Total de visualizações de página

sábado, 13 de julho de 2024

GALÃS, ESTRELAS E PALHAÇOS

  GALÃS, ESTRELAS E PALHAÇOS, por Helio Ribeiro

Esta postagem remete aos tempos do cinema nacional das décadas de 1950 e 1960, com seus atores e atrizes mais famosos. Tempos das saudosas produtoras cinematográficas Vera Cruz e Atlântida.

OSCARITO (16/08/1906 – 04/08/1970)

Oscar Lorenzo Jacinto de la Inmaculada Concepción Tereza Diaz nasceu em Málaga, na Espanha, numa família circense. Com um ano de idade sua família emigrou para o Brasil. Em 1949 ele se naturalizou brasileiro.

Estreou no circo aos cinco anos de idade, fazendo o papel de índio numa adaptação de O Guarani, de Carlos Gomes. Ali aprendeu violino e foi trapezista, palhaço e acrobata.

Em 1932 estreou no teatro de revista, na peça Calma, Gegê, que satirizava o presidente Getúlio Vargas, de quem se tornou amigo.

No cinema estreou em 1935, no filme Noites Cariocas. Foi nessa arte que ganhou popularidade e fama, trabalhando em dupla com Grande Otelo em numerosos filmes estilo chanchada.

No Brasil, era comparado a Chaplin e Cantinflas.

Na manhã de 15 de julho de 1970 machucou-se ao realizar um salto durante uma apresentação. Foi internado, porém sofreu um AVC. Ficou em coma até 04 de agosto, quando faleceu.

Trabalhou em 47 filmes, entre os quais podemos citar Carnaval Atlântida, Matar ou Correr, Vamos Com Calma, Colégio de Brotos, De Vento em Popa, O Homem do Sputnik, Crônica da Cidade Amada, A Espiã que Entrou em Fria.

 GRANDE OTELO (18/10/1915 – 26/11/1993)

Sebastião Bernardes de Souza Prata era filho de um boiadeiro, do qual ficou órfão aos dois anos de idade. Sua vida artística começou em 1923 ou 1924, num picadeiro de circo na cidade de Uberlândia, onde nascera. Disse ele que já era conhecido como um palhacinho na cidade, com apelido Bastiãozinho.

Aos oito anos foi levado para São Paulo pela dona de uma companhia de teatro. Lá fugiu várias vezes, acabando sempre no Juizado de Menores.

Em 1927 participou da Companhia Negra de Revistas, fundada por Jayme Silva e pelo artista negro De Chocolat e de onde Pixinguinha era o maestro. Suas apresentações chamaram atenção e um comentarista do Jornal do Commercio chamou-o de “grande Othelo”. O apelido pegou.

Ao longo das décadas de 1930 a 1950 participou de várias peças do teatro de revista. Em 1942, fazendo um papel no filme inacabado “It’s All True”, de Orson Welles, este o considerou o maior ator brasileiro. Em 1950 estava no auge da carreira.

No cinema, fez várias parcerias famosas, entre as quais com Oscarito e depois com Ankito. Também formou dupla em muitos espetáculos musicais e no cinema com Vera Regina, uma negra alta que lembrava Josephine Baker. O fim dessa parceria com Vera Regina gerou uma crise em Grande Otelo, da qual só se recuperou em 1969, na filmagem de Macunaíma.

Participou de várias novelas da TV Globo e do humorístico Escolinha do Professor Raimundo. Seu último trabalho foi na novela Renascer¸ pouco antes de sua morte.

Tragicamente, essa morte ocorreu devido a um infarto fulminante logo depois de desembarcar em Paris no aeroporto Charles de Gaulle, quando seguia para o Festival dos Três Continentes, em Nantes, onde seria homenageado num painel sobre negritude no cinema.

Sua vida teve várias tragédias: seu pai morreu esfaqueado e sua mãe era alcoólatra. Em 1948 casou-se com Lucia Maria Pinheiro, tendo o filho Elmar. No ano seguinte Lucia matou a tiros a criança, então com seis anos de idade, e depois suicidou-se.

