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sábado, 12 de fevereiro de 2022

DO FUNDO DO BAÚ: REVISTAS

 

REVISTAS ANTIGAS, por Helio Ribeiro.

Este Fundo do Baú descreve algumas das revistas que circularam no Brasil em décadas passadas e tiveram alguma influência na minha vida ou eram figurinhas fáceis na minha casa, nas fases de criança e adolescência. Para cada uma há um pequeno texto, com observações pessoais minhas. Os dados e as fotos foram obtidos da Internet.

Infelizmente não encontrei absolutamente nada sobre uma revista chamada Cabala, que continha horóscopos e artigos esotéricos e que era presença constante lá em casa.

1) REVISTA DO RÁDIO

Fundada em abril de 1948, circulou até 1970, quando mudou o nome para Revista do Rádio e TV. Inicialmente mensal, tornou-se semanal já em 1950. Continha cerca de 50 páginas e era destinada exclusivamente a notícias sobre o mundo artístico da radiodifusão. Foram publicadas mais de 1000 edições. Seu carro chefe era a seção Mexericos da Candinha, um personagem fictício que só fazia fofocas.

Lá em casa era presença constante. Uma vez um fotógrafo ambulante convenceu minha mãe e ela pagou para tirar uma foto de meu irmão e de mim com um exemplar da revista nas mãos, simulando leitura

Na foto da edição abaixo, Emilinha Borba e Cauby Peixoto.


2) RADIOLÂNDIA

Fundada em 1953 por Roberto Marinho, era uma rival da Revista do Rádio. Publicada semanalmente, era dirigida por Henrique Pongetti. Não consegui muitas informações sobre a revista, porém me lembro perfeitamente dela.

Na foto abaixo, edição de 12/04/1958 (por coincidência data do meu aniversário de 11 anos), vemos o cantor Francisco Carlos. Quem se lembra dele?


3) GRANDE HOTEL

Uma das principais revistas de fotonovelas, foi fundada em 1947, porém só no seu número 210, em 31 de julho de 1951, publicou sua primeira fotonovela. Era presença constante lá em casa, comprada por uma tia. Eu devorava todas as novelas, prestando atenção também nas placas dos carros, já que as novelas eram italianas. Foi essa leitura que desenvolveu em mim o sonho bobo de amor romântico.

Outras revistas famosas de fotonovelas eram Capricho, Sétimo Céu (também tinha lá em casa), Ilusão e Contigo.

Entre atrizes brasileiras de fotonovelas se contam Elisângela e Susana Vieira.


4) DETETIVE

Revista de casos policiais verídicos. Era a minha preferida e provavelmente responsável por eu ser amante de casos reais. Não gosto de ficção. Hoje em dia, na NET, só assisto ao canal ID Discovery, que pode ser considerado uma versão moderna da revista: só casos reais de crimes. Não confundir com a revista "Detective Comics", que ignoro se circulou no Brasil.

Nâo consegui na Internet maiores informações sobre a revista. Abaixo segue a capa da edição de primeiro de janeiro de 1960.


5) X-9

Fundada em 1941 por Roberto Marinho, circulou até a década de 1970. Continha histórias de terror, suspense e contos policiais. Tinha uma seção de páginas amarelas, em que os casos policiais eram reais. Essa seção se chamava "Suplemento amarelo do crime". O restante da revista era ficção. Eu também a lia, porém com preferência pelas páginas amarelas.


6) REALIDADE

Lançada em abril de 1966, até fins de 1968 apreentava grandes reportagens com temas do momento, muitas vezes polêmicos. A pressão da Igreja Católica e de outros setores da sociedade, e logo a seguir a censura governamental e dissidências internas, fizeram com que até 1973 ela perdesse o tom de denúncia. De outubro desse ano em diante houve uma mudança radical na linha editorial e a paginação também mudou, aproximando-se do estilo da revista VEJA. Em março de 1976 saiu de circulação.

