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sábado, 7 de setembro de 2024

JOIAS DA PROPAGANDA (3)

 JOIAS DA PROPAGANDA (3), por Helio Ribeiro

Esta postagem é continuação da publicada no sábado passado. Amanhã será postado o quarto grupo de propagandas, encerrando esta série.

Ao contrário das duas postagens anteriores, em que procurei destacar os autores dos comerciais, nessas duas que ora inicio me concentrei em descrever os produtos e seus fabricantes, quando consegui informações sobre eles. São histórias muito interessantes e que gostei bastante de conhecer. Espero que vocês, idem.

Tive dificuldade de encontrar vídeos para essas duas últimas postagens, pois os mais conhecidos e famosos já haviam sido publicados nos dois últimos sábados. Devido a insistentes pedidos, dei prosseguimento à série acrescentando mais algumas propagandas sugeridas por ilustres comentaristas, além de outras que consegui coletar.




 INSETISAN

Especializada em controle de pragas, sanitização e higienização de reservatórios de água, desde 1952 liderando esse mercado. O telefone do comercial abaixo foi o que mais marcou as propagandas, porém ao longo do tempo esse número mudou várias vezes. Atualmente é 2569-6969.


 

CALÇAS FAR-WEST

Em 1948 uma empresa paulista, de nome “Roupas AB”, lançou a primeira calça brasileira feita de brim azul e grosseiro, batizando-a com o nome Rancheiro. Não deu certo. Anos depois a Alpargatas lançou sua calça de nome Rodeio, confeccionada com um tecido azulão grosso chamado Brim Coringa. Só em 1956 a mesma Alpargatas lançou sua nova versão desse tipo de calça, agora com o nome de Far-West. O baixo preço ajudou e o sucesso veio rápido.

Era o jeans brasileiro, já que o americano só aportou aqui tempos depois, com o nome Levi’s. Dizia a propaganda que o brim coringa não encolhia nunca. Mas há muitos relatos em contrário, inclusive quanto a desbotar.

Inicialmente esse tipo de calça só era usado por homens. Apenas nos anos 1960 passou a ser usado também pelo público feminino.

Antes usado apenas para o trabalho, em virtude de seu tecido resistente, depois passou a ser traje do dia-a-dia de jovens e adultos, independente de sexo.


 

BICICLETAS CALOI

Fundada pelo italiano Luigi Caloi em 1898, no início apenas importava bicicletas da Europa, que eram usadas pelos elegantes senhores e senhoras paulistas, numa época em que ainda não havia automóveis no Brasil.

A Segunda Guerra trouxe dificuldades de importação e a Caloi resolveu montar uma fábrica no bairro do Brooklin, em São Paulo, no ano de 1945. Foi a primeira fábrica de bicicletas no país.

Em 1972 a empresa lançou o modelo Caloi 10, primeira bicicleta no país do tipo esportivo com dez marchas e guidão rebaixado.

Em 1975 a Caloi inaugurou outra fábrica, agora no Polo Industrial de Manaus, e lançou o modelo Mobylette, outro sucesso de vendas.

Em 1978 lançou a primeira peça da famosa propaganda que será mostrada abaixo e que eternizou o bordão “Não esqueça a minha Caloi”, lembrado e usado até hoje pelos que viveram aquela época. O garotinho era chamado de Zigbim. Neste ano também foi lançado o modelo Caloi Ceci, para o público feminino.

Nos anos 1990 foi inaugurada a fábrica na Flórida, EUA.

Em 2013 a Caloi passou a fazer parte da Dorel Sports, a divisão de bicicletas da empresa canadense Dorel Industries Inc. Em 2017 a Dorel assumiu a gestão da Caloi.


 

DUCHAS CORONA

Nos anos 1960 a Corona teve a ideia de lançar um chuveiro feito de plástico de engenharia, na época usado apenas em baldes, mamadeiras, etc. Isso tornou o produto bem acessível às camadas mais baixas da população e as vendas explodiram.

