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sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

100 ANOS

Hoje é um dia especial.

Vamos comemorar, com alegria, os 100 anos da matriarca da família D´. Segue a tradição centenária do lado feminino da família. E não abandona Copacabana, onde nasceu.

Fica aqui a homenagem do "Saudades do Rio".


Na Barata Ribeiro nº 593. Anos depois foi construída a casa no terreno ao lado, nº 589, onde viveu por décadas.


NO SACRÉ-COEUR DE JÉSUS


Na Barata Ribeiro nº 589

No Corcovado.








quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

BONDES





Foram muitos os acidentes envolvendo os bondes e, como vemos nas imagens acima, as Companhias faziam campanhas de alerta.

Interessantes também são as regras escritas por Machado de Assis para os usuários de bondes:

Art. I - Dos Encatarrhoados - Os encatarrhoados podem entrar nos bonds, com a condição de não tossirem mais de trez vezes dentro de uma hora, e no caso de pigarro, quatro.

Quando a tosse for tão teimosa que não permita esta limitação, os encatarrhoados têem dous alvitres: - ou irem a pé, que é bom exercicio, ou metterem-se na cama. Também podem ir tossir para o diabo que os carregue.

Os encatarrhoados que estiverem nas extremidades dos bancos devem escarrar para o lado da rua, em vez de o fazerem no proprio bond, salvo caso de aposta, preceito religioso ou maçonico, vocação etc., etc.


Art. II - Da Posição Das Pernas - As pernas devem trazer-se de modo que não constranjam os passageiros do mesmo banco. Não se prohibem formalmente as pernas abertas, mas com a condição de pagar os outros lugares, e fazel-os occupar por meninas pobres ou viuvas desvalidas mediante uma pequena gratificação.


Art. III - Da Leitura Dos Jornaes - Cada vez que um passageiro abrir a folha que estiver lendo, terá o cuidado de não roçar as ventas dos vizinhos, nem levar-lhes os chapéos; também não é bonito encostal-o no passageiro da frente.


Art. IV - Dos Quebra-Queixos - É permitido o uso dos quebra-queixos em duas circumstancias: - a primeira quando não for ninguem no bond, e a segunda ao descer.


Art. V - Dos Amoladores - Toda a pessoa que sentir necessidade de contar os seus negocios intimos, sem interesse para ninguem, deve primeiro indagar do passageiro escolhido para uma tal confidencia, se elle é assaz christão e resignado. No caso affirmativo, perguntar-lhe-ha se prefere a narração ou uma descarga de ponta-pés; a pessoa deve immediatamente pespegal-os.

No caso, aliás extraordinario e quasi absurdo, de que o passageiro prefira a narração, o proponente deve fazel-a minuciosamente, carregando muito nas circumstancias mais triviaes, repetindo os dictos, pisando e repisando as cousas, de modo que o paciente jure aos seus deuses não cair em outra.


Art. VI - Dos Perdigotos - Reserva-se o banco da frente para a emissão dos perdigotos, salvo as occasiões em que a chuva obriga a mudar a posição do banco. Tambem podem emittir-se na plataforma de traz, indo o passageiro ao pé do conductor, e a cara voltada para a rua.


Art. VII - Das Conversas - Quando duas pessoas, sentadas a distancia, quizerem dizer alguma cousa em voz alta, terão cuidado de não gastar mais de quinze ou vinte palavras, e, em todo o caso, sem allusões maliciosas, principalmente se houver senhoras.


Art. VIII - Das Pessoas Com Morrinha - As pessoas que tiverem morrinha podem participar dos bonds indirectamente: ficando na calçada, e vendo-os passar de um lado para outro. Será melhor que morem em rua por onde elles passem, porque então podem vel-os mesmo da janella.


Art. IX - Da Passagem Às Senhoras - Quando alguma senhora entrar, deve o passageiro da ponta levantar-se e dar passagem, não só porque é incommodo para elle ficar sentado, apertando as pernas, como porque é uma grande má criação.


Art. X - Do Pagamento - Quando o passageiro estiver ao pé de um conhecido, e, ao vir o conductor receber as passagens, notar que o conhecido procura o dinheiro com certa vagareza ou difficuldade, deve immediatamente pagar por elle: é evidente que, se elle quizesse pagar, teria tirado o dinheiro mais depressa.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

CONDUTOR

Segundo o Helio Ribeiro, o condutor era encarregado de efetuar a cobrança da passagem e registrar este pagamento no relógio do bonde. Outra de suas funções era avisar ao motorneiro o momento em que o bonde podia dar partida, após todos os passageiros haverem embarcado ou desembarcado.

Acrescento eu que também avisava aos que estavam nos estribos com o famoso “Olha à direita!!!”, quando o bonde iria passar raspando em algum obstáculo.

