Total de visualizações de página

sábado, 21 de agosto de 2021

CASA PERSA

Esta fotografia de Malta nos mostra o prédio da Casa Persa que ocupava os números 103 e 105 da Avenida Central, esquina da Rua do Rosário. Esta curiosa e bela construção foi projetada pelo arquiteto Morales de Los Rios e desapareceu como tantos outras da magnífica Avenida Central. Foi demolida nos anos 50.

O projeto é inspirado na arquitetura Mourisca. Adolfo Morales de Los Rios y Garcia de Pimentel nasceu em Sevílha, na Espanha. A arquitetura daquela região é fortemente calcada na ocupação dos mouros.

Esta fase da Avenida Central deveria ter sido preservada e o Rio moderno deveria ter sido construído no eixo da Presidente Vargas. As demolições após 1945 nessa avenida tendo uma vazia Pres. Vargas foi um dos maiores crimes para a história da cidade. O local, mais conhecido como Café Persa ou Café Mourisco, vendia bebidas, refeições, frutas frescas e artigos para fumo; era frequentado por boêmios, intelectuais, jornalistas e políticos da cidade


O pintor Gustavo Dall´Ara retratou a Casa Persa. O quadro faz parte da coleção de arte de Sergio Fadel.

A propósito destas demolições e da atual proposta de venda do Palácio Capanema é pertinente republicar a mensagem do comentarista “fait divers” escrita há 12 anos, pois parece ter sido escrita hoje:

“Em 19/05/2009, às 18:10:49, fait divers disse:

Destruir, depredar, demolir e denegrir é um hobby nacional. Das construções antigas restam poucas de pé. E das que restam, poucas preservam suas características arquitetônicas originais. Mas não basta destruir as coisas concretas. A destruição prossegue e se espalha pelas coisas imateriais: a compostura, a cultura, a honestidade, a integridade e, agora, não satisfeitos com a obra inacabada, com a própria democracia.”

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

BRENDA LEE NO RIO

Esta foto na Praia de Copacabana, na Av. Atlântica perto da Rua Paula Freitas, mostra a cantora Brenda Lee no Rio de Janeiro, em 1959. A foto é de autoria de Jean Solari, dos Diários Associados.

Ela tinha apenas 14 anos de idade e era chamada de “A garota explosiva”. Fez enorme sucesso cantando a música “Jambalaya”. Na ocasião, perguntaram à moça o que significava a palavra título da música. Ela não sabia. Trata-se de um prato típico de New Orleans, “Creole Jambalaya”, semelhante à paella espanhola, levando frango, linguiça calabresa e camarões.

Cantora da Decca Records, que era representada aqui pela Companhia Brasileira de Discos, teve seu disco lançado no Brasil em 1959 e houve uma história curiosa. Um crítico da “Última Hora” escreveu que havia lido no “The Metronome”, uma revista americana de música, que Brenda Lee não existia e que “Jambalaya” fora gravada por Louis Armstrong, com sua voz sendo alterada para parecer de uma jovem. Pois bem, em 01/09/1959 Brenda Lee desembarcou no Rio e foi recebida inclusive pelo Presidente Juscelino no Palácio do Catete. Brenda Lee chegou acompanhada por sua mãe, Grayce Tarpley e seu empresário Dub Allbritten. A versão do jornalista caiu por terra.

A estada no Rio, ao qual voltou em 1961, incluiu uma visita ao Zoológico para batizar o leão-marinho capturado no Estado do Rio e doado pelo governador Roberto Silveira. Participou do Programa César de Alencar na Rádio Nacional, cantou quatro músicas e se manifestou decepcionada com o veto do Juiz de Menores para cantar no Fred´s.

Brenda Lee ficou muito amiga da cantora Cely Campello e a convidou para cantar nos Estados Unidos. Cely não aceitou.

 


Este LP, que tinha na capa uma foto de Brenda Lee na Praia de Copacabana não foi gravado no Brasil. A Companhia Brasileira de Discos fez esta capa para as músicas de um outro disco chamado “Miss Brenda Lee", onde ela cantava com The Anita Kerr Singers.

 As músicas eram: 

LADO A - Some of these days / Pennies from Heaven / Baby face / A good man is hard to find / Just Because / Toot toot tootsie goodbye /

LADO B - Ballin~the Jack / Rock-a-bye yor baby with a dixie melody / Pretty baby / Side by side / Back in our own back yard St. Louis blues.


Como não podia deixar de acontecer Brenda Lee foi capa da revista Manchete.