Em 1972 a Corona encomendou sua primeira propaganda de rádio e TV à agência Marcel’s. Esta repassou o briefing à Publisol, uma das maiores produtoras de som de São Paulo. A encomenda caiu nas mãos de Francis Monte (nome artístico do músico Francisco Monteiro). Música pronta, Francis a apresentou ao staff da agência, que a recusou porque começava com “Apanho o sabonete....”, dando a impressão de que era propaganda de sabonete e não de um chuveiro. Um amigo de Francis, que o havia indicado para a agência, ficou inconformado com a recusa e levou a propaganda ao dono da Corona, Amilcar Yamin, que adorou a música e a aprovou imediatamente, transformando-a na trilha sonora de todos os demais comerciais da empresa pelos doze anos seguintes.

Muito tempo depois a empresa tirou do ar a campanha, pois havia sofisticado outros produtos e achava que a música associava a marca às camadas mais baixas da população. Porém um levantamento mostrou que isso não era verdade e todas as camadas a aceitavam bem. Assim, a Corona manteve a campanha no ar.


 

ESSO

A Esso é o nome comercial da Exxon Mobil Corporation e de suas empresas relacionadas. Esso é resultado da pronúncia da abreviação de Standard Oil (SO).

Ela se instalou no Brasil em 17 de janeiro de 1912, com o nome de Standard Oil Company of Brazil, vendendo gasolina e querosene em latas e tambores.

A Esso foi a primeira empresa a patrocinar um programa jornalístico no país, o Repórter Esso, sendo por isso uma das pioneiras na publicidade brasileira.

O comercial de TV abaixo é um dos mais antigos da empresa. Notem que as duplas de bonequinhos sempre destacam a grande diferença entre os países que eles representam, seja em termos de geografia, seja em termos culturais.




 NYCRON

O Nycron foi um produto lançado em 1961 pela Sudamtex – S.A. Cotonifício Gávea, inaugurada em 1921 e com fábrica instalada na rua Marquês de São Vicente, número 83. Era uma empresa de capital americano fabricante de tecidos sintéticos. Faliu em meados da década de 1980, não só no Brasil como também na Venezuela e Uruguai.

Houve uma época em que abundavam no mercado tecidos sintéticos como Nycron, Tergal, Ban-Lon, Lycra.

O comercial abaixo é de 1968, produzido pela Lynxfilm. A propaganda do Nycron se notabilizou pelas frases “senta, levanta, senta, levanta” e "não amarrota nem perde o vinco". 


 

Q-SUCO

O Q-Suco tem uma história incrível. Sua origem é americana, remontando ao ano de 1922, quando o casal Edwin e Kitty Perkins, no Estado do Nebraska, lançaram um suco concentrado, pronto para beber. O produto era vendido em garrafas de vidro, sob o nome Fruit Smack. Foi um fracasso, pois o custo de distribuição era alto e muitas garrafas se quebravam no transporte. Em 1927 Edwin teve a ideia de retirar a água do produto e transformá-lo em pó, o que reduziu drasticamente o custo e as perdas de transporte. O produto foi batizado de Kool-Ade e inicialmente só era distribuído dentro do próprio Estado do Nebraska. No ano seguinte, passou a ser distribuído nacionalmente. Tinha seis sabores: laranja, framboesa, uva, morango, limão e morango.

Em 1934 o produto foi renomeado para Kool-Aid e registrado oficialmente. Nessa época o mundo passava por grande recessão econômica, o que levou Edwin a reduzir o preço do produto de 10 para 5 centavos de dólar. As vendas explodiram.

Em 1953 a empresa e a marca foram vendidas para a General Foods.

Em 1954 foi criada a mascote da marca, um jarrinho sorridente cheio de suco e com alguns cubos de gelo.

Em 1961 o produto foi lançado no Brasil com o nome de Q-Suco, feito pela Kibon, que também pertencia à General Foods. Em algum momento na segunda metade dos anos 1970 o nome mudou de Q-Suco para Ki-Suco. Por sinal, esse nome já tinha sido utilizado pela Kibon, tendo sido registrado em 12/11/1951.

