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sábado, 18 de março de 2023

DO FUNDO DO BAÚ: RELÓGIO ROSKOPF


O “Do fundo do baú” de hoje mostra um relógio Roskopf, que era muito popular antigamente. Muito barato e de boa qualidade, era distribuído aos funcionários da Light que trabalhavam nos bondes. O Helio poderá confirmar.

Segundo consulta no Google, Georges F. Roskopf (1813-1889) nasceu na Alemanha e se naturalizou suíço. Em 1833 ele decidiu se tornar um relojoeiro e foi começar o aprendizado com J. BIBER, em La Chaux de Fonds.

Financiado por sua esposa, abriu um negócio como um “établisseur”, ou seja, produtor de relógios que comprava os mecanismos e todas as outras partes (peças) de relógios e os montava. Ele fabricou relógios com os sistemas de cilindro e âncora para exportar para América do Norte e Bélgica.

Eles fabricaram relógios do tipo “inglês”. Em 1855, Georges Roskopf abriu uma companhia com o seu filho, Fritz Edouard, e Henri Gindraux, com o nome de ROSKOPF, GINDRAUX & CO. Dois anos depois, o filho abriu seu próprio negócio em Genebra e Gindraux foi para Neuchâtel para se tornar o diretor da escola de relojoeiros.

Roskopf foi um idealista que sonhou em fazer relógios baratos e de boa qualidade para a classe trabalhadora. Para atingir seus ideais, ele usou uma velha ideia, na qual os ponteiros eram impulsionados diretamente pelo eixo (árvore) da mola principal (mainspring), na qual está acoplada a roda minuteria.

Em 1860, ele começou a fabricar um relógio que poderia ser vendido por 20 francos, além de ter excelente qualidade, ser simples e sólido. O relógio tinha um grande tambor no centro, o escapamento por pinos de Perron e balanço monometálico. Depois de discussões com Moritz J. Grossman, ele adotou o sistema de escape com pinos, simples e intercambiável (separadamente).

Entenderam?

PS 1: Eu sempre achei que nas propagandas dos relógios os ponteiros marcavam 10:10 ou 22:10. Mas nosso prezadíssimo Rouen Michelin de Mont-de-la-Veuve garante que os relógios devem marcar 10:08 ou 22:08 nas fotos de publicidade.

PS2: Quem já usou a expressão “Vai tomar no ROSKOPF"?

PS3: Os dicionários arrasam com o Roskopf, dando como definição de “Roscofe”: adjetivo [Brasil] Informal. De caráter ou essência inferior; de péssima qualidade; diz-se do relógio ruim, reles ou ordinário.

quinta-feira, 16 de março de 2023

LAGOA - RUA CÍCERO GOIS MONTEIRO

A Rua Cícero Góis Monteiro, na Lagoa, começa na Rua Fonte da Saudade e termina na Av. Epitácio Pessoa, 90 metros antes da Rua Frei Solano.

As três primeiras fotos de hoje foram enviadas pelo desaparecido colaborador do “Saudades do Rio”, Carlos Paiva. Vemos a casa de um parente dele, na Lagoa, tirada, pelo aspecto, imediatamente antes da inauguração.

O local é a esquina da Rua Cícero de Gois Monteiro com Avenida Epitácio Pessoa e a casa existe até hoje, bastante modificada. Ali já funcionaram, com sucesso, o “Pub Queen´s Legs” e um restaurante oriental.

A casa era no estilo “Missões”. Estimo que a foto seja do início dos anos 30 pois, como vemos na segunda foto, o prédio da Obra do Berço, que fica na outra esquina, ainda não tinha sido construído. 

Antes da abertura do Túnel Rebouças esta quadra da Lagoa era de uma tranquilidade absoluta. Somente casas e muros baixos. De um lado a Igreja de Santa Margarida Maria. Do outro, um posto de gasolina, na esquina da Fonte da Saudade. Entre os extremos a já citada "Obra do Berço", a capela da "Pequena Cruzada" e muitas casas. Hoje em dia, muitos edifícios.

A foto mostra o muro dentro do qual seria construído o prédio da "Obra do Berço", na outra esquina da Cícero Gois Monteiro com Epitácio Pessoa.


Até meados dos anos 60 era muito comum ver cavaleiros do Jóquei, da Hípica ou do Flamengo (sim, havia uma seção hípica ao lado do campo de futebol) passeando tranquilamente pela Lagoa.