Brenda Lee apresentou-se na TV Tupi no Rio e na TV Record em São Paulo. Na ocasião da apresentação no Rio o crítico da Revista do Rádio foi muito severo na apreciação. Disse que o cenário do programa na TV Tupi era paupérrimo, que a orquestra que acompanhou a jovem cantora era muito fraca e que tudo deixou a desejar. 

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

HOTEL OURO VERDE

Recontando histórias do Rio revisitamos um “post” do Decourt. A foto foi enviada pelo colaborador habitual do “Saudades do Rio”, o Carlos Paiva. Mostra uma foto promocional do Hotel Ouro Verde e é interessante por ter sido fortemente manipulada. Causa espanto o Corcovado praticamente nos fundos de Copacabana e também muito mais baixo que seus 710 metros de altitude (parece que o Corcovado está no lugar da Agulhinha de Copacabana no final da Rua República do Peru).

Outra manipulação da foto é o pequeno veleiro, praticamente dentro da arrebentação da praia e totalmente fora de escala em relação aos banhistas.

O Ouro Verde, situado na Av. Atlântica entre a Praça do Lido e a Rua Duvivier, foi um dos hotéis construídos logo após a Segunda Guerra ainda sob a influência do art-déco que dominava a cidade nos anos 30 e 40, mas com muitos elementos modernos como a fachada e a entrada em pé direito duplo com colunas lisas. Mas no interior os corredores circulares envolvendo um fosso que atravessa o prédio tendo no topo uma portentosa claraboia são elementos déco, ultimados pelo piso de mosaico e as delicadas grades com desenhos geométricos.

Na foto vemos na esquerda o vizinho Hotel Lancaster, típico exemplar do final dos anos 40, da Rede Othon. Na direita o demolido Ed. Palacete Atlântico e por fim o Ed. Ribeiro Moreira ainda com seu coroamento original.

O hotel, inaugurado nos anos 50, tinha um moderníssimo telex para facilitar as comunicações. 


O hotel foi construído pelo primeiro proprietário, Lupércio Teixeira de Camargo. Tinha um dos melhores restaurantes da cidade até o final dos aos 70, sendo um dos pontos chiques do Rio para políticos, empresários, artistas, boêmios. Vendido no final do século passado para uma rede mineira, entrou em decadência. Parece que em tempos recentes foi remodelado e agora recebe o nome de Atlântico Praia. O prédio é tombado.


Cheguei a ir no restaurante do Ouro Verde. Era muito bom. Havia sempre muitos hóspedes americanos, sendo que os funcionários estrangeiros da Esso até o final dos anos 70 só se hospedavam lá. Não aceitavam outro hotel de jeito nenhum.

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

BONDE ÁGUAS FÉRREAS

Águas Férreas era entendido como uma espécie de bairro. Os moradores não se consideravam de Laranjeiras ou Cosme Velho, mas de Águas Férreas. 


O bonde nº 2502, da linha 3, Tabuleiro da Baiana-Águas Férreas, sobe a Rua Cosme Velho em direção ao seu ponto final. Ao fundo vemos as obras do Colégio São Vicente de Paulo. Era o bonde ideal para quem queria pegar o trenzinho para o Corcovado. O itinerário da linha Águas Férreas era:     Tabuleiro da Baiana – Senador Dantas - Luís de Vasconcelos - Augusto Severo – Largo da Glória - Catete - Pedro Américo - Bento Lisboa - Largo do Machado - Laranjeiras - Cosme Velho.

A foto de Malta, mostra a Rua do Catete por volta de 1920. Este local, o Largo do Valdetaro, ficava junto do Palácio do Catete. Segundo o Decourt a largura do largo permitia esse refúgio, tal qual ocorria na frente do Largo do Machado onde ele foi apelidade de “Ilha dos Prontos”. Na realidade não havia pista exclusiva para os bondes, nese trecho eles apenas faziam o traçado com menos inflexão acabando por passar bem tangente ao largo. Não sei se nos anos 40, quando os refúgios começaram a ser retirados os trilhos foram reposicionados, mas é uma possibilidade.

Vemos a tranquilidade da vida carioca daquele tempo, com os passageiros comodamente sentados no bonde, alguns lendo o jornal do dia. Uma senhora calmamente sobe os estribos, sem nenhuma preocupação. O bonde "Águas Férreas", de número 108, tinha duas tabuletas na frente: uma com o itinerário "Via Cattete, Laranjeiras, Cosme Velho". A outra, com um anúncio onde está escrito "TENNIS, um dos cigarros da Cia. Souza Cruz. E o maço custava 200 réis. À esquerda vemos os infatigáveis Lulu & Dudu na labuta diária.