Os condutores tinham uma folha que era verificada pelo fiscal, para ver se tinham haviam registrado corretamente as passagens pagas. Essa folha era carimbada pelo fiscal que, olhando a marcação anterior, marcava o número atual e via a diferença. A propósito dessa marcação, o espírito gozador do carioca apareceu numa marchinha de carnaval.

"Seu condutor! All right

Você assim, Vai acabar sócio da Light

Seu motorneiro

Toca o bonde! Toca o bonde!

O meu amor está esperando por mim

Senão eu canto a canção do condutor

Que é sempre assim:

Um prá Light

Um prá Light

E dois prá mim."

Maldade. Se fosse verdade os condutores não levariam a vida modesta que sempre levaram. 

O condutor e o motorneiro, acompanhados por dois PMs, numa das inúmeras greves do setor de transportes do Rio de antigamente.

Como único passageiro, com seu inseparável guarda-chuva, José Ferreira, escriturário do Banco do Brasil, voltava de um dia cansativo de trabalho.

Colorização do Nickolas.



Outra colorização do Nickolas Nogueira. Vemos Severino Nonato, o "Preguinho", com seu quepe com a inscrição "conductor 2412" da Light, satisfeitíssimo, contando a féria da viagem.

"Preguinho" tinha o hábito de dobrar as notas e mantê-las entre o polegar e o indicador, diferentemente da maioria de seus colegas que as mantinham entre os dedos indicador, médio e anular.

Manoel "Bacurau", obrigado a acordar cedo para ir ao dentista, aproveita para um último cochilo com sua blusa abotoada no pescoço, como exigia Dona Lindaura, sua mãe.

Antenor Flores, com seu bigode bem aparado de torcedor do América, leva o filho pequeno para o médico perto do Tabuleiro da Baiana, no Edifício Darke, com cara de quem passou a noite acordado com o filho no colo por conta de uma dor de ouvido. 

Paulo Meira, quase fora da foto, bancário, com o jornal na mão, fica no estribo, pois já não havia lugar no banco ocupado por sua esposa, Dona Almira, sentada ao lado da filha Maria Clara.

Atrás de Antenor Flores, as duas vizinhas, Dulce e Ana, observam o fotógrafo enquanto iam para a cidade fazer compras. 


O bonde estava passando pela Rua das Laranjeiras, em frente à Eugênio Hussak (perto da Ipiranga). A casa à esquerda, onde morava a família Derenusson, é hoje um edifício modernoso.

Vemos outro condutor que, como Preguinho, levava as notas entre o polegar e o indicador. E este estava acionando o registrador de passagens sob o olhar atento de Paulo Meira, bancário, que antes de ir para o trabalho levava a filha Luzia e a amiguinha Maria, para a escola municipal onde estudavam.

 

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

VEÍCULOS DA FAMÍLIA LEMOS

Todos conhecemos a paixão do amigo Gustavo Lemos por motos e automóveis. Paixão herdada do pai dele, Aluizio Lemos, dono da famosíssima Lemos&Brentar.

Hoje veremos alguns desses veículos da família Lemos.


Aluizio Lemos, na famosa curva do cotovelo no Circuito da Gávea, em 1946. Ele está pilotando uma Triumph Tiger 500.

Em pé à direita, Haroldo Pokstaller, sentados no estribo: meu pai Aluizio Lemos (de colete), meus tios Afrânio e Lídia. O carro é um Ford 1935. A turma tinha acabado de ajudar a colocar o veleiro do meu avô no teto do Ford,  na Rua Frei Veloso.


A foto é de 1939, também na Rua Frei Veloso. e mostra o Ford do avô do Gustavo. A cadelinha fox-terrier é a Toots.

Av. Atlântica 1933. Na foto a avó do Gustavo e seus dois filhos homens (Aluizio ao lado do estepe) O carro é um Cord LN 29 1932 e está estacionado em frente ao Edifício OK, na esquina da Praça do Lido.


Afrânio, tio do Gustavo, na Rua Dias Ferreira, em 1948, com um Simca 5.


Um dos fuscas do pai do Gustavo estacionado aparentemente na areia da Praia de Ipanema, na confluência da Vieira Souto, Francisco Otaviano e Francisco Bhering. Vemos, à direita, o antiquíssimo Edifício Marambaia.


Gustavo, a mãe e a irmã, por volta de 1960. O carro é um Porsche 356A conversível.


Em primeiro plano temos um BMW e ao seu lado uma Norton Manx. A BMW está com a descarga livre e devia fazer um barulhão. As duas motos eram o sonho de consumo dos jovens da época. A rua é a Souza Lima, em 1940.


Os tios do Gustavo no Arpoador. Falta identificar os automóveis.