O pub e restaurante The Queen´s Legs foi inaugurado no início dos anos 80, na Av. Epitácio Pessoa 5030, esquina com a Rua Cícero Gois Monteiro. Servia seis tipos de pratos, entre os quais o carneiro guisado era o principal. O restaurante tinha sua matriz em São Paulo. Era decorado em estilo vitoriano, com gravuras de veleiros e caçadas. O cliente recebia um cartão onde a despesa era marcada à medida que se consumia.

Após passar pelo “hall” onde ficava o caixa, dava-se de cara com um bar espelhado e um outro balcão onde se podia ficar sentado ou em pé. Havia à disposição o jogo de dardos e um piano. Discretamente iluminado, com música de fita e ar condicionado, a casa trabalhava com 18 marcas de uísque e cerveja Skol. Tinha também um "snack-bar".

O pub foi adaptado ao estilo nacional porque o brasileiro não tem o hábito de se servir sozinho. Por isto tinha três garçons.



Aqui vemos em destaque o prédio da Obra  do Berço, na outra esquina da Cícero Gois Monteiro com a Epitácio Pessoa. Bem à esquerda ficava a casa mostrada nas fotos anteriores. À direita, uma típica casa da quadra da Epitácio Pessoa.


A "Obra do Berço" do outro lado da esquina da casa mostrada nas primeiras fotos.

Foi um dos primeiros projetos de Oscar Niemeyer e, contam, que ele nada cobrou, pois a "Obra do Berço" é um entidade beneficente. Foi fundada em 1928 por Marianna Sodré e Lysia Cezar Andrade. Começou em Laranjeiras, oferecendo serviço ambulatorial de pré-natal e puericultura, além de fornecer leite e enxovais para bebês de baixa renda. 

Em 1938 inaugurou sede própria na Lagoa, onde está até hoje. A instituição teve em seu grupo de colaboradoras muitas ex-alunas do colégio Sacré-Coeur de Jesus, de Laranjeiras, entre elas algumas da família D´. 

quarta-feira, 15 de março de 2023

AV. DA INDEPENDÊNCIA E PALÁCIO DO CONGRESSO

O Rio já teve inúmeros projetos que não se realizaram. Há 100 anos, durante o governo de Carlos Sampaio, foi pensada a abertura da Avenida da Independência e a construção do Palácio do Congresso.


Houve um concurso internacional, a pedido da Câmara dos Deputados, e o vencedor foi o projeto do arquiteto Heitor de Melo. A localização seria no Campo de Santana. 

Esta perspectiva está fora de escala, ao fundo vemos o Canal do Mangue, após a Praça XI.


Vemos acima o esboço do que seria o Palácio do Congresso.

A Avenida Independência seria uma das primeiras ideias do que seria décadas para frente a Av. Presidente Vargas.  

O “Correio da Manhã”, em 1920, noticiava a ideia do Prefeito Carlos Sampaio de construir a “Avenida da Independência”, cujo traçado partiria da Av. Rio Branco, passando pela Rua Senhor dos Passos, que seria alargada. Daí, pelo Campo de Santana, seguiria pela Rua São Leopoldo (atual Rua Julio do Carmo), visando alcançar as fraldas do Morro do Andaraí.

Logo depois do anúncio do Prefeito, “Na Associação Commercial reuniram-se os proprietarios, commerciantes e locatários de prédios situados na área a ser desapropriada. Presidiu a reunião o Sr. Mario Ramos, que leu o memorial que vae ser dirigido ao Prefeito, protestando contra a idéa daquelle emprehendimento, sob a allegação de que virá concorrer para aggravar a crise domiciliar.”

Em 1921 foi lançada à Rua Buenos Aires, a pedra fundamental do primeiro edifício que iria ser construído à Av. da Independência, a ser inaugurada em 1922. O prédio era de propriedade da firma Macedo Serra & C., teria três andares, ocupando terrenos até à Rua Senhor dos Passos, no ponto em que a futura avenida passaria.

A partir daí a coisa foi se arrastando até que em 1928 começaram os anúncios das desapropriações. A loja "À Nobreza", diariamente, publicava anúncios de queimas dos estoques.

A fachada da lona "À Nobreza", na Rua Uruguaisna 95, em 1928. “À Nobreza” entrou com recurso e pediu o adiamento da desapropriação.

A Imprensa noticiava que "À Nobreza", firma de M.D. Ferreira & Cia. batalhava “com verdadeiro estoicismo, procurando dar nesta batalha uma nova vantagem para sua vastíssima clientela, liquidando o estoque.”