Era uma das minhas preferidas, para tomar conhecimento do que estava acontecendo.


 

7) SELEÇÕES DO READER'S DIGEST

Idealizada por Wiliam Roy DeWitte Wallace em 1919, foi recusada por várias editoras. Em 1922 DeWitte e a noiva conseguiram dinheiro suficiente para publicar o primeiro número, no mês de fevereiro. Foi um sucesso. Na década de 1930 chegou a um milhão de assinantes. Foi lançada no Brasil em 1942. Atualmente é publicada em 35 idiomas de 120 países.

Desde cerca dos 12 anos de idade eu era fissurado pela revista. Onde a encontrava, começava a lê-la. Em 1961, aos 14 anos, minha mãe me deu uma assinatura dela por dois anos. Foi a glória. Em 1963 ela não conseguiu manter a assinatura. Fiquei triste.

Seleções teve grande importância na minha vida, em algo que não era o forte dela; e foi um estrondoso fracasso naquilo que talvez ela se esforçasse em passar para seus leitores, provocando em mim efeito contrário ao que provavelmente ela desejava.

Explico: em algumas edições apareciam na contracapa fotos de capas da revista em vários países, com respectivos idiomas. Isso acirrou em mim a curiosidade e interesse por outras línguas, que já existiam antes e persistem até hoje. Foi assim que em 1962, ao completar 15 anos de idade, pedi a minha tia como presente um curso Linguaphone de alemão, anunciado na revista.

Já quanto a absorver o "american way of life" ou a política americana, na época em plena Guerra Fria, o fracasso foi enorme. Quanto mais eu lia artigos criticando os russos, mais eu os admirava. E vibrava quando eles lançavam satélites mais avançados que os americanos.

Durante minha passagem pelo CPOR, em 1966, o coronel-comandante lia uma catilinária anticomunista, que me entrava por um ouvido e saía pelo outro. Só fui começar a ter bronca dos russos na época da Primavera de Praga, em 1968. E mais ainda quando li sobre a Revolução de 1918 e todos os massacres que se seguiram a ela durante décadas, inclusive a Holocausto ucraniano.

Só o que admiro nos russos é a resistência deles à invasão nazista de 1941. Fora isso, hoje sinto pelos americanos e russos o mesmo que pelo Brasil: nojo.



sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

O BONDE PRISIONEIRO

 

O BONDE PRISIONEIRO, por Helio Ribeiro

Você está se sentindo abandonado pelos seus, está achando que trabalha de graça, que faz o bem a tanta gente e não recebe nada em troca? Pois o bonde prisioneiro experimentava essas mesmas sensações. Vou contar a comovente história dele.

Desde fins do século XIX havia uma linha de bondes a burro, de nome "Inhaúma", que partia da estação de bondes do Méier, próxima à estação ferroviária homônima, e terminava na Praça 24 de Outubro, em Inhaúma. O percurso cruzava a linha férrea do ramal Auxiliar, na altura da estação Cintra Vidal, próxima ao Largo dos Pilares.

No mapa abaixo, em linha roxa está representado o traçado da via férrea e em linha vermelha, o do bonde. As interrupções na linha vermelha foram feitas apenas para deixar visível o nome de algumas ruas percorridas pelo bonde.


No ano de 1945 foi feita a eletrificação da Linha Auxiliar, impossibilitando a travessia do bonde na cancela de Cintra Vidal, isolando assim o trecho entre essa cancela e o ponto final da linha do bonde, na Praça 24 de Outubro.

Em 07 de maio de 1945 a Light mudou o nome da linha, de "Inhaúma" para "Pilares", e seu percurso passou a ser somente do Méier até o Largo de Pilares. Para atender aos moradores do trecho isolado, a Light atravessou um bonde pela cancela e o manteve fazendo apenas tal trecho. Essa curta linha não tinha número nem nome e não havia cobrança de tarifa para os passageiros, em virtude de acordo assinado com a Prefeitura.