 

ANKITO (26/02 ou 26/11/1924 – 30/03/2009)

Anchizes Pinto é considerado um dos cinco maiores nomes das chanchadas brasileiras. Nasceu no Brás, em família circense. Seu pai era o palhaço Faísca, sua mãe era atriz circense e seu tio era o famoso palhaço Piolim.

Passou a atuar no circo aos quatro anos de idade como acrobata, e posteriormente no Globo da Morte. Onze anos depois atuou em shows no Cassino da Urca como acrobata, na época considerado um esporte, o que lhe valeu cinco vezes o título de Campeão Sul-Americano da especialidade.

Em 1952 estreia no cinema com o filme É Fogo na Roupa, onde faz um tipo ingênuo e divertido com o qual atuaria em mais de 30 filmes posteriores. O sucesso foi enorme.

Entre esse ano e 1961 protagonizou dezenas de filmes, entre os quais Marujo por Acaso, Pé na Tábua, Um Candango na Belacap, Pistoleiro Bossa Nova, Vai que é Mole e Metido a Bacana, onde pela primeira vez fez dupla com Grande Otelo, no ano de 1957. Sua carreira estava no apogeu.

Em 1960 caiu de um prédio durante a filmagem de Um Candango na Belacap, sofrendo lesões que o impediram de continuar fazendo acrobacias e abreviaram sua carreira cinematográfica.

Dali em diante participou de poucos filmes, porém na TV fez presença em vários programas humorísticos na Tupi, Record e Bandeirantes. Já na TV Globo participou de várias telenovelas, como Gina, Marina, Alma Gêmea, A Sucessora. Também participou de várias minisséries e fez parte do elenco da primeira versão de O Sítio do Pica-pau Amarelo, fazendo o papel do Curupira e do Soldadinho de Chumbo.

Morreu em 30 de março de 2009 em decorrência de câncer de pulmão.

 

MAZZAROPI (09/04/1912 – 13/06/1981)

Amácio Mazzaropi foi nome marcante no cinema brasileiro, fazendo sempre o papel de jeca ou de matuto, tendo produzido, escrito, dirigido ou estrelado trinta e dois filmes entre 1952 e 1980.

Mazzaropi nasceu no bairro de Santa Cecília, em São Paulo, mas aos dois anos sua família se mudou para Taubaté. Seu conhecimento do modo de vida caipira se deveu ao avô materno, que o levava a festas no bairro onde moravam.

Depois de algumas atuações em circo, no início da década de 1930 ele estreou em sua primeira peça teatral, A Herança do Padre João. Ao longo do final dessa década e da seguinte formou uma trupe e percorreu o interior do Estado de São Paulo.

Sua estreia no cinema ocorreu em 1952, no filme Sai da Frente, a cargo da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, com a qual fez mais dois filmes. Com o fim da Vera Cruz, fez cinco filmes com outras produtoras.

Em 1958 fundou em sua fazenda de Taubaté a PAM Filmes (Produções Amâncio Mazzaropi), responsável pela maioria dos seus filmes. Após sua morte o local virou o Museu Mazzaropi, contendo todo o acervo de sua vida e carreira.

A primeira obra da sua produtora foi Chofer de Praça. Em 1962 lançou seu filme mais famoso, o Jeca Tatu. Seu primeiro filme a cores foi Tristeza do Jeca, também o primeiro a ser exibido pela televisão, na TV Excelsior.

Seu próximo sucesso foi O Corintiano, recorde nacional de bilheteria.

Em 1974 construiu um grande estúdio de gravação, com oficina de cenografia e hotel para atores e técnicos. Ali produziu mais cinco filmes, até 1979.

Em três décadas ele produziu ou participou de 32 filmes. Seu 33º filme, Maria Tomba Homem, ficou incompleto.

Mazzaropi morreu de câncer na medula óssea, após 26 dias internado.

 

CYLL FARNEY (14/09/1925 – 14/03/2003)

Cilênio Dutra e Silva era irmão do cantor Dick Farney e foi o maior galã da companhia cinematográfica Atlântida.

Seu primeiro filme foi A Escrava Isaura, em 1949, e daí em diante destacou-se nas chanchadas da Atlântida ao longo da década de 1950. Sua presença atraía multidões de fãs femininas aos cinemas. Foram 41 filmes, entre 1949 e 1976. Entre eles encontram-se Carnaval Atlântida, Colégio de Brotos, De Vento em Popa, O Homem do Sputnik, As Sete Evas, A Infidelidade ao Alcance de Todos.