O projeto da Av. da Independência, sejundo o "Correio da Manhã", “vem sendo estudado com muita atenção pois, devido os grandes interesses em jogo dos proprietários dos prédios que têm que ser demolidos, deve haver uma conciliação com os interesses da municipalidade”.

Finalmente, em 1928, o projeto foi cancelado. 

Havia muito $$$$$ em jogo...


terça-feira, 14 de março de 2023

GLÓRIA - CITY IMPROVEMENTS

Segundo o “site” Memória da Administração Pública Brasileira, em meados do século XIX o governo imperial fez um contrato com John F. Russell e Joaquim P. V. Lima Junior, para serviço de limpeza das casas e do esgoto das águas pluviais da cidade do Rio de Janeiro, que deu origem à Companhia Rio de Janeiro City Improvements.

 A cidade do Rio de Janeiro foi uma das primeiras do mundo a receber um sistema de esgotamento. Antes disso, os dejetos sanitários domésticos eram levados em barris para despejo em valas ou praias, o que agravava a condição sanitária da capital do Império, que sofria com a precariedade do abastecimento de água e outros problemas ligados à limpeza urbana.

Em 1864, a Estação Elevatória e de Tratamento do Distrito da Glória foi inaugurada, contemplando 1.200 casas.  Os trabalhos empreendidos pela Companhia Rio de Janeiro City

Improvements logo apresentaram problemas, provocando muitas reclamações e conflitos com as autoridades, sendo então criado um órgão governamental para fiscalizar a empresa.



Vista panorâmica do aterramento da Praia do Russel. Rio de Janeiro, 1905. Em destaque o Largo da Glória e a Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro. À esquerda, a chaminé da Cia. City de Esgotos da cidade; à direita, trilhos, bondes, postes de iluminação. No centro. o relógio de sete e meio metros de altura, com quatro mostradores iluminados à noite.

O Rio de Janeiro, ao lado de Hamburgo, Londres e Brooklyn, N.Y., foi um dos primeiros lugares do mundo a ter serviço de esgoto. As primeiras experiências foram realizadas na Casa de Detenção, em 1855, por John Russel. Dois anos depois um Decreto Imperial concedeu-lhe o privilégio exclusivo por 90 anos para "construir e estender todas as obras necessárias para o estabelecimento de um sistema completo de despejos e esgotos das habitações". Em 1862 a concessão foi para a “The Rio de Janeiro City Improvements Co. Ltda.” (a City), que iniciou as obras e inaugurou a primeira etapa do serviço em 1864.


Foto de Marc Ferrez, Coleção Gilberto Ferrez, Acervo Instituto Moreira Salles. Vê-se o belíssimo Largo da Glória e a Avenida Beira-Mar, em 1906. 

Obra do Prefeito Pereira Passos, a Avenida Beira-Mar ía do Passeio Público até o final da Praia de Botafogo. Pereira Passos imaginou-a à moda da "Promenade des Anglais", de Nice. 

Podemos ver a muralha junto à praia, antes do Aterro do Flamengo que nasceria décadas depois. À direita, junto do bonde, o relógio da Glória. A chaminé da City, a Igreja do Outeiro da Glória e o Morro do Pão de Açúcar, ao fundo, ainda sem o bondinho, cuja estação foi construída poucos anos depois desta foto. 

A Praia do Russel seria a área de abrangência do palacete do inglês John F. Russel, que fez a estação de tratamento de esgoto neste local, no final do século XIX. A foto mostra ainda os belos jardins, praças amplas, a estátua de Pedro Alvares Cabral, pouquíssimo movimento de veículos. 


Esta belíssima fotografia de Leuzinger, da Coleção George Ermakoff, mostra um panorama da região da Glória, em 1865. Veem-se as instalações da City Improvements, com sua enorme chaminé.  A elevatória era movida a vapor, queimava-se carvão para mover as caldeiras. A chaminé era da fornalha das caldeiras. Nos anos 10 ou 20 o maquinário passou para elétrico e logo a chaminé foi demolida. Mas a usina ainda continua lá, com várias das máquinas da elevatória preservadas. Hoje a velha construção de pedra é a sede da SEARJ e é aberta nos dias de semana a visitação pública.

À esquerda pode-se ver o prédio do Hotel Grand Chalet. À direita, o prédio, concluído em 1858, onde funcionou o Mercado da Glória. No centro, no alto, a Igreja de N.S. da Glória do Outeiro. O gradil era do terraço do Passeio Público, ponto dos mais nobres da velha cidade. 