Esta foto, feita por volta de 1915, mostra o Largo da Glória. Destaques para a Igreja do Outeiro da Glória, ao fundo, e o monumento a Pedro Alvares Cabral, obra de Bernardelli para as comemorações do 4º centenário do descobrimento do Brasil. Em primeiro plano o bonde de nº 177, que fazia a linha 3,  Águas Férreas.

Vemos o poste da parada de bonde (indicada pela faixa branca), com uma campanhia de alerta e um telefone (nossos especialistas em bondes poderão nos dar maiores esclarecimentos sobre estes aparelhos). Quanto aos anúncios que aparecem na tabuleta pregada no bonde, na foto em “alta”, pode se ler "Beba Leite Boe" e nas tabuletas pregadas nos protetores metálicos das árvores está escrito "Gordon", mas não foi possível identificar a que produto se referia. Atrás do reboque do bonde estão três calhambeques.

Vemos o bonde 3, Águas Férreas, nº de registro 2503, no terminal do Tabuleiro da Baiana. A pose do funcionário da Light chama a atenção pela elegância, pois está inclusive usando colete. Vemos um grupo grande preparando exemplares de jornais para distribuição. Lembro que, na década de 50, os jornais chegavam nos jornaleiros nos bairros em pacotes presos por uma fita métálica e os diversos cadernos ainda tinham que ser montados, o que os jornaleiros faziam com uma velocidade impressionante. Não me recordo, pelo menos até o final dos anos 50, de serviços de assinaturas de jornais, com entrega domiciliar. Era a época do Correio da Manhã (matutino, que não circulava às segundas-feiras), Diário de Notícias, Jornal dos Sports, O Globo (vespertino que não circulava aos domingos e cuja edição de segunda-feira era matutina), Diário Carioca, Tribuna da Imprensa, Jornal do Brasil, O Dia, A Notícia, Última Hora, A Noite, A Luta Democrática, Jornal do Commercio, O Jornal, Diário da Noite, A Manhã. Dados da Unesco mostram que no início da década de 1950 circulavam no Rio de Janeiro 18 jornais diários, sendo 13 matutinos e cinco vespertinos, com uma tiragem global de 1.245.335 exemplares. Os principais jornais eram editados com 24 páginas, alguns atingem até 60 páginas aos domingos. O matutino mais popular, o Correio da Manhã, tinha tiragem de 40 mil exemplares e os vespertinos como O Jornal atingiam 120 mil exemplares. 


Em mais uma foto colorizada estupendamente pelo Nickolas vemos o bonde "Águas Férreas", de número de registro 2507, linha 3, bem em frente a uma parada de bonde na Rua Augusto Severo. Nessas fotos de bondes sempre aparece alguém carregando um pacote, talvez uma marmita, tal como faz o senhor de terno branco. Outra curiosidade, era como o pessoal utilizava os ternos brancos e não voltavam todos sujos para casa ao final do dia, tanto devido ao calor, a poeira da rua ou mesmo a esbarrar em locais sujos como colunas, bancos de condução e etc.

terça-feira, 17 de agosto de 2021

OBELISCO DA AVENIDA CENTRAL

“Obelisco comemorativo da construcção da Avenida Central”. Projeto de Eduardo de Sá foi obra do construtor Antonio Jannuzzi, com pedras oriundas do Morro da Viúva. Foi inaugurado em 14/11/1906.

Na placa afixada consta: ““Sendo Presidente da República S.Excia. o Sr. Dr. Francisco de Paula Rodrigues Alves e Ministro da Indústria, Viação e Obras Públicas o Exmo. Sr. Dr. Lauro Severiano Muller, foi decretada, construída e inaugurada a Avenida Central, executando os trabalhos a Comissão Construtora, tendo como engenheiro-chefe o Dr. André Gustavo Paulo de Frontin, 15 de novembro de 1902 – 15 de novembro de 1906”.

Belo postal do Obelisco junto ao Palácio Monroe. Outro dia um comentarista do “Saudades do Rio” comentou que talvez um dos motivos para a campanha de O Globo a favor da demolição do Palácio Monroe seria que Irineu Marinho, fundador em 1911 do Jornal "A Noite", sofreu uma determinada (?) humilhação no Senado (que funcionava no Monroe) que o desgostou profundamente e da qual jamais se recuperou. O Palácio virou um símbolo da ofensa e a sua demolição uma questão de honra para os Marinho - uma vingança pessoal." Uma outra versão bem conhecida é a que envolve o Presidente Geisel. Foto: "FB Rio de Janeiro em cartões-postais".