Na TV trabalhou durante pouco tempo. Entre 1956 e 1958 era o ator principal na série O Jovem Dr. Ricardo, a primeira com temática médica na TV. Contracenava com Tereza Rachel, no papel da enfermeira Patrícia, e com Ribeiro Fortes, no papel do experiente Dr. Martim

Em 1978 deixou a carreira de ator e fundou a produtora Tycoon, pela qual lançou 14 filmes. A TV Globo, antes de inaugurar seus próprios estudos de gravação, em 1995, muitas vezes alugava as instalações da Tycoon.

Também produziu muitos documentários sobre grandes nomes da música brasileira, como Francisco Alves, Orlando Silva e outros, resgatando a memória de artistas de sua geração.

Morreu aos 77 anos, no Rio de Janeiro, de causa não divulgada a pedido da família.

 

ELIANA MACEDO (21/09/1926 – 18/07/1990)

Ely Macedo de Azevedo foi uma das grandes estrelas do cinema nacional, no qual estreou em 1948, com o filme E o Mundo se Diverte, dirigido por seu tio Watson Macedo, ao lado de Carlos Manga, responsável pela época de ouro da Atlântida. Watson Macedo dirigiu Eliana durante quase toda a sua vida artística.

Seu grande momento foi no filme Carnaval no Fogo, de 1949, quando interpretou dois papéis. Watson Macedo preferia Maria Della Costa e Cacilda Becker, mas os diretores da Atlântida impuseram Eliana. E foi um sucesso.

Em 1954, por sua participação no filme A Outra Face do Homem, foi vencedora do Prêmio Saci, a maior premiação cinematográfica da época.

Era a principal atriz da Atlântida Cinematográfica, maior produtora de filmes naqueles tempos.

Estrela das chanchadas lançadas no período, trabalhou em 26 filmes e atuou ao lado de artistas como Oscarito, Anselmo Duarte, Grande Otelo, José Lewgoy e Cyll Farney.

Em 1950 casou-se com Renato Murce, muito mais velho, causando comentários.

Faleceu em 1990, vítima de infarto.

 

ANSELMO DUARTE (21/04/1920 – 07/11/2009)

Anselmo Duarte Bento é considerado um dos grandes nomes do cinema brasileiro. Começou como figurante no inacabado filme de Orson Welles “It’s All True”, de 1942, em que também trabalhava Grande Otelo. Logo após fez Querida Susana, com Tônia Carrero e Nicete Bruno. Com Carnaval no Fogo, em 1949, dirigido por Watson Macedo e no qual também trabalhou a supracitada atriz Eliana, tornou-se um dos maiores galãs que o cinema nacional já teve.

Em 1951 foi contratado pela Companhia Cinematográfica Vera Cruz com o maior salário da produtora, e no ano seguinte foi lançado Tico-Tico no Fubá, um grande sucesso. Fez mais três filmes na Vera Cruz.

Em 1957 estreou como diretor em Absolutamente Certo.

Em 1962 ganhou a Palma de Ouro e o Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes com o filme O Pagador de Promessas. François Truffaut foi o maior defensor do prêmio especial para Anselmo.

Sua carreira entrou em declínio em virtude de divergências ideológicas com os adeptos do Cinema Novo.

Em 22 de junho de 2009 foi feito Cavaleiro da Ordem do Ipiranga pelo governo do Estado de São Paulo.

Morreu em 07 de novembro de 2009 em decorrência de complicações originadas pelo terceiro AVC que o acometeu.

 ------------  FIM  DA  POSTAGEM  ------------

"O Saudades do Rio" mais uma vez agradece a colaboração do Helio Ribeiro

 

 

quinta-feira, 11 de julho de 2024

A ARTE DE JEAN MANZON (2)

 

FOTO 1: O transporte regular aquaviário na Baía de Guanabara foi iniciado em 1853, com a criação da Companhia de Navegação de Nichteroy, empresa privada que fazia o transporte de passageiros entre Rio e Niterói utilizando três embarcações. 