A foto mostra, segundo conta o Decourt, o velho Caminho da Glória, espremido entre as encostas de Santa Teresa e as águas da Baia da Guanabara. O caminho, surgido de forma espontânea acompanhando a areia da Praia das Areias da Espanha, era a única via de acesso da cidade as regiões do Catete e Botafogo, e também o caminho obrigatório para quem quisesse obter água fresca antes do aqueduto ser construído, nos dois desagues do Rio da Carioca.

O caminho era precário, e constantemente varrido pelo mar, o que originou a criação de uma estreitíssima via cortada nos barrancos da encosta que ao menos assegurava uma travessia menos sujeita aos humores do mar.

Mas a cidade crescia e o caminho, da largura de uma via férrea, era um obstáculo, batido pelas ondas e, às vezes, até desbarrancado pela força do mar. Então o Marquês do Lavradio resolveu melhorar os acessos aos arrabaldes do Sul na década de 70 do século XVIII, sendo o caminho alargado e ganhado uma grossa amurada de pedras que o mantinha resistente à força do mar. Além disso o Marquês saneou o fim do caminho, onde hoje é o Largo da Glória, lamacento e pantanoso, certamente vestígios do braço do Rio da Carioca que existia no local e que dava seus últimos suspiros, canalizando inclusive um pequeno córrego, certamente o Carioca. Para arrematar os trabalhos na região o Vice-Rei levantou nas encostas de Santa Teresa, em 1772, um chafariz, que, através de tubulação e caixa d’água exclusiva, pegava a água diretamente da tubulação do aqueduto ainda nos altos do bairro para dar água aos moradores da região da Glória e aos viajantes que se dirigiam para o sul da cidade.

Esta imagem foi obtida a partir do terraço de alguma casa da Rua Santo Amaro. O grande prédio visto quase ao centro da foto é o Hospital da Beneficência Portuguesa. Mais ao fundo a Igreja da Glória e a Chaminé da City. É um autocromo da Coleção Archive de la Planéte, atribuído a Auguste Léon, pertencente ao Museu Albert Khan, de Paris.

segunda-feira, 13 de março de 2023

LARANJEIRAS

Hoje o tema é o bairro de Laranjeiras e seus estádios, como vemos na foto abaixo.

O Fluminense, fundado em 1902, ano em que disputou seu primeiro jogo de futebol. Tinha um precário campo em Laranjeiras, perto do Clube Paissandu. Em 1919 construiu no mesmo lugar seu estádio, que foi ampliado em 1922 a fim de sediar os Jogos Olímpicos Latino-Americanos e o Campeonato Sul-Americano de futebol, comemorativos do Centenário de Independência do Brasil. 

O Flamengo, fundado em 1895, somente em 1912 fundou seu departamento de futebol. Utilizava um campo da Prefeitura no Russell. Depois alugou um campo pertencente aos Guinle, em 1916, vizinho ao campo do Fluminense. Somente em 1938 foi inaugurado o Estádio da Gávea.
 


Nesta foto de J. Kfuri, do início dos anos 1920, garimpada pelo H. Hübner, vemos os dois campos do bairro de Laranjeiras. À esquerda o do Flamengo, à direita o do Fluminense. 

No canto direito vemos um círculo que faz parte dos jardins a Imperial Sociedade Amante da Instrução, na Rua Ipiranga.


Nesta foto feita de William Nelson Huggins, bisavô do prezado Tumminelli, vemos uma partida de futebol no campo do Flamengo (observem o CRF no teto da arquibancada). 

Ao fundo vemos o Palácio Guanabara. É interessante notar que os quatro pontões e o mastro no centro do prédio não existem atualmente. O terreno para o estádio da Gávea foi doado em 1926, confirmado em 1931, com a construção iniciando-se em 1934 e com jogo inaugural em 1938. 


A revista "Ilustração Brasileira" assim descreveu esta foto: "O curioso desenho que forma o tecto escuro do casario, a mancha da montanha e as frondes do arvoredo rodeando o "ground" do Fluminense e o Palacio Guanabara. 

A construção em forma de "U", à direita,  é o da já citada Imperial Sociedade Amante da Instrução. Está lá até hoje como  Instituto João Alves Afonso, com um grande jardim na frente e uma bela mansão em estilo neoclássico do final do século XIX.

Na Rua Guanabara, atual Rua Pinheiro Machado, e redondezas havia grande quantidade de casarões, cortiços e vilas residênciais. 

O Instituto João Alves Afonso era um orfanato, aos cuidados de freiras, mas hoje é um colégio destinado às crianças mais carentes da região. O prédio, os jardins, o trabalho que lá se desenvolve são admiráveis. Tudo muito cuidado e preservado.