Um envelope dava para dois litros de suco, porém exigia duas xícaras cheias de açúcar, além de gelo à vontade, para ficar pronto.

Na década de 1980 o Ki-Suco era um sucesso de vendas. Também nessa época a General Foods se fundiu com a Kraft, dando origem à Kraft Foods, o que levou a marca para o portfólio dessa empresa. O produto teve uma nova versão, que já vinha adoçada.

Com o passar dos anos e com o aparecimento de concorrentes, o Ki-Suco saiu do mercado brasileiro, porém nos EUA o Kool-Aid continuou a ser vendido.

Em 2017 o Ki-Suco retornou ao mercado, com nova fórmula e com os sabores laranja, maracujá, uva, limão, morango e abacaxi. Porém no ano seguinte foi novamente retirado de venda e comprado pelo grupo brasileiro Enova Foods, que o relançou em 2021, com nove sabores, sendo os seis originais e mais manga, groselha e mix de frutas. Mas hoje em dia o produto não tem relevância no Brasil.


 

SABONETE LUX

Apesar de “Lux” significar “luz” em latim, a origem do nome não é essa, e sim uma abreviação da palavra luxury (luxo). O sabonete Lux foi lançado no mercado americano em 1925, época em que ainda se usava sabão para o banho diário. A fabricante era a Lever Brothers, que quatro anos depois seu origem à multinacional anglo-holandesa Unilever. A campanha publicitária lançou mão das divas do cinema, além de ser um produto bem mais barato que os concorrentes importados da França, comuns na época.

Foi lançado no Brasil em 1932, sob o nome Lever. Mas o produto não foi bem sucedido, pois na época o segmento de higiene e beleza estava engatinhando no Brasil, onde ainda era mais usado o clássico sabão. Na década de 1940 a Lever criou um grupo de demonstradoras para percorrer o país e convencer as mulheres a usar o novo sabonete. Eram conhecidas como Senhorinhas Lever. Graças a isso, na década de 1950 a marca já estava consolidada no país.

Em 1963 o nome mudou de Lever para Lux. A marca ainda hoje é líder de mercado no Brasil.



 

TODDY

Em 1916 um furacão mudou a vida do imigrante espanhol Pedro Erasmo Santiago, que viu a plantação de cacau da família ser devastada em Porto Rico. Ele e família resolveram então emigrar para os EUA. Pedro achou emprego como limpador de banheiros.

No início de 1919 o jovem empreendedor americano James Willian Rudhard desenvolveu uma bebida inspirada em duas outras: uma de origem escocesa e outra de origem caribenha. A nova bebida podia ser tomada quente ou fria e tinha como ingredientes principais leite e chocolate, e algum tempo depois foi identificada no mercado com o nome Toddy. O produto foi muito bem aceito e as vendas aumentaram ano a ano.

James resolveu expandir a marca para outros países, porém descobriu que isso não era tão fácil assim e achou melhor negociar o direito de uso da marca Toddy. Em 1928 Pedro Santiago era funcionário de James e adquiriu o direito de uso da marca para a América Latina. Dois anos depois o produto foi lançado nos mercados mexicano e argentino, fazendo muito sucesso junto ao público infantil.

No dia 15 de março de 1933 Pedro conseguiu autorização para comercializar o produto em território brasileiro. Até aviões foram contratados para escrever a marca Toddy com fumaça nos céus das cidades, tornando-a conhecida pela população. Porém desde o início o Toddy enfrentou acirrada concorrência com seu similar Nescau, na época escrito como Nescao, criado em 1932 pela Nestlé.

Na década de 1940 a marca foi introduzida na Venezuela, fazendo muito sucesso. Mais tarde também foi comercializada no Uruguai, Portugal e Espanha, além de Cuba e nas ilhas caribenhas.