O mapa abaixo mostra em linha roxa o traçado da linha férrea, em linha vermelha o da linha de bondes Pilares e em verde o do bonde prisioneiro. A interrupção na linha verde foi feita apenas para permitir a leitura do nome da rua. 


Havia apenas um bonde fazendo esse percurso. Eventualmente a Light trocava esse bonde, seja por ter apresentado problema, seja por efeito de manutenção periódica. Desconheço como era feita a travessia dele pela cancela.

Ao contrário de seus amigos, que toda noite se recolhiam ao abrigo das várias estações de bondes que havia, onde recebiam os cuidados necessários das equipes de manutenção, o bonde prisioneiro dormia ao relento, sob céu estrelado ou sob temporal, vendo seus bancos de peroba do campo servirem de cama para mendigos. Triste sina.

Essa vida dura fazia com que ele se deteriorasse rapidamente, como mostra a foto abaixo, de um desses infelizes, datada de 22/08/1948.


Como não havia rodo na ponta da linha perto da cancela, os bondes prisioneiros eram necessariamente bidirecionais e circulavam apenas em um único par dos trilhos originais. Quem quisesse, por exemplo, ir do Méier até Inhaúma, pegava o bonde da linha Pilares, saltava no largo, caminhava a pé até a cancela, atravessava-a e pegava o bonde prisioneiro.

A foto abaixo, datada de 12/07/1951, mostra um destes bondes parado na ponta da linha junto à cancela de Cintra Vidal. Note que o número e o nome da linha não combinam, o que não fazia nenhuma diferença. A posição da alavanca no topo do bonde indica que ele acabou de chegar vindo do fundo da foto. Voltará pelos mesmos trilhos.



quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

RUA PRUDENTE DE MORAIS

Acho esta fotografia, do acervo do Arquivo Nacional, que mostra a Rua Prudente de Morais quase esquina com Rua Montenegro, um bom retrato da época.

Era o ano de 1967 e podemos observar o mobiliário urbano onde se destacam a antiga placa de parada de ônibus e o sinal com duas cores. Era um tempo em que havia ainda muito poucos sinais por Ipanema, principalmente nas ruas internas.

A moça, provavelmente uma aluna da PUC, abraçada em seu fichário, febre na época entre os estudantes. As capas dos fichários eram enfeitadas com decalques ou, entre os meninos, com o logotipo da Volkswagen arrancado de algum fusca.
O rapaz, cujo uniforme não consegui identificar, segurava uma pasta com fecho-éclair. Talvez fosse aluno do Colégio São Bento, mas neste caso o que estaria fazendo por aí?

O caminhão parece ser daqueles que entregavam carne nos açougues. Tinham uma escadinha na traseira e os carregadores desciam com a carne nos ombros, protegidos por uma capa branca. Os grandes pedaços de carne tinham um carimbo azul da fiscalização. 

O ônibus Monobloco Mercedes-Benz ainda com o cano de descarga vertical era bonito, mas funcionava mal, com o motor na traseira. 

As calçadas ainda não eram de pedra portuguesa, o que era muito melhor, na minha opinião. E, ao fundo e à direita, o Bar Veloso.

Ipanema era muito interessante nesta época. 

 

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

FESTA DA SOMBRINHA

As fotos de hoje são dos anos 1927, 1928 e 1929. Mostram a “Festa da Sombrinha”, organizada pelo Praia Club, situado na Avenida Atlântica nº 790, atual 3170, segundo o Zierer. 

As jovens cariocas participavam do concurso cujas inscrições eram feitas na secretaria do Praia Club pelo telefone Ipanema 0775.

A festa era para “solenizar a entrada do verão em Copacabana”.

Uma multidão acompanhava o evento. O júri julgava as concorrentes em três categorias: luxo, arte e originalidade. Em 1929 era composto por D. Anna Amelia de Queiroz Carneiro de Mendonça, Dr. Laudelino Freire, Dr. Frederico Barata, Aureliano Machado, Dr. Paulo Filho e Professor Augusto Bracet.