Esta empresa foi sucedida pela companhia FERRY, criada em 1862, depois substituída pela Companhia Cantareira e Viação Fluminense, fundada em 1869, com o objetivo de transportar além de passageiros, cargas e veículos.

Em 1946, a Frota Carioca, com quatro lanchas: "Peruana", "Mexicana", "Uruguai" e "Yankee", assumiu o controle acionário da Cantareira e, dois anos depois, a Frota Barreto passou a controlar a Cantareira e a Frota Carioca. 

Em maio de 1959, um ciclo de greves, em função da disputa por maiores subsídios governamentais e aumentos de tarifas, provocou uma reação violenta da população, que depredou a Estação de Niterói, o estaleiro e até a residência dos proprietários da empresa. O então presidente da República Juscelino Kubitsckek desapropriou os bens da Frota Barreto, passando-os para o controle da União. 

Em 1967, o Governo Federal criou a STBG S.A - Serviço de Transportes da Baía de Guanabara, dentro do plano de estatizações então iniciado no país. Além do transporte de passageiros, a empresa também operava o transporte de cargas e veículos, serviço este que foi extinto em 1974, com a inauguração da Ponte Presidente Costa e Silva (Ponte Rio - Niterói).

Em 1971, a STBG S.A passou para o controle do Governo estadual, sendo dois anos depois criada a CONERJ - Companhia de Navegação do Estado do Rio de Janeiro. Hoje em dia, o serviço está privatizado, a cargo das Barcas S.A. 



FOTO 2: Aparentemente alunas de um colégio brincam nas areias da Praia de Ipanema. Seriam do Colégio São Paulo que até hoje resiste na região do Castelinho ou estaríamos na região em frente ao Country Club?


FOTO 3: Um "lambe-lambe" fotografa uma "modelo" em plena Cinelândia, sob o olhar dos desocupados que frequentavam o centro da cidade até há pouco tempo.


FOTO 4: A foto mostra a região do Mourisco com as sedes dos clubes Guanabara e Botafogo ainda com construções em andamento. Ambas as sedes substituíriam as que foram demolidas quando da construção do Túnel do Pasmado.

O famoso anúncio da Salutaris, luminoso que tinha um copo se enchendo de água com gás, já está lá, ao lado do anúncio "Beba Cinzano". Podemos comprovar que o trânsito do Túnel do Pasmado, há pouco tempo inaugurado, era em mão-dupla e que os belos jardins parecem bem cuidados.

Em destaque, na Av. Pasteur, a Policlínica de Botafogo, que está lá até hoje.

quarta-feira, 10 de julho de 2024

A ARTE DE JEAN MANZON (1)

Vemos hoje algumas fotografias do grande Jean Manzon, um francês que veio para o Brasil em 1940. Trabalhou para os  Diários Associados, principalmente na revista O Cruzeiro, e depois na revista Manchete. 

Praticou um foto-jornalismo diferente, que marcou uma geração. Trabalhou também como cineasta, sendo famosos os seus documentários.

FOTO 1: Vemos um aspecto noturno do Congresso Eucarístico realizado no Rio. Lembro-me, vagamente, de ter sido levado a uma das sessões diurnas. Conforme nos conta Carlos Reis, em Brasil Revista, "o  XXXVI Congresso Eucarístico Internacional, que se realizou nesta mui leal e heróica cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, de 17 a 24 de julho de 1955, foi a maior, a mais imponente das assembleias desse gênero, já efetuadas em todo o orbe católico. 

A Prefeitura Municipal desta cidade, tomando de ombros um notável empreendimento, conseguiu construir, com desmontes do Morro de Santo Antonio, a magnífica esplanada, onde teve lugar o grande certame. 

Duvidou-se, de começo, que se pudesse fazer área tão espaçosa em tão curto tempo. Mas Deus, decerto, ouviu as preces dos que se interessavam pelo local. Levantou-se, no fundo, na parte que toca a orla do mar, o Altar-Monumento, que se protegeu por uma enorme bandeira pontifícia. Neste Altar, ardeu, por sete dias, um círio monumental. Para acomodação dos fiéis, fizeram-se bancos cuja extensão daria uma fila de 96 quilômetros de comprimento. (...) 