Durante décadas foram feitas várias promoções ligadas ao consumo da bebida, como brindes, bonecos, vestimentas de índio e índia, etc.

A marca ficou sob controle da família Santiago até 1981, quando foi vendida para a Quaker, que no ano seguinte lançou o famoso Toddynho.

Em 2001 a Pepsi Co. adquiriu a Quaker e todo o seu portfólio. A partir daí foram lançadas inúmeras variedades e novos produtos baseados no Toddy, como Toddy Light e biscoitos.

Em 2002 a Pepsi lançou propagandas associando o Toddy a vaquinhas, que passaram a ser as mascotes da marca até hoje.


 

---------  AMANHà TEM  MAIS  ---------


quinta-feira, 5 de setembro de 2024

LEME - BAR DA BRAHMA

 

FOTO 1: O desenvolvimento do bairro do Leme começou em 1900, quando foi inaugurada a primitiva linha de bondes puxados a burro.

FOTO 2: Vemos a estação de bondes do Leme. Os moradores de Copacabana ambicionavam melhorias naquele arrabalde e também toda a gente do Rio, que nas noites de calor e de luar se deslocava em busca do ar fresco daquela extensa faixa de terra fora da barra.

Então, em 1905, a Cia. Jardim Botânico resolveu construir um grande bar, em prolongamento à sua estação de bonde, arrendando-o à Cervejaria Brahma.

Com o fim de atrair passageiros para esses novos arrabaldes, a Cia. Jardim Botânico afixou à porta de suas estações grandes tabuletas em que se liam anúncios como: “Quereis gozar de boa saúde? Ide ao Leme ou a Ipanema. Bondes em quantidade.”

Ou “Passeio agradável e refrigerante. Copacabana. Bonde até às 2h da manhã.”

O cartaz assegurava que “O luar é encantador, sendo as noites muito frescas, graças aos ares do alto mar.”

E criou quadrinhas que fizeram muito sucesso:

“Pedem vossos pulmões ar salitrado?

Correi, antes que a tísica os algeme;

Deixai do Rio o centro infeccioso,

Tomai um bonde que vá dar ao Leme.”

 

“Oh pais que tendes filhos enfezados,

Frágeis e macilentos e nervosos,

Afastai-os da manga e da banana,

À beira-mar! Aos ares salitrados!

E heis de vê-los rosados e viçosos...

Para Copacabana!”

 

“Graciosas senhoritas, moços chiques

Fugi das ruas, da poeira insana:

Não há lugares para piqueniques

Como em Copacabana.”

 

“Noivos que o céu gozais em pleno juízo,

Almas que a mágoa nem de leve empana,

Quereis de vossas noivas no sorriso

Ler a maior felicidade humana?

Prometei-lhes morar num paraíso

Róseo, em Copacabana.”

 

“Viveis do sonho? Ide enlevar em cismas

A alma que em vossos corações se aninha;

Vereis a vida por estranhos primas

Sobre os rochedos pardos da Igrejinha.”

 

“Ide a Copacabana

Espairecer sobre as areias lisas,

Ali esquecereis da vida humana

O fel travoso, que rebaixa e dana,

Ao perpassar das salitradas brisas.”


FOTO 3: O prédio tinha três fachadas, olhando uma para a Av. Atlântica, outra para a antiga Praça do Vigia (atual Praça Almirante Júlio de Noronha) e outra para a Rua Gustavo Sampaio. 

A foto de Malta, de 1910, mostra ("em alta se pode ver) o bonde de nº de ordem 63, com um anúncio na lateral superior que diz "Bebam só as cervejas da Brah...".

Ao lado da estação vemos o telhado de zinco onde se instalou o "Bar da Brahma".

FOTO 4: Já naquela época o "Bar da Brahma", aproveitando que a Cia. Ferro Carril do Jardim Botânico elevara o nível da praia, de modo a formar uma espécie de terraço, colocou diversas mesas e cadeiras do outro lado da Av. Atlântica.