Rallye dos 1000 Km Fluminenses/1972. Gustavo e o pai venceram o Prime desta prova e ganhamos um belo troféu. Este carro no Postinho era conhecido como "Viúva Negra". É um VW TC 1700 cc?


Foto de autoria de Hugo, pai do prezado JRO, feita em 1947 no Arpoador. Nela aparecem Afranio Lemos, D.Rose, mãe do Zé Rodrigo, na moto de seu marido, e na outra moto Arlindo Pereira Carneiro. O Arpoador era o “point” dos motociclistas nesta época. As motocicletas eram, a partir da esquerda, uma Victoria 350, uma DKW DS 350 e uma NSU 500. Era comum colocar o nome da moto sobre o paralama dianteiro, como vemos: "La Conga" e "Tabu".

As três últimas fotos são da oficina Lemos & Brentar, na Rua Jardim Botânico. Um texto do Gustavo, transcrito no final da postagem, dá todas as informações sobre ela.



 Texto do Gustavo Lemos:

“Vemos a instalação no corredor de entrada da Lemos & Brentar de um Puma em 1968. Ele permaneceu aí até 1980, quando foi removido, mudou de cor, e transferido para a fachada do prédio à direita onde está o letreiro Formad. O carro era meia carroceria que a Puma enviara de presente para os novos concessionários no Rio e substituiu um Fusca que estava pendurado no mesmo lugar. 

Na época eu tinha quinze anos e estava aí acompanhando a instalação. Meu pai está de costas sobre o muro, na altura do capô do táxi DKW. A foto provavelmente foi tirada pelo Albino Brentar.

Lemos & Brentar em três tempos. A primeira fase foi de 1957 a 1968, com o Fusca pendurado em 1959. A segunda com o Puma que foi de 1968 a 1980. A terceira de 1980 a 1986. 

Em 57, Aluizio Lemos e seu sócio em uma locadora de automóveis, Edgard Torres, compraram uma oficina na Rua Jardim Botânico nº 705, telefone 26-4351, que se chamava Auto Super, para fazer manutenção dos carros da frota. Em 59 a sociedade foi desfeita e na partilha dos bens meu pai ficou com a oficina, que resolveu explorar com o sócio remanescente da Auto Super, Albino Brentar. 

Foi criada a Lemos & Brentar, especializada em VW, principalmente em preparação e montagem de Kits Okraza no motor e lanternagem para companhias de seguro, com as quais Aluizio tinha ótimo relacionamento. A ideia de colocar o Fusca pendurado surgiu de um carro que deu entrada na oficina com o lado direito totalmente destruído e a seguradora deu perda total. Compraram o carro por uma ninharia no estado, cortaram ao meio e penduraram na entrada. 

Não se sabe de qual dos dois surgiu a ideia, já que ambos discutiram a autoria até a morte. O fato é que foi um grande sucesso, que atraiu a atenção da VW, que tinha acabado de inaugurar sua fábrica de São Bernardo. Tornaram-se concessionários da marca. 

A fase Puma começou em 1968, pouco depois do lançamento do modelo com chassis VW. A L&B tornou-se a segunda concessionária da marca no país, perdendo apenas para a Comercial MM de São Paulo, que pertencia a dois sócios da fábrica. Venderam mais de 6.000 Pumas até o fechamento da fábrica. 

Em 1979, compraram o contrato de locação da Formad, loja ao lado do corredor de entrada, e resolveram trazer a concessionária de motos Honda que tinham na Gávea (Setemo) para o local. A nova loja foi inaugurada em 1980.

Em 1986 foi vendida para a Auto Modelo, que estava desesperada atrás de um local para a concessionária VW da Lagoa que foi desativada para construção de prédios. 

Albino faleceu em 2001, faltando um mês para completar 70 anos. Aluizio, meu pai, em 2007, com 80 anos.”

Uma reportagem do JB dava conta que “Albino é o sócio técnico e Aluizio o financeiro. Os dois entendem de Volkswagen, pois inclusive Aluizio tem todos os cursos, mas como ele mesmo diz, “o Albino é mais profundo”. Albino também reconhece que Aluizio, em questão de contas e impostos, é melhor e assim vão vivendo, cada qual, porém, com direito de meter o bedelho na parte alheia.

Tanto um como outro, ou seja, o Lemos e o Brentar, são hoje sossegados chefes de família. Assistem corridas e confessam-se inquietos quando ouvem uma motocicleta passar roncando pela rua. Sublimam, porém, a paixão dos motores no trabalho da oficina. E concluem: um homem deve fazer aquilo de que gosta na vida. E nós gostamos de motores.”

