal Floriano. Na torre desta igreja há um sino em cuja circunferência se pode ler a seguinte curiosa inscrição: “De Santa Rita fui – De Santa Rita sou – O Sr. Capitão Mor – Me reformou”. O capitão-mor que mandou consertar o sino chamava-se José da Mota Pereira.

 

domingo, 29 de agosto de 2021

RIO-PETRÓPOLIS


Foto garimpada pelo JBAN. Na Rio-Petrópolis vemos um elegante casal em passeio para Petrópolis encaminhando-se para o carro de praça contratado para levá-los à Cidade Imperial, após uma parada no Monumento do Cristo na subida da Serra. O táxi parece ser um Dodge Kingsway 1951. 

Na edição de março de 1938, a "Illustração Brasileira" publicou o seguinte texto:

"RIO-PETROPOLIS é uma rodovia maravilhosa, ligando duas cidades encantadoras. Entre a Capital Federal e o elegante refugio de veraneio, só poderia haver uma estrada, como a Rio-Petropolis. As paisagens são bellissimas. De um lado e do outro, trechos de florestas, despenhadeiros, grotões. águas correntes, casas que se aninham no seio da montanha. Entre uma curva e outra, painéis distantes da Serra dos Órgãos e vagos panoramas longínquos do Rio de Janeiro. E atravez de uma infinita successão de paisagens encantadoras, estende-se a enorme fita de concreto, por onde passam, dia e noite, os automóveis e os pesados caminhões.

 À medida que a estrada avança na subida da montanha, a temperatura vae-se tornando mais pura e fresca. A gente sorve com alivio os ares puros dessas altitudes a que se mistura o balsamico perfume das mattas. E quem apreciar a volúpia do perigo, póde arriscar umas tiradas á Pintacuda, attento aos inspectores de trafego, inimigos profissionaes da velocidade.

A Rio-Petropolis possue encantos com que fascina tanto os espíritos contemplativos, como aquelles para os quaes a acção é tudo."

Conheci a Rio-Petrópolis nos anos 50. A estrada em mão-dupla era bonita, mas se pegasse um caminhão lento ou um ônibus pela frente quase não havia chance de ultrapassagem. Além disso os carros importados sofriam muito para subir a Serra e era frequente ferverem pelo caminho.

A estrada de subida, hoje em mão única, já não dá conta do tráfego de caminhões e carretas. São frequentes os acidentes. As obras de construção da nova pista de subida estão paradas há anos, demonstrando mais um fracasso dos governantes.