FOTO 5: Esta fotografia, do acervo do A. Silva, foi enviada pelo prezado Francisco Patricio. Nela aparecem alguns frequentadores do local. São eles: Miss Clara, Mr. Roseheim, Miss Marsha e Mr. Pepper, em 1908. Todos são americanos de origem irlandesa e moravam em Boston.


FOTO 6: Nesta foto encontrada na Internet, vemos, à direita, o "Bar da Brahma". Nele havia um palco para apresentação de variedades e orquestras, assim como um "stand" de tiro ao alvo e aparelhos para exercícios. Em 1945 as instalações deram lugar à sede da "Sociedade Pestalozzi do Brasil", que ali permaneceu até meados dos anos 1970.


FOTO 7: Vemos o prédio da Sociedade Pestalozzi, no Leme.

FOTO 8: Nesta foto dos anos 1970 o enorme edifício "Dra. Regine Feigl", na esquina da Av. Atlântica com a Praça Almirante Julio Noronha, já estava construído.

Fontes: C.J. Dunlop, G. Lamounier, A. Decourt, F. Patricio, M. Zierer,  M. Conde, AGCRJ, A. Malta, "Saudades do Rio".


terça-feira, 3 de setembro de 2024

AVENIDA PRINCESA ISABEL / AVENIDA ATLÂNTICA


FOTO 1: Conta o Decourt: "Como todos sabemos a abertura da Av. Princesa Isabel foi extremamente tumultuada, principalmente no trecho após a Rua Ministro Viveiros de Castro, onde de fato o larguíssimo traçado ia encontrando um grande núnero de construções. Eram casas, lojas e prédios muitas vezes de 8 e 10 pavimentos, alguns com menos de 10 anos de construídos. Sob custosas desapropriações a avenida foi sendo aberta, até chegar no quarteirão entre a Av. Atlântica e Copacabana. Alguns imóveis chegaram a ser demolidos, mas o que fazer com o conjunto de pelo menos 3 prédios residenciais, dois de frente para o  mar e um hotel, o famoso Vogue?

Para deixar os custos com as desapropriações ainda mais altos, dos prédios o mais velho, o Ed. Edmundo Xavier, tinha  20 anos, tendo sido um dos primeiros prédios com linguagem moderna construído na orla em 1932. Os demais eram do início dos anos 40, construídos antes dos planos definitivos da nova avenida serem definitivamente traçados. 

Nos planos anteriores a intervenção iria no máximo até a Ministro Viveiros de Castro. Tudo levava a crer que a administração distrital nunca conseguiria resolver a questão, até a Boite Vogue se incendiar e destruir o prédio do hotel, condenando a estrutura e propiciando sua demolição. Com o imóvel mais caro do quarteirão destruído ficava muito mais fácil a administração pública desapropriar e demolir os prédios restantes, terminando assim a avenida.

Curiosamente como atesta essa imagem do acervo do Globo, o último prédio a cair foi o primeiro a ser construído, o Edmundo Xavier. Nessa imagem vemos as últimas lajes ainda empilhadas e alguns pilares de pé, na altura do primeiro pavimento. Em breve a avenida seria terminada." 

Colorização do Nickolas Nogueira. 


FOTO 2: Com colorização do Conde di Lido vemos que o último prédio a cair foi o primeiro a ser construído, o Edmundo Xavier. Nessa imagem de 1960 vemos os suspiros finais do prédio em foto tirada quase na altura da Praça Demétrio Ribeiro, com o prédio nas estruturas, o que atesta que sua demolição foi bem lenta. De início demoliu-se toda a alvenaria, deixando a estrutura nua, para depois ser esta demolida.