 




segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

OS BONDES VERDES DE SANTA TERESA

A Cia. Ferro-Carril de Santa Teresa obteve autorização para construir uma linha de carris de ferro para os morros de Santa Teresa e Paula Matos em 1872.

O traçado seria dos largos do Moura, Batalha e Misericórdia, Praia de Santa Luzia, Rua da Ajuda, Largo da Lapa, ruas das Mangueiras (Visconde de Maranguape), Riachuelo, Rezende e Arcos. Nas montanhas seguiria pelo Largo do Guimarães, Caixa d´Água, ruas do Aqueduto e Largo dos Neves pelas ruas Áurea, do Oriente e Progresso.

Em 1877 foi inaugurado o plano inclinado. No ano seguinte a linha de carris na parte plana da cidade foi integrada à Cia. de Carris Urbanos, continuando a da parte alta sob a responsabilidade da Cia. Ferro-Carril Carioca.

Em 1903, segundo Stiel, iniciou-se o prolongamento até o Alto da Boa Vista, passando por Sumaré. Em 1926 foi construída uma linha pela Rua Francisco Muratori. Em 1963 a companhia entregou o serviço à Prefeitura do Estado da Guanabara, na época em que Lacerda queria acabar com os bondes.  Foi então fundada a “Sociedade Amiga dos Bondinhos de Santa Teresa”, que conseguiu salvar os bondes.

Em 1975 foi inaugurada nova estação, sobre o estacionamento da Petrobrás, na Av. Chile.



O local por onde passa o bonde Paula Mattos parece ser na Rua Joaquim Murtinho, logo antes da entrada da estação Curvelo. 


As duas últimas fotos são do "site" do Allen Morrisson. Sempre me impressionou haver bondes com reboque nas estreitas e íngremes ruas de Santa Teresa.

Estaria este bonde perto do Bar do Arnaudo, na Rua Almirante Alexandrino?

Nosso saudoso AG certa vez comentou sobre os receios do resto da cidade em relação ao bairro: “Comparada com a Av. Atlântica, por exemplo, Santa Teresa é um pedacinho de Oslo. Jornalistas desavisados (ou mal-intencionados) costumam confundir Santa Teresa com a Lapa, Catumbi e o Cosme Velho.

Uma vez o Márcio não-sei-das-quantas, que apresenta o “Jornal Hoje” na Globo, bateu lá em casa, montado naqueles carros prateados da Globo e queria porque queria, que eu dissesse que o nosso pedaço estava sendo a filial da Faixa de Gaza. Como não queria "perder a matéria" o bonitão insistia na tese.

Lá pelas tantas, perguntei:

- Escuta aqui, mermão; me fala, de cabeça, cinco ruas de Santa Teresa.

- (silêncio)

- Faz o seguinte: te prepara melhor e vem fazer a matéria. E cuidado para não pensar que Bairro de Fátima fica em Portugal.”

 



domingo, 4 de dezembro de 2022

DO FUNDO DO BAÚ - AMOLADOR DE GILLETTES


Mencionado ontem, eis o amolador de lâminas de barbear que, muito provavelmente, poucos que passam por aqui usaram. Até meados do século passado usava-se, na maioria das vezes, navalhas (da marca Solingen) para fazer a barba, o que requeria muita atenção para evitar ferimentos.

Os aparelhos com lâminas de barbear, que se popularizaram com o fabricante Gillette, tornaram mais fácil o barbear. Nos anos 50 do século passado, as lâminas eram montadas em aparelhos em forma de "T", inicialmente com vários componentes. Depois, estes aparelhos se transformaram em peça única, com o local para colocação da lâmina sendo aberto girando-se a extremidade do cabo oposta ao compartimento das lâminas (como o Gillette MonoTECH).



As lâminas que vinham em pacotinhos de papel também passaram a vir em dispositivos de plástico ("munidor"). Hoje em dia é muito difícil conseguir uma gilete.



Mais adiante surgiram os aparelhos descartáveis e outros com várias lâminas em conjunto, facilitando o barbear. Parte dos usuários aderiu, em meados do século passado, aos barbeadores elétricos.

Certa vez o prezado Eraldo contou que o pai dele teve um desses: 

"Um belo dia, no começo dos anos 60, chegou em casa com a novidade.

Prendia-se a cordinha em algum lugar (gancho, cabide da toalha etc.), punha-se a gilete cega no aparelhinho, encaixando as duas partes circulares daquele rasgo todo recortado que havia no meio da lâmina nos dois pinos, fechava-se a maquineta. Então, com a cordinha esticada, fazia-se um movimento de vai-e-vem no aparelho. A cordinha fazia girar os dois cilindros e dava um movimento orbital à lâmina, atritando-a contra os afiadores. Não sei se realmente afiava, era muito novo para responder por experiência própria."