No dia 17 de julho, realizou-se a procissão soleníssima da imagem de N. S. Aparecida, a padroeira do Brasil, procissão esta que, partindo da gare da Estrada de Ferro Central do Brasil, se destinou à praça do Congresso. Este cortejo arrastou perto de um milhão de pessoas. (...) 

O céu era riscado pelos refletores da Marinha de Guerra, projetando-se no escuro da abóbada celeste as cores do arco-íris. A procissão marítima de transladação do S.S. Sacramento, de Niterói para o Rio, esteve deslumbrante. O ostensório foi conduzido a bordo do caça-submarino "Grajaú". Em 24 de julho encerraram-se os trabalhos do Congresso".


FOTO 2: Vemos o que poderia ser considerado o "kit" de carnaval dos anos 50, com sacos de confete, rolos de serpentina, colares, caixas e mais caixas de lança-perfume Rodouro. Ali à direita um exemplar daquelas máscaras que se colocavam sobre os olhos. E uma ventarola com o escudo do Botafogo. 

A fotografia, com este vendedor com um chapéu de excursões africanas, parece ter sido posada.

FOTO 3: Era assim o trecho da Av. Rio Branco nas vizinhanças do Teatro Municipal por ocasião de um desfile militar. Aparentemente é um dia útil, tal o número de homens de terno junto ao sinal de trânsito, e não se vêem crianças, sempre presentes nas paradas militares. 

Estacionado junto ao Teatro Municipal vemos o antigo caminhão de transporte militar que, nos anos 60, seria temido sempre que aparecia para controlar alguma manifestação popular. Se fosse da PM seria ouvida a frase "Se manda que o caminhão de choque está chegando". Se fosse da Polícia Especial seria ouvido "Lá vem Chapeuzinho Vermelho", em alusão aos quepes vermelho vivo da tropa.

FOTO 4: Nosso personagem de hoje,  na calçada do Campo de Santana, lê O Globo. Talvez pudesse estar se informando dos detalhes do recorde olímpico batido por Adhemar Ferreira da Silva, em 1956, quando saltou 16,35 m na final do salto triplo, nas Olimpíadas de Melbourne. Adhemar foi o primeiro atleta brasileiro a ser bi-campeão olímpico. 

A fotografia, pela sombra projetada, sugere ter sido feito na parte da manhã. Isto significa que tratava-se de uma segunda-feira, único dia, naquela época, em que O Globo circulava pela manhã (nos outros dias circulava à tarde e no domingo não circulava). Outro grande jornal da época, o Correio da Manhã, era um matutino que não circulava às segundas-feiras. 

Chamam a atenção na foto a vestimenta dos passantes (sem chinelos, bermudas ou camisetas), a ausência de mulheres e o Campo de Santana sem grades.


FOTO 5: Nada como um sorvete com as amigas, num bar das antigas, com taças de alumínio. As opções eram: morango; flocos; chocolate; limão; creme; côco queimado; ameixa. 

Lembram daquele rolo de papel de embrulho ali no balcão? Já não se vê hoje, substituído por sacos plásticos. Faltou aquele rolo de barbante pendurado no teto.

E qual seria o melhor lugar para tomar sorvete no Rio de hoje? 

Uma "private joke": em que bairro ficavam as pastelerias chinesas apelidadas de "Melequinha" e "Cabelinho"? 

segunda-feira, 8 de julho de 2024

O HONVED NO RIO

Há alguns times de futebol que se tornam lendários. Um deles foi o Honved, base da seleção da Hungria que encantou o mundo no Campeonato Mundial de 1954, mesmo perdendo a final para a Alemanha.

Em 1957 o Honved foi convidado a participar de jogos no Rio.

Como a maioria de seus jogadores se posicionou a favor da revolução contra o regime comunista instalado na Hungria, a Federação Húngara de Futebol proibiu a saída do time do país. A própria FIFA endossou a punição. Entretanto, após muitas idas e vindas, o time acabou vindo para o Brasil e disputou três jogos no Rio, contra o Flamengo, o Botafogo e um combinado desses dois clubes.