FOTO 3: A foto é do início dos anos 1980, provavelmente. Ainda havia estacionamento de carros junto ao calçadão, antes da construção da ciclovia. Na esquina das avenidas Atlântica e Princesa Isabel seria construído por volta do ano 2000 aquele prédio azul do "Atlântica Business Center", que alguns consideram bonito e outros acham um horror.


segunda-feira, 2 de setembro de 2024

PONTO FINAL DO BONDE ÁGUAS FÉRREAS

Com uma bela foto de Malta vemos hoje o ponto final do bonde Águas Férreas", da linha 3, que fazia o seguinte trajeto: Tabuleiro da Baiana, Senador Dantas, Luis de Vasconcelos, Mestre Valentim, Augusto Severo, Largo da Glória, Catete, Pedro Américo, Bento Lisboa, Largo do Machado, Laranjeiras, Cosme Velho.

Esta linha é bem antiga. Já em 1876 a "Botanical Garden", estendia a linha de bondes de Laranjeiras até a Bica da Rainha, no Cosme Velho. Poucos anos depois, em 1883, a "Cia. Jardim Botânico" ainda levou a linha de bonde mais adiante.

Durante muito tempo "Águas Férreas" foi entendido como uma espécie de bairro. O morador das Águas Férreas não era morador de Laranjeiras ou Cosme Velho.

FOTO 1: Malta nos mostra o ponto final do bonde "Águas Férreas". O texto abaixo, talvez de Machado de Assis, descreve o início da semana de um morador do bairro:

“Fazia frio naquela manhã de segunda-feira na simpática casa da Ladeira da Ascurra quando o despertador tocou. Um rápido olhar para confirmar que Lygia ainda dormia e se arrumar rápido para não perder o “Águas Férreas” das sete e pouco.

Só poderia comprar o “Correio da Manhã” na parada do Largo do Machado e o pequeno jornaleiro, com a sacola cheia, passasse ao lado do bonde. Até lá iria apreciando o casario da Rua das Laranjeiras, a Bica da Rainha, a estação do bondinho do Corcovado. Só tiraria os olhos do jornal para a habitual olhada para ver o movimento para a missa das 8 horas na igreja de N.S. da Glória e, também, o do Lamas, mas segunda-feira era sempre meio deserto. 

Passaria indiferente em frente ao Palácio, porém não deixaria de apreciar a magnífica Praça Paris e verificaria se o relógio da Glória estava funcionando. 

Lia apressado o final da reportagem, pois tinha que descer no Hotel Avenida para ir tomar café no seu bar predileto. Tomaria cuidado para não sujar a roupa, como tinha acontecido na última semana. Não queria ouvir reclamação de Lygia. 

“Seu” Antonio traria a média com café com leite e o papo sobre o fim-de-semana iria até a hora do salão de barbeiro abrir e “seu” Agostinho afiar a navalha para caprichar na barba. 

Aí estaria pronto para enfrentar a semana.”


FOTO 2: Detalhe da foto de Malta. Neste tranquilo local o bonde "Águas Férreas" fazia o retorno em direção ao Tabuleiro da Baiana.


FOTO 3: Nesta outra foto de Malta, vemos a Rua do Catete por volta de 1920. Este local, o Largo do Valdetaro, ficava perto do Palácio do Catete. A largura do largo permitia esse refúgio. Na realidade não havia pista exclusiva para os bondes. Neste trecho, segundo o Decourt, eles apenas faziam o traçado com menos inflexão acabando por passar bem tangente ao largo. Não sei se nos anos 40, quando os refúgios começaram a ser retirados os trilhos foram reposicionados, mas é uma possibilidade.

Vemos a tranquilidade da vida carioca daquele tempo, com os passageiros comodamente sentados no bonde, alguns lendo o jornal do dia. Uma senhora calmamente sobe os estribos, sem nenhuma preocupação. 

O bonde "Águas Férreas", de número 108, tinha duas tabuletas na frente: uma com o itinerário "Via Cattete, Laranjeiras, Cosme Velho". A outra, com um anúncio onde está escrito "TENNIS, um dos cigarros da Cia. Souza Cruz. E o maço custava 200 réis. 

À esquerda vemos os infatigáveis Lulu & Dudu na labuta diária.