À noite havia uma soirée dançante com a presença de duas orquestras, quando eram entregues às senhoritas vencedoras os prêmios conquistados no deslumbrante certame.

Descobri esta foto num acervo do IMS e comecei a preparar o “post” pensando que a foto era inédita. Santa inocência e pouca memória! Acabei por ver que já havia publicado a mesma, reproduzindo um “post” do M. Zierer. Enfim...

O movimento de pessoas se deve à “Festa da Sombrinha”, patrocinada pelo Praia Clube, a partir de 1927.

Achei esta foto, do acervo de Edmundo Coutinho, no "blog" do Decourt. Este grupo participava da "Festa da Sombrinha" como que num banho de mar a fantasia.

Foto do acervo de Gilberto Amorim, também publicada pelo Decourt. Estamos na altura do Posto 5, entre as ruas Bolivar e Xavier da Silveira. Vale rever um outro estupendo “post” pesquisado pelo Zierer que mostra didaticamente o que havia no quarteirão da Av. Atlântica onde ficava a sede do Praia Club:

https://saudadesdoriodoluizd.blogspot.com/2019/08/avenida-atlantica.html


 O “Correio da Manhã”, em 1927, fez extensa reportagem sobre a “Festa da Sombrinha”. Comentou que “há muito que o Rio não assistia a uma festa onde predominasse a arte e o bom gosto, absorvida, como andava nossa capital, com coisas desinteressantes, manifestações que positivamente não honravam a tradição carioca.

A orla do mar oferecia um aspecto pouco comum, pelo variado dos gostos, na confecção de sombrinhas, as mais raras na beleza, as mais originais na originalidade, aliadas muitas à riqueza com que por mão delicadas e formosas haviam sido criadas.”

O primeiro prêmio coube à gentil senhorita Elsa Ribeiro, que vemos na foto.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

BUEIROS E ESGOTOS DE COPACABANA

A Av. Atlântica e, por extensão, a própria Praia de Copacabana, sofreu muito com o descaso dos governantes. Ou eram bueiros entupidos como vemos nesta foto ou o despejo de esgoto que vemos nas fotos abaixo.

Fossem águas pluviais ou esgoto mesmo, do Leme ao Posto 6, em diversos trechos havia despejos volumosos como este da foto. Uma vergonha para a cidade.

Neste trecho entre o Posto 5 e Posto 6 vemos um menino se equilibrando sobre uma "ponte" para atravessar para o outro lado desta "língua negra". Este nome é mais recente, não era usado nos anos 60. Ao fundo vemos as árvores da Casa do Vaticano.

Desta, como em algumas outras, era impossível escapar caso se quisesse caminhar pela beira do mar. A água destes despejos era amarelada e morna. Parecia urina. Era um horror.


 Até defronte à belíssima mansão Paranaguá, construída em 1911, havia uma "língua negra". Um bom saltador conseguia pular de um lado a outro neste trecho. Como curiosidade cito que esta mansão tinha dezenas de aberturas para a praia.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

PRAIA DE IPANEMA

Nem tudo era lindo há 50 anos. Vemos nesta foto o efeito da ação de vândalos na Praia de Ipanema. Os bancos estão destruídos e o antigo calçamento feito com pedras de concreto também está em mau estado.

Nesta foto, outro banco vandalizado. E é curioso observar o costume da época, tal como na foto anterior, de que ninguém andava pela calçada da praia sem camisa. Somente quando se pisava na areia é que os homens retiravam as camisas.

É deplorável o desleixo com a conservação dos postes de iluminação. Ao fundo vemos o Edifício Cordeiro, no Vidigal, que durante décadas se destacou nas fotos de Ipanema/Leblon.

Junto aos saudosos quiosques de sapê vemos o calçamento todo destruído, provavelmente por uma ressaca.

 Nota: fotos do Arquivo Nacional, acervo do Correio da Manhã.