O Flamengo não cedeu às ameaças da FIFA e da CBD. Para isto contou inclusive com o apoio de D. Sara Kubitschek, do Cardeal D. Jaime de Barros Câmara e de D. Helder. Ao final o presidente do Flamengo, José Alves de Moraes, e o vice-presidente Fadel Fadel, viram seus esforços coroados de êxito.


Os jogos no Rio tiveram os seguintes resultados: Flamengo 6x4 Honved, Honved 4x2 Botafogo, Honved 3x2 Flamengo, Combinado Flamengo e Botafogo 6x2 Honved.

O Flamengo jogou com Ari, Tomires e Pavão. Milton Copolilo, Luis Roberto e Edson. Paulinho, Moacir (Duca), Evaristo, Henrique (Dida) e Babá (alguns titulares do Flamengo não jogaram por estarem na seleção carioca que disputava o Campeonato Brasileiro de Seleções). O técnico era Fleitas Solich, o “feiticeiro”.

O Honved jogou com Grocics, Rakecsi e Banyai. Lantos Bozsick e Kotasz. Budai, Kiocsis, Szusza, Puskas e Czibor. Os gols foram de Moacir, Henrique, Evaristo, Kocsis, Paulinho, Dida, Budai, Evaristo e Puskas duas vezes.


O primeiro jogo foi no sábado 19/01/1957, tendo como juiz Mario Vianna, auxiliado por Antonio Viug e Alvaro Sandy nas bandeirinhas. Na foto vemos Puskas, Mario Vianna e Evaristo.

Nesta foto meio fora de foco vemos Puskas e Evaristo com um dos troféus disputados nos jogos.


No dia 23/01/1957 o Botafogo perdeu de 2x4 para o Honved, com o seguinte time: Amauri, Bob e Fernando Maia. Bauer, Pampolini e Nilton Santos. Garrincha, Didi, Paulinho, Cañete e Neivaldo.

Em 02/02/1957 o Flamengo perdeu de 2x3 contra o Honved escalando o mesmo time da primeira partida.

Em 07/02/1957 aconteceu o jogo entre o “Combinado” Botafogo e Flamengo e o Honved. Venceram os cariocas por 6x2, atuando com Amauri, Bob (Tomires) e Pavão. Bauer, Pampolini e Nilton Santos. Garrincha (Paulinho), Didi, Evaristo, Dida (Moacir) e Cañete. Os gols foram de Garrincha, Kocsis, Dida, Evaristo, Didi, Puskas, Didi e Evaristo.

Outros jogos entre Flamengo e Honved foram realizados em Caracas, na Venezuela.

Eu tive a oportunidade de ver os jogadores húngaros treinando no campo do Flamengo na Gávea. Mas nada que se comparasse com a sorte de meu saudoso amigo e colega do Santo Inácio, Geraldo Monnerat, que foi o “mascote” do Flamengo em um desses jogos no Maracanã.


Evaristo de Macedo talvez tenha sido o primeiro grande jogador brasileiro a conquistar a Espanha. Também foi o primeiro a fazer cinco gols no mesmo jogo pela seleção brasileira.  

Começou a carreira no Madureira, depois fez sucesso no Flamengo, Barcelona e Real Madrid. Voltou ao Flamengo em 1965 para encerrar a carreira de jogador. Foi um técnico de muito sucesso.

Uma de suas passagens mais curiosas foi quando treinava o Flamengo e, durante um jogo, deu uma grande bronca no Djalminha, por conta da má atuação. O Marcelinho Carioca, que estava no banco de reservas, caiu na gargalhada. Evaristo olhou para trás e disse: "Está rindo de que? Você é reserva dele..."

 Evaristo era convocação certa para a seleção de 1958, mas naquela época a CBD tinha como regra não convocar jogadores que jogassem fora do país. Além disso, como a Espanha não se classificou para esta Copa, continuou seu campeonato nacional e os clubes não liberaram seus jogadores (hoje é obrigatório liberá-los nas "datas FIFA".

Morador de Ipanema, onde sempre era visto no calçadão da praia com seu cachorro ou nas imediações do Top Center, Evaristo não se furtava a um papo sobre futebol com quem o abordava. Hoje, com 91 anos, não o tenho mais visto passeando por Ipanema.