Esta foto colorizada é de um livro de História do Prof. Carlos Potsch. Vemos o Centro do Rio em 1950, mostrando o final da Avenida Rio Branco, junto ao Obelisco. Atrás das árvores do Passeio Público, a cúpula do Palácio Monroe, demolido na década de 1970 e, ao fundo, o Edifício Francisco Serrador. Os carros formavam uma "ilha" de estacionamento em torno do obelisco, ao que parece. Devia ser difícil virar a esquina desse jeito.

As grandes ressacas venciam as calmas águas da baia e ultrapassavam arrocamentos e amuradas da Avenida Beira-Mar. no início do século passado.A construção do Aterro em meados do século XX mudou completamente este cenário, sendo raras as ressacas nesta área atualmente. Curiosos observadores do fenômeno se protegem na base do Obelisco.

Outro belo postal, este da coleção do Klerman Lopes. O obelisco circular de granito, com 28 toneladas, foi projeto organizado no escritório téecnico da Comissão Construtora da Avenida Central, cujo chefe era o Dr. Paulo de Frontim e executado pelos Srs. A. Januzzi & Irmãos, tendo como engenheiro de acompanhamento o Dr. Le Cocq.


Outra foto célebre do Obelisco. Como prometido, os gaúchos vão a cavalo até o Obelisco da Av. Central, em 1930. Era o fim da República Velha. Liderado pelos estados de Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul, que culminou com o golpe de Estado, o Golpe de 1930, que depôs o presidente da república Washington Luís em 24 de outubro de 1930, impediu a posse do presidente eleito Júlio Prestes e pôs fim à República Velha. sob alegação de fraude eleitoral. Também contribuíram a favor do movimento, o desgosto popular em função da crise econômica de 1929 e o assassinato do político paraibano João Pessoa.

A queda da cidade do Rio de Janeiro foi o ponto culminante de revoltas e instabilidades militares que começaram desde o ano de 1920 quando setores do Exército entraram em choque com as oligarquias que comandavam a República. As hostilidades se espalharam pelo país até uma Junta Militar ter sido criada, sendo que no dia 28 de outubro de 1930 o poder foi passado a Vargas. A queda do Rio tem como maior símbolo esta imagem, feita em 03 de novembro de 1930.


 

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

RUA SENADOR VERGUEIRO

Vemos hoje aspectos da Rua Senador Vergueiro. Muito antigamente o acesso à Praia de Botafogo se fazia através de barcos a vapor que atracavam em três pontos desta praia e que tinham destinos como o Saco do Alferes, a Ponta do Caju e o Cais do Brito (perto do Cais Pharoux). Por terra havia acessos como o do Caminho Velho de Botafogo (atual Rua Senador Vergueiro) e o do Caminho Novo de Botafogo (atual Rua Marquês de Abrantes).

A Senador Vergueiro, de onde são estas fotos, começa na Praça José de Alencar e termina na Praia de Botafogo. Já foi conhecida como Antiga Rua da Pedreira e Caminho Velho de Botafogo.

Muitos outros destaques da Rua Senador Vergueiro já foram apresentados aqui no "Saudades do Rio", tal como a igreja da Santíssima Trindade e o Cinema Paissandu.

 


A Rua Senador Vergueiro provavelmente em dia de ressaca ou de muit chuva.

Acho que esse trecho deve ser perto da Rua Paissandu, olhando para Botafogo. Ali mais embaixo fica a curva da Rua Tucumã, na altura do segundo veículo, à esquerda. A foto deve ter sido feita em frente à Travessa dos Tamoios, que na verdade é uma rua que liga a Senador Vergueiro à Marquês de Abrantes.

A magnífica residência do Conde Candido Mendes. Provavelmente esta casa ficava na Rua Senador Vergueiro esquina com a Rua Barão de Icaraí. Tinha um terreno enorme, porém meio estreito na Senador Vergueiro, mas meio quarteirão indo pela Barão de Icaraí, onde depois dos jardins ficava a casa dos empregados. Atualmente há um prédio com uma galeria que ocupa os 3/4 deste terreno o outro 1/4 é ocupado por outro prédio moderno. Acho que sobreviveu até o final dos anos 60.

 

Rua Senador Vergueiro na altura do nº 148 no ano de 1962.